quarta-feira, 1 de maio de 2019

A velhice!


A velhice!


Quando exercia o ministério presbiteral, costumava perguntar para minha comunidade: quem gostaria de ir para o céu? Todos levantavam a mão e depois perguntava quem desejava morrer? Ninguém se pronunciava. Quem quiser ir para o céu, tem que morrer! 
Da mesma forma, todos desejam viver por muito tempo, mas ninguém quer ficar velho, a velhice só incomoda aqueles que se esqueceram de cultivar a alma. Hoje estou completando mais um ano de muitas bênção.

Marco Túlio Cícero (106 a.C.-43 a.C.), filósofo estoico, ensinou que devemos aceitar os desígnios da natureza. A velhice não é inevitável, as consequências do envelhecer são inexoráveis. Na obra “Saber envelhecer”, ele afirma que “as melhores armas para a velhice são o conhecimento e a prática das virtudes” (p. 12).[1]

Estoicismo é um movimento filosófico que surgiu na Grécia Antiga e que preza a fidelidade ao conhecimento, desprezando todos os tipos de sentimentos externos, como a paixão, a luxúria e demais emoções.
Para ele, não devemos ter uma atitude pessimista diante do envelhecimento. Precisamos aprender a não nos importarmos com o incontrolável. Sem dúvida, a natureza é impiedosa: o passar dos anos nos deixa fisicamente mais frágeis, o corpo não reage mais como gostaríamos, impossibilita os prazeres da carne, as doenças tornam-se mais frequentes e a morte parece mais próxima. 
 
Os poetas falam destes assuntos de forma que traduz no fundo da nossa alma o que estamos sentindo “Você lembra, lembra daquele tempo. Eu tinha estrelas nos olhos. Um jeito de herói. Era mais forte e veloz. Que qualquer mocinho. De Cowboy”. 

Não podemos esquecer que a velhice com qualidade de vida depende das atitudes e escolhas que fazemos.  Simone de Beauvoir nos diz que a velhice não é um fato estático; é o resultado e o prolongamento de um processo. Em que consiste este processo? Em outras palavras, o que é envelhecer? Esta ideia está ligada à ideia de mudança e acrescenta:

“O tempo é irrealizável. Provisoriamente, o tempo parou pra mim. Provisoriamente. Mas eu não ignoro as ameaças que o futuro encerra como também não ignoro que é o meu passado que define a minha abertura para o futuro. O meu passado é a referência que me projeta e que eu devo ultrapassar”.

O elogio à idade madura talvez seja um autoelogio. Será que o passar dos anos nos torna necessariamente mais sábios? Quem pode garantir que sabedoria é sinônimo de ancião? Não será o jovem capaz de alcançar a sabedoria e não terá ele algo a ensinar ao mais velho? A tolice não respeita idade; a sensatez não é privilégio dos mais velhos; e a experiência adquirida com a idade pode se revelar inútil. O argumento de autoridade fundamentado nas rugas do tempo nem sempre é sábio e desconhece a dialética do aprender e ensinar mútuos.

Diante de todas estas constatações, prefiro ficar com as palavras do poeta:

“É! Talvez eu seja
Simplesmente
Como um sapato velho
Mas ainda sirvo
Se você quiser
Basta você me calçar
Que eu aqueço o frio
Dos seus pés!”

Padre Carlos

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