terça-feira, 7 de maio de 2019

O conhecimento não é fator determinante


O conhecimento não é  fator  determinante

         Nos últimos tempo, tenho percebido uma mentalidade no campo da esquerda que  responsabiliza à falta de conhecimento histórico a postura política dos ignorantes. Os sensatos e iluminados parecem acreditar no diagnóstico e, portanto, na terapia indicada!
         Ora, desde quando o saber formal e conhecimento histórico são determinantes para a definição de posições políticas? Ensino formal tem uma relação direta com educação política? Anos de escolaridade formam cidadãos politicamente críticos? Em suma, conhecimento histórico é fator que determina posição ideológica democrática e de esquerda?
         Imaginar que conhecimento histórico determina a posição política, necessariamente crítica e à esquerda, é cultivar a ingenuidade. Se isto fosse verdade,  não teríamos historiadores assumidamente com posturas de direita. Conheço professores de História que não tem qualquer pudor em defender o governo do Bozo e o golpe civil-militar de 1964; conheço professores de filosofia, sociólogos e pretensos cientistas políticos elitistas, meritocráticos e defensores do capitalismo. A sociologia nasce enquanto ciência legitimadora da modernidade burguesa. Como professor de filosofia, observo que conteúdos críticos não interferem em habitus e opiniões cristalizadas. O discente “aprende” o conteúdo de maneira formal e sua posição política permanece inalterada. Saber histórico,  sociológico e filosofia não são sinônimos de posições políticas críticas.
         Por outro lado, conheço semi-analfabetos, pessoas que aprenderam a ler e escrever por esforço próprio, que pouco frequentaram os bancos escolares, menos ainda a universidade, mas que são bem informados e cidadãos críticos, democratas e com opiniões políticas no campo da esquerda. Conhecimento escolar e da história do país não define se o indivíduo é de direita, esquerda. A questão é mais complexa, envolve outros fatores. Nossas escolhas políticas podem ser equivocadas ou corretas, independente do grau de escolaridade e do saber histórico.
       
  Devemos valorizar a História, os historiadores e os nossos professores que contribuíram com a nossa formação. Em muitos casos, suas posturas reforçaram e ajudaram a desenvolver o pensamento crítico que acalentávamos. Noutros casos, despertaram a consciência e a tendência ao engajamento político. Mas, talvez na maioria das vezes, não tiveram qualquer influência sobre as escolhas políticas e os caminhos que percorremos em nossa vida. Provavelmente até tiveram a resistência de indivíduos que se contentaram em memorizar os conteúdos para “passar de ano”. Assim, não exageremos. Ainda que muitos nos irritem com sua ignorância histórica – o que nem sempre é o caso – não esperemos em demasia do conhecimento sobre a História. Neste caso, a excessiva valorização da História apenas confirma a sua mistificação!
Pare Carlos


segunda-feira, 6 de maio de 2019

A justiça tarda e falha

A justiça tarda e falha

Faz diferença quem está à frente das instituições? Há quem diga que não, que não há pessoas insubstituíveis. Ainda assim, fica a impressão de que certas mudanças precisam acontecer em peças-chave na nossa Suprema Corte, não podemos negar que algumas decisões monocráticas, estão tendo reflexos em decisões importantes para o país. Para a imprensa ou parte da classe política, provavelmente não passa de uma coincidência.
A Constituição brasileira reserva ao Supremo uma missão extra: conduzir as investigações e julgar as acusações criminais contra deputados, senadores e outras autoridades federais. Nesse caso, nem a proximidade física entre o tribunal e o Parlamento é capaz de fazer com que a Justiça atravesse a Praça dos Três Poderes com celeridade. As imperfeições dos sistemas político e judicial do país tornam essa distância abissal e, por vezes, insuperável.
Na nossa cultura existe uma máxima que se acredita que a justiça tarda, mas não falha. A realidade mostra que falha, muitas vezes, porque veio tarde demais.
Desde 1988, mais de 500 parlamentares foram investigados no Supremo. A primeira condenação ocorreu apenas em 2010. De lá para cá, apenas 16 congressistas que estavam no exercício do mandato foram condenados por crimes como corrupção, lavagem de dinheiro e desvio de verba pública, segundo levantamento da Revista Congresso em Foco. Decisões que podem ajudar a desfazer o mito de que o Judiciário é cego aos malfeitos dos políticos brasileiros, mas que ainda estão longe de enterrar a sensação de impunidade. Afinal, apenas oito, metade dos condenados, pagaram ou estão acertando suas contas com a Justiça. A outra metade já se livrou definitivamente ou ainda luta para escapar da punição.
Nos últimos dois anos, a prescrição beneficiou pelo menos 34 dos 113 congressistas da atual legislatura, que tiveram casos arquivados pelos ministros da suprema corte.


Num país que não é propriamente conhecido pela pontualidade, e onde a justiça se arrasta penosamente,
faz muita confusão que os crimes possam prescrever tão facilmente. Os trâmites são bem conhecidos: quem dispõe de meios para isso coloca todos os entraves possíveis, com recursos e outros artifícios que só os advogados dominam, tentando protelar ao máximo uma decisão definitiva. E, quando finalmente o tribunal chega a uma conclusão, os crimes que demoraram anos para o tribunal reconhecer, terminam prescrevendo?! Repito: trata-se de crimes que foram dados como provados em tribunal. Mas ai de qualquer pobre mortal que se atrasa a questionar a participação de algum ministro da nossa corte ou parte dela para que o processo prescrevesse. Se isto acontecesse, logo as Autoridades moveria um processo em cima do pobre coitado ou seria preso por agredir um Poder da República. E desta prisão, não há prescrições nem recursos para ninguém. Perdoem a linguagem, mas estamos brincando com coisas sérias.
Padre Carlos

ARTIGO: Preso político ou da política ( Padre Carlos )



Preso político ou da política

            Atendendo um pedido do novo presidente, da OAB, Filipe Santana Cruz, o presidente do STF, Dias Toffoli, decidiu tirar da pauta a votação para decidir se a prisão em 2ª instância é válida, o que não faz sentido já que na constituição está bem clara que não pode.
            Alguns temas para serem abordados nesta coluna, são necessários um rigor maior por parte deste colunista haja vista que foge minha área de formação acadêmica, mas devido à importância e sua relação com a ética e as ciências política, resolvi buscar todas as informações necessária para que pudéssemos aprofundar mais nesta questão de forma clara.
            Gostaríamos de lembrar ao leitor, o que realmente esta em julgamento, neste caso é o artigo 283 do Código do Processo Penal, nele diz a circunstância em que uma pessoa pode ser presa: Art. 283. “Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de sentença condenatória transitada em julgado ou, no curso da investigação ou do processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva”. Isto é, depois de esgotar qualquer recurso.
            Existem hoje três ADC, tratando disto. A Ação declaratória de constitucionalidade, ela é uma ação judicial proposta com o objetivo de tornar certo judicialmente que uma dada norma (lei) é compatível com a Constituição. Esta lei é tão constitucional, que a Constituição no Art. 5º inciso 57: LVII –“ ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória;”.
            Como poderia ser inconstitucional se ela repete o que está na constituição. Acontece que se for levado em conta à lei, teriam que saltar o Lula, até ele não ser condenado em terceira instancia. Desta forma, podemos observar que três ações que não tem nada haver com o ex-presidente, porque foram impetradas antes da prisão de Lula, terminaram sendo agora considerada por seus opositores como a Ação Lula. Não podemos esquecer que o Supremo negou um habeas corpus para Lula de 6x5 porque em 2016 o Supremo tinha autorizado à prisão depois da condenação em segunda instancia, não disse que era pra prender logo após a condenação, numa determinação na época que não tinha efeito vinculante. Na verdade, a Corte ainda não tomou uma decisão nestas ações que tenham o poder de interpretar a Constituição.
          
  Quando um ministro da corte durante sessão tem dúvidas ainda sobre o assunto, pede “vistas”, e ganha assim mais tempo para analisar [muitas vezes usam para protelar apenas], mas os argumentos da OAB que levou a decisão de Toffoli não faz sentido algum, de que não estaria inteirada do processo é problema apenas da OAB, já que ela não decide nada no assunto.
A Constituição é a lei máxima de um país, que traça os parâmetros do sistema jurídico e define os princípios e diretrizes que regem uma sociedade. Não podemos deixar de descumprir o que diz a Lei máxima do país, porque ela favorece meu adversário político. Sim, ela é para todos e desta forma, podemos constatar a inconstitucionalidade da prisão do Sr. Luiz Inácio Lula da Silva.
Padre Carlos



A arte de ensinar a pensar!


O que é ser de esquerda hoje?



O que é ser de esquerda hoje?
      Um amigo na rede social me perguntou o que seria ser esquerda nos dias de hoje? Diante do desencanto com a política e a crise de utopia que atravessou minha geração, confesso que fiquei mudo naquele momento e diante daquele questionamento passei a refletir o mundo sem a esquerda, busquei na história e na caminhada do povo de Deus o que seria defender os mais fracos? Foi dentro desta mística que me coloquei em oração. Qual a preocupação dos homens de Deus? A preocupação dos profetas e principalmente de Isaías ao defender os órfãos e as viúvas naquele tempo? E não podemos esquecer-nos da sua luta e da sua pregação contra a corte palaciana devido às injustiças cometidas contra o povo.
      Neste sentido, penso que ser esquerda nos dias de hoje é antes de tudo, está comprometido com a luta por Justiça no mundo, jamais me imaginei de mãos dadas com as minorias – mesmo porque, bom que se diga, foram os que detinham e detém o poder político, econômico e religioso que mataram Jesus e hoje, em nossos dias, defendem em seu projeto de sociedade questões conservadoras que aprofundam mais e mais a pobreza e a injustiça.
      A Bíblia sempre pregou que deveríamos optar pelos pobres; e isto não é dar esmolas. Aliás, é bom que saibamos: nos templos bíblicos, em Israel, os mendigos não pediam simplesmente esmolas. Eles pediam por tsedaqah (
צדקה ts ̂edaqah ) que significa JUSTIÇA. Esta Justiça é aquilo que, de acordo com a Torá, ele devia gozar: paz e prosperidade.
      Logo, fica explícito que a pobreza não é, de forma alguma, algo natural (como pensava Aristóteles!), mas é fruto dos poderosos que exploram, enganam, devoram, oprimem e perseguem os menos favorecidos. A pobreza na bíblia não é, de modo algum, uma situação resultante de uma lei da natureza ou de uma vontade de um criador, mas, sem dúvida, uma produção social.
     
A esquerda entra no século XXI como todas as perdas acumuladas nas duas ultimam décadas. Os anos noventa representaram uma derrota para a esquerda mundial. Políticas sociais dos estados de bem-estar social retrocederam, a integração das economias socialistas ao mundo capitalista e a regressão dos movimentos de emancipação do terceiro mundo parecem sinalizar que o tempo da emancipação política radical chegou ao fim. No Brasil, o governo de extrema-direita do Sr. Bolsonaro, trouxe junto com ele todas as desesperanças e a incompetência administrativa, além de imprimir políticas neoliberais e cortes em programas sociais, aprofundando assim, mais ainda a crise econômica, em nosso país.
      Ser de esquerda hoje é complicado definir. Acredito que requer muita “dureza” mas, também, muito jogo de cintura. O diabo é descobrir como ter princípios sem ser ingênuo , como ser pragmático sem ser oportunista. Não tenho a receita, não tenho os algoritmo para solucionar este problema.
Mais uma coisa eu tenho certeza meu amigo, eu ainda acredito que ser de esquerda, nos dias atuais, significa defender os direitos humanos, os direitos das minorias. Lutar, como sempre lutei, por justiça social.

Padre Carlos.


domingo, 5 de maio de 2019

Francisco e seus inimigos!


Francisco e seus inimigos!

             Vocês devem ter,“clareza de consciência”, não há lugar para os sorrateiros entre os filhos de Santo Ignácio. 
                                                                                                                 PAPA FRANCISCO

            O Papa Francisco nos últimos tempo, tem chamado a atenção dos fieis sobre a maior das crises que atravessa a Igreja e apresenta como os principais motivos  o clericalismo e, consequentemente, o carreirismo, que ele, desde o princípio, diz que constituem "a peste da Igreja", sempre em conexão com a Cúria Romana, a corte, de que ele diz que é "a lepra do papado". Neste contexto, Francisco associa "abusos sexuais, de poder e consciência". Disse, há uns meses, ao episcopado chileno: "Há uma ferida aberta, dolorosa, e até agora foi tratada com um remédio que, longe de curar, parece tê-la aprofundado mais na sua espessura e dor. Os problemas que hoje se vivem dentro da comunidade eclesial não se solucionam apenas abordando os casos concretos e removendo pessoas. Constituiria grave omissão da nossa parte não aprofundar nas raízes. Essa psicologia de elite ou elitista acaba por gerar dinâmicas de divisão, separação, círculos fechados, que desembocam em espiritualidades narcisistas e autoritárias nas quais, em vez de evangelizar, o importante é sentir-se especial, diferente dos outros, pondo assim em evidência que nem Jesus Cristo nem os outros interessam verdadeiramente. Messianismos, elitismos, clericalismos, são todos sinónimos de perversão no ser eclesial."
            Não podemos negar, que estas palavras do Santo Padre, caracteriza como "duras, corajosas, clarividentes", pois mostram que é preciso ir à raiz deste tsunami das crises morais do clero e atacá-la enquanto "problema estrutural", portanto, além da responsabilidade das pessoas concretas. Evidentemente, o celibato imposto tem de ser considerado, mas como parte de uma estrutura clerical muito mais ampla e um dos seus pilares. Alguns dos elementos que fazem parte desta estrutura: "concentração do poder nas mãos da clerezia", poder hierarquizado e apoiado na contraposição clérigos/leigos; um poder patriarcal e machista, que exclui as mulheres; a carreira e ascensão no poder fazem-se mediante dois mecanismos complementares: "a obediência e/ou a hipocrisia"; "uma concepção e prática dualista e maniqueia" concretamente em relação à sexualidade; "sobrevalorização do celibatário", considerado mais perfeito do que o casado, porque mais próximo de Deus; o celibato obrigatório é "uma imposição legal" para poder pertencer a esta classe superior; o clero está à frente de "comunidades reduzidas a lugares de culto e serviço religioso à volta do padre, sem voz nem voto nas decisões de base: convertidas em grupos menores de idade...".
             Francisco quer renovar a Igreja, levando-a às origens, com o Evangelho de Jesus. Tolerância zero para a pedofilia. Transparência nas contas do Banco do Vaticano. Reforma profunda da Cúria. Uma Igreja fraterna, pobre, em saída para as periferias geográficas e existenciais. Uma Igreja viva, que não é museu. Sem clericalismo, capaz de se aproximar dos divorciados recasados, dos homossexuais, que são católicos como os outros (o problema não é ser homossexual, o problema é "o lóbi gay", diz). Francisco também está próximo dos mais desfavorecidos e critica o capitalismo desenfreado, escreveu uma encíclica, a Laudato Sí, apelando à necessidade de salvaguardar a Terra, criação de Deus e nossa casa comum, e também à necessidade de humanitariedade para com os migrantes e refugiados...
            Evidentemente, os rigoristas fariseus e os lóbis económicos não gostam e atacam-no ferozmente, acusando-o inclusivamente de heresia. Recentemente, o arcebispo Carlo Maria Viganò, num golpe covarde, pretendeu acusá-lo de cumplicidade. Francisco, naquela sabedoria só dele, disse aos jornalistas que fossem profissionais e cumprissem o seu dever de investigação, e eles cumpriram e a imprensa internacional desmascarou o ex-núncio Viganó e os seus apaniguados, envolvidos em mentiras e contradições. E a Igreja universal, que queriam ver desunida, tem vindo massivamente a manifestar o seu apoio incondicional a Francisco. Também a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil ( CNBB ), o fez. Para lá dos eclesiásticos, é longa a lista de políticos e figuras públicas que vieram em defesa de Francisco.
            Quem já anunciava que dentro de semanas ou meses teríamos a renúncia de Francisco e um Papa conservador a suceder-lhe devia saber que ele já preveniu que não sai a pontapé. Como tenho repetido nestes últimos meses, estou convicto de que Francisco, nesse encontro admirável de franciscano e jesuíta, não se demite nem se deprime. E não se ficará só com pedidos de perdão e exigência de justiça, incluindo a justiça civil. Até porque é preciso ir mais longe e fundo. Pode vir aí um Sínodo - Francisco está continuamente falando da sinodalidade da Igreja, que quer dizer necessidade de caminhar juntos e em comum -, um Sínodo enquanto reunião universal de toda a Igreja, com representação de bispos, mas também de padres, de religiosos e de religiosas, da Cúria, de leigos e de leigas, portanto, eles e elas, na devida proporção, sob a presidência do Papa. Para debater esta e muitas outras questões. A que se deve esta tragédia? Como caminhar para estruturas mais democráticas na Igreja? Que novo tipo de padre? Ordenar homens casados? Pôr fim à lei do celibato? Qual o papel das mulheres na Igreja? É legítimo continuar a discriminá-las, contra a vontade de Jesus? O que é que as impede de poderem presidir à celebração da Eucaristia? Que moral sexual? O que é que a Igreja pensa de si mesma, da sua identidade e missão? Como é que deve ir ao encontro da Humanidade atual, com os seus novos problemas, questões de bioética, questões que têm que ver com o trans-humanismo e o pós-humanismo, a justiça social, os direitos humanos, o diálogo ecuménico e inter-religioso, a paz num mundo globalizado...
Padre Carlos.


quarta-feira, 1 de maio de 2019

A velhice!


A velhice!


Quando exercia o ministério presbiteral, costumava perguntar para minha comunidade: quem gostaria de ir para o céu? Todos levantavam a mão e depois perguntava quem desejava morrer? Ninguém se pronunciava. Quem quiser ir para o céu, tem que morrer! 
Da mesma forma, todos desejam viver por muito tempo, mas ninguém quer ficar velho, a velhice só incomoda aqueles que se esqueceram de cultivar a alma. Hoje estou completando mais um ano de muitas bênção.

Marco Túlio Cícero (106 a.C.-43 a.C.), filósofo estoico, ensinou que devemos aceitar os desígnios da natureza. A velhice não é inevitável, as consequências do envelhecer são inexoráveis. Na obra “Saber envelhecer”, ele afirma que “as melhores armas para a velhice são o conhecimento e a prática das virtudes” (p. 12).[1]

Estoicismo é um movimento filosófico que surgiu na Grécia Antiga e que preza a fidelidade ao conhecimento, desprezando todos os tipos de sentimentos externos, como a paixão, a luxúria e demais emoções.
Para ele, não devemos ter uma atitude pessimista diante do envelhecimento. Precisamos aprender a não nos importarmos com o incontrolável. Sem dúvida, a natureza é impiedosa: o passar dos anos nos deixa fisicamente mais frágeis, o corpo não reage mais como gostaríamos, impossibilita os prazeres da carne, as doenças tornam-se mais frequentes e a morte parece mais próxima. 
 
Os poetas falam destes assuntos de forma que traduz no fundo da nossa alma o que estamos sentindo “Você lembra, lembra daquele tempo. Eu tinha estrelas nos olhos. Um jeito de herói. Era mais forte e veloz. Que qualquer mocinho. De Cowboy”. 

Não podemos esquecer que a velhice com qualidade de vida depende das atitudes e escolhas que fazemos.  Simone de Beauvoir nos diz que a velhice não é um fato estático; é o resultado e o prolongamento de um processo. Em que consiste este processo? Em outras palavras, o que é envelhecer? Esta ideia está ligada à ideia de mudança e acrescenta:

“O tempo é irrealizável. Provisoriamente, o tempo parou pra mim. Provisoriamente. Mas eu não ignoro as ameaças que o futuro encerra como também não ignoro que é o meu passado que define a minha abertura para o futuro. O meu passado é a referência que me projeta e que eu devo ultrapassar”.

O elogio à idade madura talvez seja um autoelogio. Será que o passar dos anos nos torna necessariamente mais sábios? Quem pode garantir que sabedoria é sinônimo de ancião? Não será o jovem capaz de alcançar a sabedoria e não terá ele algo a ensinar ao mais velho? A tolice não respeita idade; a sensatez não é privilégio dos mais velhos; e a experiência adquirida com a idade pode se revelar inútil. O argumento de autoridade fundamentado nas rugas do tempo nem sempre é sábio e desconhece a dialética do aprender e ensinar mútuos.

Diante de todas estas constatações, prefiro ficar com as palavras do poeta:

“É! Talvez eu seja
Simplesmente
Como um sapato velho
Mas ainda sirvo
Se você quiser
Basta você me calçar
Que eu aqueço o frio
Dos seus pés!”

Padre Carlos

ARTIGO - A geração que fez a diferença! (Padre Carlos)

A geração que fez a diferença!      Decorridos tantos anos do fim da ditadura, observa-se que a geração da utopia está partindo e a nova...