domingo, 18 de outubro de 2020

ARTIGO - A história nunca se repete. (Padre Carlos)

 

A história nunca se repete.

 

 


 

 

Como professor de filosofia, venho me perguntando como o Brasil mudou em menos de uma década e como foi possível tal mudança?  Como tirar uma lição de todos estes acontecimentos? A ideia de que a História se repete tornou-se noção comum entre as pessoas por uma série de razões, dentre as quais se encontra uma visão mutilada da nossa história, marginalizando milhões de indivíduos e, indiretamente, colocando cada um de nós em uma categoria que não é a dos heróis; ou seja, nos leva a pensar, “devemos nos colocar em nosso devido lugar”.

 


Não há dúvida que as histórias passadas e presentes podem apresentar diversas e importantes semelhanças, afinal a sociedade apreende tudo de formas variadas e guarda na memória. Os momentos passados são experiências que podem e devem ser resgatadas e utilizadas a todo e qualquer momento e, nesse sentido, encontramos diversas semelhanças em variados momentos da história das sociedades. Será mesmo que a história se repete? Uma das frases mais repetidas de Karl Marx é de que a história se repetea primeira vez como tragédia e a segunda, como farsa (O 18 Brumário de Louis Bonaparte) ficou no nosso imaginário e passou a ser uma verdade absoluta no meio acadêmico. Muito se disse também que Bolsonaro repete os métodos de Adolf Hitler, assim não seria de se estranhar as semelhanças e os projetos. A tragédia seria o governo de Hitler e a farsa, o do Bolsonaro.



As tragédias e as farsas, sempre trazem consigo as vítimas estampadas nos seus rostos. Além disso, percebemos que os acontecimentos que levaram a ultradireita ao poder no Brasil, esta mais relacionados à história social do que a individual.  Praticamente todos os analistas político e historiadores, concordam que foi Rohn um dos maiores responsáveis pela ascensão política de Hitler, fazendo com os grupos dos camisas pardas, que organizou a partir dos anos 30, as SA (Sturmabteilung) o trabalho sujo de solapamento da débil democracia alemã.  Assim, podemos afirmar que a atuação da Lava Jato teve um papel semelhante, mas não teria surtido o efeito que teve se não tivesse o apoio e a omissão de parcela do estado brasileiro, através das suas instituições. Elas foram as grandes responsáveis pela chegada de Bolsonaro à presidência e para isto foi necessário uma “força tarefa” com o” Supremo e tudo” para tirar o candidato da esquerda do pleito eleitoral.

 A máquina pública que o Partido dos Trabalhadores foi acusado de ter aparelhado foi à mesma que apeou Dilma do poder, A estrutura burguesa que se escondeu sobre o manto do Estado brasileiro tentou por anos, derrubar este governo que se elegeu de forma democrática, até conseguir fazê-lo em 2016. Um movimento político que, três anos depois, culminou com a subida ao poder de Jair Bolsonaro. O atual Presidente dizia durante a campanha, que o PT tinha “aparelhado o governo”, agora que a mascara vai caindo, podemos constatar como a direita controlava o Estado e como este projeto de governo estava atrelado ao aparelhamento que a burguesia impôs as instituições e ao conjunto do Estado brasileiro. Só diante de todas estas evencias este governo vai dando mostras, porém, de que é ele quem vai realizar um dos maiores aparelhamentos do Estado já vistos na nossa história.


O que aconteceu no Brasil nestes últimos anos reforça cada vez mais a tese que as teorias liberais iluministas do século XVIII, precisam ser colocada em pratica por uma reforma urgente. Precisamos exigir a reorganização do Estado. Montesquieu foi um dos pensadores que mais escreveu sobre a organização do Estado, pressupondo a tripartição do poder, Executivo, Legislativo e Judicial (ou judiciário), que deveriam ser independentes entre si, cada um com uma função específica, teoricamente harmônica para o funcionamento do Estado.


        Quase 100 anos depois da ascensão do nazismo na Alemanha, aqui no Brasil os métodos são outros, mais civilizados. Por isso os interesses de classe e de frações de classe podem se preservar por muito tempo, séculos; apesar de poderem se manifestar de maneiras variadas.



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