“O prazer culinário e sexual é simplesmente divino"
Papa Francisco
Faz alguns dias
que o Papa Francisco surpreendeu o
mundo ao afirmar que “o prazer culinário e
sexual é simplesmente divino". Quando ouvir esta afirmação partindo de uma
autoridade eclesiástica, a palavra de Neil Armstrong me veio à mente: “Este é um pequeno passo para o homem, mas um grande
salto para a humanidade”.
Ao falar de Igreja e de sexo, entramos em um mundo
complexo que nem sempre humaniza o ser. Quando buscamos explicação para esta
visão moralista da Igreja, não encontramos na Bíblia qualquer indicativo que
justifique tal atitude. Pelo contrário, no Antigo Testamento, lemos, ainda no
primeiro livro, o Génesis, que Deus criou também a sexualidade e viu que era
boa. Sem contar que é ainda no Antigo Testamento que encontramos um dos livros
mais belos que canta o amor erótico: o Cântico dos Cânticos.
Quando buscamos na história uma explicação para
esta mudança de mentalidade, passamos a entender como a gnose e as outras heresias
que surgiram nos primeiros séculos da formação do cristianismo, foi decisivo
para o envenenamento da relação do corpo com a alma. Foi a gnose, a primeira
grande heresia com que o cristianismo teve de confrontar-se e que,
desgraçadamente, não terminou. Segundo ou gnosticismo, a salvação não se
alcança pela fé, mas pelo conhecimento, que é secreto e, em última análise,
acessível apenas aos iniciados. Elemento essencial desta doutrina é que o Deus do
Antigo Testamento, que é o criador do mundo, não é o mesmo que o Pai de Jesus
Cristo. Este mundo, que é o mundo material, procede de uma queda e é mau. Os
membros desta heresia insistiam concretamente, na continuação do platonismo,
num dualismo radical de alma e corpo, matéria e espírito, sendo o corpo apenas
uma espécie de "contentor" da alma: necessário, mas sempre inferior e
indesejável.
A mulher nesta visão distorcida era tratada como a
fonte de toda tentação humana e, por outro, ao ficarem gestante, estariam
durante os nove meses transportam consigo o pecado. A confissão dos pecados
ficou quase exclusivamente centrada no sexo. Foi diante deste quadro que passa a existir a imposição do
celibato obrigatório para o clero e sobretudo a misoginia tem também suas
origens nestas heresias.
Assim ao ouvir de Francisco que o prazer culinário e sexual
de "simplesmente divino", só me resta parafrasear Neil
Armstrong: Este é um
pequeno passo para o homem, mas um grande salto para a humanidade”.
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