quarta-feira, 8 de maio de 2019

A falta de memória


A falta de memória



Memorial é resgatar a memória é lembrar um determinado dia é fazer com que nós não esqueçamos jamais desta data. Um aniversário de nascimento, de casamento a própria Missa é um memorial ela representa a Paixão Morte e Ressureição do nosso Senhor Jesus Cristo. No mundo, vimos exemplos de memorial para que o homem se lembre dos horrores da guerra. Assim, Auschwitz, no dia 27 de janeiro, chama atenção do mundo para lembrar a barbárie, assim nesta data foi definida como o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto. Uma data criada pelas Nações Unidas para recordar os cerca de seis milhões de judeus assassinados pelo regime nazi. Estima-se que daqui a dez anos já não haja sobreviventes para contar a história de uma das maiores atrocidades ao próximo. Por isso, mais do que nunca, é nosso dever manter estas memórias vivas. Lendo esta matéria, sobre a realidade na Europa, principalmente na Alemanha, país que foi palco de todos estes acontecimentos, me lembrei como pecamos em não resgatar as nossas, memórias, as nossas conquistas e os momentos difícil que tivemos que atravessar nesta vida.
Ao constatar a ascensão da extrema-direita como uma ameaça à cultura da memória, passei a entender como estas forças se alimentam da falta de informação. As autoridades daquele país puderam perceber os números alarmantes de uma investigação recente que revela que 40 por cento dos jovens alemães afirmam não saber "quase nada" sobre o Holocausto. Recordar um dos momentos mais triste da história da Humanidade é crucial para que a história nunca se repita. Depois de ler aquele artigo, pude entender porque não ficamos chocados e indignados, quando o presidente faz apologia à tortura e a ditadura, querendo transformar o 31 de março como uma data comemorativa. 
À onda de descrença das populações nos partidos e nos políticos, não é só no nosso continente, crescem também por toda a Europa, e em todo o mundo. Este é o grande combustível para que os partidos e movimentos populistas se desenvolvam e se alimentem do sofrimento e da falta de esperança – sejam de esquerda ou de direita – e de perigosa inspiração extremista. Como se sabe, aliás, estas forças já ganharam protagonismo e assento em países como a França, com Marine Le Pen, a Holanda, com o Partido da Liberdade, ou até na Espanha, com a entrada do Vox, de extrema-direita, no Parlamento. Já no nosso caso daria para outro texto…
À crise da democracia esta relacionada à falta de memória coletiva e o difícil acesso a informação das novas gerações. E uma mentalidade de quem tudo quer menos a Liberdade. Estejamos atentos.
Padre Carlos


A periferia e a Igreja


A periferia e a Igreja

Hoje estava pensando no meu momento de oração diário, sobre as periferias a que frequentemente se refere o Papa Francisco. Acredito que ele deva está falando dos 13 milhões de habitantes de Buenos Aires que viviam na periferia, bem como na quantidade de pessoas no mundo inteiro que estão fora do centro, apesar de andar perto dos centros.
Na preocupação que Bergoglio revelou nas reuniões com os cardeais antes de ser Papa e na continuidade que deu e dá a esse tema que deve obrigar a Igreja a sair dos seus centros de conforto para ir ao encontro dos que estão empilhados nas margens das grandes cidades, fugidos da sua própria miséria. Mas é o próprio mundo das periferias que interpela a Igreja a sair.
A lembrança e o resgate da palavra sair são fundamentais para que possamos entender a nova mística, em particular no século XX e neste. E correlaciona com a crise da vida religiosa e as novas terras de missão.
O conjunto das populações já não pensa de maneira cristã e a realidade é outra. Quando participava da pastoral operária e tinha o Pe. Confa como orientador sonhava com Paris e o mundo operário, estes foram talvez o modelo desta fuga do homem moderno que precisa ser procurado, a quem é necessário proclamar de novo a notícia da libertação de Jesus como se nunca a tivesse ouvido. Os padres operários entraram por essa via.
O Papa Francisco não deixa de repetir a ideia: a preocupação por este tema e a urgência da Igreja sair do centro para a periferia.
Padre Carlos.

A beleza me alegra


A beleza me alegra


Outro dia um amigo comentava sobre a beleza e como podemos defini-la. Estas argumentações filosóficas foram chamando minha atenção como à beleza pode influenciar o nosso humor e a nossa vida. Assim a frase: A beleza me alegra, passou a fazer parte da minha vida. E, realmente, a beleza é inexplicável, especialmente quando se trata da beleza de alguém, porque uma pessoa pode ser bela para mim e não o ser para outra pessoa. .
Cada um de nós tem os seus motivos para considerar uma pessoa, um objeto, uma paisagem, uma ideia ou nas pequenas coisas, podemos vê e admirar os belos. Como diz Vinicius de Morais: « As muito feias que me perdoem
Mas beleza é fundamental. É preciso
Que haja qualquer coisa de flor em tudo isso
Qualquer coisa de dança, qualquer coisa de haute couture
Em tudo isso…»
Não podemos esquecer, que a ideia de «belo», é um dos grandes conceitos da filosofia. Para Platão era mesmo a ideia suprema, enquanto para Aristóteles o belo estava associado à virtude. Por seu lado, para Hegel, a beleza era uma das armas mais poderosas que o homem possui para superar o seu destino trágico, encurralado entre o mundo natural e o mundo perfeito das ideias. E, apesar de o pós-modernismo, com a sua hiper-realidade, rejeitar a beleza, este conceito foi, posteriormente, recuperado, assumindo a beleza um papel cada vez mais importante.
Historicamente, como bem aponta Hegel, o conceito de beleza tem refletido as principais ideias vigentes em cada época, porque, sendo o homem que o define, este reflete, naturalmente, as teorias que, em cada momento, entende serem as mais importantes.
Encontrar uma definição essencial de beleza que possa contentar todos os seres humanos, é uma tarefa impossível diante da subjetividade que é o objeto. Mas, isto não quer dizer que não possamos questionar-nos sobre o que é a beleza ou, mais concretamente, sobre o que é, para cada um de nós, a beleza.
Ora, para responder à questão colocada sobre o que é a beleza, é necessário cada um ater-se às suas crenças pessoais, à análise dos motivos que o levam a considerar algo ou alguém belo. Trata-se, pois, de uma pergunta que nos leva a refletir sobre o nosso próprio sistema de pensamento, sobre os conceitos em que assenta a nossa definição de estética. O que importa é, pois, tanto o processo como as conclusões a que chegamos.
Diz S. Tomás de Aquino que a beleza é o que agrada à visão. Ora, se assim é, o que é que agrada à visão particular de cada um? O que é que a beleza tem que nos agrada e como pode ela salvar o mundo?
Quando Dostoievski, em O Idiota, põe na boca de Hippolytos a pergunta sobre se a beleza salvará o mundo, a resposta do príncipe Mychkine é apenas silêncio. Mas, sabe-se que o próprio Dostoievski acreditava nesta afirmação, porque, uma vez por ano, se deslocava a Dresden, na Alemanha, para contemplar a Madonna de Rafael, onde permanecia atento, longo tempo, em silêncio. E ele próprio afirmou: «Seguramente não podemos viver sem pão, mas também é impossível existir sem beleza». Terá sido a ideia subjacente a esta formulação que inspirou Frei Betto a desenvolver o tema para a Teologia da Libertação sobe fome de pão e de beleza, ou os movimentos sindicalistas daqui do Brasil a proferir a famosa frase (copiada de Trotsky): «Pelo direito ao pão, mas também à poesia».
A beleza (a poesia) retira o homem do seu quotidiano e lança-o em caminhos que Dionísio define como uma «tensão para uma vida mais alta», porque, Ser poeta é ser mais alto, / É ser maior do que os homens. E a chave para alcançar a beleza está na própria vida, porque, nas palavras de João Paulo II; «Todo o homem recebeu a tarefa de ser artífice da própria vida: de certa forma, deve fazer dela uma obra de arte, uma obra-prima». Assim saibamos nós ter esta certeza e, a cada momento, seguir o conselho de Bento XVI: «Saibamos fazer das nossas vidas locais de beleza”.» Para que, assim, à nossa volta, possamos admirar a beleza, admirar a poesia…
Padre Carlos


Segurança e as políticas públicas


Segurança e as políticas públicas


Se o pacto é pela vida, porque os Policiais baianos estão entre os que mais matam no Brasil. A Secretaria da Segurança Pública da Bahia ressalta que todo policial brasileiro, por lei, tem o direito de reagir a ataques de criminosos. Acrescenta que todas as mortes em confronto são acompanhadas pelas corregedorias.
Diante destes dados, venho tentando acompanhar as políticas públicas em relação à segurança no nosso estado e na nossa cidade por força de meu trabalho e porque nela vivo com as pessoas que amo. Eu não faço favor algum em me preocupar com nosso estado de insegurança. Sendo um cidadão essa é minha obrigação. O cidadão tem o direito e o dever de saber o que se passa em sua volta. Mas, não me parece útil fixar na memória quantos homicídios já tivemos este ano em Vitória da Conquista se não pudermos entender as motivações para eles.
Não adianta nos intitularmos “policiólogos”, “politólogos” ou “cientistas políticos”. Pouco adianta dizermos que somos especialistas em segurança pública se nos contentamos com os números circunstanciais que pesquisas do governo federal trazem. A pesquisa, conduzida pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), coloca a Bahia na terceira posição no ranking de mortes por intervenções policiais, atrás apenas do Rio de Janeiro, com 925 casos ao longo de 2016, e de São Paulo, com 856.
O que queremos é uma policia que atue na prevenção do crime. Precisamos que o bandido não entre em nossas casas. Sim, desejamos que ele seja preso após nos roubar. Mas, a prevenção ainda é a melhor política de segurança pública que se pode ter. A Secretaria de Segurança da Bahia tem bons resultados com o programa “Pacto pela Vida”, a caravana da paz, caravana da vida, buscando aproximar a direção das instituições de segurança pública, tem ajudado bastante este trabalho. Assim, não podemos ignorar, que o diálogo entre os poderes também é muito importante para que o Pacto aconteça. O mérito do projeto é entender que a construção da sociedade se dá de forma coletiva, e não de cima para baixo. O importante é investir em projetos de prevenção. Ao invés de esperar que o crime aconteça, a polícia da Bahia tem a obrigação de agir na perspectiva de impedir que ele ocorra.
De muito pouco adianta o discurso enfurecido da oposição, ao saber que mais um policial militar foi assassinado por bandidos. Isso não vai resolver nossos problemas. Pelo contrário, só aumenta à revolta e a desesperança. Quando crimes brutais acontecem, como o assassinato do policial militar Gustavo Gonzaga da Silva, 44 anos, assassinado no ano passado por traficantes no bairro da Santa Cruz, em Salvador, o que se espera das autoridades e dos agentes públicos é uma atitude sensata no sentido de se buscar, pelo menos, descobrir as motivações para o crime.
Aliás, esse é nosso grande problema. Só nos preocupamos com o crime pelo crime. Não queremos saber os motivos que concorrem para que ele aconteça. Só nos preocupamos em contar quantos caixas eletrônicos são, por mês, explodidos. Se realmente se quer acabar com esse tipo de crime, porque não se investiga quem está lucrando para que ele ocorra? O roubo aos caixas eletrônicos movimenta o comercio ilegal de explosivos e gera divisas para outros tipos de crimes.
A maioria dos crimes possuem motivações pragmáticas e objetivas. Claro, o crime visa, em geral, o lucro. O roubo de carros e motos serve para abastecer a “indústria” dos desmanches que por sua vez abastece as oficinas. Se você, caro leitor, não se perturba em saber que uma peça que está sendo colocada em seu carro tem procedência ilegal, saiba que está contribuindo para que o crime ocorra. A regra é simples. O carro é roubado e é repassado para o desmanche. Daí, as peças são atravessadas para oficinas cujos donos e clientes só pensam em maximizar ganhos e minimizar perdas, mesma que seja à custa da vida de alguém. Esse nosso jeito Macunaíma de ser ainda vai nos causar muitos danos.
Você se sente esperto demais por pagar menos da metade por um produto, mesmo que ele seja roubado? Se a resposta for sim, saiba que você contribui para o aumento da violência. O crime é uma empresa que visa o lucro e que age motivado por demandas. Porque será que o assalto violento a residências é uma das modalidades de crimes que vem crescendo em todo o Brasil. Quem não se lembra da médica cardiologista que foi baleada durante uma troca de tiros entre polícia e assaltantes em um bairro nobre da nossa cidade. A resposta é simples: muita gente se dispõe a comprar eletrodomésticos e eletroeletrônicos roubados, sem nota fiscal.
Daí que se preocupar em resolver o crime quando ele já aconteceu não deixa de ser a política de enxugar gelo. Certo. Quando os crimes brutais ocorrem, queremos ver seus autores atrás das grades. Mas, isso impede que novos crimes ocorram? O que impede que o crime aconteça são políticas públicas de segurança, interligadas com políticas públicas nas áreas de educação, saúde, moradia, etc.
E eu não estou falando dos assistencialismos de toda sorte. Eu não falo de coisas circunstanciais como mais armas, mais viaturas e mais presídios. Eu não falo de cada vez mais se usar mais a força. Eu falo em pegar esta criança que está aí, agora, pedindo esmolas nos sinais das Avenidas de Vitória da Conquista e lhe dar cidadania. Eu falo em pararmos de enxugar gelo. Eu falo em entendermos de uma vez por todas que cercas eletrificadas, grades fortificadas, ferozes cães e guardas armadas são apenas paliativos cada vez mais ineficazes. Eu falo mesmo em pararmos de fingir que não temos nada haver com esse estado de coisas. Está na hora de atentarmos para o calibre do perigo, de onde ele vem e, principalmente, porque ele vem.
Padre Carlos


terça-feira, 7 de maio de 2019

Senhor eu creio, mas aumentai a minha fé.


Senhor eu creio, mas aumentai a minha fé.
Recordar alguns aspectos fundamentais da nossa fé certamente favorece uma melhor compreensão da mesma, resgatando elementos que a caracterizam: acolhida do diferente, promoção e defesa da vida, itinerância, exercício generoso da misericórdia e abertura para uma autêntica universalidade. Tudo isso sustentado por uma profunda unidade espiritual e a certeza do Ressuscitado. Esta sim é de todos os fundamentos da nossa fé, a mais importante. A fé na ressurreição de Jesus Cristo é o fundamento da mensagem cristã. A fé cristã estaria morta se lhe fosse retirada a verdade da ressurreição de Cristo. A ressurreição de Jesus são as primícias de um mundo novo, de uma nova situação do homem. Ela cria para os homens uma nova dimensão de ser, um novo âmbito da vida: o estar com Deus. Também significa que Deus manifestou-se verdadeiramente e que Cristo é o critério no qual o homem pode confiar. A fé na ressurreição de Jesus é algo tão essencial para o cristão que São Paulo chegou a escrever: “Se Cristo não ressuscitou, a nossa pregação é vazia, e vazia também a vossa fé” (1Cor 15, 14).

Celebrar a Eucaristia, não pode jamais ser considerada uma rotina devocional nem tão pouco uma obrigação. Ela requer uma comunidade agradecida por acreditar que a morte não é a última palavra sobre o itinerário de uma existência humana. Essa convicção não é de ordem racional, não é a conclusão de qualquer elaboração científica. Estas certezas se dar através da “fé na ressurreição”.
A vida pública de Jesus Cristo foi breve, atribulado e que terminou cravado numa cruz, a morte mais cruel da antiguidade. Não morreu, foi assassinado mediante um julgamento injusto. Sentiu-se abandonado pelo céu e pela terra e, sobretudo, sentiu o fracasso da sua luta. No entanto, teve forças e um carinho misericordioso tão grande, que foi capaz de perdoar aos autores da sua morte e para prometer o paraíso a um companheiro de infortúnio. Foi morto, mas, se estivermos atentos às narrativas da Paixão, com a sua morte Ele ia carregando toda a humanidade, com esperança para todos, sem excluir ninguém, isto é, até os seus inimigos. Queixando-se do abandono de Deus, foi em Suas mãos que lhe entregou o seu destino, entrego o meu espírito. A esperança contra toda a esperança foi o seu último suspiro.
Depois, as mulheres vieram dizer, não apenas que ele não estava no sepulcro, onde fora colocado, mas que as convocou para anunciar aos discípulos que estava vivo e era preciso continuar o caminho por ele aberto. As mulheres estão na origem do movimento cristão, na origem da Igreja. São elas as primeiras pregadoras do Evangelho na sua novidade contra a morte.
Ser discípulo de Cristo é empregar todas as energias para continuar a aventura da transformação da vida que a morte parece derrotar. Quem procura centrar a sua vida em si mesmo, nos seus projetos de êxito pessoal, muitas vezes à custa dos pobres, está perdido. Em todas as épocas e circunstâncias, o que caracteriza o cristão autêntico é cuidar de quem não pode cuidar de si. A história está carregada de figuras que dedicaram sua vida e as suas energias para que os outros pudessem viver com dignidade. O Papa Francisco chama atenção que esta era e é a grande mística dos primeiros cristãos e da Igreja. Os pessimistas dizem que é um esforço perdido, pois a Igreja está morta na opinião pública por causa dos escândalos divulgados, dia a dia, nos meios de comunicação.
O importante não é saber se o Papa vai vencer ou vai ser derrotado, mas se vamos ter ou não quem se apaixone pela paixão do Nazareno.
Quando participo da celebração da Eucaristia eu dou graças por toda a bondade do mundo e para pedir perdão pelos crimes acumulados ao longo dos séculos. Mas é, sobretudo, para reerguer a figura do Ressuscitado, o testemunho de que vale a pena, contra ventos e marés, acreditar na vida de todas as épocas da história. Uma vez, Jesus sentiu que os seus discípulos, não só procuravam honra e glória, como também colocava a sua esperança nos êxitos que iam conseguindo, em nome do próprio Nazareno. Este, porém, advertiu-os: "Não vos alegreis porque os espíritos se submetem a vós; alegrai-vos antes porque os vossos nomes estão inscritos nos céus." 
Quando Jesus declara alegrai-vos porque os vossos nomes estão inscritos nos céus, diz: a vossa vida está inscrita no coração de Deus e ninguém vos poderá arrancar desse infinito amor. Isto é tão verdade que o narrador acrescenta que o próprio Jesus se sentiu comovido, no Espírito Santo, pelo que tinha dito. 
A fé cristã diz-nos que as pessoas, que já não vemos, andam por onde sempre andaram, estão onde sempre estiveram, vivem onde sempre viveram, em Deus. Dizer em Deus é dizer que são nossa companhia, que participam nos cuidados de Deus por nós e por todo o universo.
Foram estas certezas da Ressurreição e as promessas de Jesus Cristo, que embalaram minhas orações nesta Semana Santa. Assim, pensado muito na espiritualidade do Bom Pastor, foi que me veio à presença de Dom Celso José, ele se fez presente nas minhas orações. Este Bispo e Pai, sempre vai está presente na minha vida, foi e sempre será minha grande referencia de Pastor, do Bom Pastor. Um pastor que nunca abandona suas ovelhas.
Os anos que Celso José viveu, multiplicam-se nas vidas dos outros que ele ajudou a viver. São tantos, que só em Deus se pode contar e cantar.
Padre Carlos.


Recordar alguns aspectos fundamentais da nossa fé certamente favorece uma melhor compreensão da mesma, resgatando elementos que a caracterizam: acolhida do diferente, promoção e defesa da vida, itinerância, exercício generoso da misericórdia e abertura para uma autêntica universalidade. Tudo isso sustentado por uma profunda unidade espiritual e a certeza do Ressuscitado. Esta sim é de todos os fundamentos da nossa fé, a mais importante. A fé na ressurreição de Jesus Cristo é o fundamento da mensagem cristã. A fé cristã estaria morta se lhe fosse retirada a verdade da ressurreição de Cristo. A ressurreição de Jesus são as primícias de um mundo novo, de uma nova situação do homem. Ela cria para os homens uma nova dimensão de ser, um novo âmbito da vida: o estar com Deus. Também significa que Deus manifestou-se verdadeiramente e que Cristo é o critério no qual o homem pode confiar. A fé na ressurreição de Jesus é algo tão essencial para o cristão que São Paulo chegou a escrever: “Se Cristo não ressuscitou, a nossa pregação é vazia, e vazia também a vossa fé” (1Cor 15, 14).

Celebrar a Eucaristia, não pode jamais ser considerada uma rotina devocional nem tão pouco uma obrigação. Ela requer uma comunidade agradecida por acreditar que a morte não é a última palavra sobre o itinerário de uma existência humana. Essa convicção não é de ordem racional, não é a conclusão de qualquer elaboração científica. Estas certezas se dar através da “fé na ressurreição”.
A vida pública de Jesus Cristo foi breve, atribulado e que terminou cravado numa cruz, a morte mais cruel da antiguidade. Não morreu, foi assassinado mediante um julgamento injusto. Sentiu-se abandonado pelo céu e pela terra e, sobretudo, sentiu o fracasso da sua luta. No entanto, teve forças e um carinho misericordioso tão grande, que foi capaz de perdoar aos autores da sua morte e para prometer o paraíso a um companheiro de infortúnio. Foi morto, mas, se estivermos atentos às narrativas da Paixão, com a sua morte Ele ia carregando toda a humanidade, com esperança para todos, sem excluir ninguém, isto é, até os seus inimigos. Queixando-se do abandono de Deus, foi em Suas mãos que lhe entregou o seu destino, entrego o meu espírito. A esperança contra toda a esperança foi o seu último suspiro.
Depois, as mulheres vieram dizer, não apenas que ele não estava no sepulcro, onde fora colocado, mas que as convocou para anunciar aos discípulos que estava vivo e era preciso continuar o caminho por ele aberto. As mulheres estão na origem do movimento cristão, na origem da Igreja. São elas as primeiras pregadoras do Evangelho na sua novidade contra a morte.
Ser discípulo de Cristo é empregar todas as energias para continuar a aventura da transformação da vida que a morte parece derrotar. Quem procura centrar a sua vida em si mesmo, nos seus projetos de êxito pessoal, muitas vezes à custa dos pobres, está perdido. Em todas as épocas e circunstâncias, o que caracteriza o cristão autêntico é cuidar de quem não pode cuidar de si. A história está carregada de figuras que dedicaram sua vida e as suas energias para que os outros pudessem viver com dignidade. O Papa Francisco chama atenção que esta era e é a grande mística dos primeiros cristãos e da Igreja. Os pessimistas dizem que é um esforço perdido, pois a Igreja está morta na opinião pública por causa dos escândalos divulgados, dia a dia, nos meios de comunicação.
O importante não é saber se o Papa vai vencer ou vai ser derrotado, mas se vamos ter ou não quem se apaixone pela paixão do Nazareno.
Quando participo da celebração da Eucaristia eu dou graças por toda a bondade do mundo e para pedir perdão pelos crimes acumulados ao longo dos séculos. Mas
é, sobretudo, para reerguer a figura do Ressuscitado, o testemunho de que vale a pena, contra ventos e marés, acreditar na vida de todas as épocas da história. Uma vez, Jesus sentiu que os seus discípulos, não só procuravam honra e glória, como também colocava a sua esperança nos êxitos que iam conseguindo, em nome do próprio Nazareno. Este, porém, advertiu-os: "Não vos alegreis porque os espíritos se submetem a vós; alegrai-vos antes porque os vossos nomes estão inscritos nos céus." 
Quando Jesus declara alegrai-vos porque os vossos nomes estão inscritos nos céus, diz: a vossa vida está inscrita no coração de Deus e ninguém vos poderá arrancar desse infinito amor. Isto é tão verdade que o narrador acrescenta que o próprio Jesus se sentiu comovido, no Espírito Santo, pelo que tinha dito. 
A fé cristã diz-nos que as pessoas, que já não vemos, andam por onde sempre andaram, estão onde sempre estiveram, vivem onde sempre viveram, em Deus. Dizer em Deus é dizer que são nossa companhia, que participam nos cuidados de Deus por nós e por todo o universo.
Foram estas certezas da Ressurreição e as promessas de Jesus Cristo, que embalaram minhas orações nesta Semana Santa. Assim, pensado muito na espiritualidade do Bom Pastor, foi que me veio à presença de Dom Celso José, ele se fez presente nas minhas orações. Este Bispo e Pai, sempre vai está presente na minha vida, foi e sempre será minha grande referencia de Pastor, do Bom Pastor. Um pastor que nunca abandona suas ovelhas.
Os anos que Celso José viveu, multiplicam-se nas vidas dos outros que ele ajudou a viver. São tantos, que só em Deus se pode contar e cantar.
Padre Carlos.

Indiferença ou exclusão?

Indiferença ou exclusão?


Uma das minhas cenas preferidas no cinema foi protagonizada por Al Pacino no filme O Advogado do Diabo. Na cena final do filme, Al Pacino, protagonizando o diabo em pessoa, solta a frase "A vaidade é, definitivamente, meu pecado predileto!".
Ninguém ganha uma eleição sozinho, a vaidade pode levar outro grande pecado que é a indiferença e é sobre ela que gostaríamos de chamar atenção para o conjunto do partido. Não vamos cometer os mesmos pecados, todos os filados e agrupamentos do partido são importantes e merecem fazer parte deste projeto. 
Diante disto, nos perguntamos: o que seria preferível, que o partido que você ajudou a construir e os companheiros que durante décadas estiveram a seu lado lhe odiasse, ou que lhe fosse totalmente indiferente? Que perdesse o sono imaginando maneiras de fazer você se dar mal ou que dormisse feito um anjo a noite inteira, esquecido por completo da sua existência? O ódio é também uma maneira de se estar com alguém. Já a indiferença não aceita declarações ou reclamações: seu nome não consta mais do cadastro.
A grande diferença da indiferença não está somente quanto ao alvo, mas principalmente em sua real intenção. Há quem jamais ignore uma cena de violência e injustiça na rua, a sua frente, assim como as conquistas ou dificuldades que atravessam o país, sendo um combatente nas trincheiras por conquistas sociais, mas, é incapaz de reconhecer alguns membros do partido como companheiro. A gente até espera que os adversários ou os grupos que sempre estiveram contra o nosso projeto, fossem indiferentes, assim, quando isso vem de quem achamos que são nossos verdadeiros companheiros, pode ser um sinal.
Todo agrupamento merece respeito e atenção por parte do partido e das suas lideranças, quando isto não acontece, chega uma hora em que não adianta insistir para ouvir nossos pleitos e nosso grito por sobrevivência política, assim todas as nossas reivindicações terminam ecoando no vazio. Mas vale apena analisar para não tomar uma atitude precipitada, se o desinteresse do outro é pontual, ou se ele está incomodado com a nossa presença no partido. Gostaríamos de chamar atenção dos companheiros, para que antes de apelar para a indiferença, lembrem que ela fere, distancia e é um ato de falta de companheirismo talvez pior que o ódio, pois aprisiona sob a casca do descaso.
Quando um grande compositor brasileiro escreveu com propriedade que um mais um é sempre mais que dois, ele já compreendia que caminhando só caminha-se mais rápido, porem aqueles que caminham em grupo vão mais longe.


Padre Carlos

O desafio de romper o métier e falar para muitos


O desafio de romper o métier e falar para muitos

     Nos últimos tempos, venho sendo perseguido pela necessidade de escrever para atingir públicos mais amplos, que vão além daqueles que nós, pensadores de esquerda com capacidade de entender uma linguagem acadêmica. Usualmente atingimos um numero restrito, achando que estamos dialogando com um seguimento mais amplo, mais na verdade esta comunicação se estreita a uma comunidade especialista e as questões que muitas vezes tratamos como de fundamental importância para o grande público, termina soando como uma linguagem um tanto quanto tecnicista ou de cunho filosófica.
     Assim, estas preocupações que vão surgindo na minha trajetória de educador se tornam latentes quando discuto um tema que deveria interessar a sociedade como um todo em geral e somente alguns teóricos termina interagindo e se interessando pelos assuntos explanados. Desta forma, passei a entender que o problema não estava nas pautas abordadas, mas, na linguagem que eu empregava na abordagem do assunto, não seduzindo e afastando o leitor dos grandes temas.
     Eu queria mudar de foco, buscava dialogar com demandas que atingissem as pessoas, promovessem reflexões que mudassem pra melhor suas vidas. Afinal, se a ciência não está aqui para fazer desse mundo um lugar melhor para vivermos, para que serve ela então? Para ficar inteligentes, podemos ficar em casa ou frequentar outros espaços que não necessariamente a universidade. Para se tornar culto, basta ler bons livros, assistir peças de teatro e filmes maravilhosos, engajar-se em projetos sociais que nos sensibilizem e nos impulsionem a fazer algo, dentre tantas outras atividades que enobrecem o espírito e ampliam nossos horizontes.
     Munido dessa compreensão, passei a escrever sobre a conjuntura política levantando questões filosófica que estejam relacionadas com o nosso dia-a-dia, com isto, decidi mudar radicalmente de objeto buscando me comunicar com o mundo externo, sabia que teria algo a dizer e que seria relevante não só pra o mundo da política, mas acima de tudo para as pessoas que não conhece o submundo da militância e desconhece a linguagem aplicada e a escrita engajada neste universo. Eu já atuava em movimentos sociais desde os 15 anos de idade quando entrei no movimento estudantil secundarista. Transitei para o movimento estudantil universitário e nas organizações de esquerda. A sensação que eu tinha era a de uma coerência engajada na luta contra a ditadura e contra os preconceitos de raça, classe e religião.
     Na minha análise como profissional da filosofia e na minha trajetória no mundo da educação, percebi que a escrita acadêmica tinha muito a aprender com o militante e não vejo como fazer filosofia política sem uma opção decidida pela vida ativa. E penso que, no Brasil, a filosofia política deve cada vez mais abordar questões relativas ao nosso dia-a-dia. Filosofar sobre a prática coletiva não é a mesma coisa que simplesmente revestir opiniões com a roupagem de grandes autores. É abrir rumos novos. É até mesmo tomar partido, mas jamais adotar, como critério, o de seguir um partido. fazer, como a sensibilidade e acuidade para captar as questões sutis, profundas e prementes da vida social.
     Dentro de um contexto de retrocessos democráticos em que vivemos, com o avanço do fascismo, do fundamentalismo, das intolerâncias, das marchas que pedem a volta da ditadura e do golpe contra toda a história recente de morte e tortura – golpe que só foi possível graças à manipulação da informação e do discurso promovida pelos grandes oligopólios midiáticos do país – faz com que no preocupemos em criar espaços que  seja um campo privilegiado para que o debate livre prospere, colocando mais um tijolo no edifício de construção de uma consciência livre, promovendo as fissuras tão necessárias para a construção de um Brasil democrático, empoderado, consciente da necessidade de preservar os direitos humanos, as liberdades individuais, e as garantias sociais. Fora o fascismo, Fora Bozo, viva a democracia e a liberdade de expressão que não seja intolerância e opressão.

Padre Carlos

ARTIGO - A geração que fez a diferença! (Padre Carlos)

A geração que fez a diferença!      Decorridos tantos anos do fim da ditadura, observa-se que a geração da utopia está partindo e a nova...