O desafio de romper o métier e falar para muitos
Nos
últimos tempos, venho sendo perseguido pela necessidade de escrever para
atingir públicos mais amplos, que vão além daqueles que nós, pensadores de
esquerda com capacidade de entender uma linguagem acadêmica. Usualmente
atingimos um numero restrito, achando que estamos dialogando com um seguimento
mais amplo, mais na verdade esta comunicação se estreita a uma comunidade
especialista e as questões que muitas vezes tratamos como de fundamental importância
para o grande público, termina soando como uma linguagem um tanto quanto
tecnicista ou de cunho filosófica.
Assim,
estas preocupações que vão surgindo na minha trajetória de educador se tornam
latentes quando discuto um tema que deveria interessar a sociedade como um todo
em geral e somente alguns teóricos termina interagindo e se interessando pelos assuntos
explanados. Desta forma, passei a entender que o problema não estava nas pautas
abordadas, mas, na linguagem que eu empregava na abordagem do assunto, não seduzindo
e afastando o leitor dos grandes temas.
Eu
queria mudar de foco, buscava dialogar com demandas que atingissem as pessoas,
promovessem reflexões que mudassem pra melhor suas vidas. Afinal, se a ciência
não está aqui para fazer desse mundo um lugar melhor para vivermos, para que
serve ela então? Para ficar inteligentes, podemos ficar em casa ou frequentar
outros espaços que não necessariamente a universidade. Para se tornar culto,
basta ler bons livros, assistir peças de teatro e filmes maravilhosos,
engajar-se em projetos sociais que nos sensibilizem e nos impulsionem a fazer
algo, dentre tantas outras atividades que enobrecem o espírito e ampliam nossos
horizontes.
Munido
dessa compreensão, passei a escrever sobre a conjuntura política levantando
questões filosófica que estejam relacionadas com o nosso dia-a-dia, com isto,
decidi mudar radicalmente de objeto buscando me comunicar com o mundo externo, sabia
que teria algo a dizer e que seria relevante não só pra o mundo da política,
mas acima de tudo para as pessoas que não conhece o submundo da militância e
desconhece a linguagem aplicada e a escrita engajada neste universo. Eu já
atuava em movimentos sociais desde os 15 anos de idade quando entrei no
movimento estudantil secundarista. Transitei para o movimento estudantil universitário
e nas organizações de esquerda. A sensação que eu tinha era a de uma coerência engajada
na luta contra a ditadura e contra os preconceitos de raça, classe e religião.
Na
minha análise como profissional da filosofia e na minha trajetória no mundo da
educação, percebi que a escrita acadêmica tinha muito a aprender com o militante
e não vejo como fazer filosofia
política sem uma opção decidida pela vida ativa. E penso que, no Brasil, a
filosofia política deve cada vez mais abordar questões relativas ao nosso dia-a-dia.
Filosofar sobre a prática coletiva não é a mesma coisa que simplesmente
revestir opiniões com a roupagem de grandes autores. É abrir rumos novos. É até
mesmo tomar partido, mas jamais adotar, como critério, o de seguir um partido. fazer, como a sensibilidade e acuidade para captar
as questões sutis, profundas e prementes da vida social.
Dentro
de um contexto de retrocessos democráticos em que vivemos, com o avanço do
fascismo, do fundamentalismo, das intolerâncias, das marchas que pedem a volta
da ditadura e do golpe contra toda a história recente de morte e tortura –
golpe que só foi possível graças à manipulação da informação e do discurso
promovida pelos grandes oligopólios midiáticos do país – faz com que no
preocupemos em criar espaços que seja um campo
privilegiado para que o debate livre prospere, colocando mais um tijolo no
edifício de construção de uma consciência livre, promovendo as fissuras tão
necessárias para a construção de um Brasil democrático, empoderado, consciente
da necessidade de preservar os direitos humanos, as liberdades individuais, e
as garantias sociais. Fora o fascismo, Fora Bozo, viva a democracia e a
liberdade de expressão que não seja intolerância e opressão.
Padre Carlos
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