domingo, 14 de junho de 2020

ARTIGO - O racismo e a história da Igreja (Padre Carlos)






O racismo e a história da Igreja
(As pregações sem presbitério )


Quando estudamos teologia e em especial, a história da Igreja, podemos constatar que nem o racismo nem a violência estão na matriz do Cristianismo. Apesar disso, a história da Igreja está manchada por práticas discriminatórias e violentas: a Igreja é constituída por homens e por mulheres que, influenciados pelos seus contextos, não souberam ser fiéis aos princípios cristãos e deixaram-se contaminar por ideias contrárias ao Evangelho.
Assim, já nas primeiras comunidades verificava-se tensões e confrontos entre pessoas de culturas diversas, nomeadamente entre gregos e judeus. Foi isso que levou S. Paulo a esclarecer os Gálatas que, pelo batismo, todos são filhos de Deus, razão pela qual "não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem e mulher" (Gál. 3, 28). Para um cristão, não faz qualquer sentido discriminar alguém por causa da sua raça, condição social ou sexo. Com o Concílio Vaticano II, essa fraternidade passou a envolver os crentes de outras igrejas cristãs, de outras religiões e até os não crentes.
Jesus, ao longo da sua vida, como comprovam os Evangelhos, procurou estar sempre próximo daqueles que eram marginalizados e discriminados: os leprosos, os (loucos), endemoninhados, as prostitutas, os publicanos, etc. Chega ao ponto de se identificar com eles e de advertir os seus discípulos de que serão julgados pela forma como os acolherem ou não (Mt. 25, 40).
O Evangelho demonstra também que, para Jesus Cristo, a única forma de romper a espiral da violência é não responder ao mal com o mal.não violência é a maior força que existe à disposição do ser humano. Mahatma Gandhi entendeu o que Cristo falava e não precisou se converter ao cristianismo para se tornar um dos maiores líderes pacifistas da história, levando multidões a conhecer e a praticar o significado da não violência. A estratégia da luta sem violência também foi adotada por Martin Luther King ao não obedecer a legislação segregacionista americana, não acatando as leis racistas vigentes. O objetivo dessa reação pacífica não era, portanto, o rompimento com a ordem jurídica e institucional estabelecida, mas sim uma luta contra leis consideradas injustas e prejudiciais àquela parcela da sociedade.
"Ouvistes o que foi dito: olho por olho e dente por dente. Eu, porém, digo-vos: não oponhais resistência ao mal. Se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a outra" (Mt. 5, 38-39). E não o disse apenas, Ele deu testemunho ao entregar-se na cruz sem oferecer resistência. Censurou até Pedro, quando ele agride um dos guardas que  ia prendê-lo (Jo. 18, 11).
A violência e o vandalismo, como se tem visto nas manifestações contra o racismo, acabam por manchar uma reivindicação que é legítima e, também, profundamente cristã. Isso retira-lhe força e eficácia. Jesus Cristo disse todas estas coisas com clareza e Gandhi,  Luther King, entre outros, entenderam muito bem.


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