sábado, 9 de outubro de 2021

ARTIGO - O celibato obrigatório é uma violência (Padre Carlos)

 

O celibato obrigatório é uma violência

 


Quem dedicou boa parte da vida para a Igreja, sabe que ela avança muito lentamente e às vezes parece que dá um passo em frente, dois passos atrás. O Papa Francisco tem inimigos poderosos, por isto as mudanças só virão se todos os cristãos lutarem e rezarem para que este milagre aconteça. E, portanto, fica a dúvida quando as mudanças demoram de chegar e frustra a gente que esta esperando esta primavera ou aggiornamento há mais de cinqüenta anos.


Não podemos negar que fica uma sensação de que há sinais contraditórios da parte do Papa, quando vemos o avanço a passos largos da ordenação de homens casados enquanto o celibato permanece ainda no novo milênio como um assunto proibido de ser tratado.  Não esqueçamos que Jesus entregou o celibato a uma opção, à liberdade; portanto, a Igreja não pode impor isso como lei.  Porque é que não se faz uma pesquisa secreto com os padres sobre a sua vida sexual, para saber o que se passa o que é que eles querem? Seria muito interessante.

A forma como a sociedade pós-moderna vem mudando os costumes e a cultura de tudo que está a sua volta, fica claro que é uma simples questão de tempo o fim do celibato. Com que fundamento a Igreja insiste em pleno séc. XXI, em permanecer neste erro? Não faz muito tempo que citei o trabalho do sociólogo, o padre Javier Elzo SJ. O religioso afirma que 80% ou mais do clero, padres e bispos, na África tem uma vida sexual ativa.

 Será que o Papa tem medo de criar uma ruptura dentro da Instituição, um cisma?  

        Francisco na última missa do ano de 2019, a tradicional Missa do Galo, disse para os fiéis: “Nós mudamos, a Igreja muda, a história muda, quando começamos a querer mudar — não os outros, mas a nós mesmos, fazendo da nossa vida um dom”. Estas palavras do Papa me acalentam e me dão esperança de ver ainda neste pontificado as mudanças na Igreja que tanto precisamos. Mas para falar em mudanças, precisamos falar na formação deste presbitério e por isto, tenho consciência que ser padre é uma responsabilidade gigantesca, um padre lida com a vida das pessoas e, no limite, até com a intimidade das pessoas, na confissão. Por isto, os candidatos a padres devem passar por uma avaliação psicológica e devem ser formados fora dos seminários.  É preciso estar atento aos candidatos a padres, concretamente num tempo em que a oferta e a procura estão relacionadas à falta de perspectivas e a uma forma de projeção social. Precisamos rever a formação e entender como inseri-los no mundo. O seminário tem que ser um lugar onde se reúnem para alguma formação mais direcionada, comunitária, se quiser. O tipo de seminário que nós temos que é o seminário tridentino prestou o seu serviço, mas hoje acredito que não serve mais neste novo milênio por isto, deve ser repensado.

 


Temos que entender que Jesus tinha discípulos e discípulas. A Igreja não pode continuar misógina nem machista. Onde é que está que as mulheres não podem presidir à Eucaristia? O cardeal D. José Policarpo chegou a dizer isto, simplesmente foi chamado ao Vaticano. Não podemos nos calar diante destas violências. Precisamos lutar pelas mudanças que levem a ordenação de mulheres e de homens casados e o fim do celibato obrigatório. Sabemos que Igreja tem um passo excessivamente lento, ela chega lá, eu só não sei, se minha geração vai ter o privilégio de vê-la.

 

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