O conhecimento não é fator
determinante
Nos
últimos tempo, tenho percebido uma mentalidade no campo da esquerda que responsabiliza à falta de conhecimento
histórico a postura política dos ignorantes. Os sensatos e iluminados parecem
acreditar no diagnóstico e, portanto, na terapia indicada!
Ora,
desde quando o saber formal e conhecimento histórico são determinantes para a
definição de posições políticas? Ensino formal tem uma relação direta com
educação política? Anos de escolaridade formam cidadãos politicamente críticos?
Em suma, conhecimento histórico é fator que determina posição ideológica
democrática e de esquerda?
Imaginar
que conhecimento histórico determina a posição política, necessariamente
crítica e à esquerda, é cultivar a ingenuidade. Se isto fosse verdade, não teríamos historiadores assumidamente com
posturas de direita. Conheço professores de História que não tem qualquer pudor
em defender o governo do Bozo e o golpe civil-militar de 1964; conheço
professores de filosofia, sociólogos e pretensos cientistas políticos
elitistas, meritocráticos e defensores do capitalismo. A sociologia nasce
enquanto ciência legitimadora da modernidade burguesa. Como professor de
filosofia, observo que conteúdos críticos não interferem em habitus e opiniões
cristalizadas. O discente “aprende” o conteúdo de maneira formal e sua posição
política permanece inalterada. Saber histórico, sociológico e filosofia não são sinônimos de
posições políticas críticas.
Por
outro lado, conheço semi-analfabetos, pessoas que aprenderam a ler e escrever
por esforço próprio, que pouco frequentaram os bancos escolares, menos ainda a
universidade, mas que são bem informados e cidadãos críticos, democratas e com
opiniões políticas no campo da esquerda. Conhecimento escolar e da história do
país não define se o indivíduo é de direita, esquerda. A questão é mais
complexa, envolve outros fatores. Nossas escolhas políticas podem ser
equivocadas ou corretas, independente do grau de escolaridade e do saber
histórico.
Devemos
valorizar a História, os historiadores e os nossos professores que contribuíram
com a nossa formação. Em muitos casos, suas posturas reforçaram e ajudaram a
desenvolver o pensamento crítico que acalentávamos. Noutros casos, despertaram
a consciência e a tendência ao engajamento político. Mas, talvez na maioria das
vezes, não tiveram qualquer influência sobre as escolhas políticas e os
caminhos que percorremos em nossa vida. Provavelmente até tiveram a resistência
de indivíduos que se contentaram em memorizar os conteúdos para “passar de
ano”. Assim, não exageremos. Ainda que muitos nos irritem com sua ignorância
histórica – o que nem sempre é o caso – não esperemos em demasia do
conhecimento sobre a História. Neste caso, a excessiva valorização da História
apenas confirma a sua mistificação!
Pare Carlos
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