sábado, 17 de outubro de 2020

ARTIGO - O movimento estudantil da transição (1974-1984). (Padre Carlos)

O movimento estudantil da transição  

(1974-1984). 

 



 

Hoje eu estava pensando naquela juventude que participou do movimento estudantil no final da década de setenta e uma questão que me chama atenção é o saudosismo que temos dessa época, como se não existisse mais essa mobilização. Assim, gostaria de prestar uma homenagem aquela geração e resgatar a memórias dos militantes estudantis que viveram aquelas páginas da nossa história   e militaram no período da transição democrática brasileira (1974-1984). 

Quero aqui focar neste período de transição democrática, por ter sido o nascedouro das nossas lideranças de esquerda e que de certa forma estão partindo desta vida. Como disse São Paulo: “Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé”. É preciso lembrar, que a primeira geração do movimento, dos anos 60, pode ser considerada derrotada pela própria rigidez do período militar, pela repressão e a adesão a luta armada. Já a geração do final dos anos 70 foi gloriosa por acelerar o processo de democracia no país. Na época, os movimentos, sindicatos e representantes da sociedade estavam parados em função da repressão. Foi justamente este movimento um dos primeiros a se mobilizar pela liberdade democrática. Reivindicações por melhorias no transporte, preços mais baixos nas refeições universitárias e aumento nas verbas foram algumas lutas travadas pelos estudantes. 

Poderia afirmar que a diferença do movimento estudantil de hoje para a do período em que militamos, é um caso de gerações. O movimento de lá foi fruto de um intervalo que existiu por conta da intensa repressão militar. Aqueles estudantes eram muito mobilizados por conta do tempo que estiveram parados. O movimento atual é fruto da década de 90 e nasceu em um período de democracia, não vivendo, portanto, em períodos de repressões. Isso fornece uma formação com outra postura social, mas também representam uma época. 

Se tinha um grupo dentro da universidade que sabia fazer uma festa era os jovens da tendência Liberdade e Luta. Isto se deve a característica da Libelu é que, entre todas as tendências da luta estudantil em ação no final da ditadura militar, ela foi a que mais encarnou a ideia de que “é proibido proibir”. Era possível ser Libelu e ser e provar de tudo, estas atitudes para as quais parte da militância de esquerda ainda torcia o nariz naquela época como “desvios burgueses”. Quanto a mim que fazia parte de um grupo da Igreja Católica ligado aos jesuítas do CEAS, era um choque cultural tudo aquilo. Mas com o tempo, você termina entendendo aquelas pessoas. 

Eu gostaria aqui de fazer justiça aqueles meninos, a face “esquerda festiva” do grupo, famoso por organizar as baladas mais animadas do movimento estudantil, o lado “liberdade”, não poderia aqui ofuscar a parte da “luta” propriamente dita. A Libelu ganhou destaque por assumir nas ruas o slogan Abaixo a Ditadura antes de todo mundo, mesmo correndo o risco de ser alvo dos órgãos de repressão. 


Memória e História do Tempo Presente possuem relações bem estreitas, em especial, pelas lembranças e história de vida de muitos brasileiros. Este potencial da memória de uma geração, suscita o nosso testemunho como fonte e pedaços da nossa vida. Surge, assim, um desafio, que consiste em relacionar presente e passado dentro de mim, estabelecendo as definições de tempo de um passado recente que não podemos esquecer. O passado precisa ser sentido tanto como parte do presente quanto separado dele. Nossas memórias deveriam interessar aos historiadores do tempo presente por apontar uma página escrita com muito suor desses meninos. Não podemos esquecer, que a memória em seu sentido essencial da palavra é a presença do passado.  

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