No Brasil, a crise social e a sanitária alimentam-se
da crise política
Não creio que a população brasileira esqueça tão cedo os efeitos da
pandemia, apesar do peso dos escândalos políticos advindos do Planalto tentarem tirá as atenções do grande publico, não acredito que isto possa acontecer, apesar desta crise política aumentar a cada dia, ela tem um agravante que é a falta de uma estratégia
definida e consistente para fazer face ao coronavírus e quem termina sofrendo com
tudo isto é a população mais pobre da nossa sociedade.
Era inevitável que aqui no Brasil –
diante da desigualdade social, terminasse proporcionando dois componentes
fundamentais para nos tornarmos o epicentro da doença a nível mundial: uma elite
que viaja muito internacionalmente, mas também regiões extremamente pobres,
onde o isolamento social não é uma opção. Desta forma, não é nenhuma surpresa
que aqui viesse a se tornar um dos países mais afetados. Ou tem mais haver com
o fato das medidas de isolamento social serem aplicadas por governadores, em
oposição ao descaso do Governo federal no que diz respeito a pandemia?
Numa sociedade desigual como a nossa, onde prolifera o trabalho informal
e bolsões de pobreza, não foi fácil para os governadores estaduais aplicarem
certas medidas de isolamentos, enquanto era desautorizado a todo momento pelo
Presidente, tornando assim, uma situação ambígua, levando a população a
‘escolher’ aquilo que acha que é o melhor para si e não cumprindo o que é
definido por alguns governos estaduais. Naturalmente, numa situação de pobreza,
os cidadãos pensam no dia a dia, ou seja, sem medidas rigorosas e amplamente
articuladas, a preocupação dos grandes centros urbanos terminam se voltando mais em garantir a sua subsistência diária. Não
creio que o problema seja tanto a elite rica X os mais pobres, mas a
inconsistência das medidas aplicadas.
Não podemos negar que os recentes
escândalos políticos envolvendo a família do Presidente não tenha desviado nossas
atenções em algum momento, dos graves problemas causados pela pandemia. Estamos vivendo uma situação extremamente
complicada na área política, econômica, social e sanitária, que se alimentam
mutuamente. Não creio que a população esqueça tão sedo os efeitos da pandemia,
apesar da gravidade dos escândalos políticos e das dificuldades dos brasileiros
de ter que conviver com uma crise política que cresce a cada dia, mesmo assim, não se
compara com o sofrimento dos mais pobres que tem que aceitar um governo sem uma
estratégia coerente e consistente para fazer frente à pandemia. Essa devia ser
a prioridade. É surpreendente que neste contexto pandêmico que o país continue
sem um Ministro da Saúde para encaminha de fato as ações!
Ao perder sua base ideológica de boa
parte dos seus aliados na direita tradicional que eram representados por: Luiz
Henrique Mandetta, Sérgio Moro e antes disso Rodrigo Maia, Bolsonaro passou a
ter dificuldades para governar. No tocante aos que se mantêm ao lado deste
governo, restaram: militares, ruralistas, os interesses econômicos
representados por Paulo Guedes, seguidores de Olavo de Carvalho, etc. Assim, seria ingenuidade da nossa parte acha que estas pessoas teriam capacidade, política e técnica para influenciar o presidente e propor alguma medida consistente.
Acho que estes setores não estão preocupados com a covid-19, tal como
ficou claro na reunião ministerial [de 22 de abril] que foi divulgada. Parte
destes grupos estão preocupados com a sobrevivência política de Bolsonaro na
medida que isso contribua para a satisfação dos interesses desses setores, sendo
de forma clara, uma moeda de troca a condição para o apoio político ao Presidente.
Por outro lado, fica claro a preocupação deste grupo com as condições para
implementação de políticas que favoreçam o setor que eles representam, como é o
caso de Paulo Guedes. Condições essas que, face o aprofundamento da crise
econômica, assim como o contexto da crise política e da saúde pública, são cada
vez mais evidentes.
Com isto, acredito que estes grupos
poderão tirar o tapete de Bolsonaro em breve, apesar da incerteza do papel que as Forças Armadas têm e poderão vir a
ter no Governo e que pode ser decisivo para o futuro do Brasil é improvável que este grupo se exponha diante da sociedade e jogue todo o prestigio
que esta instituição conquistou nos últimos tempos no lixo da história. Quanto
aos militares que estão no Governo também não é totalmente claro que atuem de
forma homogênea, como ficou claro em declarações recentes.
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