sábado, 3 de outubro de 2020

ARTIGO - “O prazer culinário e sexual é simplesmente divino" (Padre Carlos)

 


 

O prazer culinário e sexual é simplesmente divino"

                                                                 Papa Francisco

 


Faz alguns dias que o Papa Francisco surpreendeu o mundo ao afirmar que “o prazer culinário e sexual é simplesmente divino". Quando ouvir esta afirmação partindo de uma autoridade eclesiástica, a palavra de Neil Armstrong me veio à mente:  “Este é um pequeno passo para o homem, mas um grande salto para a humanidade”.


Quando o  Papa Francisco chamou o prazer culinário e sexual de "simplesmente divino", em um livro de entrevistas publicado no dia (09) setembro na Itália, rompe com uma visão de "moralidade abençoada" que sempre  rejeitou a noção de prazer, como aconteceu na história da Igreja Católica, como dizia meu professor de História da Igreja, Frater Henrique: "é uma interpretação errônea da mensagem cristã".

Ao falar de Igreja e de sexo, entramos em um mundo complexo que nem sempre humaniza o ser. Quando buscamos explicação para esta visão moralista da Igreja, não encontramos na Bíblia qualquer indicativo que justifique tal atitude. Pelo contrário, no Antigo Testamento, lemos, ainda no primeiro livro, o Génesis, que Deus criou também a sexualidade e viu que era boa. Sem contar que é ainda no Antigo Testamento que encontramos um dos livros mais belos que canta o amor erótico: o Cântico dos Cânticos.

Quando buscamos na história uma explicação para esta mudança de mentalidade, passamos a entender como a gnose e as outras heresias que surgiram nos primeiros séculos da formação do cristianismo, foi decisivo para o envenenamento da relação do corpo com a alma. Foi a gnose, a primeira grande heresia com que o cristianismo teve de confrontar-se e que, desgraçadamente, não terminou. Segundo ou gnosticismo, a salvação não se alcança pela fé, mas pelo conhecimento, que é secreto e, em última análise, acessível apenas aos iniciados. Elemento essencial desta doutrina é que o Deus do Antigo Testamento, que é o criador do mundo, não é o mesmo que o Pai de Jesus Cristo. Este mundo, que é o mundo material, procede de uma queda e é mau. Os membros desta heresia insistiam concretamente, na continuação do platonismo, num dualismo radical de alma e corpo, matéria e espírito, sendo o corpo apenas uma espécie de "contentor" da alma: necessário, mas sempre inferior e indesejável.

A mulher nesta visão distorcida era tratada como a fonte de toda tentação humana e, por outro, ao ficarem gestante, estariam durante os nove meses transportam consigo o pecado. A confissão dos pecados ficou quase exclusivamente centrada no sexo. Foi diante deste quadro que passa a existir a imposição do celibato obrigatório para o clero e sobretudo a misoginia tem também suas origens nestas heresias.


Estas afirmações de Francisco que “o prazer vem diretamente de Deus, não é católico, nem cristão, nem nada parecido, é simplesmente divino”, mostra claramente a virada humanista que estamos presenciando. E acrescenta o pontífice: “A Igreja condenou os prazeres desumanos, grosseiros, vulgares, mas por outro lado sempre aceitou os prazeres humanos, sóbrios, morais”, estima o papa argentino quando questionado por Carlo Petrini, escritor e gourmet italiano.

         Assim ao ouvir de Francisco que o prazer culinário e sexual de "simplesmente divino", só me resta parafrasear Neil Armstrong: Este é um pequeno passo para o homem, mas um grande salto para a humanidade”.

 

 

 

 


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