Conversando
com minha geração
Nascemos nos anos Dourados, da fundação
da Petrobras e da construção de Brasília. Nascemos antes do golpe militar da
guerra e da luta. Depois dos sonhos e da ilusão de muita gente que acreditava num
devir melhor. Nascemos antes de abortarem a história republicana brasileira como a época do desenvolvimentismo, de uma democracia instituída e em construção.
Crescemos lutando contra a ditadura e com esperança de vê-la acabar um dia. Mas
será que ainda sabemos lutar?
Somos da geração
que lutou contra a ditadura e viu florescer: a democracia, o crescimento económico,
o emprego, a educação e a formação, as universidades... Mas como vencemos a
ditadura, nunca mais nos preocupámos com o que mais interessa! Por isso muito
de nós não votaram mais com o coração, não participaram, não disseram, não
pensaram... Porque cansa pensar, porque cansa reunir, porque cansa discutir,
porque cansa organizar.
A verdade é que a
nossa geração perdeu o que existia de cultura cívico-participativa e foi-se
deixando enrola-se nas teias do conformismo e da alienação. E os poucos que se
movimentaram, muitos fizeram-no pelas más razões: o carreirismo pessoal
estúpido e despido de conteúdo ideológico! Vejam as associações e académicas
que, de instituições de elite (intelectual e política), se converteram em
ninhos de oportunistas e corruptos com passaporte para as juventudes
partidárias… Vejam as próprias juventudes partidárias onde a irreverência e o
pensamento independe e crítico, em vez de valorizados, são penalizados e os
seus praticantes ostracizados. Ao contrário, dos que seguem de forma
incondicional e o espírito de subserviência sempre foram os passaportes para os
lugares elegíveis dos cargos do governo ou acessórias parlamentares...
Falta-nos espírito
coletivo, cívico, participativo e empreendedor. Quantos de nós fundámos
associações ou empresas? Quantos de nós estão preocupado com as questões da
nossa cidade? Quantos de nós interviemos a nível partidário? Quantos de nós
ainda fazemos parte no movimento sindical ou em prol dos direitos humanos?
Quantos discutem política? Muitos de nós nem sequer votaram, na ultima eleição,
transformaram esta data em um feriadão (utilizando o discurso fácil e débil de
que os políticos são todos iguais...). A maioria da nossa geração andou entretida
com o subjetivismo e seus próprios interesses (a família e seu mundo particular
ocuparam o lugar do pensamento).