quarta-feira, 8 de maio de 2019

A beleza me alegra


A beleza me alegra


Outro dia um amigo comentava sobre a beleza e como podemos defini-la. Estas argumentações filosóficas foram chamando minha atenção como à beleza pode influenciar o nosso humor e a nossa vida. Assim a frase: A beleza me alegra, passou a fazer parte da minha vida. E, realmente, a beleza é inexplicável, especialmente quando se trata da beleza de alguém, porque uma pessoa pode ser bela para mim e não o ser para outra pessoa. .
Cada um de nós tem os seus motivos para considerar uma pessoa, um objeto, uma paisagem, uma ideia ou nas pequenas coisas, podemos vê e admirar os belos. Como diz Vinicius de Morais: « As muito feias que me perdoem
Mas beleza é fundamental. É preciso
Que haja qualquer coisa de flor em tudo isso
Qualquer coisa de dança, qualquer coisa de haute couture
Em tudo isso…»
Não podemos esquecer, que a ideia de «belo», é um dos grandes conceitos da filosofia. Para Platão era mesmo a ideia suprema, enquanto para Aristóteles o belo estava associado à virtude. Por seu lado, para Hegel, a beleza era uma das armas mais poderosas que o homem possui para superar o seu destino trágico, encurralado entre o mundo natural e o mundo perfeito das ideias. E, apesar de o pós-modernismo, com a sua hiper-realidade, rejeitar a beleza, este conceito foi, posteriormente, recuperado, assumindo a beleza um papel cada vez mais importante.
Historicamente, como bem aponta Hegel, o conceito de beleza tem refletido as principais ideias vigentes em cada época, porque, sendo o homem que o define, este reflete, naturalmente, as teorias que, em cada momento, entende serem as mais importantes.
Encontrar uma definição essencial de beleza que possa contentar todos os seres humanos, é uma tarefa impossível diante da subjetividade que é o objeto. Mas, isto não quer dizer que não possamos questionar-nos sobre o que é a beleza ou, mais concretamente, sobre o que é, para cada um de nós, a beleza.
Ora, para responder à questão colocada sobre o que é a beleza, é necessário cada um ater-se às suas crenças pessoais, à análise dos motivos que o levam a considerar algo ou alguém belo. Trata-se, pois, de uma pergunta que nos leva a refletir sobre o nosso próprio sistema de pensamento, sobre os conceitos em que assenta a nossa definição de estética. O que importa é, pois, tanto o processo como as conclusões a que chegamos.
Diz S. Tomás de Aquino que a beleza é o que agrada à visão. Ora, se assim é, o que é que agrada à visão particular de cada um? O que é que a beleza tem que nos agrada e como pode ela salvar o mundo?
Quando Dostoievski, em O Idiota, põe na boca de Hippolytos a pergunta sobre se a beleza salvará o mundo, a resposta do príncipe Mychkine é apenas silêncio. Mas, sabe-se que o próprio Dostoievski acreditava nesta afirmação, porque, uma vez por ano, se deslocava a Dresden, na Alemanha, para contemplar a Madonna de Rafael, onde permanecia atento, longo tempo, em silêncio. E ele próprio afirmou: «Seguramente não podemos viver sem pão, mas também é impossível existir sem beleza». Terá sido a ideia subjacente a esta formulação que inspirou Frei Betto a desenvolver o tema para a Teologia da Libertação sobe fome de pão e de beleza, ou os movimentos sindicalistas daqui do Brasil a proferir a famosa frase (copiada de Trotsky): «Pelo direito ao pão, mas também à poesia».
A beleza (a poesia) retira o homem do seu quotidiano e lança-o em caminhos que Dionísio define como uma «tensão para uma vida mais alta», porque, Ser poeta é ser mais alto, / É ser maior do que os homens. E a chave para alcançar a beleza está na própria vida, porque, nas palavras de João Paulo II; «Todo o homem recebeu a tarefa de ser artífice da própria vida: de certa forma, deve fazer dela uma obra de arte, uma obra-prima». Assim saibamos nós ter esta certeza e, a cada momento, seguir o conselho de Bento XVI: «Saibamos fazer das nossas vidas locais de beleza”.» Para que, assim, à nossa volta, possamos admirar a beleza, admirar a poesia…
Padre Carlos


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