Uma eleição polarizada
Um
amigo uma vez me aconselhou não iniciar um texto com um título taxativo que
definisse minha posição política. O perigo do articulista se expor agindo assim
é grande. Desta forma, termina correndo o risco de ser julgado pelos leitores
apressados, cuja leitura não avança além do título. Este não é o grande
problema daqueles que escrevem apenas para o seu métier, ou seja, aqueles que
partilham da mesma fé, da mesma ideologia. Acredito que não é a preocupação daqueles
que defendem verdades absolutas, os panfletários e os que fazem proselitismo.
Em
tempos de acirramentos das posições políticas e ideológicas, de definições
nítidas de campos que se opõem em fronteiras rígidas, são destruídas as pontes
que possibilitam a communicatione, delimitam-se trincheiras
intransponíveis e são implodidas as condições para o diálogo. Quando cada um
fecha-se em torno das próprias certezas, torna-se impossível ouvir a fala do
outro, seus motivos e suas razões. A reflexão crítica e auto-crítica é
substituída pelas dicotomias maniqueístas que apelam para a simplificação da
realidade, a redução ao “nós” versus “eles”, o “bem” contra o “mal”. Neste
contexto, a polêmica tende a suplantar o diálogo:
Desta forma, as
eleições para prefeitos e vereadores no ano que vem terá este caráter. Não é
uma ‘mera’ polarização, no sentido de rivalidade partidária. Estamos vivendo no
nosso país, uma cisão profunda, que chega, algumas vezes, às raias da
violência, e cujo caráter antidemocrático parecia ter-se perdido em nosso
passado
Quando levanto estes questionamentos, chamo
atenção dos leitores que na conjuntura atual aqui em Conquista ou em qualquer
cidade média ou nos grandes centros, não há
espaço para uma terceira via. A política brasileira ficou polarizada entre dois
projetos: o de Lula, pelo PT, e da Direta, de Bolsonaro. Não me parece que haja
espaço para a terceira via. A economia, a sociedade e a política brasileira
continuam polarizadas entre dois projetos: um projeto conservador e um projeto
progressista. Um representa a esquerda e o projeto da extrema-direita que é Bolsonaro,
PSL e o Centrão.
A política é movida por dois elementos: paixão
e ideologia. Quando levanto a tese que em uma eleição polarizada não existe espaço
para uma terceira via, quero dizer que dentro de uma conjuntura ideologizada
não existe o terceiro elemento. Porem, a paixão é o único fator que poderia
quebrar a polarização, com isto, seria necessário uma força eleitoral que transcendesse
partidos e ideologias e esta nova conjuntura viria por meio de um eleitor de tipo personalista, o qual decide seu voto,
principalmente, a partir da paixão e de uma visão messiânica, passando a
incorporar no candidato os valores: de competência e honestidade. Por fim,
busca-se uma explicação de origem psicológica para esse padrão de comportamento
eleitoral. Esta nova conjuntura se formaria através de valores emocionais e não
ideológico. São poucos os
políticos que conseguem esta proeza e aqui em Vitória da Conquista, temos um
quadro no campo da esquerda que se encaixa nestes requisitos.
Já a direita no nosso município, está
completamente fragmentada. A liderança do atual prefeito não foi capaz de
agregar sua base política, criando assim uma cisão neste bloco. Com altos índice
de impopularidade e rejeição, fica difícil articular seus liderados e suas
bases e desta forma, não podemos definir neste momento quem de fato enfrentará o
candidato da esquerda.
Como diz o poeta: “Ainda leva uma cara
Pra gente poder dar risada
Assim caminha a humanidade
Com passos de formiga
E sem vontade”.
Pra gente poder dar risada
Assim caminha a humanidade
Com passos de formiga
E sem vontade”.
Vamos aguardar as novas rodadas deste processo e analisar
como estas forças se movimentarão nestes próximos meses, para podermos fazer
uma análise mais próxima da realidade.
Padre Carlos