A Espiritualidade Quaresmal
A quaresma é um tempo de graça e conversão, um verdadeiro retiro
espiritual que a Igreja nos convida a vivenciar nestes quarenta dias de oração
intensa, jejum e penitência. Sabemos que
os 40 dias referem-se aos 40 anos do Êxodo. É um tempo suficiente para um
caminho de libertação. Desta forma, aprendemos com os exercícios de oração e o
Retiro Quaresmal, que este tempo é um caminho
pedagógico que forma o homem interior, que o conduz à Vitória Pascal de Cristo.
Portanto, Quaresma é saída, saída da vida velha para a vida cheia da esperança
de Cristo!
É neste contexto que devemos
entender o que quis dizer Jacques Lacan: "Os teólogos não acreditam em
Deus, porque falam dele." Talvez mais importante do que falar de Deus seja
falar com Deus. Nosso proposito nesta quaresma tem que ser falar com Deus, Este encontro pessoal com o Sagrado só pode ser feita através da fraternidade e o diálogo
sincero com Ele na oração.
A Campanha da Fraternidade é o
modo com o qual a Igreja no Brasil vivencia a Quaresma. Seu objetivo é despertar a solidariedade dos seus fiéis e da sociedade
em relação a um problema concreto que envolve a sociedade brasileira, buscando
caminhos e soluções. A cada ano é escolhido um tema, que define a realidade
concreta a ser transformada. Assim, a Campanha
da Fraternidade 2021 terá como tema "Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor" e lema "Cristo é a nossa paz: do queera dividido fez uma unidade". A
ação vai ser lançada oficialmente hoje.
Vivenciar
a quaresma hoje no Brasil supõe uma abertura ecumênica, mas também um diálogo
inter-religioso no sentido etimológico do termo o que vai além da articulação
dos discursos teológicos ou da ação pastoral que é desencadeada com a Campanha
da Fraternidade. Implica incorporar Fraternidade e Diálogo no discurso ideológico
e na prática política dos movimentos sociais e dos partidos de esquerdas que
assumem as aspirações libertadoras do nosso povo. Defender
a vida nos dias de hoje, implica para a comunidade de fé, um compromisso que
vai além do discurso teológico. É preciso descer do pedestal e encarna-se na
vida e na luta de inúmeros irmãos que estão sendo oprimidos e por isto, não
podemos se dá ao luxo de separar fé e vida, Campanha da Fraternidade e ação
política, salvação e libertação.
Só
vivenciando a
espiritualidade quaresmal, poderemos assumir a defesa da Fraternidade e do Diálogo e esta só pode se
dar com o Dom do Compromisso e o terreno concreto deste compromisso é a
política. É nesta arena que se decide a sorte de milhões de seres humanos, mas
também a nossa fidelidade ao projeto do Reino e o amor aos pobres. É desta
forma que nossa oração passa a gerar nos corações profundamente arrependidos a
acolhida do Mistério Pascal, da Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor
Jesus Cristo.
O Filho de Deus se entregou por toda a humanidade nas mãos dos homens,
padeceu todo tipo de suplício, maltratado, injuriado, fizeram-no carregar a
cruz, no calvário pregaram-no no madeiro e o ergueram entre bandidos. Sua morte
cruenta transformou-se em remédio de salvação para todos nós. Mas o Pai, que é
Deus, o ressuscitou glorioso.
A Páscoa é sofrimento vivido com amor, é morte tragada pela vida, é
sacrifício oferecido para nossa salvação. Páscoa, numa palavra, é a nossa
salvação, é Cristo, o cordeiro imolado por nós. Devemos trilhar o deserto da
nossa vida com os olhos fixos na manhã da Ressurreição, sem nos ater nas
desesperanças que nos cercam. Isto é Páscoa!
Os 40 dias vão da Quarta-feira de Cinzas até o Domingo de Ramos, neste tempo
no qual devemos vivenciar o espírito do Êxodo, temos também de fazer uma reflexão
profunda sobre a situação do pobre e como nossa ação pode ser gestos concretos
de cuidados. Como Povo de Deus, conduzido pela sua Palavra, sairemos da Terra
da Escravidão, do pecado (egoísmo, maldade, injustiça, violência, hedonismo,
vícios, da exploração, etc.) para a Terra Prometida da realização das Promessas
Divinas em relação à humanidade.
Quaresma é tempo de saída de nós mesmos, mundo de fraqueza e fechamento,
para irmos ao encontro do outro, mundo da abertura e fortalecimento, da nossa
fé na construção de um mundo melhor.
No caminho quaresmal, a Igreja convida seus filhos ao êxodo existencial,
convida-nos a sair da frouxidão na vida espiritual, mas também da defesa da vida
humana. Não basta vê a opressão
é preciso sentir compaixão e lutar cuidando dele. Quaresma é um tempo
favorável para a mortificação. Sabe-se que Adão continua a cair quando pecamos,
mas a Igreja recorda sempre que o pecado não tem a palavra final em nossas
vidas.
O tempo da Quaresma é um caminho pedagógico que forma o homem interior,
que o conduz à Vitória Pascal de Cristo. Portanto, Quaresma é saída, saída da
vida velha, saída da nossa inercia, saída para que possamos lutar pela vida
cheia de esperança em Cristo!
Maria, seus filhos que sofrem são
seguramente cobertos com o seu manto. Assim como esteve presente aos últimos
momentos dramáticos de Seu Filho, Jesus Cristo, nós vos pedimos: Que este povo
possa vencer a morte em vida que se abate sobre ele. Que possamos celebrar com
alegria a vitória sobre todas as mortes.
Padre Carlos
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