domingo, 17 de maio de 2020

ARTIGO - “Dentro de um abraço” (Padre Carlos)




“Dentro de um abraço”


Uma das coisas que mais tenho sentido falta nesta quarentena é o calor do abraço e do contato físico. O abraço aproxima dois corações, de forma que um possa sentir não só as batidas, mas as necessidades do outro. Talvez seja por isto que a banda Jota Quest, em sua canção “Dentro de um abraço” afirma, dentre outras coisas, que tudo o que a gente sofre, dentro de um abraço se dissolve.
O filósofo Martin Buber, um dos grandes pensadores sobre o enigma e o significado da nossa humanidade, escreveu: “O mundo não é compreensível, mas é abraçável.” Com essa frase, não se referia apenas ao mundo que está fora de nós, mas também ao mundo especificamente humano, do nosso universo interno, tudo o que conseguimos reunir com a nossa caminhada, nossas dores e alegrias que cada pessoa carrega de forma única no tempo. Os limites da nossa compreensão tem que haver com o fato de o outro permanecer sempre o outro e, mesmo quando estiverem próximo, não deixa nunca de ser necessário.
Buber ensinava: “O mundo é enigmático e de difícil compreensão.” Há sempre um momento em que temos de dizer a nós mesmo: “o mais importante não é compreender, o mais importante é abraçar” e abraçar até aquilo que não compreendemos. Só anos depois que entendi o que o filósofo queria dizer, em um pregação de Dom Celso José aos seminaristas: “Quando a sua cruz pesar não tenha medo o Senhor está conosco, está nos dando forças para carregá-la. Não fuja da sua cruz, abrace-a.”
          De fato, a grandeza do abraço é que pode muitas vezes chegar onde a compreensão não chega. E isto porque o abraço aceita a separação ontológica que a pele do outro significa, detendo-se aquém da pele. A compreensão deseja uma interpretação exaustiva, sonha com um mapa estável, tem a vontade de decifrar o segredo. O abraço reconhece que existe uma pele deste lado e do outro, e que, mesmo na intimidade das relações, essa película perdura.
Já Aristóteles explicava, por exemplo, que quando tocamos não eliminamos uma espécie de intervalo que persiste entre nós e a realidade, um distanciamento mínimo jamais suspenso, que nos previne contra o mito da coincidência total e contra a ilusão da fusão absoluta. Aproximar dos outros não é consumir os outros, como se os pudéssemos reduzir a objeto. Quando abraçamos baixamos as nossas defesas e permitimos que o outro se aproxime do nosso coração da nossa misericórdia. Os braços se abrem e os corações se aconchegam de uma forma única.

Foi pensando nisso, que me lembrei de cada amigo que gostaria de abraçar neste período de confinamento. Um forte abraço para você se sentir abraçado, e entender que independente do que aconteça, você sabe que o meu abraço estará sempre aqui para te confortar. Pensando assim abraço também esta quarentena com todo o meu coração.



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