terça-feira, 7 de maio de 2019

O desafio de romper o métier e falar para muitos


O desafio de romper o métier e falar para muitos

     Nos últimos tempos, venho sendo perseguido pela necessidade de escrever para atingir públicos mais amplos, que vão além daqueles que nós, pensadores de esquerda com capacidade de entender uma linguagem acadêmica. Usualmente atingimos um numero restrito, achando que estamos dialogando com um seguimento mais amplo, mais na verdade esta comunicação se estreita a uma comunidade especialista e as questões que muitas vezes tratamos como de fundamental importância para o grande público, termina soando como uma linguagem um tanto quanto tecnicista ou de cunho filosófica.
     Assim, estas preocupações que vão surgindo na minha trajetória de educador se tornam latentes quando discuto um tema que deveria interessar a sociedade como um todo em geral e somente alguns teóricos termina interagindo e se interessando pelos assuntos explanados. Desta forma, passei a entender que o problema não estava nas pautas abordadas, mas, na linguagem que eu empregava na abordagem do assunto, não seduzindo e afastando o leitor dos grandes temas.
     Eu queria mudar de foco, buscava dialogar com demandas que atingissem as pessoas, promovessem reflexões que mudassem pra melhor suas vidas. Afinal, se a ciência não está aqui para fazer desse mundo um lugar melhor para vivermos, para que serve ela então? Para ficar inteligentes, podemos ficar em casa ou frequentar outros espaços que não necessariamente a universidade. Para se tornar culto, basta ler bons livros, assistir peças de teatro e filmes maravilhosos, engajar-se em projetos sociais que nos sensibilizem e nos impulsionem a fazer algo, dentre tantas outras atividades que enobrecem o espírito e ampliam nossos horizontes.
     Munido dessa compreensão, passei a escrever sobre a conjuntura política levantando questões filosófica que estejam relacionadas com o nosso dia-a-dia, com isto, decidi mudar radicalmente de objeto buscando me comunicar com o mundo externo, sabia que teria algo a dizer e que seria relevante não só pra o mundo da política, mas acima de tudo para as pessoas que não conhece o submundo da militância e desconhece a linguagem aplicada e a escrita engajada neste universo. Eu já atuava em movimentos sociais desde os 15 anos de idade quando entrei no movimento estudantil secundarista. Transitei para o movimento estudantil universitário e nas organizações de esquerda. A sensação que eu tinha era a de uma coerência engajada na luta contra a ditadura e contra os preconceitos de raça, classe e religião.
     Na minha análise como profissional da filosofia e na minha trajetória no mundo da educação, percebi que a escrita acadêmica tinha muito a aprender com o militante e não vejo como fazer filosofia política sem uma opção decidida pela vida ativa. E penso que, no Brasil, a filosofia política deve cada vez mais abordar questões relativas ao nosso dia-a-dia. Filosofar sobre a prática coletiva não é a mesma coisa que simplesmente revestir opiniões com a roupagem de grandes autores. É abrir rumos novos. É até mesmo tomar partido, mas jamais adotar, como critério, o de seguir um partido. fazer, como a sensibilidade e acuidade para captar as questões sutis, profundas e prementes da vida social.
     Dentro de um contexto de retrocessos democráticos em que vivemos, com o avanço do fascismo, do fundamentalismo, das intolerâncias, das marchas que pedem a volta da ditadura e do golpe contra toda a história recente de morte e tortura – golpe que só foi possível graças à manipulação da informação e do discurso promovida pelos grandes oligopólios midiáticos do país – faz com que no preocupemos em criar espaços que  seja um campo privilegiado para que o debate livre prospere, colocando mais um tijolo no edifício de construção de uma consciência livre, promovendo as fissuras tão necessárias para a construção de um Brasil democrático, empoderado, consciente da necessidade de preservar os direitos humanos, as liberdades individuais, e as garantias sociais. Fora o fascismo, Fora Bozo, viva a democracia e a liberdade de expressão que não seja intolerância e opressão.

Padre Carlos

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