Quando os carrascos vestiam toga
Outro dia um amigo me respondeu alguns questionamentos
que tinha feito em relação a justiça no Brasil. Dizia ele com aquele olhar professoral
de quem quer resolver todas as coisas pelo argumento: amigo, precisamos confiar
e acreditam no STF, ele é a
última trincheira da defesa dos direitos fundamentais e dos direitos humanos em
nosso país. Aquelas palavras não soaram
muito bem na minha mente, gostaria muito de confiar e acreditar nesta Corte, mas,
nossa biografia infelizmente, prova o contrário.
Rio de Janeiro, 10 de
fevereiro de 1965, 15 h. Um telegrama do Ministério da Aeronáutica chegou aos
escritórios da Panair, a maior companhia aérea do país e uma das maiores do
mundo. A mensagem era simples e dava conta de que o governo estava cassando seu
certificado de operação em razão da condição financeira insustentável da
empresa. O telegrama vinha assinado pelo ministro Eduardo Gomes. A Panair não
tinha nenhum título protestado nem impostos atrasados, mas o telegrama
adiantava que ela não tinha meios para saldar suas dívidas e que estava
proibida de voar à noite, tropas do Exército invadiram os hangares da Panair e
a Varig imediatamente assumiu todas as concessões de linhas aéreas e
propriedades da concorrente. A revogação das concessões de linhas
aéreas da Panair do Brasil foi decretada pelo Marechal Castelo
Branco e a Varig era de propriedade de um aliado do governo
militar, Ruben Berta. Apenas em dezembro de 1984, um ano antes dos
militares entregarem o poder, o Supremo Tribunal Federal (STF) concluiu que a
falência da Panair foi uma fraude. A União Federal foi condenada. A Panair luta
até hoje, mas ainda não foi indenizada. Esta postura do
Supremo Tribunal Federal, me lembrou as palavras de Rui Barbosa. “Não falsifica a História somente quem inverte a
verdade, senão também quem a omite. ”
O caso mais recente que mancha a história desta Corte, foi a prisão do
Presidente Lula, ela atinge o cerne da cidadania do Estado de direito e da
verdadeira justiça no Brasil, vivemos um tempo de abusos e ilegalidades de um
processo cruel, conduzido com parcialidade e objetivos políticos que só foi possível,
porque contou com a omissão do STF. Lula perdeu a liberdade, não a dignidade e
o Brasil desencontrou a paz. A sociedade brasileira foi envenenada pelo ódio
político, inoculado nas redes sociais, na imprensa, nos templos, escolas e
quartéis. Intolerância e desprezo se ergueram contra toda tentativa de duvidar
da Lava Jato e seus métodos, de divergir do discurso dominante até mesmo nos
meios acadêmicos."
Enfim,
não dá mais para omissões e cômodo silêncio. Vamos berrar, vamos gritar contra
toda esta hipocrisia. Vamos agir para barrar todo este obscurantismo que ameaça
os nossos melhores valores.
Lula
resiste e resistirá, sem abrir mão de sua dignidade, como tem dito reiteradamente.
Que
a justiça se faça presente e que “Deus tenha misericórdia desta Nação”.