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terça-feira, 23 de junho de 2020
ARTIGO - Mandou reabrir o que nunca fechou. (Padre Carlos)
Mandou reabrir o que nunca fechou.
Hoje, vou pedir licença a vocês para falar do dia em que o prefeito de
Vitória da Conquista, anunciou a reabertura do comércio. Ou seja, mandou
reabrir o que nunca fechou.
Na 6ª feira, 29 de maio, o Brasil registrava 27.944 mortes, por causa do
COVID-19, além de 468.338 mil pessoas contagiadas. Mas, o
prefeito, eleitor de Bolsonaro, insistia na abertura do comércio para fazer os
gostos de comerciantes, que ficam isolados, enquanto seus empregados se
contaminam. Vejamos a prova da insensatez do prefeito.
No dia 29 de maio, tínhamos em Vitória da Conquista 134 casos. 25 dias
depois já eram 555 casos. Em 1 de junho, no dia da reabertura do comércio, até
hoje, 421. Em menos de um mês tivemos um aumento de quatro vezes mais de casos confirmados
e com relação aos óbitos de 5 subiram para 14, mas o prefeito, que votou no
presidente fascista, só pensava em movimentar vendas por causa de um São João
que não vai ter. Estranho, não é?
Mesmo com a contratação de alguns hospitais particulares, temos
pouquíssimos leitos e respiradores para tratar as pessoas com o COVID-19, mas o
prefeito (que não escuta concelho do Ministério Público) reabre aquilo que não
fechou. Ao mesmo tempo em que mandava fechar o comércio nada fazia para que a
determinação fosse cumprida. Não havia fiscalização principalmente no comercio
dos bairros!
O Portal G1 trouxe levantamento da plataforma Farol Covid mostrando que
o “ritmo de contágio” desacelerou nas capitais e aumentou no interior entre
maio e junho. Vitória da Conquista, passa com estes indicativos, como uma das cidades
com maior taxa de crescimento de casos e com maior taxa no ritmo de transmissão.
Pudera, os conquistenses agem como se a pandemia não tivesse subido a Serra do
Massal.
O vírus se alastrou em Conquista porque o comércio funcionou sempre,
enquanto a frota de transporte público era deslocada da Laura de Freitas,
devido a obra do novo terminal, que o prefeito de forma inoportuna deu início.
Além disto, era reduzida a oferta pondo a população em perigo dentro dos
coletivos.
segunda-feira, 22 de junho de 2020
ARTIGO - Os contratos milionários da Viação Rosa (Padre Carlos)
Os
contratos milionários da Viação Rosa
Os contratos milionários firmados
pela Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista, com a Viação Rosa, já ultrapassaram
a exorbitante cifra de R$ 37.261.271,26 (Trinta
e sete milhões, duzentos e sessenta e um mil e vinte e seis centavos),
sem nenhuma concorrência ou participação da comunidade. Estamos levantando
estas questões, devido a omissão de boa parte dos vereadores que fecham os
olhos para estas operações que tem levado boa parte das receitas do nosso
município.
São poucas as vozes que se levantam
contra estas ações do governo Pereira. Além destas omissões por parte do parlamento,
não sabemos também os verdadeiros motivos que tem levado o Ministério Público
ainda não ter tomado uma posição mais séria com relação as essas sangrias que este
contrato tem causados aos cofres públicos.
O certo, é que as dispensas de
licitações e os vários aditivos, inclusive com renovações destes contratos, já
chegaram a valores que não comportam mais acordos de porta fechada e são
recursos que poderiam ser usados na saúde ou educação do povo desta terra. O
que chamam a nossa atenção, é que este serviço é autossustentável e não
justifica tal despesas. Outro ponto que não nos conformamos em aceitar, é por que
não foi feito a licitação do referido lote? Até quando vamos ficar sem uma
política séria para resolver as grandes questões do sistema de transporte
público da nossa cidade?
Quando tomou posse, Herzem Gusmão,
herdou das administrações petistas, um sistema com alguns problemas pontuais,
mas em vez de corrigir e solucionar os problemas encontrados, sua administração
aprofundou a crise neste setor, colocando este seguimento inviável economicamente.
Quando se dividiu em lotes, tinha como objetivo, que cada empresa deveria manter-se
exclusivamente com o que fosse arrecadado nas catracas dos ônibus.
Não podemos negar que o silêncio ensurdecedor
do Ministério Público, diante das denúncias feita pelo vereador Prof. Cori,
termina motivando a administração a continuar cometendo esta prática. Mas, o
que revolta mais a população, é a omissão dos nossos vereadores, com salvo raras
exceções. Estamos cansados de bravatas, qual o vereador que realmente tem levantado
esta bandeira nesta casa, que tem levado ao Ministério Público estas questões?
A cidade não aguenta mais esta
sangria nos cofres públicos, precisamos saber realmente quem está do lado do
povo ou quem vive de bravata nas sessões. É necessário que o sistema se torne autossuficiente
e funcione verdadeiramente sem subsídio, como bem frisou o vereador Coriolano
Morais.
sexta-feira, 19 de junho de 2020
ARTIGO - No Brasil, a crise social e a sanitária alimentam-se da crise política (Padre Carlos)
No Brasil, a crise social e a sanitária alimentam-se
da crise política
Não creio que a população brasileira esqueça tão cedo os efeitos da
pandemia, apesar do peso dos escândalos políticos advindos do Planalto tentarem tirá as atenções do grande publico, não acredito que isto possa acontecer, apesar desta crise política aumentar a cada dia, ela tem um agravante que é a falta de uma estratégia
definida e consistente para fazer face ao coronavírus e quem termina sofrendo com
tudo isto é a população mais pobre da nossa sociedade.
Era inevitável que aqui no Brasil –
diante da desigualdade social, terminasse proporcionando dois componentes
fundamentais para nos tornarmos o epicentro da doença a nível mundial: uma elite
que viaja muito internacionalmente, mas também regiões extremamente pobres,
onde o isolamento social não é uma opção. Desta forma, não é nenhuma surpresa
que aqui viesse a se tornar um dos países mais afetados. Ou tem mais haver com
o fato das medidas de isolamento social serem aplicadas por governadores, em
oposição ao descaso do Governo federal no que diz respeito a pandemia?
Numa sociedade desigual como a nossa, onde prolifera o trabalho informal
e bolsões de pobreza, não foi fácil para os governadores estaduais aplicarem
certas medidas de isolamentos, enquanto era desautorizado a todo momento pelo
Presidente, tornando assim, uma situação ambígua, levando a população a
‘escolher’ aquilo que acha que é o melhor para si e não cumprindo o que é
definido por alguns governos estaduais. Naturalmente, numa situação de pobreza,
os cidadãos pensam no dia a dia, ou seja, sem medidas rigorosas e amplamente
articuladas, a preocupação dos grandes centros urbanos terminam se voltando mais em garantir a sua subsistência diária. Não
creio que o problema seja tanto a elite rica X os mais pobres, mas a
inconsistência das medidas aplicadas.
Não podemos negar que os recentes
escândalos políticos envolvendo a família do Presidente não tenha desviado nossas
atenções em algum momento, dos graves problemas causados pela pandemia. Estamos vivendo uma situação extremamente
complicada na área política, econômica, social e sanitária, que se alimentam
mutuamente. Não creio que a população esqueça tão sedo os efeitos da pandemia,
apesar da gravidade dos escândalos políticos e das dificuldades dos brasileiros
de ter que conviver com uma crise política que cresce a cada dia, mesmo assim, não se
compara com o sofrimento dos mais pobres que tem que aceitar um governo sem uma
estratégia coerente e consistente para fazer frente à pandemia. Essa devia ser
a prioridade. É surpreendente que neste contexto pandêmico que o país continue
sem um Ministro da Saúde para encaminha de fato as ações!
Ao perder sua base ideológica de boa
parte dos seus aliados na direita tradicional que eram representados por: Luiz
Henrique Mandetta, Sérgio Moro e antes disso Rodrigo Maia, Bolsonaro passou a
ter dificuldades para governar. No tocante aos que se mantêm ao lado deste
governo, restaram: militares, ruralistas, os interesses econômicos
representados por Paulo Guedes, seguidores de Olavo de Carvalho, etc. Assim, seria ingenuidade da nossa parte acha que estas pessoas teriam capacidade, política e técnica para influenciar o presidente e propor alguma medida consistente.
Acho que estes setores não estão preocupados com a covid-19, tal como
ficou claro na reunião ministerial [de 22 de abril] que foi divulgada. Parte
destes grupos estão preocupados com a sobrevivência política de Bolsonaro na
medida que isso contribua para a satisfação dos interesses desses setores, sendo
de forma clara, uma moeda de troca a condição para o apoio político ao Presidente.
Por outro lado, fica claro a preocupação deste grupo com as condições para
implementação de políticas que favoreçam o setor que eles representam, como é o
caso de Paulo Guedes. Condições essas que, face o aprofundamento da crise
econômica, assim como o contexto da crise política e da saúde pública, são cada
vez mais evidentes.
Com isto, acredito que estes grupos
poderão tirar o tapete de Bolsonaro em breve, apesar da incerteza do papel que as Forças Armadas têm e poderão vir a
ter no Governo e que pode ser decisivo para o futuro do Brasil é improvável que este grupo se exponha diante da sociedade e jogue todo o prestigio
que esta instituição conquistou nos últimos tempos no lixo da história. Quanto
aos militares que estão no Governo também não é totalmente claro que atuem de
forma homogênea, como ficou claro em declarações recentes.
quinta-feira, 18 de junho de 2020
ARTIGO - Vitória da Conquista em defesa da democracia. (Padre Carlos)
Vitória da Conquista em defesa da democracia.
Nesta quarta-feira, a Câmara de Vereadores de Vitória
da Conquista, realizou uma sessão especial em defesa da nossa democracia. Quando
o Prof. Cori convocou seus pares para realizar este evento, ele chama a atenção
dos conquistense, que não existe democracia sem uma sociedade civil livre. Qualquer
regime no qual a sociedade não possa se manifestar livremente, sem receio de
ser retaliada por sua atuação legítima, é um regime autoritário.
Assim, o
vereador Coriolano Moraes busca não só defender a democracia, mas chamar os verdadeiros
representantes do povo para saírem de suas inercias diante dos ataques que
aquela casa vem sofrendo e tomar uma posição. Infelizmente, o corporativismo da
classe política termina fechando os olhos muitas vezes para as agressões que um
dos seus pares cometem de forma reenterrada contra a democracia e o Estado de
Direito, tudo com o intuito de isentar de responsabilidade o parlamentar das
suas ações políticas
Foi por meio da atuação de
organizações da sociedade civil que o Brasil conseguiu reduzir drasticamente a
mortalidade infantil, a miséria extrema e o desmatamento perdulário de suas
florestas e tomar medidas cruciais contra a corrupção e pela transparência no
poder público.
Gostaria de lembrar aos
vereadores desta casa, que faz exatamente 35 anos, que o Brasil encerrava um
dos períodos mais triste da sua história e acabava com uma longa ditadura
militar. Achávamos que este passado vergonhoso tinha ficado para traz, com isso,
de forma definitiva, o uso do Estado para perseguições políticas e prisões e
condenações sem base em provas teria chegado ao fim. Imaginava que, enfim, a liberdade teria vindo
para ficar.
Porém, os rumos que estão
sendo tomados pelo Brasil atual são extremamente preocupantes. É lamentável que um deputado e os seus seguranças
coloquem em risco a própria saúde, sob risco de serem infectados com covid-19,
bem como a de pacientes e profissionais. Mais preocupante é a omissão
dos seus pares como acontece na nossa cidade, deixando de certa forma, o
corporativismo falar mais alto e se calarem.
Ao estadista irlandês John Philpot
Curran (1750 – 1817) é atribuída a frase: “o preço da liberdade é a eterna
vigilância”. De certo, não há liberdade em nenhum tipo de ditadura, mas tão só
na democracia, quando esta é uma democracia de verdade. Em caso contrário, a
consequência inevitável é a servidão. Felizmente o Prof. Cori estava atento e
sentiu a necessidade desta Sessão para chamar a atenção dos seus pares e da
sociedade. É dever de todo cidadão está atento e permanecer vigilante. Porém,
devemos defender o Estado de Direito e buscar mecanismos para cada vez mais
tornar a democracia um objetivo a seguir.
segunda-feira, 15 de junho de 2020
ARTIGO - A Frente Ampla da Rede Globo (Padre Carlos)
A Frente Ampla da Rede Globo
Ao
assistir o debate promovido pela Rede Globo, que contou com a presença das
figuras ilustre que defenderam o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff:
FHC, Ciro e Marina, tentei decifrar o verdadeiro proposito daquele evento. Como
nunca acreditei nas boas intenções dos Marinhos, pude entender que na verdade
não era defender uma frente ampla contra Bolsonaro, seu verdadeiro objetivo, era
reunir a direita que irá enfrentar o candidato da esquerda nas próximas eleições.
Naquele momento me veio à mente as palavras de Leonel Brizola: “Não reconheço à
Globo autoridade em matéria de liberdade de imprensa, e basta para isso olhar a
sua longa e cordial convivência com os regimes autoritários e com a ditadura de
20 anos, que dominou o nosso país. ”
Assim fiquei pensando estes dias: qual
a representatividade dessa “frente ampla” que junta o lobo e o cordeiro? Por
que ela não dá espaço para a esquerda? Se a proposta é ser contra Bolsonaro
porque os que o enfrentam de verdade não foram chamados? Tinha mesmo razão o
velho Brizola, é para se desconfiar!
O que esta emissora de televisão deseja, é
recriar a Frente Ampla de 1966, que
reuniu adversários históricos como Juscelino Kubistchek, João Goulart e Carlos
Lacerda. Essa frente ampla foi um negócio extraordinário na história do Brasil
porque ela consegue juntar não só a direita, ela reuniu o que havia de mais à
direita no país, que era o Carlos Lacerda, golpista, com o bloco da esquerda.
Isso jamais aceitaríamos.
O que esta emissora de televisão deseja, é
recriar a Frente Ampla de 1966, que
reuniu adversários históricos como Juscelino Kubistchek, João Goulart e Carlos
Lacerda. Essa frente ampla foi um negócio extraordinário na história do Brasil
porque ela consegue juntar não só a direita, ela reuniu o que havia de mais à
direita no país, que era o Carlos Lacerda, golpista, com o bloco da esquerda.
Isso jamais aceitaríamos.
Já que estamos falando de legitimidade, vamos para ponta do lápis: no 1º turno de 2018, Ciro, Marina e Alckmin
(do PSDB) tiveram, juntos, 18,23% dos votos válidos, enquanto só Haddad teve
29,28%. Então eu pergunto aos senhores: Qual a representatividade dessa “frente
ampla” que junta tudo o que combatemos nestes últimos anos?
A
deputada federal e presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, disse que foi “a
nata do antipetismo entrevistada pela campeã do mercado”. E foi desse jeito
mesmo que Miriam Leitão, num debate com três “arautos” da democracia liberal,
buscou vender a ideia de promover uma “frente ampla” contra Bolsonaro e a favor
da democracia, que essa gente tanto despreza.
domingo, 14 de junho de 2020
ARTIGO - O racismo e a história da Igreja (Padre Carlos)
O racismo e a história da Igreja
(As pregações sem presbitério )
Quando estudamos teologia e em especial, a
história da Igreja, podemos constatar que nem o racismo nem a violência estão
na matriz do Cristianismo. Apesar disso, a história da Igreja está manchada por
práticas discriminatórias e violentas: a Igreja é constituída por homens e por
mulheres que, influenciados pelos seus contextos, não souberam ser fiéis aos
princípios cristãos e deixaram-se contaminar por ideias contrárias ao
Evangelho.
Assim,
já nas primeiras comunidades verificava-se tensões e confrontos entre pessoas
de culturas diversas, nomeadamente entre gregos e judeus. Foi isso que levou S.
Paulo a esclarecer os Gálatas que, pelo batismo, todos são filhos de Deus,
razão pela qual "não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há
homem e mulher" (Gál. 3, 28). Para um cristão, não faz qualquer sentido
discriminar alguém por causa da sua raça, condição social ou sexo. Com o
Concílio Vaticano II, essa fraternidade passou a envolver os crentes de outras
igrejas cristãs, de outras religiões e até os não crentes.
Jesus,
ao longo da sua vida, como comprovam os Evangelhos, procurou estar sempre
próximo daqueles que eram marginalizados e discriminados: os leprosos, os (loucos),
endemoninhados, as prostitutas, os publicanos, etc. Chega ao ponto de se
identificar com eles e de advertir os seus discípulos de que serão julgados
pela forma como os acolherem ou não (Mt. 25, 40).
O
Evangelho demonstra também que, para Jesus Cristo, a única forma de romper a
espiral da violência é não responder ao mal com o mal. A não violência é a maior força que existe à disposição do ser humano.
Mahatma Gandhi entendeu o que Cristo
falava e não precisou se converter ao cristianismo para se tornar um dos
maiores líderes pacifistas da história, levando multidões a conhecer e a
praticar o significado da não
violência.
A estratégia da luta sem
violência também foi adotada por Martin Luther King ao não obedecer a
legislação segregacionista americana, não acatando as leis racistas vigentes. O
objetivo dessa reação pacífica não era, portanto, o rompimento com a ordem
jurídica e institucional estabelecida, mas sim uma luta contra leis consideradas
injustas e prejudiciais àquela parcela da sociedade.
"Ouvistes
o que foi dito: olho por olho e dente por dente. Eu, porém, digo-vos: não
oponhais resistência ao mal. Se alguém te bater na face direita, oferece-lhe
também a outra" (Mt. 5, 38-39). E não o disse apenas, Ele deu testemunho
ao entregar-se na cruz sem oferecer resistência. Censurou até Pedro, quando ele
agride um dos guardas que ia prendê-lo
(Jo. 18, 11).
A
violência e o vandalismo, como se tem visto nas manifestações contra o racismo,
acabam por manchar uma reivindicação que é legítima e, também, profundamente
cristã. Isso retira-lhe força e eficácia. Jesus Cristo disse todas estas coisas com clareza e Gandhi, Luther King, entre outros, entenderam muito bem.
sábado, 13 de junho de 2020
ARTIGO - Sobrevivendo a duas Pandemias (Padre Carlos)
Sobrevivendo a duas Pandemias
Estamos vivendo tempos difíceis e
esta quadra da história se apresenta para os Brasileiros como um marco entre barbárie e a civilidade. Em todos os recantos do país, recrudescem fatos
que deixam à mostra a intransigência. Estamos evidenciados, que não é só o covid-19
que se propagou pelo Brasil, outro vírus e mais letal que este tem infectado as
pessoas. Assim como o coronavírus, podemos afirmar que a intolerância tem se
apresentado como uma espécie de pandemia global. Por meio dessa infecção da
alma, os doentes seguem dispersando o vírus, cujos sinais e sintomas mais
comuns são o discurso do ódio, os atos de violência e a tentativa de acabar com
o Estado de Direito e a democracia.
Agora os infectados ultrapassaram todos os limites da loucura, ignorando as mortes causadas pelo coronavírus no Brasil e invadindo UTIs para verificar se os leitos estão realmente ocupados.
Quando o vírus da intolerância chega a este estágio de constranger os
pacientes e colocar a vida dos visitantes em risco, alguma coisa está errada.
As nossas autoridades parecem que já
se acostumaram com ataques aos poderes da República, as agressões aos povos indígenas,
a esquerda, aos negros e aos pobres, entre outros. Esses são alguns exemplos
que trazem à luz a conjuntura de intolerância. É certo que a intolerância não é
um mal da humanidade contemporânea. A história registra fatos que realçam a
intolerância em todas as épocas da humanidade. Apesar dos brasileiros
assistirem com certa apatia a estes episódios políticos, religiosos e sociais,
a discussão sobre a pandemia da intolerância carece de reflexão por parte dos
nossos políticos e uma vacina para sua cura o mais rápido possível.
A exemplo do covid-19, com suas
infecções virais, a pandemia da intolerância vai se instalando sorrateira e
silenciosamente nas Instituições da República. Ao se dispersar na tessitura da
alma, o vírus da pandemia da intolerância alcança as dimensões mais profundas
do Estado, tentando se instalar pela alteração da capacidade racional das suas
maiores autoridades. Os doentes da alma, vítimas da pandemia da intolerância,
usam argumentos supostamente racionais para difundirem a enfermidade de que são
portadores à sociedade. A intolerância se mascara sob o discurso de caça aos
corruptos, dos “bons costumes” e da “moral
cristã”.
Infelizmente, à semelhança com o
coronavírus faz com que o enfermo da pandemia da intolerância não tenha
consciência do mal que carrega em si e que ele mesmo dissemina com suas
práticas e discursos cotidianos. Há doentes que sequer têm consciência da
doença.
Para os enfermos desta pandemia, qual
seria o mundo ideal? Talvez um mundo sem negros? Talvez um mundo sem pobres?
Talvez um mundo sem homossexuais, sem pessoas transgêneros ou travestis? Talvez
um mundo cuja família tradicional fosse o único arranjo possível? Talvez um
mundo com apenas evangélicos, uma nova cristandade? Talvez um mundo marcado por
governos teocráticos? Talvez um mundo em que a mulher seguisse ocupando
posições de subalternidade em relação aos homens?
Esse mundo – moldado nos valores que
estes enfermos defendem, alicerçado, inclusive, no dogma do anti-PT, ou na
falsa moral que determina padrões que devem ser rigidamente impostos e seguidos
por todos e todas – é um mundo que não existe! Aliás, é um mundo que nunca
existiu, nem nas sociedades que estiveram sob o jugo dos regimes totalitários
ou de exceção.
A marca da humanidade não é a
homogeneidade. Em nenhuma sociedade humana a homogenia esteve presente. A
existência da humanidade se alicerça na diversidade.
Os enfermos da alma, vítimas da pandemia
da intolerância, desejam, a qualquer custo, implantar uma sociedade uniforme,
na qual (talvez) todos fossem brancos, “normais”, ricos, heterossexuais e
seguidores de uma mesma religião ou crença. Aliás, será que nesta sociedade
haveria espaço para as mulheres?
Basta estudar um pouco de
história para tirar lições do passado e lembrar que as consequências das
tentativas de se formar uma sociedade homogênea levou a humanidade cometer as maiores atrocidades e ao Nazismo.
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