Segurança e as políticas
públicas
Se o pacto é pela vida, porque os Policiais baianos estão entre
os que mais matam no Brasil. A Secretaria da Segurança Pública da Bahia
ressalta que todo policial brasileiro, por lei, tem o direito de reagir a
ataques de criminosos. Acrescenta que todas as mortes em confronto são
acompanhadas pelas corregedorias.
Diante destes dados, venho tentando acompanhar as políticas públicas em relação à segurança no nosso estado e na nossa cidade por força de meu trabalho e porque nela vivo com as pessoas que amo. Eu não faço favor algum em me preocupar com nosso estado de insegurança. Sendo um cidadão essa é minha obrigação. O cidadão tem o direito e o dever de saber o que se passa em sua volta. Mas, não me parece útil fixar na memória quantos homicídios já tivemos este ano em Vitória da Conquista se não pudermos entender as motivações para eles.
Diante destes dados, venho tentando acompanhar as políticas públicas em relação à segurança no nosso estado e na nossa cidade por força de meu trabalho e porque nela vivo com as pessoas que amo. Eu não faço favor algum em me preocupar com nosso estado de insegurança. Sendo um cidadão essa é minha obrigação. O cidadão tem o direito e o dever de saber o que se passa em sua volta. Mas, não me parece útil fixar na memória quantos homicídios já tivemos este ano em Vitória da Conquista se não pudermos entender as motivações para eles.
Não adianta nos
intitularmos “policiólogos”, “politólogos” ou “cientistas políticos”. Pouco
adianta dizermos que somos especialistas em segurança pública se nos
contentamos com os números circunstanciais que pesquisas do governo federal
trazem. A pesquisa, conduzida pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), coloca a Bahia na
terceira posição no ranking de mortes por intervenções policiais, atrás apenas
do Rio de Janeiro, com 925 casos ao longo de 2016, e de São Paulo, com 856.
O que queremos é uma
policia que atue na prevenção do crime. Precisamos que o bandido não entre em
nossas casas. Sim, desejamos que ele seja preso após nos roubar. Mas, a
prevenção ainda é a melhor política de segurança pública que se pode ter. A
Secretaria de Segurança da Bahia tem bons resultados com o programa “Pacto pela
Vida”, a caravana da paz, caravana da vida, buscando aproximar a direção das
instituições de segurança pública, tem ajudado bastante este trabalho. Assim,
não podemos ignorar, que o diálogo entre os poderes também é muito importante
para que o Pacto aconteça. O mérito do projeto é entender que a construção da
sociedade se dá de forma coletiva, e não de cima para baixo. O importante é
investir em projetos de prevenção. Ao invés de esperar que o crime aconteça, a
polícia da Bahia tem a obrigação de agir na perspectiva de impedir que ele
ocorra.
De muito pouco
adianta o discurso enfurecido da oposição, ao saber que mais um policial
militar foi assassinado por bandidos. Isso não vai resolver nossos problemas.
Pelo contrário, só aumenta à revolta e a desesperança. Quando crimes brutais
acontecem, como o assassinato do policial militar Gustavo Gonzaga da Silva, 44
anos, assassinado no ano passado por traficantes no bairro da Santa Cruz, em
Salvador, o que se espera das autoridades e dos agentes públicos é uma atitude
sensata no sentido de se buscar, pelo menos, descobrir as motivações para o
crime.
Aliás, esse é nosso
grande problema. Só nos preocupamos com o crime pelo crime. Não queremos saber
os motivos que concorrem para que ele aconteça. Só nos preocupamos em contar
quantos caixas eletrônicos são, por mês, explodidos. Se realmente se quer
acabar com esse tipo de crime, porque não se investiga quem está lucrando para
que ele ocorra? O roubo aos caixas eletrônicos movimenta o comercio ilegal de
explosivos e gera divisas para outros tipos de crimes.
A maioria dos crimes
possuem motivações pragmáticas e objetivas. Claro, o crime visa, em geral, o
lucro. O roubo de carros e motos serve para abastecer a “indústria” dos
desmanches que por sua vez abastece as oficinas. Se você, caro leitor, não se
perturba em saber que uma peça que está sendo colocada em seu carro tem
procedência ilegal, saiba que está contribuindo para que o crime ocorra. A
regra é simples. O carro é roubado e é repassado para o desmanche. Daí, as
peças são atravessadas para oficinas cujos donos e clientes só pensam em maximizar
ganhos e minimizar perdas, mesma que seja à custa da vida de alguém. Esse nosso
jeito Macunaíma de ser ainda vai nos causar muitos danos.
Você se sente
esperto demais por pagar menos da metade por um produto, mesmo que ele seja
roubado? Se a resposta for sim, saiba que você contribui para o aumento da
violência. O crime é uma empresa que visa o lucro e que age motivado por
demandas. Porque será que o assalto violento a residências é uma das
modalidades de crimes que vem crescendo em todo o Brasil. Quem não se lembra da
médica cardiologista que foi baleada durante uma troca de tiros entre polícia e
assaltantes em um bairro nobre da nossa cidade. A resposta é simples: muita
gente se dispõe a comprar eletrodomésticos e eletroeletrônicos roubados, sem nota
fiscal.
Daí que se preocupar
em resolver o crime quando ele já aconteceu não deixa de ser a política de
enxugar gelo. Certo. Quando os crimes brutais ocorrem, queremos ver seus
autores atrás das grades. Mas, isso impede que novos crimes ocorram? O que impede
que o crime aconteça são políticas públicas de segurança, interligadas com
políticas públicas nas áreas de educação, saúde, moradia, etc.
E eu não estou
falando dos assistencialismos de toda sorte. Eu não falo de coisas
circunstanciais como mais armas, mais viaturas e mais presídios. Eu não falo de
cada vez mais se usar mais a força. Eu falo em pegar esta criança que está aí,
agora, pedindo esmolas nos sinais das Avenidas de Vitória da Conquista e lhe
dar cidadania. Eu falo em pararmos de enxugar gelo. Eu falo em entendermos de
uma vez por todas que cercas eletrificadas, grades fortificadas, ferozes cães e
guardas armadas são apenas paliativos cada vez mais ineficazes. Eu falo mesmo
em pararmos de fingir que não temos nada haver com esse estado de coisas. Está
na hora de atentarmos para o calibre do perigo, de onde ele vem e,
principalmente, porque ele vem.
Padre Carlos
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