sexta-feira, 8 de outubro de 2021

ARTIGO - Quando a Esquerda Deixou de Ser Esquerda (Padre Carlos)

 

Quando a Esquerda Deixou de Ser Esquerda






Certa vez o escritor José Saramago disse: “A direita nunca deixou de ser direita, mas a esquerda deixou de ser esquerda.” A explicação pode parecer simplista, mas revela muito que vivenciamos nestas duas décadas. Acredito que para os intelectuais deste campo, foi a única forma que contemplou todos os aspectos da questão. Para serem aceito no metiér, mais ou menos tolerados nos jogos do poder, os partidos de esquerda correram todos para o centro, onde, infalivelmente, se encontraram com uma direita política e econômica já instalada que não tinha necessidade de se camuflar de centro. Entrou-se, então, na farsa carnavalesca e não sabíamos mais se estávamos em Brasília ou no Sambódromo da Marquês de Sapucaí, devido a denominações caricaturais com as de centro-esquerda ou centro-direita. Assim está o Brasil


O problema que muitos analistas enfrentam hoje, é que está muito difícil definir o que a esquerda é realmente no tabuleiro ideológico da política brasileira. E o que a esquerda propõe que seja claramente diferente da direita. O PT se corrompeu no poder. É um fato, mas este assunto não é o objetivo deste artigo. Pode se discutir bastante se o PT é um partido de esquerda ou Social-Democrata. Eu, pessoalmente, acho que foi de esquerda só até a Carta ao Povo Brasileiro, durante a campanha de 2002. Outros encontram marcos anteriores de rompimento com um ideário de esquerda.

 

Garantir o emprego e os direitos trabalhistas não é bandeira exclusiva da esquerda, os partidos de centro da Europa já fazem isto desde o pós guerra. Mesmo assim, poderia ser um diferencial, mas o desemprego voltou a crescer e os direitos do trabalhador começaram a ser cortados já no governo de Dilma Rousseff, justamente na única experiência que a população teve de um governo de esquerda. A reforma agrária poderia ser outra diferença, mas ela não avançou de forma significativa no governo de esquerda. O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), que hoje está sendo criminalizado pelo governo de extrema direita, se domesticou quando o PT estava no poder. O mesmo aconteceu com grande parte dos movimentos sociais, que viraram governo em vez de continuar sendo movimentos sociais, o que teria sido importante para garantir a vocação de esquerda no poder. Esta, aliás, é uma história que precisa ser mais bem contada.


Por isto, não precisa ser esquerda para entender que não é a amabilidade que os caciques políticos buscam com os acordos com o Centrão, mas o conflito, que desenha a vida política que fará avançar a nossa sociedade. É a promoção do bem comum, que deve nortear o Centro e as forças progressistas. Os direitos do povo sempre serão confrontados com interesses de indivíduos, de grupos, de corporações, de classes, de ideologias. Ninguém pode esperar que a política - ciência e arte da promoção da justiça e do convívio social - sejam um mar de rosas.

 

 

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