A história nunca
se repete.
Como
professor de filosofia, venho me perguntando como o Brasil mudou em menos de
uma década e como foi possível tal mudança? Como tirar uma lição de todos estes
acontecimentos? A ideia de que a História
se repete tornou-se noção comum entre as pessoas por uma série de
razões, dentre as quais se encontra uma visão mutilada da nossa história,
marginalizando milhões de indivíduos e, indiretamente, colocando cada um de nós
em uma categoria que não é a dos
heróis; ou seja, nos leva a pensar, “devemos nos colocar em nosso devido
lugar”.
Não há dúvida que
as histórias passadas e presentes podem apresentar diversas e importantes
semelhanças, afinal a sociedade apreende tudo de formas variadas e guarda na
memória. Os momentos passados são experiências que podem e devem ser resgatadas
e utilizadas a todo e qualquer momento e, nesse sentido, encontramos diversas
semelhanças em variados momentos da história das sociedades. Será mesmo que a história se repete? Uma das frases
mais repetidas de Karl Marx é de que a história se repete, a
primeira vez como tragédia
e a segunda, como farsa (O 18 Brumário de Louis Bonaparte) ficou no nosso
imaginário e passou a ser uma verdade absoluta no meio acadêmico. Muito se
disse também que Bolsonaro repete os métodos de Adolf Hitler, assim não seria de se
estranhar as semelhanças e os projetos. A tragédia seria o governo de Hitler e
a farsa, o do Bolsonaro.
As tragédias e as
farsas, sempre trazem consigo as vítimas estampadas nos seus rostos. Além
disso, percebemos que os acontecimentos que levaram a ultradireita ao poder no
Brasil, esta mais relacionados à história social do que a individual. Praticamente todos os analistas político e
historiadores, concordam que foi Rohn um dos maiores responsáveis pela ascensão
política de Hitler, fazendo com os grupos dos camisas pardas, que organizou a
partir dos anos 30, as SA (Sturmabteilung) o trabalho sujo de solapamento da
débil democracia alemã. Assim, podemos afirmar que a atuação da Lava Jato
teve um papel semelhante, mas não teria surtido o efeito que teve se não
tivesse o apoio e a omissão de parcela do estado brasileiro, através das suas
instituições. Elas foram as grandes responsáveis pela chegada de Bolsonaro à
presidência e para isto foi necessário uma “força tarefa” com o” Supremo e
tudo” para tirar o candidato da esquerda do pleito eleitoral.
A máquina pública
que o Partido dos Trabalhadores foi acusado de ter aparelhado foi à mesma que
apeou Dilma do poder, A estrutura burguesa que se escondeu sobre o manto do
Estado brasileiro tentou por anos, derrubar este governo que se elegeu de forma
democrática, até conseguir fazê-lo em 2016. Um movimento político que, três
anos depois, culminou com a subida ao poder de Jair Bolsonaro. O atual
Presidente dizia durante a campanha, que o PT tinha “aparelhado o governo”,
agora que a mascara vai caindo, podemos constatar como a direita controlava o
Estado e como este projeto de governo estava atrelado ao aparelhamento que a
burguesia impôs as instituições e ao conjunto do Estado brasileiro. Só diante
de todas estas evencias este governo vai dando mostras, porém, de que é ele
quem vai realizar um dos maiores aparelhamentos do Estado já vistos na nossa história.
O
que aconteceu no Brasil nestes últimos anos reforça cada vez mais a tese que as
teorias liberais iluministas do século XVIII, precisam ser colocada em pratica
por uma reforma urgente. Precisamos exigir a reorganização do Estado.
Montesquieu foi um dos pensadores que mais escreveu sobre a organização do
Estado, pressupondo a tripartição do poder, Executivo, Legislativo e Judicial
(ou judiciário), que deveriam ser independentes entre si, cada um com uma
função específica, teoricamente harmônica para o funcionamento do Estado.
Quase 100 anos depois da ascensão do nazismo
na Alemanha, aqui no Brasil os métodos são outros, mais civilizados. Por isso
os interesses de classe e de frações de classe podem se preservar por muito
tempo, séculos; apesar de poderem se manifestar de maneiras variadas.