Uma sobrevivente de Auschwitz
Durante muitos anos, a preocupação dos teóricos de
esquerda era criar as condições no campo ideológico para que este pensamento
pudesse ser a base utópica das novas gerações. Desta forma, estes pensadores
achavam que todos os horrores vividos no século passado não permitiriam que
valores fascistas pudessem ser resgatados pelas novas gerações. Estes
pensadores de vertentes progressistas esqueceram-se de certos ensinamentos: A
história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa. Por que
a história se repete, por que está acontecendo tudo de novo?
É como se nossa
memória coletiva começasse esquecer os horrores do Nazifacismo e por
ingenuidade ou ignorância, achasse que estes regimes não fossem mais defendidos
pelas novas gerações e suas idéias pertencessem apenas aos filmes antigos de Hollywood
ou aos livros de história. Parecia distantes para estes pensadores. Parece que
acordamos de um sono profundo, ficamos surpreendidos nos últimos anos com o surgimento
desta praga. Assim, passamos a presenciar a imprensa tolerando o discurso do
ódio racial sob determinados pretextos, que vão desde o da liberdade de
expressão à importância da diversidade de correntes de pensamento, passando por
falta de decoro ou postura ética.
Já ganharam eleições
na Europa e nos Estados Unidos e no Brasil, com promessas de expulsão da
oposição, estrangeiros e de construção de muros para que não voltem a entrar. Já
se separam crianças latino-americanas dos pais nas fronteiras de países como os
Estados Unidos e se detém cada uma em sua cela com acusações de imigração
ilegal. Aqui no Brasil, a extrema-direita já chegou ao poder e até em partidos
de centro surgem vozes, da ribalta, que se permitem proferir os maiores ataques
a classe trabalhadora e aos pobres.
Nunca tive a
oportunidade de visitar Auschwitz, onde Esther esteve presa. Mas, não tenho
dúvidas em afirmar que, pelo simbolismo que tem, continua sendo um dos locais
mais importantes do mundo e o museu em que foi transformado devia ser
preservado para sempre. Os governos deviam tornar obrigatório o estudo sobre os
males causados a humanidade por estes regimes, para que a nova geração não se
encantasse o canto da sereia por falta de informação.
Como diz o poeta: “E há que se cuidar do broto, pra que a vida nos dê flor, flor e fruto”. Para que esta não
desapareça e dê lugar ao vazio. Para que não se fertilize o terreno onde
floresce o discurso do ódio racial.
Certa vez, um amigo
me falou que em Birkenau, o campo de extermínio pertencente ao complexo de
Auschwitz, jaz uma lápide precisamente no sítio onde antes funcionaram as câmaras
de gás e onde se lê: “Permita-se que este local, onde os nazis assassinaram
cerca de um milhão e meio de pessoas, homens, mulheres, crianças, sobretudo
judeus, de vários países da Europa, seja um grito de desespero e um sinal de
alerta para a humanidade”.
Esther Bejarano me
falou todas estas coisas. Agradeço o amigo que fez chegar este artigo em minhas
mãos. Gostaríamos que nesta quaresma, pudéssemos refletir sobre as suas
palavras e sobre a sua memória. E como disse Marx, a história se repete, mas é
nossa obrigação mudar o seu rumo para proteger as vítimas desta besta.
Padre Carlos
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