sexta-feira, 12 de julho de 2019

ARTIGO - O Mito Lula (Padre Carlos)






O Mito Lula
           




               Se o PT tivesse desistido de sua candidatura como alguns membros da direita do partido queriam, estaria também abrindo mão de continuar sendo a força hegemônica da esquerda brasileira. Hoje, não vejo no conjunto do partido tal avaliação, mas com certeza, o PT estaria aniquilado como partido. Desta forma, manter uma candidatura naquela conjuntura, era fundamental para construir um eixo de acumulação de forças.

            Assim, o crescimento de Lula mesmo estando preso, revela o acerto da estratégia do PT em insistir em uma candidatura e que a batalha política pela sua libertação deve manter essa trajetória de crescimento das forças progressistas para as disputas que deveremos travar com as forças conservadoras em 2020.

            É inegável a força eleitoral de Lula e a sua capacidade de transferir votos era a nossa grande arma diante dos adversários. Sabendo disso, nosso presidente jogou todas as suas fichas e mesmo sabendo que era uma tática arriscada e que poderíamos perder as eleições, não teve duvida de arriscar. Abraçar uma candidatura dentro do partido era a única saída para manter seu partido unido num único propósito: a sobrevivência.
         
   Desta forma, Lula manteve o PT no cenário político como o protagonista desta narrativa, assim, pode definir que o PT de Lula se mantivesse como a grande força hegemônica da esquerda brasileira por mais de três décadas, e continua sendo o grande protagonista deste projeto, apesar desta hegemonia está começando a dar sinais de desgaste.
            À direita ao encarcerar Lula o transformou em um mito. Sim,
Lula é mais que uma ideia: é uma narrativa. Lula inventou e praticou sentidos. Ele mostrou - pela - sua trajetória - que um mundo melhor é possível. Lula é um mito. Não um mito do povo brasileiro, e sim, um mito - agora - da humanidade. A prisão de Lula se torna um escândalo depois das revelações da Vasa Jato, ao mesmo tempo em que se realiza um dos maiores ataques a conquistas sociais dos trabalhadores e das trabalhadoras, isto reforça a imagem de Lula e do PT como os únicos defensores dos trabalhadores e isto, com certeza, terá grande impacto nas eleições 2020.


 Padre Carlos Roberto Pereira

quarta-feira, 10 de julho de 2019

ARTIGO - Meu velho pai ( Padre Carlos )




Meu velho pai


            Sua presença é constante em minha vida, você tem o costume de aparecer sem me avisar. Muitas vezes através do seu cheiro, uma musica ou no rosto sofrido de um operário, eu sempre termino sentindo a sua presença e lhe reconhecendo. Outras vezes, poderia jurar que sinto sua respiração no meu ombro, uma sombra que não está lá mas que eu vejo, sei lá, sinto-te por todo o lado, sem descanso, ainda hoje, e já passaram vinte e dois anos desde que partiu.
       
     Será que teria orgulho do que eu faço? De quem me tornei? A saudade não morre, e não se transforma em outra coisa, fica petrificada como o tempo que deixou de existir para você. O que me dói mais são as coisas  que não te disse, das confidencias que deixastes de fazer. Eu não tinha maturidade para entender tudo, achava que você estaria ao meu lado para sempre. Afinal, foi você que pegou em minha mão quando era ainda criança, esteve presente em toda a trajetória da minha vida e agora o que faço com esta angustia na alma, com esta culpa tão profunda do que não disse.
            Ah! Se eu pudesse te abraçar de novo, meu pai! Segurar na tu mão e me sentir protegido. Se fosse hoje, se eu pudesse voltar atrás por breves minutos, cobriria o teu rosto de afagos e beijos molhados, e diria o quanto eu te amo!
            Talvez por isto tudo, não me canso de dizer as minhas filhas o quanto as amo. Não creio que elas compreendam esta necessidade absurda. Mas não me importo. Tenho medo de partir de repente, como tu, e não tê-lo deixado a certeza que elas são tudo para mim, absolutamente tudo.
             “O Cio da Terra” para mim é o eterno ciclo de renascimento e transformação, do trigo em pão, da cana em mel, e da terra em chão, como nas nossas vidas, feita de perdas e ganhos. Talvez seja isto que Milton e Chico queria nos dizer: o milagre da vida, a ressureição!
         
   As pessoas não choram assim depois de tantos anos. Ou talvez eu esteja errado. Que alguém quando ler este texto possa reconhecer a dor na alma, a dor imensa da ausência de quem se ama e saber que não esta só.

Padre Carlos
           

ARTIGO | Com votos, mas sem lei ( Padre Carlos)




Com votos, mas sem lei


            Quando estudamos filosofia política, nos deparamos com uma constatação impressionante, a respeito dos regimes autoritários. Assim, descobrimos que os ditadores nascem dentro dos regimes democráticos e têm votos. 
            E por sinal, muitos votos. Não podemos negar que eles participam do processo eleitoral: são eleitos de forma soberana e popular. Mas não são democráticos, porque lhes faltam o seguinte requisito fundamental da democracia: o primado da lei.

   
         E, dentro do primado da lei, o respeito pelas instituições democráticas, pelos direitos humanos, pelas garantias e pelas liberdades. O fato do Sr Bolsonaro poder mudar as leis, comprando o Congresso com emendas para compatibilizar com o seu projeto autoritário não os faz menos ditadores, porque as novas reformas estão a serviço do seu poder e não das classes populares, da democracia e da liberdade.

            O que gostaríamos aqui de dizer para as pessoas que nos acompanham, é que não há grande mistério nem complexidade neste processo que vem se dando aqui no Brasil, é evidente a forma como está se dando a dissolução da democracia por dentro, ela vem acompanhada de um Ministério público, Judiciário e uma classe Política.  .

            O que me impressiona mais e ver a inercia das forças democráticas e o oportunismo de algumas lideranças. Com este comportamento, termina legitimando o estado policial do ódio e do medo que acompanha a ação política do novo governo. Todos sabem o que está acontecendo, mesmo assim, podemos ver a hipocrisia de pseudos democratas  arranjando pretextos para justificar todo tipo de abuso deste governo..

            Não estamos vivendo nenhum fato novo. "Um povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la". Aconteceu com Hitler, com Mussolini, com Generalíssimo Franco com Salazar, todos em vários momentos das suas carreiras tiveram ou teriam a maioria do voto popular.

            Os nazis conseguiram chegar ao poder com o voto popular, tornando-se o maior partido alemão. Mas em todos estes casos as eleições já revelaram o abuso do poder, como vimos aqui nas últimas eleições, mesmo que isso pudesse não alterar a maioria dos votos. A violência política dos regimes autoritários antecedem aos seus resultados eleitorais (no caso do Brasil) e a generalizada manipulação do direito de voto, tornando inelegível qualquer candidato que viesse ameaçar o projeto em curso.   
            Aquele que enverga a toga representa a Justiça.
Este simbolismo de usar a toga é tomar parte da comunidade daqueles que devem dizer o que é justo. Não para fazer política nem tomar partido. O primeiro passo destes ditadores para consolidar seu poder, é essencialmente a apropriação do poder judicial, o ataque à sua independência, não só para garantirem a sua imunidade diante da fraude eleitoral, como para usar contra os seus adversários.


            O que Bolsonaro está fazendo, dando o poder político da Justiça a um juiz envolvido no processo de corrupção dos seus adversários, lança uma luz sinistra sobre esse processo e toda Força Tarefa no que diz respeito a sua falta  de imparcialidade. 


            Destruindo todas as instituições de mediação, o poder torna-se autoritário e quem o ocupa na verdade são as elites mais reacionária deste país. Elas se agruparam em torno do PSDB nestes últimos anos e apesar de não gostarem deste regime pelo medo destas ações fugirem do controle, pouco se importam com os crimes destes, por eles fazerem o trabalho sujo de eliminar todo e qualquer adversário do sistema.  Não podemos nos enganar, este projeto maligno tem que  ser combatidos, sem hesitações nem transigências. A melhor expressão ainda é a “resistência” .   

(Padre Carlos Roberto Pereira, de Vitória da Conquista, 

segunda-feira, 8 de julho de 2019

ARTIGO - Não a autocritica! ( Padre Carlos )




Não a autocritica!
           

          Deixa-me regressar ao assunto da autocritica que parte dos setores da burguesia quer impor ao partido. Não podemos esconder da grande militância, que o agrupamento a direita do partido, vem pressionando para que o PT faça uma “autocrítica”, isto é, aceite as calúnias despejadas pela imprensa burguesia contra o partido e as assuma publicamente que errou e participou dos crimes cometidos contra o povo e a Nação. Essa política significaria uma total desmoralização do partido. 
Na forma como se tem feito este debate tudo remete para a barbárie e para a civilização, dependendo do ponto de vista do dirigente. . É natural que parcelas do partido, que convivem com este seguimento burguês, acredite que o discurso político da autocritica se tente apresentar como progresso para o bem.             Eu próprio não acredito, se abrimos a guarda, daremos argumentos para a direita fascista, pedir a suspenção do registro partidário. Não podemos esquecer que não é de hoje, que as forças reacionária deste país tenta aniquilar o partido. Mas, apesar de achar que não faz sentido, devemos ter humildade de admitir que alguns membros se envolveram nestes esquemas e se for comprovados, tem que responder pelos seus atos. 
       
    
Diante disto, podemos dizer que estas autocriticas que querem impor ao partido, não raras vezes ela é mesmo usado para mostrar a supremacia de uns em relação a outros, tomando como universais valores que são discutíveis que o sejam. Parece-me que é o caso. E assim, quem o usa imagina-se, antes do tempo, do lado certo da história. Herdeiros e precursores da verdade. Como se a história seguisse um caminho certo e a humanidade não fosse mais do que a parteira do futuro. Quem acreditou nisso acabou desmoralizado e entrando para história, pela porta dos fundos.
            Não podemos negar, que em todo governo há bem e mal. Sabíamos dos riscos que uma coalizão partidária poderia causar ao nosso projeto. Mas cada avanço da história carrega pesadamente os dois, nas suas causas e nas suas consequências. A história não segue uma estrada, perde-se em milhões de caminhos que nem à distância conseguimos mapear. A guerra trouxe Auschwitz e o progresso tecnológico. O progresso tecnológico trouxe a vacina e o nuclear. A libertação da mulher trouxe liberdade e lares de idosos. As máquinas trouxeram o conforto e o desemprego. Há certo e errado, não há uma caminhada para o bem. Vejam quantos avanços o nosso governo proporcionou a este país em quatorze anos de governo.
            Todas as lutas acreditam numa evolução em progresso. É o caso da luta pela igualdade: dos escravos em relação aos senhores, dos trabalhadores em relação aos patrões, das mulheres em relação aos homens, dos homossexuais em relação aos heterossexuais. Mas este rio tem uma fonte: a luta contra o privilégio e a ideia de que todos as pessoas nascem livres e iguais em deveres e direitos. É nisto que o PT e a esquerda acredita.
         
  
Sendo legítima a nossa luta, gostaria de falar para o conjunto do partido, o PT jamais deve se envergonhar de ter tirado milhões da linha da miséria e ter dado dignidade a este povo. Não faz sentido ser contra a autocritica, se não repudiar tudo que nos levou a esta encruzilhada da história, as alianças com setores da burguesia e com partidos fisiológico, levaram a abrir mão de alguns princípios e isto a gente tem que aprender. Mas não podem reescrever uma história de luta, mas para concluir, gostaria de dizer que tudo que fizemos só foi possível porque, muitos companheiros deram suas vidas para que chegássemos aqui. 

Como diz o poeta português, Adriano Correia na sua obra  a Trova do Vento que Passa:
“Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.”
Padre Carlos



ARTIGO - A Militância Petista! ( Padre Carlos )




A Militância Petista!
           
           
            Os brasileiros, diante das revelações do site The Intercept Brasil, passaram da fase de estupefação para a revolta e daí para a indignação.  Em poucos dias, deparamo-nos com notícias que nos deixaram revoltados com a parcialidade em que o Presidente Lula foi jugado.
       
     Mas, pior do que a lista de possíveis crimes cometidos contra o Partido dos Trabalhadores e ao seu líder, o que mais assusta a cada revelação é que tudo isto pode ser apenas a ponta de um iceberg.
         Diante destes fatos, temos que entender que nossa luta é a defesa intransigente do Estado Democrático de Direito. Desta forma, não podemos perder a esperança na mudança, a esperança no bem e a esperança no povo brasileiro.
            A falta de esperança, a incapacidade de ver a luz no fim do túnel, de vê seu líder em uma cadeia, pode ser comum para os outros partidos, não para militância petista. Não importa a dificuldade de lutar. Ela luta! Procuram forças, ela sabe que agora só poderá contar com os companheiros de sempre. Não importa quantas dificuldades estamos encontrando em nosso caminho, não estamos sozinhos, sabemos que ele mesmo preso em uma cela em Curitiba, está conduzindo esta luta. Nossos corações jamais desistirão desse sonho, não quer desistir desta nossa utopia. Sabemos que vale a pena a persistência e o tempo deixam cada vez mais as coisas mais claras.  
            A única certeza é que devemos lutar por aquilo que acreditamos, e nós acreditamos muito em nosso povo em nossa gente.         Não tem mais ninguém. Se nós perdemos esta batalha, vão ser os nossos filhos e filhas que estarão condenados a suportar o peso desta derrota. Estes homens e mulheres sabem a gravidade da situação e o que pode acontecer ao povo brasileiro daqui pra frente.
       
     Não importa o tempo que dure essa luta, faça sua parte companheiro, faça sua parte companheira. Lute sabendo que no final a vitória sempre vem e quanto maior for à luta, maior será a sua vitória.·.

Padre Carlos.


sábado, 6 de julho de 2019

ARTIGO - A Saga de um povo não pode ser esquecida! ( Padre Carlos )





A Saga de um povo não pode ser esquecida!


           
                Um dos granes desafios que temos que enfrentar nestes tempos difícil em que estamos vivendo é a falta de consciência história de alguns setores da sociedade e das novas gerações. Não resgatamos os nossos valores históricos e não buscamos celebrar as nossas vitórias. Para construir o Brasil do futuro, nós precisamos usar os mitos do passado que alimentam nossas utopias e assim, sustentam o nosso presente. Por isso, uma sociedade que não faz uso de sua história, não consegue se entender.

     
      Nós somos chamados a participar da construção do futuro deste país, assim podemos nos perguntar: quais são as nossas âncoras de identidade?
Quem escreveu nossa história, quais os nossos heróis, nos identificamos com este passado? Os nossos mitos, portanto, é checado o tempo todo porque, no fundo, nós estamos confrontando a nossa própria identidade.
            Primeiramente pode haver um susto, mas depois nos perguntamos: será que realmente somos assim? É aí que começamos a fazer perguntas como: será que somos democráticos ou a nossa índole é, na essência, autoritária?
Queremos soluções rápidas que não nos deem o trabalho de construir consenso, na construção de soluções duradouras.
            Na verdade, estamos órfãos de identidade. Onde fica a casa grande e a senzala? Afinal, quem nós somos? O Brasil precisa encontrar um eixo comum que suavize os conflitos e, neste momento de confronto, é necessário voltar ao passado para nos perguntarmos: dá para construir o Brasil com a matéria-prima que temos à disposição?
            Uma identidade, para ser realmente sólida, preciso ser produto de um pacto, isto é, a sociedade tem que se reconhecer coletivamente nessa identidade como nação. E é isso que nos polariza tanto e que reflete uma intolerância, não aceitamos a senzala neste projeto nacional.
A democracia só irá consolidar na medida em que ela devolver as esperanças do povo de que “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes”…
         
  Os frutos virão mais lentamente do que imaginamos, mas eles serão resultados da história que construímos hoje. O Brasil de hoje pode não ser o melhor, pode não ser o mais justo, mas o Brasil que nós sonhamos hoje pode, sim, ser melhor e mais justo se nós assumirmos o desafio de construí-lo hoje.



Padre Carlos


quinta-feira, 4 de julho de 2019

ARTIGO - As elites e o judiciário ( Padre Carlos )




As elites e o judiciário


             Um dos grandes erros do Presidente Lula, foi achar que na nossa cultura jurídica fosse de verdade um dos elementos republicano do estado de direito. As nossas elites não vê problema nenhum que alguns tenham que abaixar a cabeça para lei enquanto outro tenha prazer em pisoteá-la.
            A frase “aos amigos tudo, aos inimigos a lei” é comumente atribuída ao ex-ditador/presidente Getúlio Vargas. Na verdade, quem a pronunciou pela primeira vez foi o também ex-presidente Artur Bernardes.  Vargas a incorporou ao seu discurso, não sem antes aprimorá-la. Dizia ele que: "Aos amigos tudo, aos inimigos o rigor implacável da lei, se possível”.  Não deixa de ser contraditório que, como ditador, ele punisse adversários com os rigores da lei.
    
        Para as elites deste país, a lei, no Brasil, tem dono.  Isso sempre existiu aqui. O fato é que fomos sendo formados pela lógica de que a lei não é algo para todos, para assegurar direitos e deveres. Para nós, a lei serve para punir uns e agraciar outros.
            A elite presente no judiciário tem como objetivo desde cedo formar uma consciência de classe, por isto, se conhece muitas vezes desde a infância, porque os pais já se conheciam. Frequentaram as melhores escolas, universidades, têm sociabilidade em comum. Com isto, gostaríamos de dizer que se trata de famílias ao mesmo tempo jurídicas e políticas, uma unidade que sempre opera em rede. Não existe aquela figura, como alguns imaginam, de pessoas que são “novas”, ou “emergentes”, ou “renovadoras”. Quer dizer, vivem na mesma bolha. Têm as mesmas opiniões e gostos políticos e ideológicos. E todos têm conexão com a indústria advocatícia, com os grandes escritórios jurídicos.
       
     Desta forma, as elites não hesitam em distorcer a justiça e fatos para justificar as deduções e as conclusões que mais convêm à sua peculiar visão de mundo e de justiça.


Padre Carlos

ARTIGO - A geração que fez a diferença! (Padre Carlos)

A geração que fez a diferença!      Decorridos tantos anos do fim da ditadura, observa-se que a geração da utopia está partindo e a nova...