terça-feira, 13 de agosto de 2019

ARTIGO - O Papa e a boa política ( Padre Carlos )




O Papa e a boa política


            A crítica simplista dos políticos abre caminho aos populismos que crescem não só no Brasil, mas em todo o Mundo.
            Estes, como sabemos, começam por denunciar os defeitos das democracias para justificar o seu autoritarismo e, quase sempre, terminam em ditadura.
            Por isso, sempre fico preocupado com as referências às críticas aos políticos, acho que a nossa imprensa teve e tem uma parcela de culpa em tudo que aconteceu em nosso país. Quando um seguimento da sociedade entra no caminho dos que exploram os descontentamentos com a classe política para impor ideias, semear a xenofobia, agitar a bandeira do nacionalismo e capitalizar receios em benefício dos seus projetos totalitários, poderemos admitir que chegamos ao fundo do poço.
            Assim, ao levantar estas questões, não quero esconder nem ser conivente com os vícios da política atual. Desde logo, coloco aqui a corrupção - nas suas múltiplas formas de apropriação indevida dos bens públicos ou de instrumentalização das pessoas -, a negação do direito, a falta de respeito pelas regras comunitárias, o enriquecimento ilegal, como as maiores agressões a democracia que alguns políticos praticam.

           Porem, não se justifica um poder imposto, arbitrário com tendência a perpetuar-se no poder, com elementos de xenofobia e de racismo, devastando a florestas e recusando-se a cuidar da Terra, a exploração ilimitada dos recursos naturais em razão do lucro imediato, o desprezo daqueles que foram forçados ao exílio à morte e a tortura, não podem ser soluções nem alternativa para a democracia e o estado de direito.
            Não quero aqui falar dos desmandos dos políticos. Aliás, gostaria de dizer que nosso objetivo é falar da "boa política". Assim, gostaria de lembrar para os leitores, que a função e a responsabilidade política constituem um desafio permanente para todos aqueles que recebem o mandato de servir o seu país, proteger as pessoas que moram nele e trabalhar para criar as condições de um futuro digno e justo. Se for implementada no respeito fundamental pela vida, pela liberdade e pela dignidade das pessoas, a política pode tornar-se uma forma eminente de caridade.
            O próprio Papa reconhece a importância da classe política, quando declara “bem-aventurados os políticos que têm uma alta noção e uma profunda consciência do seu papel". Os políticos que gozam de credibilidade, que trabalham para o bem comum, que realizam a unidade, que estão comprometidos na mudança, que sabem escutar e que não têm medo. São esses os atores da "boa política" e os verdadeiros guardiões da paz no Mundo.
            Os outros são os que recorrem à "estratégia do medo", de dividir para reinar. O Papa denuncia que "não são sustentáveis os discursos políticos que tende a acusar os migrantes de todos os males e a privar os pobres da esperança. Ao contrário, deve-se reafirmar que a paz se baseia no respeito por toda a pessoa (...), no respeito pelo Direito e o bem comum, pela criação que nos foi confiada e pela riqueza moral transmitida pelas gerações passadas".
      
      Conclui o Papa que "a paz é fruto de um grande projeto político!" O Mundo precisam de grandes estadistas que se movam assim na política, políticos com a dimensão continentais.
            Vamos pedir ao Santo Padre, que coloque os nossos políticos nas suas orações e que o nosso bom Deus, favoreça os políticos de hoje, iluminando-os nos caminhos da "boa política"!
Padre Carlos



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segunda-feira, 12 de agosto de 2019

ARTIGO - Os católicos precisam de um partido ( Padre Carlos )





Os católicos precisam de um partido


            Os partidos políticos defendem um determinado programa de governo e busca a partir de ações politica construírem um projeto de poder que lhe der sustentação para aplicar seu programa.
            Apesar de no passado, e ainda hoje, alguns dos partidos se classificarem como de inspiração cristã, não é fácil encontrar aqui no Brasil um que respeite todos os princípios da Doutrina Social da Igreja - ou os ensinamentos do Papa.
            Ainda que todos os partidos defendam e incluam nos seus programas o respeito pela dignidade da pessoa, o bem comum, a solidariedade - princípios contidos na Cartilha de Orientação Política que a CNBB propôs, publicada no ano passado, a propósito das eleições, não contemplaria um projeto em torno dos parlamentares católicos, devido às visões de mundo das correntes de pensamentos dentro das agremiações que estes fazem parte.
            Assim, termina estes partidos tendo um entendimento diferente da sua concretização. Uns concordam com os bispos na defesa da vida desde a concepção até à morte natural. Mas afastam-se deles na condenação da "economia que mata", na "autonomia dos mercados" ou no acolhimento devido aos mais pobres. Outros são mais sensíveis ao apelo do Papa não por convicções da Doutrina Social da Igreja, mas, por questões humanistas (assumido pelos bispos brasileiros) para "Direitos Humanos e Ecológicos", mas defendem o aborto ou a eutanásia, que aqueles condenam.
            Por isso, não é possível encontrar um partido em que todos os cristãos (católicos) se revejam. Até porque, como qualquer cidadão, uns são mais sensíveis a determinadas causas e não valorizam tanto outras. Isto permite que, mesmo defendendo os mesmos princípios, os cristãos possam optar por votar em partidos diferentes. Escolhem aquele que acham que os pode representar, ou governar, melhor.
            Assim sendo, o conjunto do episcopado não acha correto que aqueles que estão investidos de autoridade na Igreja deem uma indicação aos fiéis daquele que deve ser o seu voto, como não o fazem os bispos brasileiros na referida Cartilha. Compete-lhes, apenas, propor princípios, de acordo com os quais cada um possa tomar a decisão do partido em que votar. Para a grande maioria dos nossos bispos, não se devem tomar parte no jogo político-partidário, mas não podem abdicar de denunciar as situações em que os valores e os princípios que defendem não são respeitados, principalmente quando a democracia estiver ameaçada por políticas que defendam a tortura e a morte.
            Esta posição de neutralidade do episcopado brasileiro favoreceu de certa forma as Igrejas Evangélicas a criarem um projeto de poder e formar uma bancada que terminou influenciando nas ultima eleições. Este projeto se estende aos três poderes e coloca em risco não só a concepção de estado laico, mas a própria democracia.
            Os objetivos dos evangélicos não se restringem mais nas temáticas institucionais, relacionadas à isenção fiscal, alvará de funcionamentos das igrejas, doações de terrenos, distribuição de concessão de rádios e TV, a transformação de eventos evangélicos em eventos culturais pra receber financiamento da Lei Rouanet, questões relacionadas à lei do silêncio. Aí eles atuam de forma articulada, como um bloco, convergem em nome desses interesses, como em relação a questões morais. Agora eles querem o poder e não escondem os seus objetivos.
             Enquanto os pastores são os grandes protagonistas no parlamento brasileiro, aos nossos clérigos fica vedada uma participação ativa nos partidos e nas atividades políticas, o que eu acho um erro. A questão, porém, não é apenas quantos representantes evangélicos há na Câmara dos Deputados, mas as alianças que estão sendo feitas estrategicamente, a chamada bancada evangélica. Porque isso é interessante, e não somente a parcela que conseguiram – como já disse, entre 20%. Mas um ponto importante é a famosa bancada BBB (Bíblia, boi e bala), que agora passou a ser BBBB: Bíblia, boi, bala e Bolsonaro. Então, quando essas bancadas se juntam, aí sim, temos uma força importante. Ou seja, se todos os evangélicos se unissem, eles seriam o maior partido político do Brasil.
            Não é fácil para os cristãos católicos fazerem o contra ponto com esta maquina eleitoral. Uma boa parte dos candidatos ligada a nossa igreja muitas vezes não contam nem com o apoio de seu pároco e assim, terminamos entrado nesta disputa de poder de forma desorganizada. Até quando vamos ignorar este problema.

Padre Carlos



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domingo, 11 de agosto de 2019

ARTIGO - Privacidade Hackeada e o Brasil ( Padre Carlos )





Privacidade Hackeada e o Brasil



            Já escrevi outras vezes sobre estas questões, mas, volto a repetir, porque é de fundamental importância para entendermos as condições necessárias da sobrevivência da nossa democracia. Como professor de filosofia, não poderia perder a oportunidade de explicar o assunto através de um silogismo simples: 1) a democracia pressupõe liberdade; 2) a liberdade pressupõe conhecimento e cultura; logo, 3) a democracia pressupõe conhecimento e cultura. Não é um conceito burguês: ela foi criada assim mesmo, e não dá para voltar atrás.
   
         A chave está no início da frase 2) do silogismo: de fato, só com conhecimento e cultura é que posso fazer escolhas livres e assim, bem informadas, terei instrumentos de análise e de crítica que poderão permitir separar o joio do trigo, e saber se, ou até que ponto, está sendo enganado/ influenciado/ condicionado nas minhas escolhas - o que em política é determinante.
            O que vou dizer aqui incomodará muita gente, mas corresponde exatamente ao que penso sobre o assunto e o que a realidade mostra cada vez mais, todos os dias. E o que realmente mostra esta realidade? Ela revela cada vez mais, que a ignorância está se generalizando, crescendo cada vez mais e se espalhando em um ritmo assustador - e em particular no domínio mais essencial da democracia: a comunicação.
    
        A maioria dos nossos jovens já não consegue lê um livro, a não ser que seja forçado e não tem o hábito de lê jornais (e quando o fazem é no celular, em uma tela onde cabem pouco mais do que os títulos: o texto fica muito pequeno e é uma chatice aumentar a tela e corrê-la com os dedos para poder ler um texto completo); e o que é pior, "informam-se" nas redes sociais - o mais poderoso veículo de propagação de mentiras e distorções da realidade que jamais tivemos notícias desde a invenção da escrita.
            Não é por acaso que os políticos cada vez mais, se dedicam à comunicação através das redes sociais, contratando especialistas, quando não abertamente hackers e peritos na dark web, capazes das mais incríveis manipulações da realidade. Se já ouviu falar de deep fake (vídeos falsos elaborados com recurso de inteligência artificial, tão perfeitos que parecem absolutamente reais e verdadeiros - eu "vi" um com o Reron Clinton dizendo as maiores barbaridades, feito com tão espantosa manipulação e realismo da cara, boca e expressões faciais dela que torna absolutamente” real” aquelas imagens e aquelas palavras), assim percebemos até onde a loucura chegou e pode chegar.
Agora é só imaginar porque os grandes poderes (Estados Unidos, China, Rússia) estão investindo a fundo nestas formas de "comunicação" para vocês terem uma ideia do grau que tudo isto pode atingir e ferir de morte as democracias – estão armazenando cada vez mais informação sobre praticamente tudo o que nos diz respeito, obtida precisamente através dos smartphones de uso intensivo e constante. Informação que podem permitir e controlar e criar "informação" (falsa) destinada precisamente a cada um de nós da forma mais eficaz possível, pois corresponde ao nosso "perfil" exaustivamente traçado e estudado.
            Diante de todas estas informações, como poderemos defender a nossa democracia? Só agora poderemos entender, porque a educação o conhecimento e a cultura são tão desprezados para os novos governos autoritários. Mas, como é que estas pessoas medíocres vão saber que é medíocre, se é medíocre? Parece engraçado se não revela-se uma triste realidade.
     
       Os milhões que elegeram Trumps, Bolsonaros, Orbáns, Salvinis e os mais que com certeza aparecerão (e estou aqui só me referindo os que são declarados de extrema-direita prontinhos para darem o golpe de misericórdia na democracia), esses milhões não dispõem de ferramentas – falta nesta gente, discernimento: conhecimento e cultura - que lhes permitam perceber como foram enganados/influenciados/condicionados nas suas escolhas.
            Portanto, afinal é muito fácil matar a democracia: basta deixar a ignorância espalhar-se e, pelo controlo das redes sociais, levar os eleitores a votarem naqueles que a irão extinguir Não podemos esquecer que fato semelhante já aconteceu nos anos 1930 com Hitler; e todas as aberrações chegaram ao poder pelo voto.



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sábado, 10 de agosto de 2019

ARTIGO - O Papa e o sonho feliz de cidade ( Padre Carlos )




O Papa e o sonho feliz de cidade

            Faz dois anos que li uma reportagem, em que o Papa falava aos Prefeitos e chamava à atenção  da importância de governar uma cidade com o coração.  Ao falar para todos os administradores municipais, o Pontífice se dirigiu para estes políticos afirmando que quem governa deve ter a virtude da prudência, da coragem e da ternura. Quando li aquele texto pensei: como seria bom se o nosso Papa falasse estas palavras para os representantes das nossas cidades. Disse Francisco: “Um prefeito deve ter a virtude de prudência para governar, mas também a virtude da coragem para avançar e a virtude da ternura para se aproximar dos mais fracos”, afirmou o Papa no texto.
   
         Para o Papa é necessário “uma política e uma nova economia centrada na ética” e os líderes das várias cidades devem “visitar as periferias”, O prefeito não deve ficar preso no centro e nos bairros nobres “o ponto de vista deve ser o todo” indica melhor as “necessidades reais” das populações e afasta “soluções aparentes”. Francisco propôs aos prefeitos a construção de uma cidade que “não admite os sentidos únicos do individualismo exasperado”, onde nunca se dissociam “o interesse privado do público” e que não suporte os “becos cegos da corrupção”.
            Na fala aos membros do executivo municipal, o Papa desafiou à construção de “comunidades onde cada um se sinta reconhecido como pessoa e cidadão, titular de direitos e deveres”.
            “O que contribui para o bem de todos, concorre também para o bem do indivíduo”, sublinhou. O Papa referiu-se também à necessidade de “uma política de acolhimento e de integração” que “não deixe à margem” os que chegam às várias cidades. “Construir esta cidade exige de vós não um ascendente pretensioso sobre os outros, mas um compromisso humilde e quotidiano a partir dos últimos”, disse o Papa. “Para abraçar e servir esta cidade é necessário um coração bom e grande, para aí guardar a paixão pelo bem comum”, sublinhou Francisco.
   
         Guardando estas palavras do Pontífice me lembrei da nossa cidade e acredito que o combate à desigualdade deveria ser o principal objetivo do nosso futuro prefeito. Desta forma podemos dizer que o maior desafio para os novos administradores municipal que assumirão em janeiro de 2021 ou os que continuarão em seus cargos, será a desigualdade. Os prefeitos precisam mudar o pensamento sobre as cidades e enxergar a pobreza como questão central, e não residual. E se a União depois do golpe parlamentar, não cumpre mais com suas obrigações mais básicas, estas terminam ficando a cargo dos poderes municipais, por isto, é preciso ir fundo na questão. Os maiores desafios estão nos bolsões de pobreza. É urgente reduzir as diferenças entre os que têm mais e os que têm menos, e isto só conseguiremos com políticas públicas de esquerda. Temos que concentrar esforços no resgate social do município, levando a infraestrutura para onde estão os mais carentes e trazendo estas pessoas ao convívio da sua dignidade. Esta é a verdadeira administração.

Padre Carlos




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ARTIGO - Nostalgia ( Padre Carlos )




Nostalgia


       Não. Não vou falar do governo de Bolsonaro nem das suas maldades e das suas causas profundas. Não vou falar da crise da democracia e da representação dos poderes. Não vou falar do momento complexo que o Brasil vive pós-golpe e da falta de esperança no campo democrático. Também não vou falar da vergonha do Ministro Sergio Mouro e do Ministério Público com as revelações que estão vindo a público e das responsabilidades políticas e criminais de quem as cometeu e compactuou com todas as agressões a democracia e a nossa Constituição.     Não vou falar em nada disto porque os meios de comunicação estão cheios destes  artigos e os comentários proliferam, as análises sobrepõem-se e resta aguardar o seu desfecho – bons ou maus – se confirmem e esperar que a realidade das coisas nos surpreenda.
  
     Se vocês permitirem, hoje vou falar do sentimento de perda que esta semana registei ao encontrar no facebook a foto de um companheiro que a muito não tinha notícias, amigo e irmão dos anos de chumbo. É uma geração que vai desaparecendo e, com ela, certa forma de estar, de ser, de se relacionar, de escrever, de cantar, mas, também de lutar e acima de tudo de amar. Foi uma semana em que minhas lembranças da fundação do PT, da primeira campanha em 82 com voto vinculado, da propaganda politica que parecia uma página policial, afinal a maioria tinha sido preso político, do grupo de jovens, da militância e dos amigos da infância.
       Todo mundo tem momentos da vida que lembra com carinho, como os que eu descrevi nos primeiros parágrafos. Um lugar que você ia, coisas que fazia pessoas que já não convive mais. Lembro-me do que passou com ternura e muito emocionado. E muitas vezes desejamos que tudo aquilo voltasse, nem que só por alguns momentos. "Como era bom", pensamos.
     
  Como se quisesse reencontrar um mundo que parece ter acabado. Como se conseguisse rebobinar a vida e reencontrar-me com certa forma de ser e de estar que estes últimos 60 anos de tanta voracidade consumiram. E ressuscitar tempos, valores, sentimentos, modelos de sociedade que sucumbiram a esta loucura cujo destino ignoramos, mas tememos!
       Ao completar neste vinte e sete de janeiro sessenta anos, temos que agradecer a Deus por esta conquista! Outro fato inportante é poder festejar também neste dez de fevereito os quarenta anos do Partido dos Trabalhadores. Assim, convoco os menestréis   e os poetas para expressar o que eu sinto neste dia: “Chega de saudade
A realidade
É que sem ela não há paz
Não há beleza
É só tristeza
E a melancolia 
Que não sai de mim
Não sai de mim, não sai”.

Padre Carlos




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sexta-feira, 9 de agosto de 2019

ARTIGO - Calígula ao Johnny Bravo ( Padre Carlos )




Calígula ao Johnny Bravo
            


           Calígula, e a sua loucura e total indiferença pelas vidas alheias continuam a ser o modelo no qual encontramos todos os fascistas.
            Faz alguns anos que li a peça de teatro Calígula, de Albert Camus, estreada no ano de 1945, mas revendo meus apontamentos fiquei surpreso com a semelhança de certas figuras do nosso cotidiano.
            Quando o escritor existencialista estreou, este espetáculo, dois Calígulas modernos, saiam da cena política: Hitler e Mussolini, inicialmente apoiados pelo povo alemão e pelo povo italiano – sinal inquietante –, foram finalmente derrotados pelos Aliados, ao cabo de mais de 50 milhões de mortos. O que nos remete uma preocupação com o novo personagem daquela peça de Camus:
     
       Estamos agora no séc. XXI, no tempo de Calígulas pós-moderno e com capacidade de exterminar dez vezes maior e seus opositores e vitimas continuam acreditando na democracia e no Estado de Direito enquanto a fera é alimentada.  “Agora mandam os Johnny Bravo”.  Por mais que busquemos explicação sobre as razões que teriam feito o mundo entrar numa era de crueldade e de impunidade para os poderosos, não consigo encontrar uma resposta que justifique tal conjuntura.
            Assim como o nosso Johnny Bravo, Calígula “inflamava o coração dos romanos procurando a popularidade por todas as formas”. A mesma preocupação que têm, 20 séculos depois de Calígula, o nosso presidente busca através dos novos coliseus e utilizando das grandes concentrações legitimar seu projeto de governo autoritário.   Onde seus projetos neoliberais prosperam, quer de forma imposta quer com uma roupagem de democracia, tudo parece ser permitido. Com o crescente desdém pelas normas éticas, sem dúvida, a sinistra progressão dos baixos instintos, quer na política nacional, quer na política mundial, com óbvia influência nos conflitos que assolam o planeta.
            Sem esquecer os contextos históricos tão distintos, bem podemos dizer, hoje, que as terríveis atrocidades cometidas por Calígula durante os três anos, dez meses e oito dias (do séc. i d.c.) em que reinou como imperador – até ser assassinado quando tinha 29 anos – só muito dificilmente poderia ser comparadas com as carnificinas cometidas durante o séc. xx, Holocausto incluído, e mesmo com as carnificinas já cometidas, ou ainda em curso, no séc. XXI. Mas, Calígula tem como companheira, a sua loucura e a total indiferença pelas vidas alheias, estes  continuam sendo o modelo no qual se pode rever, indubitavelmente este nosso presente. Bolsonaro também despreza a vida e a dignidade dos adversários, mas, além de ser, de longe, o mais desfavorecido pela inteligência, ainda não passou à prática o que nele há de pior. No entanto, há em quase todos estes políticos brutais – assim como no Calígula caracterizado por Suetónio – “dois vícios absolutamente opostos: uma insolência extrema e, por outro lado, uma extrema covardia”. E não nos iludamos em relação ao seu amigo e atual Presidente dos EUA. Bolsonaro está disposta a ignorar todas as violações dos direitos humanos, ou todos os assassínios cometidos por um Estado, desde que este tenha boas relações pessoais com Donald Trump – que é mais evidente e repugnante.
            Desfazendo acordos, pactos e tratados internacionais – com o perverso prazer de um menino mimado que vai colocando abaixo uma construção de valores e patrimônios que o pai ou o avô ergueu pacientemente para entreter –, Trump e os EUA”.
            Além do Brasil e dos EUA, podemos constatar que é cada vez mais presente na Europa a presença desta “nova “ordem”“. Estamos vivenciando uma forte presença destes Calígulas na Hungria como na Polónia, mas também em França e, sobretudo na Itália. Estes são capazes de assumir claramente as suas origens históricas e ideológicas, sem nenhum constrangimento. Com isto, presenciamos alguns jornalistas (também aqui no Brasil,) que acham incorreto atribuir aos movimentos populistas de direita antecedentes fascistas ou nazis, porque se trata – dizem eles – de um fenómeno político novo (?) que nem eles sabem ainda no que vai dar (!). Ou seja: há palavras que revelam ou escandaliza e que, por isso, não devem ser usadas na imprensa supostamente “nas grandes mídias do país”. Todavia, não é nada difícil – nem sequer tabu – identificar não só a nostalgia dos autoritarismos da primeira quadra do século passado, mas também as raízes desses populismos autoritários em ascensão na Europa, no Brasil e na EUA, claramente neofascistas e neonazis.
   
         Estamos sob ataque  do domínio do narcisismo – patológico em Calígula – e que também parece afetar, hoje, elites arrogantes, aparentemente revoltadas, que desprezam o povo. É, aliás, o narcisismo que, quer na política quer na imprensa, sustenta as imagens tabloides de narcisistas do Sr. Jair Messias Bolsonaro, para só citar os exemplos mais óbvios, o Presidente do STF admitiu em uma revista de grande circulação, que o atual presidente esta brindado e existe um pacto para impor o seu projeto de governo.

Padre Carlos




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quinta-feira, 8 de agosto de 2019

ARTIGO - Quinhentos anos de lutas ( Padre Carlos )




Quinhentos anos de lutas




            Durante o mês de agosto, faremos seis artigos resgatando estes cinco séculos de luta do povo brasileiro. Nosso objetivo é tentar ajudar aos mais novos construir uma linha do tempo tendo as lutas e conquistas deste povo como tema central.
            Assim, trabalharemos os seguintes acontecimentos:
                        Descobrimento e o Brasil Colônia;
                        A chegada da Família Real e o Império;
                        A primeira República;
                        Revolução de trinta e a era trabalhista;
                        Golpe de 64 e a Ditadura;
                        Nova República aos dias de hoje;
            Quando estudamos a História, aprendemos que sua importância esta relacionada acima de tudo a compreensão dos fatos para não cometermos os mesmos erros do passado; mas acima de tudo, para que tenhamos a oportunidade de organizar o agora e o porvir de modo mais seguro. Sob tal perspectiva, o estudo dos fatos consumados sempre teve um valor estratégico. Em outras palavras, essa ideia sugere que a análise e a crítica do passado determinam o alcance de um futuro livre das mazelas que um dia nos afligiu.
            O termo História vem do grego e significa "historie", "conhecimento através da investigação “testemunha”. História é a ciência que estuda a vida humana através do tempo, analisando a ação do Homem no tempo e no espaço. Através dos variados testemunhos deixados pelos nossos ancestrais conseguimos reconstituir o passado, compreender o presente e precavermo-nos para o futuro. É o estudo do passado para entendermos o presente, mas de um passado vivo, que está presente em nós, uma vez que somos o resultado de tudo o que aconteceu.
            Não devemos esquecer as nossas memórias, porque um país sem memória caminha desorientado, pois não conhece seu passado, não tem consciência do seu presente, e não projeta perspectiva no futuro.
            Assim, só através da história poderemos entender como fomos constituídos como Nação, e que Ela representa um culto do solo, o gênio da língua, a inspiração da poesia, a música do patriotismo, a fé da religião, a força da ideologia, a vocação da liberdade e do direito; todos esses valores que as gerações memorizam e consagram movidas da esperança, e do propósito e do pensamento de fazê-los eternos e indestrutíveis como as forças supremas da natureza, sobre as quais não tem o homem jurisdição para aplicar a pena capital e extingui-las.
            Foi por entender a importância deste tema e apesar de ter a filosofia como formação, que tento buscar neste trabalho o debate e a compreensão dos desafios da nossa democracia, isto é não deixar que o esquecimento das nossas lutas e conquistas, que o sentimento de nação possa nos resgatar da nossa inercia diante daqueles que usam a falta de memória do nosso povo  como instrumentos demagógicos, exatamente, esse tipo de patologia que já Aristóteles, na velha Grécia, denunciava como sendo a mais grave doença da democracia. A memória curta, na história e na política.


Padre Carlos




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ARTIGO - A geração que fez a diferença! (Padre Carlos)

A geração que fez a diferença!      Decorridos tantos anos do fim da ditadura, observa-se que a geração da utopia está partindo e a nova...