terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

ARTIGO - A Espiritualidade Quaresmal (Padre Carlos)




A Espiritualidade Quaresmal




A quaresma é um tempo de graça e conversão, um verdadeiro retiro espiritual que a Igreja nos convida a vivenciar nestes quarenta dias de oração intensa, jejum e penitência.  Sabemos que os 40 dias referem-se aos 40 anos do Êxodo. É um tempo suficiente para um caminho de libertação. Desta forma, aprendemos com os exercícios de oração e o Retiro Quaresmal, que este tempo é um caminho pedagógico que forma o homem interior, que o conduz à Vitória Pascal de Cristo. Portanto, Quaresma é saída, saída da vida velha para a vida cheia da esperança de Cristo!
 É neste contexto que devemos entender o que quis dizer Jacques Lacan: "Os teólogos não acreditam em Deus, porque falam dele." Talvez mais importante do que falar de Deus seja falar com Deus. Nosso proposito nesta quaresma tem que ser falar com Deus, Este encontro pessoal com o Sagrado só pode ser feita através da fraternidade e o  diálogo sincero com Ele na oração.
 A Campanha da Fraternidade é o modo com o qual a Igreja no Brasil vivencia a Quaresma. Seu objetivo é despertar a solidariedade dos seus fiéis e da sociedade em relação a um problema concreto que envolve a sociedade brasileira, buscando caminhos e soluções. A cada ano é escolhido um tema, que define a realidade concreta a ser transformada. Assim, a Campanha da Fraternidade 2021 terá como tema "Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor" e lema "Cristo é a nossa paz: do queera dividido fez uma unidade". A ação vai ser lançada oficialmente hoje.
Vivenciar a quaresma hoje no Brasil supõe uma abertura ecumênica, mas também um diálogo inter-religioso no sentido etimológico do termo o que vai além da articulação dos discursos teológicos ou da ação pastoral que é desencadeada com a Campanha da Fraternidade. Implica incorporar Fraternidade e Diálogo no discurso ideológico e na prática política dos movimentos sociais e dos partidos de esquerdas que assumem as aspirações libertadoras do nosso povo. Defender a vida nos dias de hoje, implica para a comunidade de fé, um compromisso que vai além do discurso teológico. É preciso descer do pedestal e encarna-se na vida e na luta de inúmeros irmãos que estão sendo oprimidos e por isto, não podemos se dá ao luxo de separar fé e vida, Campanha da Fraternidade e ação política, salvação e libertação.

Só vivenciando a espiritualidade quaresmal, poderemos assumir a defesa da Fraternidade e do Diálogo e esta só pode se dar com o Dom do Compromisso e o terreno concreto deste compromisso é a política. É nesta arena que se decide a sorte de milhões de seres humanos, mas também a nossa fidelidade ao projeto do Reino e o amor aos pobres. É desta forma que nossa oração passa a gerar nos corações profundamente arrependidos a acolhida do Mistério Pascal, da Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.
O Filho de Deus se entregou por toda a humanidade nas mãos dos homens, padeceu todo tipo de suplício, maltratado, injuriado, fizeram-no carregar a cruz, no calvário pregaram-no no madeiro e o ergueram entre bandidos. Sua morte cruenta transformou-se em remédio de salvação para todos nós. Mas o Pai, que é Deus, o ressuscitou glorioso.

A Páscoa é sofrimento vivido com amor, é morte tragada pela vida, é sacrifício oferecido para nossa salvação. Páscoa, numa palavra, é a nossa salvação, é Cristo, o cordeiro imolado por nós. Devemos trilhar o deserto da nossa vida com os olhos fixos na manhã da Ressurreição, sem nos ater nas desesperanças que nos cercam. Isto é Páscoa!

Os 40 dias vão da Quarta-feira de Cinzas até o Domingo de Ramos, neste tempo no qual devemos vivenciar o espírito do Êxodo, temos também de fazer uma reflexão profunda sobre a situação do pobre e como nossa ação pode ser gestos concretos de cuidados. Como Povo de Deus, conduzido pela sua Palavra, sairemos da Terra da Escravidão, do pecado (egoísmo, maldade, injustiça, violência, hedonismo, vícios, da exploração, etc.) para a Terra Prometida da realização das Promessas Divinas em relação à humanidade.

Quaresma é tempo de saída de nós mesmos, mundo de fraqueza e fechamento, para irmos ao encontro do outro, mundo da abertura e fortalecimento, da nossa fé na construção de um mundo melhor.

No caminho quaresmal, a Igreja convida seus filhos ao êxodo existencial, convida-nos a sair da frouxidão na vida espiritual, mas também da defesa da vida humana. Não basta vê a opressão é preciso sentir compaixão e lutar cuidando dele. Quaresma é um tempo favorável para a mortificação. Sabe-se que Adão continua a cair quando pecamos, mas a Igreja recorda sempre que o pecado não tem a palavra final em nossas vidas.

O tempo da Quaresma é um caminho pedagógico que forma o homem interior, que o conduz à Vitória Pascal de Cristo. Portanto, Quaresma é saída, saída da vida velha, saída da nossa inercia, saída para que possamos lutar pela vida cheia de esperança em Cristo!
 Maria, seus filhos que sofrem são seguramente cobertos com o seu manto. Assim como esteve presente aos últimos momentos dramáticos de Seu Filho, Jesus Cristo, nós vos pedimos: Que este povo possa vencer a morte em vida que se abate sobre ele. Que possamos celebrar com alegria a vitória sobre todas as mortes.

Padre Carlos



sábado, 22 de fevereiro de 2020

ARTIGO - Joaci Góes de sua eterna tribuna (Padre Carlos)


Joaci Góes de sua eterna tribuna

Recebi por parte de um amigo nestes dias, um artigo do empresário e político baiano, Joaci Góis; nesta matéria que parecia mais um desabafo acompanhado de um sentimento de revolta da extrema direita, o jornalista revela a mágua que sente pelo Papa Francisco por ter recebido o ex-presidente Lula em audiência no Vaticano. Contra todos esses argumentos dos conservadores e em especial do nobre empresário baiano, gostaria de lembrar que Jesus também foi um condenado. E os seus algozes faziam parte da elite subserviente ao império, assim, como representante da social democracia, coloca no texto toda a sua ira e tenta fazer um paralelo nesta matéria, comparando de forma absurda o presidente Lula a Fernandinho Beira-Mar.
        
Francisco ao receber Lula no Vaticano passa a constituir uma ameaça à ascensão ideológica e política dos projetos conservadores, que as elites brasileiras vêm tentando implantar desde a década de oitenta. Não se trata, evidentemente, de um confronto político direto, mas de um confronto ético de dois modos de ver o ser humano e as estruturas históricas colocadas a seu serviço.
Como teólogo e filósofo, posso afirmar que o seu Pontificado vem enfrentando três tipos de oposição: teológica, institucional e política.
A teológica parte de alguns setores na Igreja que acham que o papa é muito moderno em questões como casamento e família. É uma oposição pequena, que age de forma respeitosa.
Na oposição institucional, há pessoas que querem manter o status quo. Alguns cardeais têm medo de perder privilégios ou da mudança de mecanismos para a nomeação dos bispos,
Como filósofo, vejo a oposição política como a mais forte. O papa fala da defesa dos pobres e da necessidade de construir pontes em vez de muros. São questões que o empresário baiano não gostaria de ouvir e representa uma ameaça aos interesses do mercado. Suas posições em defesa da vida e dos mais pobres é tidas como uma ameaça. O papa pode lidar com as duas primeiras oposições, mas a política é a mais difícil, devido à força do capital e dos órgãos de imprensa.
Com um viés ideológico e defendendo o Lawfare contra o petista e todos opositores do projeto de direita, o político baiano não menciona em momento algum na sua matéria, a guerra midiática e judicial contra o ex presidente, ou seja,  as manobras-jurídico-legais para atingir e tentar destruir a imagem política deste grande estadista.
Uma das principais armas dos covardes é a calúnia. A calúnia toma proporções incomensuráveis. Destrói carreira política, amizades e família. Dói mais do que um tapa no rosto. Quando o empresário se utiliza de meias verdade para enganar o povo, ele deixa de merecer o respeito dos baianos. “Nada menos do que 88% das mortes provocadas por diarreia decorrem de más condições sanitárias. Como resultado final, pode baixar para 54 anos a média de vida dessas populações, vitimadas por empréstimos a fundo perdido, comandados por Lula da Silva, para países bolivarianos. Roubo e incompetência associados para empurrar o Brasil ladeira abaixo.”

Quando escreveu este artigo, o renomado político do PSDB, sabia que a propagando política do seu presidente teria causado aos cofres públicos milhões em despesas para provar que Lula e sua administração teria feito algo de errado no banco. Assim, a gestão do BNDES que o empresário Joaci Góes defende,  deu uma excelente aula de como jogar dinheiro (público) no lixo apenas para atender a promessa de campanha de Bolsonaro, a auditoria que ele mandou fazer resultou em um GASTO de R$ 42,3 milhões, sem conseguir provar nada contra o Presidente Lula.         É isto que eu quero dizer, quando afirmo que a calúnia machuca por dentro, é mais humilhante do que uma cuspida na cara , porque a calúnia é falsa, é leviana. O cuspe a gente limpa, o tapa, as feridas e marcas saem com o tempo, mas as feridas da calúnia, ahh, essa faz tanto mal como uma guerra.
Comparar o Presidente Lula, a Beira-Mar é um gesto mesquinho e só faz demonstrar a pequenez de quem um dia já foi considerado um grande empresário na Bahia.
Gostaria de lembrar ao Sr. Joaci Góes, que o Presidente Lula saiu com aprovação de mais de 87% da população brasileira. Isto por si só, explica, como Lula foi perseguido politicamente por seus opositores, através da utilização da lei e do poder judiciário, para fins de tirá-lo da disputa eleitoral, o candidato que tinha a maior preferência popular. Não podemos negar os verdadeiros motivos de tentarem marginalizar Lula, o que realmente se busca como fica comprovado com este artigo, era e ainda hoje é manchar a reputação daquele que foi o maior presidente da história deste país. Mas o que irrita seus algozes, é que o efeito sempre é contrário, desde o momento da sua prisão em 07 de Abril de 2018, Lula foi para prisão em Curitiba, e os militantes do PT e simpatizantes, foram para Curitiba, e acamparam a cem metros da sede da Polícia Federal, até a sua liberdade.
         É uma pena que os pobres não possam contar com os órgãos de imprensa para defender sua narrativa da história. Que os baianos possam um dia ter uma tribuna e que ela seja verdadeiramente dos baianos.

Padre Carlos


Artigo - Uma sobrevivente de Auschwitz (Padre Carlos)




Uma sobrevivente de Auschwitz





Durante muitos anos, a preocupação dos teóricos de esquerda era criar as condições no campo ideológico para que este pensamento pudesse ser a base utópica das novas gerações. Desta forma, estes pensadores achavam que todos os horrores vividos no século passado não permitiriam que valores fascistas pudessem ser resgatados pelas novas gerações. Estes pensadores de vertentes progressistas esqueceram-se de certos ensinamentos: A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa. Por que a história se repete, por que está acontecendo tudo de novo?
        
Uma sobrevivente de Auschwitz, Esther Bejarano, chama a atenção do mundo sobre a escalada destas forças nos últimos tempos. Além de recordar a sua história, Esther, hoje com 95 anos, e com a lucidez que a perspectiva lhe permite, é enfática: “está tudo acontecendo outra vez”. E como está.
É como se nossa memória coletiva começasse esquecer os horrores do Nazifacismo e por ingenuidade ou ignorância, achasse que estes regimes não fossem mais defendidos pelas novas gerações e suas idéias pertencessem apenas aos filmes antigos de Hollywood ou aos livros de história. Parecia distantes para estes pensadores. Parece que acordamos de um sono profundo, ficamos surpreendidos nos últimos anos com o surgimento desta praga. Assim, passamos a presenciar a imprensa tolerando o discurso do ódio racial sob determinados pretextos, que vão desde o da liberdade de expressão à importância da diversidade de correntes de pensamento, passando por falta de decoro ou postura ética.
Já ganharam eleições na Europa e nos Estados Unidos e no Brasil, com promessas de expulsão da oposição, estrangeiros e de construção de muros para que não voltem a entrar. Já se separam crianças latino-americanas dos pais nas fronteiras de países como os Estados Unidos e se detém cada uma em sua cela com acusações de imigração ilegal. Aqui no Brasil, a extrema-direita já chegou ao poder e até em partidos de centro surgem vozes, da ribalta, que se permitem proferir os maiores ataques a classe trabalhadora e aos pobres.
Nunca tive a oportunidade de visitar Auschwitz, onde Esther esteve presa. Mas, não tenho dúvidas em afirmar que, pelo simbolismo que tem, continua sendo um dos locais mais importantes do mundo e o museu em que foi transformado devia ser preservado para sempre. Os governos deviam tornar obrigatório o estudo sobre os males causados a humanidade por estes regimes, para que a nova geração não se encantasse o canto da sereia por falta de informação.
Como diz o poeta: “E há que se cuidar do broto, pra que a vida nos dê flor, flor e fruto”. Para que esta não desapareça e dê lugar ao vazio. Para que não se fertilize o terreno onde floresce o discurso do ódio racial.
Certa vez, um amigo me falou que em Birkenau, o campo de extermínio pertencente ao complexo de Auschwitz, jaz uma lápide precisamente no sítio onde antes funcionaram as câmaras de gás e onde se lê: “Permita-se que este local, onde os nazis assassinaram cerca de um milhão e meio de pessoas, homens, mulheres, crianças, sobretudo judeus, de vários países da Europa, seja um grito de desespero e um sinal de alerta para a humanidade”.
Esther Bejarano me falou todas estas coisas. Agradeço o amigo que fez chegar este artigo em minhas mãos. Gostaríamos que nesta quaresma, pudéssemos refletir sobre as suas palavras e sobre a sua memória. E como disse Marx, a história se repete, mas é nossa obrigação mudar o seu rumo para proteger as vítimas desta besta.
Padre Carlos


sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

ARTIGO - Ciro e o coronelismo moderno (Padre Carlos)


Ciro e o coronelismo moderno

O último acontecimento ocorrido na cidade de Sobral no Ceará chama atenção de toda a nação para dois comportamentos inaceitável em um Estado Democrático. O primeiro tem haver com o comportamento das lideranças da Polícia Militar local. O segundo com a atitude do Senador Cid Gomes e a forma como esta liderança tentou acabar com o motim da Polícia do “seu” Estado. Não estou querendo com este artigo justificar o comportamento miliciano dos policias cearense neste episódio. Nosso objetivo é avaliar a atitude de um Senador da República em um conflito local.

Não somos críticos à esquerda e não estamos acusando a Família Ferreira Gomes de ser representante do “coronelismo” do Estado do Ceará. Mas, quando um clã passa a ocupar diversos cargos políticos em uma determinada região, termina chamando a atenção dos cientistas políticos seja de direita ou de esquerda. Ciro foi Governador, seu irmão Cid Gomes também, e seu outro irmão Ivo Gomes é Prefeito de Sobral, cidade de origem e reduto eleitoral dos Ferreira Gomes. Além disso, o Governador até 2022, Camilo Santana, foi eleito com o apoio de Ciro, bem como o Prefeito de Fortaleza até 2020, Roberto Cláudio. Por outro lado, não podemos negar que o voto é centro vital de todo o sistema coronelista e que a influência dos coronéis está no seu poder de mando, de coerção junto à população local. É desta forma que a família Ferreira Gomes, mantém sua força, ou seja, o voto. No entanto, gostaria de chamar a atenção do leitor, que a base de sustentação do coronelismo está na sua estrutura poder, fornecendo subsídios necessários para as outras forças que possa compor a nível nacional.
Quando presenciamos Ciro Gomes criando um show em matéria de direito constitucional e dizendo, hora que Lula é inocente, hora que é culpado; entendemos os verdadeiros motivos. O papel do coronel não necessariamente deve ser daquele que possui bem capital ou terras, podendo ser uma pessoa que possua ensino superior, já que esta prática se difunde muito no Brasil, formando advogados e médico e criando uma cultura que distancia o povo das elites. Nesta, encontramos a defesa  da formação acadêmica para ocupar posições de mando, que política é pra gente rica e que existem famílias na elite local que defende o pobre e podem fazer o confronto com o coronel da Primeira República.
Mas de onde vem esta tradição política da família Ferreira Gomes? Podemos afirmar que esta vocação foi herdada do pai deles, José Euclides Ferreira Gomes, que foi Prefeito de Sobral na passagem dos anos 1970/80.  José Euclides era um funcionário público e não um coronel proprietário de terras, ou outro meio que lhe desse a proeminência social característica do coronelismo. Apesar de uma brilhante carreira, podemos avaliar esta trajetória de sucesso desta família, com novos elementos da ciência política para tentar entender como e quando surge este projeto político e como chegaram de fato ao poder em seu estado.  Seria possível caracterizar Ciro e a Família Ferreira Gomes como representantes de um suposto “coronelismo moderno”?  É preciso analisar esta trajetória e as propostas políticas defendidas por eles.
Pode-se concordar ou não com o projeto que Ciro Gomes vem apresentando nos últimos anos, como alternativa para o Brasil, no entanto, é preciso analisar corretamente o significado de sua biografia, sua participação como gestor público, e as idéias que defende, para julgá-lo pelo que realmente é, ainda que sua guinada para o centro, abandonando a esquerda, tenha arranhado seus prestígios e alimentado uma divisão dentro deste campo, não podemos negar sua importância no plano nacional. Este comportamento dos Ferreira Gomes, apontam para um novo fenômeno na cena política brasileira: uma parcela significante da esquerda está se deslocando para o centro. Parece paradoxal, e é; trata-se de uma tendência pela adesão a itens da pauta conservadora, com o intuito pragmático de conquistar os setores das classes médias que se opõem a forma de governar e a falta de postura ética do bolsonarismo. 
Para se opor, mas não com base em preconceitos, mas com conceitos da filosofia política, podemos afirmar que sabíamos o tempo todo que se tratava de um coronelismo moderno com característica semelhante do que surgiu, na região da baixada fluminense, mais especificamente no município de Duque de Caxias no período compreendido entre 1952 e 1964, a partir da construção da figura mítica de Tenório Cavalcante, conhecido como o Homem da Capa Preta. Assim Ciro, com um programa claramente desenvolvimentista, focado na industrialização, ampliação dos direitos sociais, distribuição de renda e modernização da educação pública encantou uma esquerda que achava que tinha desaparecido com o golpe de 64. Leonel Brizola do PDT foi um dos maiores entusiastas da candidatura de Ciro, apoiando-o em 2002. Brizola se aproximou de Ciro pela afinidade histórica com a tradição nacional-desenvolvimentista e trabalhista representada por Getúlio Vargas e João Goulart: na campanha de 2002 a coligação de Ciro com o PDT de Brizola chamava-se “Frente Trabalhista” usados de forma distorcida como meros adjetivos não-históricos.
Assim, acredito que ao subir naquela retro escavadeira e tentava furar um bloqueio feito por policiais no 3º Batalhão da Polícia Militar do município, o Senador carrega um simbolismo de está disposto a lutar e dar a vida se for preciso pelo povo, mas o povo não pode fazer sozinho, precisa da elite local que esta do seu lado.
Como disse Bertolt Brecht Miserável país aquele que não tem heróis. Miserável país aquele que precisa de heróis.

Padre Carlos






quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

ARTIGO - O papel do articulista. (Padre Carlos)




O papel do articulista.


Certa vez alguém me disse que são os artigos que nos escolhem. Que há temas que nos obrigam a tropeçar neles para serem escritos. Somos pontes para quem precisa das palavras que serão documentadas, como se tratasse de uma mensagem.
Existem artigos que podem mudar uma vida, como também podem marcar ou recordar um tempo ou uma geração. Para quem viveu esta experiência, há sempre um que fica na nossa memória mais afastada e de que, por alguma razão, nos recordamos com especial gosto quando lemos certa matéria.
Outro dia perguntei a um jovem se tinha hábito de leitura e quais suas  preferidas? Ele me mostrou uma série de obras e revistas que deveria ler para o vestibular. Este exemplo confirma-nos, por si só, que andamos lendo o indispensável e obrigatório, não temos prazer na leitura, apenas cumprirmos de forma rígida, um planejamento acadêmico.
Os artigos que escrevo, são dirigidos para diversos públicos e idade, eles vão se revelando e dialogando com os coletivos de tal forma, que foge o controle do articulista. Meus leitores são compostos de várias idades e gerações, eles se aproximam do texto, devido ao estado de espírito que comunga com o assunto que aparece pela frente. Será que são os artigos que nos escolhem, em vez de sermos nós? Acredito que sim: um artigo pode contar uma narrativa que poderia ser a nossa própria história. Estes não precisam ser de auto-ajuda ou cartas de amor ou dramas reais. Qualquer texto, mesmo os político que costumo escrever, termina assumindo uma linguagem mais precisa, e são escritos com carinho sobre um tema concreto. Desta forma, podem ser a chave para uma situação real que leitor pode está passando.
Escrevo para construir minha própria identidade. Eles obrigam-me a pensar sobre os temas abordados, originando nos meus neurônios várias ligações que permitem descodificar a leitura, adaptando-a aos meus conhecimentos e experiências.
Os valores de hoje são diferentes dos quais fui forjado no seminário. Os relatos e as narrativas servem para manter presentes as lutas e histórias de um povo ou individuo que simbolizaram a vitória das virtudes e do esforço sobre as fracas qualidades do ser humano, como temos vivenciado na política.
Uma narrativa bem contada traz esperança para os oprimidos, mesmo quando estamos vivenciando períodos negros da nossa história. O articulista ajuda seu publico a atravessar este deserto e manter a utopia viva. Ele tem a obrigação de falar para os seus leitores, que os seus sofrimentos terão fim no dia seguinte à derrota do mal.

Padre Carlos

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

ARTIGO - Falta à esquerda capacidade de dialogar! (Padre Carlos)



Falta à esquerda capacidade de dialogar! 





Os partidos de esquerda da nossa cidade se dividem entre os que fazem contas e os que fazem de conta. O futuro está com os primeiros. Mas se querem ser democratas, precisam convencer o povo a acreditar na aritmética e na exatidão de seus números. 
Poucos fatos demonstram melhor o nosso fracasso eleitoral, do que a dificuldade em levar adiante a política de aliança e a reconstrução da Frente Conquista Popular, com apoio das nossas lideranças. Não buscar a unidade é irresponsabilidade política, compromete o projeto e deixa as forças de esquerda isoladas e sem perspectiva eleitoral. Sem uma frente política, como poderemos enfrentar as dificuldades que esta eleição vem sinalizando.  
Precisamos juntar forças e construir um discurso que possa nos conectar com o povo.  Que possamos sair do isolamento em relação aos sentimentos da população, não podemos perder a capacidade de refletir com lógica e construir entendimento. 
Desapareceu a política de combinar ideias e sonhos, hoje o que prevalece, são as equações de uma leitura da realidade do poder e da conjuntura eleitoral. Alguns grupos se unem na defesa de ilusões esquecendo do conjunto e que unidos possamos avançar muito mais; outros optam pela frieza das equações sem respeito à opinião da população. Desapareceu o diálogo entre os grupos: o sectarismo político e a voracidade dos mandatos e dos cargos executivos não deixam a política formular alternativas que permitam construir o futuro justo e sustentável com o apoio do povo. 
Esta eleição é um exemplo. Não está havendo diálogo que permita uma convergência entre os partidos e seus eleitores: alguns ajustam os dados para fazer possível vender ilusões; outros se apegam aos números sem convencer a população de que uma candidatura exige concesso; outros não aceitam ficar de fora; grupos que se consideram de esquerda se transformam em conservadores ao defender seus interesses. 
Sem respeitar as outras forças, estamos irresponsavelmente vendendo ilusões da nossa capacidade de vitória provocando a falência da unidade de uma frente democrática na nossa cidade; sem o convencimento, estamos abrindo mão da democracia. 
Sem uma unidade que o momento e o futuro exigem, as forças democráticas da nossa cidade, caminha para uma catástrofe nesta eleição e sem a aprovação do candidato por parte do eleitorado, estaremos provocando a falência política das forças de esquerda de Vitória da Conquista.  
Sem a unidade necessária ou com alianças sem convencimento, a população vai sofrer mais quatro anos porque os políticos de hoje não estiveram à altura do momento, foram incapazes de casar ideias com equação, responsabilidade com liderança. 

Padre Carlos 
  
  
  
  








ARTIGO - A geração que fez a diferença! (Padre Carlos)

A geração que fez a diferença!      Decorridos tantos anos do fim da ditadura, observa-se que a geração da utopia está partindo e a nova...