Depressão
e suicídio entre os jovens
Um dos grandes problemas que tem chamado minha
atenção nos últimos tempo é o aumento da morte prematura de jovens, como
consequência do suicídio. Por meio de um ato extremo, em um momento que foge a
nossa percepção aquele sorriso que nos acompanhou por muito tempo é substituído
por lábios frios e cerrados e perdemos sem entender os nossos meninos. Aquele
corpo que um dia irradiava alegria e vitalidade, agora se transforma em matéria
inerte, rígida e inanimada.
Quando exerci o ministério sacerdotal,
recebi uma carta de uma mãe desesperada com a tragédia que tinha se abatido
sobre sua família. Este fato chamou minha atenção e a partir daquele dia, passei
a adotar como carisma esta pastoral. Nunca me recusei a acompanhar estes irmãos
e fui chamado diversas vezes no meio da noite para aconselhar jovens com
depressão e distúrbio de polaridade.
Quando tomamos conhecimento da morte por suicídio
de um jovem na “flor da idade”, como se diz costumeiramente, falhamos como família
Igreja e como humano, nos sentimos impotentes e ficamos diante de uma tragédia que
poderíamos ter evitado. Por isto, nunca medir esforços para atender pessoas com
quadro depressivo. O suicídio em qualquer idade é um ato derradeiro que nos
entristece. No entanto, ao ser cometido por alguém jovem, se reveste de uma
diferenciada comoção, face ao contexto de uma vida que desabrochava para o
mundo, revestida de sonhos e de ilusões.
Quando tomei conhecimento do fato, procurei
analisar o histórico de vida daquela jovem que faleceu. Não podemos nos enganar,
por trás do suicídio há sempre a sombra de uma depressão que vinha consumindo
aquela alma. Na sua grande maioria estas pessoas que morrem por suicídio
apresentavam um quadro depressivo ou outro distúrbio de humor.
Não podemos negar que este cenário é extremamente
grave e serve de alerta para os familiares e amigos mais próximos das pessoas que
apresentam depressão ou outro distúrbio de humor. É certo que a depressão afeta
de forma profundamente negativa as relações familiares da pessoa, impactando na
vida familiar e no ambiente de trabalho. Mas, não podemos desistir, temos que
estender a mão, saber ouvir e ser naquele momento o companheiro de Emaús.
Passei a conhecer esta enfermidade desde cedo,
dentro de casa e ao depara com os sintomas desta doença, não foi difícil por
conhecer de perto este quadro. Geralmente aparecem entre os 20 e os 40 anos de
idade, sendo duas vezes mais comum entre as mulheres do que entre os homens.
A depressão é um distúrbio, ele se instala,
acompanhado de baixa autoestima, pouca energia, dor sem causa definida. A
pessoa que está sofrendo, perde o interesse pelas atividades que antes eram
consideradas prazerosas. Assim, não é difícil a família entender que algo está
acontecendo.
Conversava muito com uma amiga psiquiatra sobre as
pessoas que me procuravam e ela sempre me alertava que a depressão é causada por uma conjunção de
fatores genéticos, ambientais e psicológicos, estando associada a certos
fatores de risco, a exemplo da história de depressão na família, alterações
significativas na vida, uso contínuo de certos medicamentos, problemas crônicos
de saúde e até ao consumo de drogas. Me ajudou muito aquelas informações para
que pudesse ajudar aquelas pessoas e suas famílias.
Muitas vezes ao visitar estes enfermos,
testemunhava de certa forma, como os familiares interpretava de forma
equivocada, algumas pessoas confundem a depressão com a tristeza que é algo
normal da vida. Desta forma, meu trabalho se estendia como padre também a toda
família.
Uma
pastoral, jamais irá substituir o tratamento e não é sua pretensão. O
tratamento geralmente inclui medicamentos, psicoterapia ou uma combinação dos
dois. Cada vez mais, as pesquisas sugerem que esses tratamentos podem
normalizar a função cerebral associada à depressão.
Nosso trabalho é levar um pouco e conforto
espiritual e demostrar para a pessoa que está sofrendo, que o nosso Deus é Pai
e misericordioso. Ele ama seus filhos e eles podem contar com sua graça e seu
perdão.
Padre Carlos