terça-feira, 8 de dezembro de 2020

ARTIGO - Uma carta para os amigos (Padre Carlos)

 


Uma carta para os amigos

 


Escrever uma carta não é moderno, é vintage, ou poderia dizer: algo clássico, ou antigo.  Já não se escrevem cartas de amor, mas, ao contrário das cartas, o amor não morreu. A carta é para os meus amigos, mas também pode ser para os seus. Vai aberta, para a segurança de todos. Em tempos de coronavírus não se lambem cartas, também a língua fica em casa.


    Olá companheiros!” Desculpem a minha ausência, mas não posso estar presente. Ficar em casa, fechado, não é novidade em tempos de pandemias. Mas hoje, faço por razões de saúde e sinto-me estranhamente confortável. Sou muito apegado com as pessoas do meu convívio, mas não sou de apegar-me às tecnologias porque, mesmo ficando em casa, recebia algumas visitas. E agora que não podemos receber os amigos em decorrência da quarentena, tudo fica mais difícil!

Uma das muitas coisas sobre as quais esta pandemia me fez refletir foi que assim como as plantas precisam de agua e sol para alimentar-se,  as verdadeiras amizades precisam também  de contato, de conversa, de presença, de olhar. Somos uma geração com dependência  de celular na mão, em constante conversação, e hoje meu amigo, não sei o que mais falar. Utilizamos o WhatsApp, o Instagram e o Facebook para pequenas conversas, partilhas inconsequentes e pouco mais. Utilizamos as redes para combinar a próxima vez que nos vamos encontrar. Este é o nosso hábito e é por isso que não sei mais do que falar.

Sei que, nesta selva de pedra, não temos tempo pra mais nada, as relações pessoais não comportam tanta conversa, mas nas redes parece que falamos línguas diferentes. Quando toda esta gente se multiplica em ligações, sinto-me desligado. Desculpem a minha ausência, mas não posso estar presente. O que dói não é deixar de estar com vocês, é não saber quando vou voltar a vê-los. E é por isso que fico longe. Longe dos olhos, perto do coração!


Hoje, ninguém está longe nem perto. Tenho um amigo em Santo António de Jesus, que está tão perto de mim como os meus amigos de Conquista. Estamos todos à distância de uma mensagem. Contudo, nunca me senti tão distante. E não é assim que estamos todos, demasiado distantes?

Sou saudavelmente dependente dos meus amigos. Preciso deles como as flores precisam de sol. Peço desculpa por demorar e por me esquecer, não é falta de amor, é excesso. Um forte abraço do irmão e amigo.

 

            Padre Carlos

 

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