terça-feira, 28 de maio de 2019

ARTIGO | Perdoar para que as feridas sejam curadas (Padre Carlos)*


Perdoar para que as feridas sejam curadas

            O grande desafio do cristão é seguir os mandamentos de Cristo e coloca-lo em prática, assim entre muitos destes ensinamentos, estão este: “Amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos maltratam e perseguem. Deste modo sereis os filhos de vosso Pai do céu” (Mateus 6, 44-45). 
            Mas isso não é fácil. Quem nunca teve pensamentos negativos sobre seus inimigos e até já desejou que coisas ruins lhe acontecessem? O ódio instaura-se no coração e afeta o cérebro. Este sentimento intenso de raiva, aversão e repulsa é capaz de emburrecer.
            Não este não é um modo cristão de viver! Nós somos desafiados a amar todas as pessoas, especialmente aquelas que nos machucam de alguma forma. 
Então, como podemos mudar nossos pensamentos negativos sobre as pessoas? O padre italiano Lorenzo Scupoli explicou, no livro O Combate Espiritual, a chave para superar tal atitude interior: 
“Eu acrescentaria a tudo o que foi dito que, se a virtude em que você está se exercitando assim o exigir, você também deve praticar atos externos conformes ao interior; como, por exemplo, palavras de amor e mansidão e serviços humildes prestados àqueles que, de alguma forma, o frustraram ou desprezaram.”
Scupoli ainda sugere que você diga algo bom sobre seu inimigo ou até mesmo faça algo bom para ele. Mesmo que isso seja extremamente difícil, o ato em si começará a transformar sua alma.
            Não podemos esquecer que somos a soma dos corpos e das almas, isto é, nós somos uma unidade de corpo e alma. Portanto, o que fazemos fisicamente com nossos corpos afetará nossas almas. Isso significa que, se você quiser pensar melhor sobre certas pessoas, talvez seja necessário falar positivamente sobre elas ou sair de seu caminho para fazer uma boa ação por elas.
            Seus inimigos podem até não apreciar ou mesmo rejeitar esse ato, mas isso não deve fazer você perder o foco que é se libertar deste peso, deste pecado,desta cruz . Temos que seguir o exemplo de Jesus e amar a todos. 
Ninguem lhe falou que seria facil ser cristão. Neste momento, convido você a abrir o seu coração para perdoar a todos, até mesmo os seus inimigos e, também, aqueles que não te perdoam ou, ainda, aqueles que fizeram algum mal à sua família.
            Essa é a verdadeira mística e espiritualidade. Bem vindo a bordo!


Padre Carlos.

ARTIGO | Meu Papa não é herético? (Padre Carlos)*




Meu Papa não é herético?


            Faz exatamente quinze dias, que um grupo de académicos, teólogos e padres católicos dirige-se ao colégio dos bispos da Igreja Católica invocando duas razões: acusar o Papa Francisco do "delito canónico de heresia" e requerer que os bispos façam o que é preciso para que ele renuncie publicamente a essas heresias ou se lhe aplique o estabelecido canonicamente, incluindo a remoção do cargo papal.
            Em síntese, Francisco é acusado de aceitar que católicos divorciados e recasados civilmente possam ser admitidos, em certas circunstâncias, à comunhão; acusado de não se opor de forma mais contundente ao aborto; acusado de, no diálogo ecuménico com os luteranos, manifestar acordo com Lutero em alguns pontos; acusado de acolher os LGBT; acusado de afirmar que a diversidade de religiões não só é permitida por Deus, mas querida; acusado de ter dado cobertura e mesmo ter promovido personalidades que também dão cobertura a estas heresias, aceitam a moralidade de atos homossexuais e/ou praticaram ou encobriram abusos sexuais de menores...
            O que é que os autores da carta querem? Que não haja liberdade religiosa? Querem o uniformismo? Não será a unidade na variedade a riqueza da vida também no domínio religioso? Estou convicto de que Deus se revelou de modo definitivo e inultrapassável em Jesus. No entanto, o Jesus que disse: "Eu e o Pai somos um" também disse: "O Pai é maior do que eu." O que é que isto quer dizer? Evidentemente, as religiões não são todas iguais, mas elas todas, na medida em que não sejam contra o Humanum, pelo contrário, o promovam, são caminhos para Deus, que está para lá de todas elas. Não se pode esquecer que as religiões não existem para elas mesmas, pois estão ao serviço de Deus e da humanidade. E o Papa esforça-se no combate a favor da paz, concretamente com o islão moderado, a favor do diálogo inter-religioso. Sem afastar nem postergar a identidade cristã, evidentemente.
            Quando Francisco enfrenta estas forças que tentam ressuscitar a cristandade em sua versão mais perversa, ele quer que saibamos que a Igreja não pode deixar de ser sacramento da misericórdia de Deus no mundo, em todos os tempos e para a humanidade inteira. Portanto, cada cristão está chamado a ser testemunha da misericórdia, e isto acontece no caminho da santidade. Pensemos em quantos santos se tornaram misericordiosos porque deixaram que seus corações se enchessem de misericórdia divina. Deram corpo ao amor do Senhor, derramando-o nas múltiplas necessidades da humanidade sofredora. Neste florescer de tantas formas de caridade é possível entrever os reflexos da face misericordiosa de Cristo.
            Somente trazendo o povo que foi durante séculos afastados da mesa da Eucaristia e agindo como um Pai Misericordioso poderemos ser digno do nosso pastoreio e com ajuda dos excluídos buscaremos reconstruir, vivendo lado a lado, rezando e pregando com eles. Diante de tal constatação, é que Francisco foi percebendo que a vontade do Senhor é a reconstrução da Igreja viva. Francisco não esta fazendo uma reforma, ele esta fazendo uma reconstrução, devolvendo a Igreja aos pobres, uma verdadeira revolução!


Padre Carlos

ARTIGO | Verdadeiro Bispo (Padre Carlos)*



Verdadeiro Bispo


            Na avaliação do ano pastoral da diocese de Roma, no qual participaram os seus bispos auxiliares, sacerdotes, religiosos, o bispo de Roma ( Francisco ) quer que a sua diocese escute a cidade e seja sensível aos gritos dos que sofrem: os órfãos, os toxicodependentes, as famílias que passam dificuldades, os pobres, os estrangeiros, os idosos, as pessoas com deficiência. Quer que esteja atenta aos que perderam a fé, ou que nunca tiveram. Os que querem verdadeiramente promover o outro têm de desenvolver uma atitude de humildade. Vencer a tentação de se sentirem superiores, para se colocarem ao seu serviço. "Ai daqueles que olham do alto e desprezam os pequenos", disse o Papa.
            Segundo ele, é preciso ir ao seu encontro desinteressadamente, como o Bom Pastor que vai à procura da ovelha perdida sem qualquer interesse pessoal, a não ser que nenhuma se perca. Foi isso que fez Jesus. Deixou as noventa e nove para ir à procura da que andava perdida. "Nós, muitas vezes, estamos obcecados com as poucas ovelhas que permaneceram no redil. E tantos deixam de ser pastores de ovelhas para se tornarem "penteadores" de ovelhas requintadas. E gastam todo o seu tempo penteando-as. Muitas? Não. Dez ... pouca coisa. O que é mau. Nunca encontramos coragem para procurar as outras, aquelas que estão perdidas, que percorrem caminhos que nunca desbravámos", afirmou o Papa.
            Para escutar a cidade e ter uma proposta para os seus problemas é necessário, segundo o Papa, percorrer o caminho das Bem-Aventuranças. Esse discurso em que Jesus proclama bem-aventurados os pobres, os que passam fome, os que choram... Para o Papa, as Bem-Aventuranças só são compreendidas pelos que aprenderam com Jesus e com a vida "onde está a verdadeira alegria, aquela que o Senhor nos dá, e saber discernir onde encontrá-la e fazer com que os outros a encontrem". Em comunidades que acolham "as pessoas, feridas pela vida ou pelo pecado, os pequeninos que clamam a Deus", sem orgulho, mas com humildade, respeitando-as e envolvendo-as em "relações verdadeiramente humanas". Em que elas se sintam de novo pessoas em vez de descartáveis da sociedade.
            O Papa propôs duas preocupações fundamentais aos seus diocesanos. A primeira, "exercitar um olhar contemplativo sobre a vida das pessoas que habitam a cidade". Ou seja, "entender como as pessoas vivem, como pensam". A segunda, "exercitar um olhar contemplativo sobre as novas culturas que se geram na cidade".
            Escutando o discurso do Papa aos diocesanos, fica-se com a impressão que ele dá pouco valor aos planos pastorais, às estruturas ou organizações diocesanas. Não se trata disso, porém. O que ele alerta é para a sua inutilidade se não estiverem ao serviço das pessoas, em particular dos mais pobres e dos pequeninos.
*Padre Carlos


ARTIGO | O que é isto Companheiro? (Padre Carlos)*



O que é isto Companheiro


Quem me conhece sabe: sou petista com muito orgulho e, enquanto ser-no-mundo, como diria Paulo Freire, sempre me posicionei ideologicamente no campo da esquerda. Mas reconheço que a esquerda é muito mais abrangente do que o lulismo e o petismo. O que recuso é a simplificação da realidade social e política, sua redução à dicotomia maniqueísta do “”bem” versus o “mal”.

            A realidade é mais complexa. No mundo da política não há só dois partidos; a política não se reduz ao PT. Sou petista desde 1980! O PT foi e é uma das minhas “universidades”, como diria o saudoso Maurício Tragtenberg. Aprendi muito, conheci muitas pessoas e fiz amizades que mantenho até o presente. Muitas delas deixaram o PT. São livres para escolher e cabe-me apenas respeitar a decisão. Tenho amigos na esquerda crítica ao PT – em muitos casos, também oriundos do petismo. Na minha militância, conheci outras pessoas, nem petistas nem comunistas. Também tento compreender e respeitar. Não pauto as minhas amizades por cores ideológicas.
            O fato de alguém pensar diferente não o torna necessariamente o meu inimigo. Para além das manifestações de ódio e violência, do preconceito social e do machismo renitente, é preciso ter claro que nem todos agem e pensam preconceituosamente e sejam misóginos. A democracia pressupõe o direito de pensar diferente. Aprendi nestes quarenta e cinco anos de militância, que com efeito, na política a linguagem nunca é inocente, ela está sempre em disputa. Os rótulos e slogans são próprios das simplificações ideológicas. Como o medo, a linguagem é um ingrediente inerente à luta política. Seu uso tende a ser generalizado, indiscriminado e perigoso!
            É preciso preservar o direito de divergir. Porém, isto não significa aceitar ser acometido pela cegueira política, própria dos fanáticos que alimentam o ódio. Há também os que se recusam a ver, embora enxerguem com os olhos. Os que inadvertidamente atropelam a democracia, ainda que paradoxalmente em nome da democracia, semeiam os frutos amargos do autoritarismo. Como escreve Saramago: “É uma grande verdade a que diz que o pior cego foi aquele que não quis ver”.


Padre Carlos

ARTIGO | Nem tudo que é legal é moral (Padre Carlos)*


            

Nem tudo que é legal é moral 




                Por mais que se diga que a imparcialidade da Justiça esteja presente nos últimos acontecimentos no nosso país é difícil acreditar. 
O que o Brasil na verdade esta vivendo é uma desonesta instrumentalização do seu sistema judicial e político ao serviço de um determinado e concreto interesse político, visando à implementação de um projeto neoliberal fruto do mito de um Estado Mínimo.

            Estes acontecimentos passam a ser colocados em pratica, quando um ativista político começa a atua disfarçado de juiz. O que vem acontecendo no Brasil, não é apenas um problema institucional de forma pontual, o que quero chamar atenção dos nossos leitores é para a verdadeira tragédia institucional que esta se formando em nosso país.

            Para lembramos e entendermos todo o enredo desta tragédia grega que se abate sobre a nossas vidas, gostaria de chamar atenção para os seguintes fatos: nosso atual ministro da justiça, quando era juiz, validou ilegalmente uma escuta telefônica entre a então presidente brasileira, Dilma Roussef, e o seu antecessor, Lula da Silva.

            Este mesmo magistrado decide, ilegalmente, entregar a gravação à rede de televisão Globo, que a divulga nesse mesmo dia, o juiz condena o antigo Presidente [Lula da Silva] por corrupção em atos indeterminados, o juiz prende o ex- Presidente antes de a sentença transitar em julgado, violando frontalmente a constituição brasileira. O juiz, em gozo de férias e sem jurisdição no caso, age ilegalmente para impedir que a decisão de um desembargador que decidiu pela libertação de Lula seja cumprida.

            Só podemos avaliar o atual ministro de Bolsonaro quando atuava na magistratura, como um juiz indigno, é um político medíocre e uma pessoa lamentável. Como podemos acreditar em um militante do direito, que apesar do conhecimento dos atos e dos discursos governamentais que celebram golpes militares, defendem a tortura e recomendam o banimento dos adversários políticos, se calando diante tantos atos autoritários quando não defende publicamente este mesmo governo.

            Diante de tantas agressões ao Estado de Direito, não entendemos o significado do silêncio daqueles que assistem a tudo isto como se nada fosse com eles.

            No mundo em que vivemos hoje, é cada vez mais difícil esconder alguma coisa do grande público. A vida privada se tornou bastante pública. O texto de Lucas me vem nestes momentos: “Porque não há nada oculto que não venha a ser revelado, e nada escondido que não venha a ser conhecido e trazido à luz”.

            Assim, em entrevista a Milton Neves, na rádio Bandeirantes, Bolsonaro afirmou que indicará Sérgio Moro para a próxima vaga a ser aberta no Supremo, em novembro do ano que vem. “Eu fiz um compromisso com ele [Moro], porque ele abriu mão de 22 anos de magistratura...”.

            Como no Brasil tudo é coincidência, podemos afirmar que à ascensão meteórica de juízes ligados à condenação e à prisão de Lula é fruto de um governo que tem como princípios a Meritocracia.


Padre Carlos

ARTIGO: O Iluminismo e seus inimigos ( Padre Carlos )



O Iluminismo e seus inimigos


                A tentativa da Inglaterra de sair da União Europeia tem lavado a outros países a pensarem de forma individualista e as pessoas passam a falar com mais frequência de uma saída da França ou da Itália do Mercado Comum Europeu. Esquece-se, assim, que a UE foi fundada, antes de tudo, para prevenir outra guerra. Foi a partir desse objetivo que os países se dedicaram a cultivar laços e fundaram um mercado comum e uma união política e monetária. E esse projeto de cooperação foi extraordinariamente bem-sucedido. Esta cooperação trouxe o período de mais longa paz da História, e grande prosperidade. Não há lugar no mundo onde a vida seja melhor do que na Europa Ocidental. Diante de tais fatos, compete ao cientista e ao analista político tentar responder o que vem acontecendo no velho continente e em alguns países das Américas.   
                A grande questão hoje na cultura ocidental é a ressureição do nacionalismo. O nacionalismo é parte integral da luta contra o Iluminismo. Com frequência, o nacionalismo radical começa a se tornar um protofascismo ou um fascismo de fato. Isto acontece desde o século XIX. Há duas concepções de nação: a primeira define uma nação como um “conjunto de pessoas que vivem em um determinado território delimitado por certas fronteiras e obedecem ao mesmo governo”. Essa concepção da nação representou a tentativa heroica dos homens do Iluminismo de superar as resistências da História e da cultura e afirmar a autonomia dos indivíduos. A sociedade se forma como um agregado de indivíduos, os cidadãos.
                Ao lado dessa visão iluminista há outra visão de nação como um corpo orgânico, onde o indivíduo não tem interesses antagonísticos entre si. Esta tradição compreende os indivíduos como presos à cultura nacional, baseada em uma língua e uma religião. O que emerge daí é uma ideia de uma sociedade tribal, fortemente concentrada em um núcleo racial, ligado a igrejas e a um passado. Fala de uma democracia iliberal, o que é algo que não existe. A democracia é liberal, ou não é. O que esconde por trás dessa expressão é o fim da liberdade de expressão e da nação vista com uma comunidade de cidadãos, que podem definir os seus próprios destinos.
                Fazendo esta abordagem e tentando chamar atenção para o que se passa no mundo e especialmente no Brasil. Não podemos negar a engenhosidade desta elite que chega ao poder, estamos presenciando a tentativa de destruição dos valores liberais sem tocar na economia liberal. Ataca-se, assim, a liberdade e os direitos humanos, sem fazer qualquer mudança na estrutura da economia capitalista.
                O seu poder vem de apelos a tudo o que divide as pessoas, como a História, as culturas e a linguagem, em contraposição a tudo o que as une — suas condições como seres racionais, com direitos fundamentais.
                O Estado, nas democracias liberais, existe para fazer as vidas dos indivíduos melhores e mais felizes. Conservadores liberais, socialistas liberais ou social-democratas entendem que os direitos sociais têm o objetivo de melhorar a vida das pessoas. A sociedade e o Estado não devem ter outro propósito senão melhorar a vida dos indivíduos e fazê-los mais felizes.
                 Neste sentido, podemos considerar que neoconservadorismo brasileiro não são conservadores de fato, mas revolucionários. Querem destruir as conquistas que tivemos ao longo do séc. passado, das conquistas trabalhistas da dec. de 30 a constituição de 1988, tudo aquilo que a nossa democracia se propõem a oferecer e, substituindo a liberdade e a igualdade pelo nacionalismo, construir um mundo diferente. Não querem tornar os indivíduos mais felizes, mas diferente da sua vertente europeia, que é nações mais poderosas, aqui nosso papel é vender as nossas riquezas, nos tornando submisso ao interesse do capital estrangeiro.
                Não podemos esquecer que a grandeza do Iluminismo é a partir da premissa racional de que todos os indivíduos são iguais e tem os mesmos direitos sociais e políticos baseados na razão.
                O atual governo representa a continuação da luta contra a filosofia do Iluminismo — e, com ela, contra o Estado de bem-estar social, contra a democracia e contra os valores da liberdade, da igualdade.

Padre Carlos

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segunda-feira, 27 de maio de 2019

ARTIGO: A vida é um dom de Deus ( Padre Carlos )

    

A vida é um dom de Deus

            Hoje ao receber a notícia que 42 presos foram encontrados mortos em celas de três presídios do estado do Amazonas, lembrei que em janeiro de 2017, uma rebelião de 17 horas resultou na morte de 56 pessoas no Compaj e em dezembro de 2018, um agente penitenciário tinha sido assassinado dentro deste complexo. Estes acontecimentos era o suficiente para que o estado que é o grande responsável por estas vidas, toassem providencia para que jamais se repetisse tal barbárie.
            Não podemos tampar o sol com uma peneira, infelizmente, temos que admitir que o sistema carcerário esta falido, superlotado e entranhado pela corrupção e dominado pela disputa de poder entre facções criminosas; são poucas as medidas que tentam, de fato, resolver o problema. Assim, nos tornamos a mão destes carrascos ao fechar a todo o momento os olhos e não denunciamos os verdadeiros responsáveis, aqueles que tinham o poder de evitar. Sabíamos do histórico de rebeliões nos presídios do Estado do Amazonas, no entanto não fizemos nada e a nossa inercia misturada com a nossa omissão, levaram mais uma vez, a testemunhar a falta do estado nestes acontecimentos que levaram dezenas de mortos.
              O mesmo estado que hoje condenou quarenta e duas pessoas à morte, protege com todo o rigor da justiça os transgressores bem-nascidos e a elite política e econômica.  Cuidamos bem da elite que vai parar atrás das grades, sempre com a esperança que ela possa retornar ao convício social como se nada tivesse acontecido.
 Já com os “Josés” e as “Marias” de sempre a coisa é diferente. Não queremos ressocializar ninguém. Para que mesmo vamos dar mais uma chance para aqueles que não merecem ter oportunidades, pois nasceram pobres e pobres devem morrer. Assim é a política do novo governo: “bandido bom é bandido morto”.

       Desta forma, nosso modelo de masmorra medieval é aplicado na Amazonas e no resto do país, serve bem, pois lá se pratica toda sorte de castigos corporais e mentais. Lá se aniquila aos poucos, e com requintes de crueldades, aqueles que nos achamos que, afinal de contas, merece mesmo isso tentar retomar o controle das cadeias.

            Como Padre e coordenador da Pastoral Carcerária, tive a oportunidade de visitar vários presídios e constatar que existe na verdade uma reprodução de um modelo que é nacional. Vimos que a questão carcerária não é parte das políticas públicas de segurança e que os presídios são a válvula de escape para quando todo o resto falhar.

       O governo parece dizer que não temos direitas as políticas públicas nas áreas de educação, saúde e moradia e se a falta desta política falharem, pois sempre teremos as masmorras para atirar os que o Estado não conseguir atingir com seu enorme braço.

Padre Carlos

ARTIGO - A geração que fez a diferença! (Padre Carlos)

A geração que fez a diferença!      Decorridos tantos anos do fim da ditadura, observa-se que a geração da utopia está partindo e a nova...