“Dentro de um abraço”
Uma das coisas que mais
tenho sentido falta nesta quarentena é o calor do abraço e do contato físico. O abraço aproxima dois corações, de forma que um possa sentir não
só as batidas, mas as necessidades do outro. Talvez seja por isto que a banda
Jota Quest, em sua canção “Dentro de um abraço” afirma, dentre outras coisas,
que tudo o que a gente sofre, dentro de um abraço se dissolve.
O filósofo Martin
Buber, um dos grandes pensadores sobre o enigma e o significado da nossa
humanidade, escreveu: “O mundo não é compreensível, mas é abraçável.” Com essa
frase, não se referia apenas ao mundo que está fora de nós, mas também ao mundo
especificamente humano, do nosso universo interno, tudo o que conseguimos
reunir com a nossa caminhada, nossas dores e alegrias que cada pessoa carrega
de forma única no tempo. Os limites da nossa compreensão tem que haver com o fato
de o outro permanecer sempre o outro e, mesmo quando estiverem próximo, não
deixa nunca de ser necessário.
Buber ensinava: “O
mundo é enigmático e de difícil compreensão.” Há sempre um momento em que temos
de dizer a nós mesmo: “o mais importante não é compreender, o mais importante é
abraçar” e abraçar até aquilo que não compreendemos. Só anos depois que entendi
o que o filósofo queria dizer, em um pregação de Dom Celso José aos seminaristas: “Quando a sua cruz pesar não tenha
medo o Senhor está conosco, está nos dando forças para carregá-la. Não fuja da
sua cruz, abrace-a.”
De fato, a grandeza do abraço é que pode
muitas vezes chegar onde a compreensão não chega. E isto porque o abraço aceita
a separação ontológica que a pele do outro significa, detendo-se aquém da pele.
A compreensão deseja uma interpretação exaustiva, sonha com um mapa estável,
tem a vontade de decifrar o segredo. O abraço reconhece que existe uma pele
deste lado e do outro, e que, mesmo na intimidade das relações, essa película
perdura.
Já Aristóteles
explicava, por exemplo, que quando tocamos não eliminamos uma espécie de
intervalo que persiste entre nós e a realidade, um distanciamento mínimo jamais
suspenso, que nos previne contra o mito da coincidência total e contra a ilusão
da fusão absoluta. Aproximar dos outros não é consumir os outros, como se os
pudéssemos reduzir a objeto. Quando abraçamos baixamos as nossas defesas e
permitimos que o outro se aproxime do nosso coração da nossa misericórdia. Os
braços se abrem e os corações se aconchegam de uma forma única.
Foi
pensando nisso, que me lembrei de cada amigo que gostaria de abraçar neste período
de confinamento. Um forte abraço para você se sentir abraçado, e entender que
independente do que aconteça, você sabe que o meu abraço estará sempre
aqui para te confortar. Pensando assim abraço também esta quarentena com todo o
meu coração.