sexta-feira, 19 de julho de 2019

ARTIGO – Não Baixem o Santo ( Padre Carlos )




Não Baixem o Santo


           


            Em meados a década de 60 era muito comum, no meio da esquerda brasileira, o uso da expressão “baixar o santo”. Foi por meio desse eufemismo que a esquerda definiu o que representou o AI5 e o que seria o processo de tomada de decisão pela via não democrática. “Baixar o santo” era uma forma mais suave, mais agradável e até engraçada, que a esquerda, que por sinal originou o PT, tinha para se referir a imposição autoritária de uma ideia ou de uma política a ser seguida. Os que queriam mudar o sistema econômico, social e politico do Brasil, pela via revolucionária, evitavam coisas como “a direção decidiu que o caminho é este”. Também, não se dizia que a “direção decidiu ponto final, o Comitê Central usava outras artimanhas  e não falava de forma aberta que não tem mais discussão”.

    Essas expressões autoritárias eram substituídas por “baixar o santo”. Quando se dizia que “baixaram o santo na reunião”, estava-se afirmando que uma decisão tinha sido tomada, pela maioria ou não (isso nunca importou) e que nada mais poderia ser feito. Foi por meio de decisões como esta, que foi obrigado a rachar com o PCdoB, no final da década de 70. Na verdade, a expressão correta para isso era “centralismo democrático”. Outro eufemismo fartamente utilizado pelos comunistas para aliar em um mesmo espaço a discussão (supostamente democrática) com a imposição de ideias e práticas. Se não fosse possível encontrar o consenso através da discussão, ele se instalaria através da imposição. O que importava mesmo era a unidade. O que interessava era que todos pensassem e agissem em comum, não importando por quais meios.
     Desta forma, quando surge o PT com uma nova mentalidade, termina seduzindo velhos e novos militantes que não aceitavam mais esta forma de direção partidária. Este novo jeito de fazer política se definia como uma democracia participativa. A nova mentalidade que surge nas esquerdas tem como conceito buscar e está direcionada à participação e comunicação de todos os diferentes grupos e movimentos sociais que militava uma mesma agremiação política, com a intenção de terem as suas questões ouvidas e que, consequentemente, se desenvolveria ações na busca de um consenso.
     A eleição de Vitória da Conquista no ano que vem oferece uma rica oportunidade para entendermos de uma vez que a política de “baixar o santo” ficou no séc. passado. O aprimoramento do processo democrático petista tem que passa por todas as correntes. A participação destes companheiros não pode ficar reduzida nos momentos eleitorais. O partido é mais do que os mandados regionais. Assim, estas forças precisam ser ouvidas e serem convidas a sentar a mesa. Em um exame rápido, duas reflexões despontam: que na política nada é definitivo e que o tempo correto para a tomada de decisões é determinante no êxito eleitoral.

    Durante vinte anos, o partido, em âmbito municipal, esteve à frente de “projetos que foram fundamentais para alavancar todo o sudoeste baiano.” Em Vitória da Conquista, o destino parece invariavelmente selado. A campanha que todos nos esperamos tem como objetivo principal, curar feridas e unificar todos os projetos em torno de um objetivo comum.
     
Padre Carlos



quinta-feira, 18 de julho de 2019

ARTIGO - A Raposa e o Principezinho ( Padre Carlos )



Raposa e o Principezinho



            Outro dia fui convidado para falar para uma turma que estava concluindo o ensino médio. Depois que eu concluir a palestra, um aluno me perguntou o que eu entendia por cativar. Olhei com ternura aquele jovem e respondi: falar em cativar me lembra do diálogo entre a Raposa e o Principezinho, quando este lhe pergunta reiteradamente o que significa “cativar” e ela responde que se trata de algo esquecido no mundo, mas que significa criar laços. E, a partir dali, estabelece todo um diálogo entre o sábio bicho e o pequeno príncipe que termina, assim: “Você não é nada para mim, há não ser um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu tenho certeza que não preciso de você. E você também tem certeza que não necessita de mim. Para você, eu não passo de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se você me cativar, nós teremos necessidade um do outro. Você será para mim único no mundo. Eu serei para você única no mundo (…)”. E o diálogo prossegue com uma profundidade que disserta sobre as relações que se estabelecem nesta enorme casa comum, como se não houvesse amanhã.
     
       Este diálogo me fez pensar duas coisas: e se não houver amanhã? Por que não temos coragem de cativar e de se deixar ser cativado? Porque o medo de se sentir dependente da amizade e do sentimento do outro? Só desarmando o nosso coração poderemos dizer: "se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz.”.
            Esta semana é igual a que passou e muito provavelmente a que se seguirá, estaremos nos mesmos lugares, nas mesmas escolas e praças, mas não notaremos a existência das pessoas que estarão a nossa volta. Por que somos condicionados a não demostrar nossos sentimentos, somos educados a não demostrar afetividade e cativar é uma forma de se mostrar para o outro.
            Ao contrário da Raposa e do Principezinho, que compreenderam que é bom criar relação; que assim aumenta as nossas possibilidades enquanto humanidade e que quanto melhor forem às relações mais possibilidades há de diálogo e de superar as nossas diferenças.
      
      Desta forma, quando cativamos terminamos conhecendo e aceitando o outro nas suas etnias e culturas, valorizando e respeitando essa diferença. Só repudiamos a discriminação baseada em diferenças de raça, religião, classe social, nacionalidade e sexo quando aceitamos o outro. Reconhecer as qualidades da própria cultura, exigir respeito para si e para os outros nos torna mais humanos.       Por que temos tantas dificuldades para cativar e se deixar ser cativado? Talvez porque "o essencial é invisível aos olhos, e só se pode ver com o coração." O mundo em que vivemos precisas se reconciliar e repactuar com todas as culturas e classes, precisamos ser mais humanos.  É por não querer cativar e por faltar mais diálogo entre os homens é que as raposas estão caçando as galinhas e os homens, caçando as raposas.

Padre Carlos


ARTIGO - “A pior ditadura é a ditadura do Poder Judiciário” ( Padre Carlos )




“A pior ditadura é a ditadura do Poder Judiciário”



            Em meados da década de trinta do século passado, em uma sala escura onde a justiça não conseguiria penetrar, a nossa maior Corte de Justiça, cometeria um dos maiores crimes contra um ser humano. Foi no Rio de Janeiro, num Brasil sob o Estado Novo de Getúlio Vargas, os ministros do STF não conheceram o Habeas Corpus impetrado em favor de Maria Prestes, nome de casada de Olga Benário. Por ser esposa de um brasileiro e por isto, ter direito a cidadania, ela jamais poderia ser entregue aos nazistas e, além disso, Olga se encontrava grávida do líder comunista Luis Carlos Prestes. Desta forma, os Ministros daquela Corte, entraram para a história como os carrascos a serviço do nazi-fascismo. Dante de total cumplicidade dos magistrados brasileiros, ela foi extraditada para a Alemanha nazista com a salvaguarda do Supremo e morta num campo de concentração aos 34 anos, depois do nascimento de sua filha, a brasileira Anita Leocádia.
      
      O poder autoritário e ditatorial do Judiciário brasileiro, tal como certa vez expôs Rui Barbosa em uma de suas célebres frases: "A pior ditadura é a ditadura do Poder Judiciário. Contra ela, não há a quem recorrer", reflete bem o nosso passado e o que estamos vivenciando em nosso presente.
            Tal reflexão trazida por Rui Barbosa, que já era pertinente em sua época, está mais atual do que nunca e certamente ainda, se fará como vanguarda do perene atraso democrático, pelo qual os brasileiros amargarão por um considerável período no futuro. Acho que tudo isso que está acontecendo em nosso país é muito perigoso. O cinismo que campeia em nosso sistema de justiça criminal acaba deslegitimando-o e trazendo com esta postura uma situação de medo e pavor com relação à justiça. O Estado de Direito está sendo desrespeitado flagrantemente.
            Tal situação denota há muito, uma casta de magistrados preocupada apenas, ora em agradar a plateia com decisões recheadas com frases de efeito, arroubos e rompantes populistas (que beiram a demagogia política), ora em garantir seus privilégios, preservando pessoas às quais potencializam situações em que nossos juízes se vejam até mesmo, de alguma forma constrangidos ou preocupados com suas imagem e carreiras na magistratura. E agora estamos sob o impacto das revelações da Vaza Jato, que está colocando em xeque a desgastada imagem do STF.
            Como cidadão também não pode fechar os olhos para o comportamento que o Ministério Público Federal, tem demostrado. Sua capacidade de perseguição a algumas lideranças populares é surpreendente e o que mais preocupa a todos que defendem os direitos humanos, é ver a inercia do estado em face da barbárie praticada contra o preso Sérgio Cabral, acorrentado como se fosse um escravo no século XIX.
            Importante ressaltar que não sou jurista e não estou aqui desempenhando atividade político-partidária. Mas, como militante dos diretos humanos sim, lutando pelo princípio da legalidade e por justiça.
            Será justo deixar o maior líder popular em toda a história do Brasil, sem prova de ter praticado um crime, morrer na cadeia, pobre e humilhado?
       
     Será que os Ministros da Suprema Corte deste país vai querer entrar para história como os seus pares do Estado Novo? Será que os nossos magistrados vão se curvar aos generais como fizeram durante o período da ditadura?
            Enfim, não dá mais para omissões e cômodo silêncio. Vamos berrar, vamos gritar contra toda esta hipocrisia. Vamos agir para barrar todo este obscurantismo que ameaça os nossos melhores valores.
            Lula resiste e resistirá, sem abrir mão de sua dignidade, como tem dito reiteradamente.
            Que a justiça se faça presente e que “Deus tenha misericórdia desta Nação”.


Padre Carlos




segunda-feira, 15 de julho de 2019

ARTIGO - O primeiro poder da República ( Padre Carlos )




O primeiro poder da República
           

            Vivemos tempos desafiadores na política e na economia nacional, com repercussões nos vários setores da sociedade. Desafios decorrentes de muitos fatores que tem deixado à democracia brasileira e ao sistema políticos e a comunidade jurídica bastante preocupada
                O debate político fica mais pobre quando as palavras perdem o sentido que sempre tiveram, quando perde espaço nos meios de Comunicação Social e ganha nas redes sociais, quando nas televisões passa a ser ignorada e colocada de forma sutil para debaixo do tapete. O debate nas páginas dos jornais, na televisão e na rádio também se simplifica e não deixa de ter um víeis ideológicos é natural que ele ganhe maior intensidade nas redes sociais, devido à forma democrática do espaço, onde a força do capital e os interesses não tem como monopolizar as plataformas.
            As mídias não são mais o quarto poder. É o primeiro. E infelizmente é cada vez evidente a participação de alguns órgãos de imprensa em tudo que aconteceu no país nos últimos tempos. Não podemos negar, que as ‘mentiras’ que divulgaram até à exaustão não só definiram uma pauta, como também influenciaram os destinos da política e da economia brasileira. As mentiras que encantaram as elites suplantaram as verdades em nosso país
      
      Ser jornalista é fazer perguntas e exercer a profissão é uma responsabilidade, isto é não defender os interesses das corporações de comunicações. Temos que te clareza, que assumir uma posição como esta, é muito mais do que participar numa conversa no sofá. Seja com  William      Bonner e Renata Vasconcellos no (JN) ou Celso Freitas e Adriana Araújo (Record), é sempre obrigatório ter em conta que não é de jornalismo que estamos falando e sim da linda editorial e as formas ideológicas que as grandes corporações das comunicações têm empreendido em nosso país.
Quando as redes de comunicações julgam possível fazer jornalismo sem jornalistas, os poderosos acedem com livre-trânsito ao espaço mediático e a política deixa de ser a coisa mais nobre, que procura combater as desigualdades para servir os interesses corporativos e de quem financia sua programação.
Um dos vários erros táticos que temos que admitir é que nunca assumimos uma briga frontal contra os meios de comunicação antinacionais e antipopulares, em especial a Rede Globo. Já a Direita, assistimos segunda análise da Folha de S. Paulo, que Bolsonaro pretende, com a Record, ter a sua “Fox News”, isto é, um meio de comunicação que apoie o seu governo e o projeto de poder que tem em mente. Essa aliança já teria gerado demissões e morte entre jornalistas. Ricardo Kotscho e Paulo Henrique Amorim foram atingido.  Diante de todos estes acontecimentos eu me pergunto: porque fomos incapazes sequer de construímos paralelamente nossas redes alternativas de comunicação?
            Podemos dizer que este foi o risco que tivemos que pagar pela qualidade da democracia e por valores como a liberdade de opinião e de informação? Estamos todos de acordo?
            Em nome de muitas gerações que defenderam e lutaram durante anos para preservar o Estado de direito democrático: a separação de poderes, os direitos, liberdades e garantias, a integridade e a transparência, a ética e a moral públicas e republicanas é que levanto todas estas questões: qual o papel da mídia nos desmandos do judiciário e quais as responsabilidades que certas empresas de comunicação tiveram em alimentar tal projeto de poder.
            Mas é preciso que estes valores sejam temperados com outros, capazes de equilibrar este poder mediático. Quando uma empresa de comunicação resolve ‘massacrar’ nas redes sociais, um cidadão, um renomado político, termina em poucos dias ou horas, destruindo carreiras políticas e reputação construída ao longo de toda uma vida de trabalho. Quando divulga informações que correm sobre segredo de Justiça, esta criando uma rede e alimentando ações criminosas. Ninguém questionou durante todos estes ano em que esta empresa com seus furos de reportagem, agrediram a integridade e a vida pessoal, familiar e profissional destas pessoas. Diante de tudo isto, temos hoje várias vítimas e não sabemos a quem atribuir ou culpar. Muitas que foram ‘esmagada’ e esbulhada da sua dignidade, injustamente e em nome de vinganças, invejas e ajustes pessoais, políticos, sociais, etc. 

Não podemos esquecer que a Constituição prevê, em seu Artigo 220, a mais ampla liberdade de expressão de pensamento, que defendemos ferrenhamente. Agora, o mesmo item que trata da comunicação social, proíbe a existência de oligopólios e monopólios na comunicação. Nós deveríamos ter insistindo para regulamentar [de acordo com] a Constituição no que diz respeito a esses artigos. Considero essa uma das mais importantes reformas que deixamos de fazer, ao lado da reforma política.

Padre Carlos


sexta-feira, 12 de julho de 2019

ARTIGO - O PT e a reforma da Previdência ( Padre Carlos )




O PT e a reforma da Previdência


           

            Depois de o PT ser derrotado no segundo turno por Jair Bolsonaro, havia a expectativa de que o partido com suas lideranças conseguiriam se organizar politicamente para contrapor solidamente ao novo governo. É normal que forças políticas enfrentem dificuldades depois de uma mudança tão expressiva no cenário das casas como aconteceu com a vitória de extrema direita. O PT não está sozinho nesse barco, os partidos de oposição e até alguns da situação também enfrentam o mesmo problema. Acostumado a polarizar com uma direita mais politizada e com um projeto menos autoritário, as forças de esquerda passaram a ter dificuldades em entender este momento político. Mas, seis meses depois da posse presidencial, o que se viu no plenário, foi um conjunto de parlamentares sem um projeto e sem capacidade de negociar e apresentar uma proposta alternativa aos projetos do governo.             Não é de se admirar que os principais problemas enfrentados por Bolsonaro sejam causados pelo próprio presidente ou por integrantes de sua própria equipe ou por grupos políticos próximos do seu campo ideológico, como é o caso dos integrantes do Centrão.
    
        Pelo tamanho das nossas bancadas, esperávamos que liderássemos o processo da oposição dentro do Congresso e, por mais que reconheçamos os valores individuas dos nossos quadros que se encontram naquela casa, não existe uma liderança capaz de agregar seus pares em torno de um projeto de ação. O partido tem que entender que nossos problemas transcende as masmorras de Curitiba e apesar dos nossos esforços na campanha pela libertação do ex-presidente Lula, temos responsabilidades como oposição a um governo conservador. Não basta gritar é preciso ter projetos alternativos para as matérias que são votadas na Câmara e no Senado. Confesso aos senhores, que o PT como o grande articulador das oposições, tem passado longe de incomodar o governo e perdeu uma grande oportunidade de apresentar uma proposta alternativa de reforma da Previdência.
            O PDT de Ciro Gomes, e o PSB ainda se organizaram para discutir o tema e tentar apresentar alternativas, esta era a verdadeira oportunidade que tínhamos de demostrar nossa capacidade de liderar o processo e provar porque somos a grande força hegemônica da esquerda brasileira, mas não incentivamos e pior, os deixamos desembarcarem da iniciativa.
            Passamos junto com o PSOL e PCdoB a assumir uma posição refratária à discussão. Assim, sem uma proposta alternativa e enfrentando resistência nos debate por setores corporativos contrários às mudanças, como é o caso de policiais, professores e servidores, ficamos mais expostos. Os partidos do Centrão vinham verbalizados com muita mais veemência suas queixas contra as propostas e não tivemos competência de trabalhar uma proposta alternativa.
  
          Até governadores e prefeitos tiveram uma participação mais efetiva e disposição de negociar do que os próprios congressistas.
            Assim, temos que sair desta inercia e vislumbrar um projeto alternativo que nos qualifique como oposição para que nas próximas eleições estejamos afinados com os desejos do eleitor, sejam as municipais no ano que vem, ou as estaduais e nacionais de 2022.
            Não estamos aqui querendo que o PT abandone a luta pela libertação do nosso maior ator político. Mas devemos estar preocupado em tentar construir algum projeto de poder capaz de responder ao atual governo. Por enquanto, foram só seis meses, não vamos dormir os quatro anos.


Padre Carlos




ARTIGO - O Mito Lula (Padre Carlos)






O Mito Lula
           




               Se o PT tivesse desistido de sua candidatura como alguns membros da direita do partido queriam, estaria também abrindo mão de continuar sendo a força hegemônica da esquerda brasileira. Hoje, não vejo no conjunto do partido tal avaliação, mas com certeza, o PT estaria aniquilado como partido. Desta forma, manter uma candidatura naquela conjuntura, era fundamental para construir um eixo de acumulação de forças.

            Assim, o crescimento de Lula mesmo estando preso, revela o acerto da estratégia do PT em insistir em uma candidatura e que a batalha política pela sua libertação deve manter essa trajetória de crescimento das forças progressistas para as disputas que deveremos travar com as forças conservadoras em 2020.

            É inegável a força eleitoral de Lula e a sua capacidade de transferir votos era a nossa grande arma diante dos adversários. Sabendo disso, nosso presidente jogou todas as suas fichas e mesmo sabendo que era uma tática arriscada e que poderíamos perder as eleições, não teve duvida de arriscar. Abraçar uma candidatura dentro do partido era a única saída para manter seu partido unido num único propósito: a sobrevivência.
         
   Desta forma, Lula manteve o PT no cenário político como o protagonista desta narrativa, assim, pode definir que o PT de Lula se mantivesse como a grande força hegemônica da esquerda brasileira por mais de três décadas, e continua sendo o grande protagonista deste projeto, apesar desta hegemonia está começando a dar sinais de desgaste.
            À direita ao encarcerar Lula o transformou em um mito. Sim,
Lula é mais que uma ideia: é uma narrativa. Lula inventou e praticou sentidos. Ele mostrou - pela - sua trajetória - que um mundo melhor é possível. Lula é um mito. Não um mito do povo brasileiro, e sim, um mito - agora - da humanidade. A prisão de Lula se torna um escândalo depois das revelações da Vasa Jato, ao mesmo tempo em que se realiza um dos maiores ataques a conquistas sociais dos trabalhadores e das trabalhadoras, isto reforça a imagem de Lula e do PT como os únicos defensores dos trabalhadores e isto, com certeza, terá grande impacto nas eleições 2020.


 Padre Carlos Roberto Pereira

quarta-feira, 10 de julho de 2019

ARTIGO - Meu velho pai ( Padre Carlos )




Meu velho pai


            Sua presença é constante em minha vida, você tem o costume de aparecer sem me avisar. Muitas vezes através do seu cheiro, uma musica ou no rosto sofrido de um operário, eu sempre termino sentindo a sua presença e lhe reconhecendo. Outras vezes, poderia jurar que sinto sua respiração no meu ombro, uma sombra que não está lá mas que eu vejo, sei lá, sinto-te por todo o lado, sem descanso, ainda hoje, e já passaram vinte e dois anos desde que partiu.
       
     Será que teria orgulho do que eu faço? De quem me tornei? A saudade não morre, e não se transforma em outra coisa, fica petrificada como o tempo que deixou de existir para você. O que me dói mais são as coisas  que não te disse, das confidencias que deixastes de fazer. Eu não tinha maturidade para entender tudo, achava que você estaria ao meu lado para sempre. Afinal, foi você que pegou em minha mão quando era ainda criança, esteve presente em toda a trajetória da minha vida e agora o que faço com esta angustia na alma, com esta culpa tão profunda do que não disse.
            Ah! Se eu pudesse te abraçar de novo, meu pai! Segurar na tu mão e me sentir protegido. Se fosse hoje, se eu pudesse voltar atrás por breves minutos, cobriria o teu rosto de afagos e beijos molhados, e diria o quanto eu te amo!
            Talvez por isto tudo, não me canso de dizer as minhas filhas o quanto as amo. Não creio que elas compreendam esta necessidade absurda. Mas não me importo. Tenho medo de partir de repente, como tu, e não tê-lo deixado a certeza que elas são tudo para mim, absolutamente tudo.
             “O Cio da Terra” para mim é o eterno ciclo de renascimento e transformação, do trigo em pão, da cana em mel, e da terra em chão, como nas nossas vidas, feita de perdas e ganhos. Talvez seja isto que Milton e Chico queria nos dizer: o milagre da vida, a ressureição!
         
   As pessoas não choram assim depois de tantos anos. Ou talvez eu esteja errado. Que alguém quando ler este texto possa reconhecer a dor na alma, a dor imensa da ausência de quem se ama e saber que não esta só.

Padre Carlos
           

ARTIGO - A geração que fez a diferença! (Padre Carlos)

A geração que fez a diferença!      Decorridos tantos anos do fim da ditadura, observa-se que a geração da utopia está partindo e a nova...