domingo, 10 de outubro de 2021

ARTIGO - O Fascismo Está Voltando? (Padre Carlos)

 

Há oito anos chamava a atenção para este perigo.



 

Quando decidi há oito anos escrever este breve artigo, estava sob forte impacto de dois sentimentos: a urgência e a indignação. Naquela oportunidade, me sentir como alguém que foi chamado pela história a tocar a rebate. Não fui o primeiro e espero não ser o ultimo a abordar este assunto. Enquanto fazia uma abordagem dos últimos acontecimentos na primeira metade da década passada na Europa, o ninho esta sendo preparado no continente americano.   


A nova situação em que se encontra o Brasil, nos últimos anos, exige que a consideremos sob um novo olhar, em vez de lançar continuamente, lenha na fogueira de nossas velhas querelas sobre esquerda e direita, devemos  tirar uma lição de tudo o que aconteceu em nosso país. Desta forma, temos que levar a sério as abordagens filosóficas e sociológicas que os profissionais destas áreas nos apresentam. "Todo leitor é, quando está lendo, um leitor de si mesmo", disse Marcel Proust (1871-1922), um dos maiores escritores franceses. É com este espírito que convido você a refazer a leitura deste meu texto.

 

Uma das coisas que tem chamado minha atenção nos últimos meses é o crescimento súbito da extrema-direita em toda a Europa. Como militante e educador com formação filosófica, não poderia deixar de abordar e partilhar este assunto. A onda que assola quase todo o antigo continente me surpreendeu e acredito que deixou os cientistas políticos numa situação um pouco incômoda, para explicar este crescimento da ultradireita, considerando que os espectros da 2ª Guerra Mundial e do totalitarismo ainda estão frescos na memória histórica de praticamente todas as sociedades européias. Podemos perceber que está crescendo na Europa um forte sentimento contra os imigrantes e, especialmente, uma enorme desconfiança em relação aos muçulmanos. Os partidos que difundem idéias xenófobas, anti-imigração e anti-islamitas estão se fortalecendo e exportando para fora dos seus terrenos tradicionais a França, Itália e Áustria e conquistando países tradicionalmente mais liberais como a Holanda ou a Escandinávia, chegando agora significativas representações parlamentares nesses países. O medo bem como o fator sombra tem sido a grande ferramenta política neste fenômeno de crescimento. Estes elementos, embora seja abordagem psicológica, é de extrema importância para o cientista político, entender tal fenômeno.

 

Depois de anos de crise econômica, aumento do desemprego e crescimento da pobreza, muitos europeus têm questionado sobre a integração cada vez mais estreita da EU e esperam com o resultado da eleição uma mudança de paradigma, isto é, um verdadeiro milagre.

 

A presença de imigrantes em proporções importantes, nos grades países industriais, suscita- quando o desemprego torna-se endêmicas – reações de intolerância e ódio bem próximas da fobia. Turcos na Alemanha, indonésios nos Países Baixos, indianos e paquistaneses na Grã-Bretanha, argelianos na França: o ódio pelo outro não tem escrúpulo. Desde já, as reações xenófobas na Alemanha atingiram um grau de violência que podem ser comparadas aos pogroms anti-semitas das piores épocas. Não sabemos como enfrentar o vento de ódio e irracionalismo que se levantou.

 

Segundo Jung, quando projetamos nosso próprio lado sombra sobre outra pessoa, tornamo-nos incapazes de vê-las como seres humanos comuns com características boas e más. Hitler compreendia tudo isso por instinto. E, por essa razão, incentivou a projeção de todo mal, de tudo que fosse mesquinho e não heróico, sobre os judeus, que ele representou como a incorporação de tudo o que era instável e não alemão.

 

Como podemos perceber, este é o discurso da extrema-direita. Jean Marine Le Pen alcançou 25% dos votos dos franceses com uma plataforma política tendo como solução para o fim da imigração a aplicação do vírus africano Ebola.

 


Se não fizermos nada e se, passado o sinal de alerta, voltarmos às nossas pequenas questões, então seremos todos vencidos. Sim, se não fizermos nada, a extrema-direita ampliar-se-á, o ódio sairá vencedor, o fascismo renascerá. A palavra de Martin Luther King ecoa sobre os meus ouvidos, ¨o que me preocupa não é o grito dos maus, mas sim o silêncio dos bons¨.

sábado, 9 de outubro de 2021

ARTIGO - O celibato obrigatório é uma violência (Padre Carlos)

 

O celibato obrigatório é uma violência

 


Quem dedicou boa parte da vida para a Igreja, sabe que ela avança muito lentamente e às vezes parece que dá um passo em frente, dois passos atrás. O Papa Francisco tem inimigos poderosos, por isto as mudanças só virão se todos os cristãos lutarem e rezarem para que este milagre aconteça. E, portanto, fica a dúvida quando as mudanças demoram de chegar e frustra a gente que esta esperando esta primavera ou aggiornamento há mais de cinqüenta anos.


Não podemos negar que fica uma sensação de que há sinais contraditórios da parte do Papa, quando vemos o avanço a passos largos da ordenação de homens casados enquanto o celibato permanece ainda no novo milênio como um assunto proibido de ser tratado.  Não esqueçamos que Jesus entregou o celibato a uma opção, à liberdade; portanto, a Igreja não pode impor isso como lei.  Porque é que não se faz uma pesquisa secreto com os padres sobre a sua vida sexual, para saber o que se passa o que é que eles querem? Seria muito interessante.

A forma como a sociedade pós-moderna vem mudando os costumes e a cultura de tudo que está a sua volta, fica claro que é uma simples questão de tempo o fim do celibato. Com que fundamento a Igreja insiste em pleno séc. XXI, em permanecer neste erro? Não faz muito tempo que citei o trabalho do sociólogo, o padre Javier Elzo SJ. O religioso afirma que 80% ou mais do clero, padres e bispos, na África tem uma vida sexual ativa.

 Será que o Papa tem medo de criar uma ruptura dentro da Instituição, um cisma?  

        Francisco na última missa do ano de 2019, a tradicional Missa do Galo, disse para os fiéis: “Nós mudamos, a Igreja muda, a história muda, quando começamos a querer mudar — não os outros, mas a nós mesmos, fazendo da nossa vida um dom”. Estas palavras do Papa me acalentam e me dão esperança de ver ainda neste pontificado as mudanças na Igreja que tanto precisamos. Mas para falar em mudanças, precisamos falar na formação deste presbitério e por isto, tenho consciência que ser padre é uma responsabilidade gigantesca, um padre lida com a vida das pessoas e, no limite, até com a intimidade das pessoas, na confissão. Por isto, os candidatos a padres devem passar por uma avaliação psicológica e devem ser formados fora dos seminários.  É preciso estar atento aos candidatos a padres, concretamente num tempo em que a oferta e a procura estão relacionadas à falta de perspectivas e a uma forma de projeção social. Precisamos rever a formação e entender como inseri-los no mundo. O seminário tem que ser um lugar onde se reúnem para alguma formação mais direcionada, comunitária, se quiser. O tipo de seminário que nós temos que é o seminário tridentino prestou o seu serviço, mas hoje acredito que não serve mais neste novo milênio por isto, deve ser repensado.

 


Temos que entender que Jesus tinha discípulos e discípulas. A Igreja não pode continuar misógina nem machista. Onde é que está que as mulheres não podem presidir à Eucaristia? O cardeal D. José Policarpo chegou a dizer isto, simplesmente foi chamado ao Vaticano. Não podemos nos calar diante destas violências. Precisamos lutar pelas mudanças que levem a ordenação de mulheres e de homens casados e o fim do celibato obrigatório. Sabemos que Igreja tem um passo excessivamente lento, ela chega lá, eu só não sei, se minha geração vai ter o privilégio de vê-la.

 

sexta-feira, 8 de outubro de 2021

ARTIGO - Quando a Esquerda Deixou de Ser Esquerda (Padre Carlos)

 

Quando a Esquerda Deixou de Ser Esquerda






Certa vez o escritor José Saramago disse: “A direita nunca deixou de ser direita, mas a esquerda deixou de ser esquerda.” A explicação pode parecer simplista, mas revela muito que vivenciamos nestas duas décadas. Acredito que para os intelectuais deste campo, foi a única forma que contemplou todos os aspectos da questão. Para serem aceito no metiér, mais ou menos tolerados nos jogos do poder, os partidos de esquerda correram todos para o centro, onde, infalivelmente, se encontraram com uma direita política e econômica já instalada que não tinha necessidade de se camuflar de centro. Entrou-se, então, na farsa carnavalesca e não sabíamos mais se estávamos em Brasília ou no Sambódromo da Marquês de Sapucaí, devido a denominações caricaturais com as de centro-esquerda ou centro-direita. Assim está o Brasil


O problema que muitos analistas enfrentam hoje, é que está muito difícil definir o que a esquerda é realmente no tabuleiro ideológico da política brasileira. E o que a esquerda propõe que seja claramente diferente da direita. O PT se corrompeu no poder. É um fato, mas este assunto não é o objetivo deste artigo. Pode se discutir bastante se o PT é um partido de esquerda ou Social-Democrata. Eu, pessoalmente, acho que foi de esquerda só até a Carta ao Povo Brasileiro, durante a campanha de 2002. Outros encontram marcos anteriores de rompimento com um ideário de esquerda.

 

Garantir o emprego e os direitos trabalhistas não é bandeira exclusiva da esquerda, os partidos de centro da Europa já fazem isto desde o pós guerra. Mesmo assim, poderia ser um diferencial, mas o desemprego voltou a crescer e os direitos do trabalhador começaram a ser cortados já no governo de Dilma Rousseff, justamente na única experiência que a população teve de um governo de esquerda. A reforma agrária poderia ser outra diferença, mas ela não avançou de forma significativa no governo de esquerda. O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), que hoje está sendo criminalizado pelo governo de extrema direita, se domesticou quando o PT estava no poder. O mesmo aconteceu com grande parte dos movimentos sociais, que viraram governo em vez de continuar sendo movimentos sociais, o que teria sido importante para garantir a vocação de esquerda no poder. Esta, aliás, é uma história que precisa ser mais bem contada.


Por isto, não precisa ser esquerda para entender que não é a amabilidade que os caciques políticos buscam com os acordos com o Centrão, mas o conflito, que desenha a vida política que fará avançar a nossa sociedade. É a promoção do bem comum, que deve nortear o Centro e as forças progressistas. Os direitos do povo sempre serão confrontados com interesses de indivíduos, de grupos, de corporações, de classes, de ideologias. Ninguém pode esperar que a política - ciência e arte da promoção da justiça e do convívio social - sejam um mar de rosas.

 

 

quarta-feira, 6 de outubro de 2021

ARTIGO - Na política ou na bravata? (Padre Carlos)

 

Na política ou na bravata?

 


 

A expectativa em torno da votação do Projeto de Lei que propõe instituir cobrança referente ao manejo de resíduos sólidos pode levar alguns partidos a fecharem questão sobre o tema, ou seja, a estabelecerem uma diretriz uníssona sobre a aprovação da Lei, que pode ser votada ainda nesta semana. 

 

Assim, quando tomei conhecimento através da imprensa que o presidente do Partido dos Trabalhadores da nossa cidade o Sr. Isaac Bonfim, disse em alto e bom som que o vereador que não seguir esta decisão e votar em favor da Taxa nas condições em que ela se apresenta hoje pode sofrer as devidas sanções, duas coisas me chamaram atenção: ou o dirigente do partido não confia na sua bancada, que seria um problema sério ou queria mandar um recado para a população usando de bravata, por isto achamos que o dirigente do PT não precisava expor sua bancada se foi mesmo esta intenção.

Sabemos que Taxa de Lixo é um Projeto polêmico, mas não podemos esquecer que a lei proíbe violência e ameaça como método de convencimento institucional. Nossos representantes sejam situação ou oposição merecem um voto de confiança não só dos seus pares e partidos, mas de toda comunidade.

            O polêmico Projeto de Lei que propõe instituir cobrança referente ao manejo de resíduos sólidos deve ser votado ainda nesta semana na Câmara Municipal de Vitória da Conquista.

            Cabe ao Presidente daquela Casa, encaminhar para votação o Projeto de Lei e quem vai aprovar ou não é o plenário, que é soberano. Uma democracia vibrante se faz assim, com participação popular, liberdade e respeito aos nossos representantes e á opinião do outro.

Uma das lições básicas da ação política é a de não se propagandear a tática, mas de concretizá-la – por isto achamos que o dirigente do PT não precisava expor sua bancada.

Quando um partido fecha questão em torno de algum tema, determina que seus parlamentares votem de acordo com a orientação da sigla. Isto já é o suficiente para a bancada se posicionar

            Por isto, achamos que este não é momento de bravatas, mas de defesa da nossa Democracia.


segunda-feira, 4 de outubro de 2021

ARTIGO - O Estado de Direito é o escudo dos poderosos? (Padre Carlos)

 

A violência nas entrelinhas da liberdade de expressão!

 


 

Quem viveu os anos de chumbo, sabe que só existe liberdade para pensar quando existe uma verdadeira liberdade de pensamento, isto é, quando se vive em uma sociedade democrática, fora disso, o pensamento está condicionado. Hoje, no Brasil, é difícil ser livre e não estar sujeito aos vários grupos de pressão que existem na nossa sociedade, já que aqueles que recusam essa obediência sofrem o desprezo desses “seguimentos”.


Uma sociedade não nasce democrática, só depois de muitos anos de aperfeiçoamento cívico, cultural, intelectual, e da aprendizagem, e prática da solidariedade social, se pode chegar a uma democracia, em que se respeita a opinião alheia, mas em que a nossa própria, também é levada em conta. Não se pode passar de uma ditadura para a democracia, em 24 horas, como aconteceu no Brasil: em 15 de março de 1985, eram todos fascistas, no dia 15 eram todos democratas! Não passar a limpo nossa história, não democratizar as Forças Armadas, não responsabilizar aqueles que mataram torturaram e rasgaram a Constituição, foi o nosso erro.

A desinformação de tudo que aconteceu no país durante a ditadura, mas os gabinetes de ódio passaram a ser o pior inimigo da democracia, e nós, brasileiros, não temos uma central de informação oficial, não existindo uma coordenação entre ministérios, órgãos de informação oficiais e particulares, no sentido de criar uma unidade entre as ações do governo e o que realmente é verdadeiro e oficial.

A desinformação mata a democracia, é autêntica sabotagem, o verdadeiro caos. Uma das grandes armas dos fascistas são os conteúdos falsos e maldosos que circulam diariamente pelas redes sociais e pelos grupos de whatsapps. Eles se  aproveitam da lentidão da Justiça e da conseqüente sensação popular de que o Estado de Direito é um conjunto de alçapões que o poderoso usa para ficar impune; é a idéia de que o Estado de Direito é um escudo dos poderosos, e não o pilar da sociedade como um todo

       


A “liberdade para pensar”, só interessa quando é possível a qualquer um expressá-la, caso contrário o que há é censura, ou pior autocensura. Para aqueles que se subordinam esta situação, não enxergam nada de anormal, mas para aqueles quem têm consciência das suas convicções e caráter, esses, ficam impedidos de colaborar com esta farsa, para assim manterem a sua dignidade e o respeito por si próprios.

 

Paróquia dedicada a Santa Dulce dos Pobres

 


Paróquia dedicada a Santa Dulce dos Pobres

 

será criada em Vitória da Conquista

 

 

Nossa Santa Dulce dos Pobres

 


 

 

          Quando Celebramos a simplicidade e passamos a viver com o que realmente importa, os amigos e a sociedade passam olhar para a gente de outra forma. Viver a simplicidade como voluntária para assumir nossa pobreza, tem um significa profundo e existencial, uma verdadeira opção. 

       


Estive com minhas filhas ontem à noite na Igreja de Santa Dulce para concelebrar com o Pe. Monginho, contemporâneo da minha caminhada do seminário de filosofia. Assim, fiquei sabendo que no dia 13 deste mês, será criado a Paróquia de Santa Dulce. Depois da missa, houve o lançamento do livro Além da Fé do jornalista Valber Machado em homenagem a nossa Santa, nascida na Bahia, e responsável por uma vida de dedicação exclusiva aos pobres. Estas lembranças de Irmã Dulce me fizeram retornar a uma Salvador do meu passado e assim, vou aproveitar pra falar também um pouco do que ouvir desde menino desta Santa. Vamos falar da menina Rita, sua vida, seus sonhos, seus medos e acima de tudo, sua   simplicidade. Nossa Irmãzinha se tornou um exemplo de amor aos pobres e a sua importância, está no exemplo que deixou cuja face misericórdia de Deus encontra-se na sua obra.  Como esse jeito de ser e viver nossa menina foi revelando esta face do Deus Mãe.

       Rita era pequenina de olhos negros e firmes, assustados, aparentava fraqueza, mas se mantinha sempre corajosa, agora confirmado pelo Vaticano, que reconheceu o dia 13 de outubro como a data da comemoração da Santa brasileira e da criação da Paróquia na nossa cidade.

          Estou falando de Irmã Dulce da minha infância, agora Santa Dulce dos Pobres, como chamou o Papa Francisco. Mas, para quem conheceu aquela vocação, era apenas Rita, Nome de batismo, depois Dulce ao receber as ordens no Convento, homenageou a santa com o nome.

          Hoje na minha oração pela manhã, meditava sobre a criação da Paróquia Santa Dulce dos Pobres e pelo seu futuro Pároco o Pe. Zenilton. Coloquei nas mãos de Deus e pedir a interseção da Santa que conheci na década de sessenta em Salvador para olhar por sua Igreja.  Para quem teve a honra de ter sido contemporâneo da Irmã Dulce, não foi surpresa, sobretudo porque vivenciou a sua bondade e santidade no amor aos pobres. Nosso Deus é misericordioso e nos manda através da Santa um recado neste momento de intenso materialismo, num culto exagerado ao corpo e onde a presença da Divina Providência é cada vez esquecida! Ou terá apenas acontecido devido à presença de um papa latino americano no Vaticano ou a ação  de outro Santo que ainda não canonizamos?


          Quem conheceu esta santa andando pelas ladeiras da antiga Salvador da metade do século passado, sabe que seus votos transcenderam  à pobreza e, mais que pobreza, foram os votos dedicados  aos miseráveis, com uma determinação que preocupava  suas irmãs de ordem devida sua saúde frágil. Mesmo assim não conhecia força capaz de afastá-la dos objetivos cristãos.
          Tive oportunidade de conhecer algumas freiras da sua congregação em Taizé e foi através destas irmãzinhas que fiquei sabendo que a Santa começou sua missão invadindo um galinheiro para ajudar idosos famintos. Fez canjas e, naquela noite, os miseráveis de Deus tiveram, enfim, o alimento que lhes faltava todos os dias. Foi repreendida pelas autoridades, mas voltou a agir em outras ocasiões, sempre considerada a mãe daqueles pobres que dormiam nas calçadas, sem ter sequer um lençol.

          Num dos seus milagres mais recente, conta-se que um rapaz perdeu a visão durante um tratamento e passou 14 anos cegos. Há pouco tempo deitou-se para dormir e pediu antes a cura a santa Dulce. Acordou curado.

   


Embora contrariadas, as autoridades atendiam aos seus chamados de solidariedade, de amor, nas campanhas por agasalhos, remédios, comidas. Não era incomum, ainda, invadir casas e prédios antigos para instalar enfermarias e hospitais improvisados, onde recebia seus pobres.

            Intercedei por nós Santa Dulce dos Pobres, para que na nossa pobreza possamos olhar e acolher o pobre como nosso irmão.

 

Padre Carlos


 

domingo, 3 de outubro de 2021

ARTIGO - Um prumo para o centro! (Padre Carlos)

 

O centro é de fato um pendulo nesta arena?

 



Quando percebemos cada vez mais a dificuldade que os partidos de centro têm encontrado para construir uma terceira via, passamos a entender que ela está relacionada ao afastamento das massas com este seguimento político e o distanciamento das suas idéias originais. Como disse David Hume, a relação de causalidade ou a relação entre causa e efeito são inevitáveis, assim, entendemos que este é o resultado das escolhas que os partidos da social-democracia que nos dirigiram nestas três décadas fizeram.


A volta da pobreza e da desigualdade, a desagregação social, a violência generalizada, o desencanto dos jovens com a política e a tolerância com a corrupção, tem muito haver com a tomada de decisão que alguns políticos do centro fizeram.

Se o centro é de fato um pendulo nesta arena, ele se esqueceu de sintonizar com o “espírito do tempo”, perdendo assim o vigor transformador. Enquanto a realidade se transformava, nossos atores continuavam com as idéias do passado.

Para criar uma frente e formar um pacto político, precisamos entender que hoje a divisão entre presente e futuro é mais importante que entre capitalistas e trabalhadores. Quando o centro faz Opção pela disputa entre corporações, de capitalistas ou de trabalhadores, deixa de fazer seu papel moderador e passa a governar ou engrossar o bloco da oposição sem buscar coesão social e rumo histórico.

Os partidos de centro precisam atingir seus objetivos iniciais muito rapidamente se quiserem entrar no jogo e com o uso de poucos recursos, geralmente atribui-se esse sucesso todo a uma “sacada”, aquela ação ou idéia “genial” que mudou o rumo da política como um todo. A isso, damos o nome de “bala de prata” ou voltar as suas origens, ser de fato o centro político.

Não podemos substituí propostas de um mundo melhor para as futuras gerações, por promessas de maior consumo no presente; criamos consumidores sem consciência política, não cidadãos. Não podemos ceder à tentação de cair no oportunismo eleitoral, temos responsabilidade como agente político e precisamos ter coragem de dizer para a nação que a justiça social vem da aplicação correta e responsável dos resultados de uma economia eficiente; que no mundo global não há mais futuro para economias movidas por nacionalismos isolados.

Não podemos esquecer que educar está muito além de apenas levar informação e construir conhecimento, porque essa ação reflete em vários sentidos na vida de uma pessoa. Desta forma, a educação para todos é fundamental para sairmos desta situação de subdesenvolvimento. A democratização do saber passa pelos filhos de pobres e de ricos em escolas com a mesma qualidade é condição sem a qual não conseguiremos atingir nossos objetivos. Precisamos acreditar que a igualdade educacional com qualidade é a única forma de acabar com a Casa Grande.


Nesta trajetória de buscar traduzir a conjuntura e buscar construir elementos que possam nos levar a construção de um projeto de nação, nossos intelectuais precisam aprender que nem sempre colocamos no papel o que queremos. Porque nem sempre o que queremos reflete o verdadeiro sentido do objeto de estudo que é, e sempre será, ensinar o homem e a mulher, a pensar. Nossos intelectuais ficaram acomodados em idéias antigas, filiações partidárias, fascínio por líderes. Substituíram idéias por slogans, filósofos por marqueteiros.

Precisamos neste momento de uma bússola e uns prumos para encontrar nosso rumo e não  esquecer jamais, que não existe pacto se o povo não for convidado a sentar a mesa para participar desta festa democrática.

 

ARTIGO - A geração que fez a diferença! (Padre Carlos)

A geração que fez a diferença!      Decorridos tantos anos do fim da ditadura, observa-se que a geração da utopia está partindo e a nova...