Quando a Esquerda Deixou de Ser Esquerda
Certa vez o escritor José Saramago disse: “A direita nunca
deixou de ser direita, mas a esquerda deixou de ser esquerda.” A explicação
pode parecer simplista, mas revela muito que vivenciamos nestas duas décadas. Acredito
que para os intelectuais deste campo, foi a única forma que contemplou todos os
aspectos da questão. Para serem aceito no metiér, mais ou menos tolerados nos
jogos do poder, os partidos de esquerda correram todos para o centro, onde,
infalivelmente, se encontraram com uma direita política e econômica já
instalada que não tinha necessidade de se camuflar de centro. Entrou-se, então,
na farsa carnavalesca e não sabíamos mais se estávamos em Brasília ou no Sambódromo da Marquês de Sapucaí,
devido a denominações caricaturais com as de centro-esquerda ou
centro-direita. Assim está o Brasil
Garantir o emprego e os direitos trabalhistas
não é bandeira exclusiva da esquerda, os partidos de centro da Europa já fazem
isto desde o pós guerra. Mesmo assim, poderia ser um diferencial, mas o
desemprego voltou a crescer e os direitos do trabalhador começaram a ser
cortados já no governo de Dilma Rousseff,
justamente na única experiência que a população teve de um governo de esquerda.
A reforma agrária poderia ser outra diferença, mas ela não avançou de forma
significativa no governo de esquerda. O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra), que hoje está sendo criminalizado pelo governo de extrema direita,
se domesticou quando o PT estava no poder. O mesmo aconteceu com grande parte
dos movimentos sociais, que viraram governo em vez de continuar sendo
movimentos sociais, o que teria sido importante para garantir a vocação de
esquerda no poder. Esta, aliás, é uma história que precisa ser mais bem
contada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário