terça-feira, 26 de outubro de 2021

ARTIGO - Cargos de confiança como moeda de troca (Padre Carlos)

 

A  distribuição de cargos “de confiança” como moeda de troca política.

 

 




 

Para exercer um cargo político seja no parlamento ou no executivo, deveríamos exigir alguns critérios e pré-requisitos que definisse a vocação e qualificação do afilhado ou membro deste ou daquele partido da base do governo. Não podemos esquecer que o exercício dos cargos políticos e administrativos implica uma elevada responsabilidade e confiança na integridade moral da gestão pública, na mediação dos interesses das comunidades e na reciprocidade e interdependência da relação entre quem governa e quem elege. As três coisas que não se deve abrir mão quando se nomeia um quadro político ou um amigo são: a responsabilidade, a tolerância as diferenças de opinião, e na elevada capacidade de decidir em prol dos outros, em detrimento de agendas pessoais.


Os cargos, seja de primeiro ou segundo escalão, requer responsabilidades em qualquer gestão saudável e necessita de uma cidadania ativa para que possa reconhecer as idéias dos adversários e ajudar a administração a fazer uma gestão democrática e justa. Não é à toa que a perda de confiança dos cidadãos no sistema político e nos seus representantes tem aumentado a cada pleito. São estes desvios que estão presentes nos governos da esquerda e da direita, que encontramos as explicações da ausência de sentido de Estado por parte dos eleitos e, sobretudo, na inaceitável tendência para os sectarismos, responsáveis por remeterem para segundo plano a principal missão: defender o povo.

Podemos dizer que este mal é fruto do corporativismo da classe política e da falta de normas que possam balizar estas nomeações. Quando presenciamos um ministro de Estado ser acusado pela Polícia Federal, por organização criminosa, advocacia administrativa e obstrução de fiscalização, significa que chegamos à fronteira entre a civilização e a barbárie.


Se nos governos de Fernando Henrique e nos petistas presenciamos a farra dos cargos públicos e os critérios nada republicanos para lotear o estado, no governo de Bolsonaro esta pratica se aprofundou em um escândalo de grande proporção. Isto vem acontecendo, devido a ausência de representação e a falta de tolerância do povo com este governo. Desta forma, o fosso entre os eleitos e os eleitores tenderá a aumentar, prejudicando a essência da democracia e a nobreza de caráter exigível a quem governa. Porque a causa comum compete a todos, sem exceção.

 

domingo, 24 de outubro de 2021

ARTIGO - O problema de Lula não é o mel, são as abelhas (Padre Carlos)

O problema de Lula não é o mel, são as abelhas

 




Não podemos negar que Lula é um dos maiores estrategista político que este país já conheceu, mas isto não lhe credencia a brincar de roleta russa quando flerta com o centrão e as forças que entregaram o país ao capital estrangeiro e colocaram o Brasil nesta situação que se encontra. Peço licença ao estimado leitor para explicar através de uma analogia o que eu quero dizer: vocês sabem o que é que a colméia faz quando a rainha não está em condições de cumprir a sua função? Coloca-se toda em cima dela, fazendo aumentar insuportavelmente a temperatura, até que ela acabe sufocada. Qualquer semelhança entre as articulações de Lula e o Impeachment de Dilma Rousseff, não é mera coincidência nem tampouco uma repetição farsesca da história.

A direita está agonizando devido a suas escolhas e nesta agonia, o país assiste o candidato da esquerda entregar-se à sua Síndrome de Estocolmo: preferir o centrão e seus caciques regionais tem o simbolismo de identificar com seu raptor ou de conquistar a simpatia do seqüestrador. Por isto, podemos dizer que consideramos estas articulações como uma doença psicológica aleatória. Todas as sondagens mostram que a direita toda somada não chega sequer às intenções de voto da esquerda, por isto entendemos que estes acordos podem levar o país a reviver o consocio que se formou entre as estatais e o aparelho do governo.

É neste contexto que ressurge a vocação do PT e do centro esquerda: ser pragmática.  Mais uma vez estamos prestes a vê estas correntes adequar seus interesses em prol de um pacto e da governabilidade, defendido no calor do ativismo político e dos interesses dos profissionais que a “esquerda” formou ao longo destas duas décadas conciliar com o mercado e a burguesia nacional.

Sabemos que não será possível devido a correlações de força no Congresso, fazer tudo o que se deseja o que implica em, às vezes, ter que realizar o que não pretende. O que não sabemos neste período pré-eleitoral é o que teremos que abrir mão? Como diz o poeta: “Em tenebrosas transações.”

É o pleno exercício da renúncia, que seu líder está materializando em favor de uma sociedade menos turbulenta. E isto desculpe os militantes mais exaltados, num país cada vez mais pobre, cada vez mais corrupto, onde se morre cada vez mais (e não estou falando de mortes por Covid19) e onde se faz fila para receber ossos, é coisa que não se compreende. Ou melhor, compreende: prometendo distribui "privilégios" imediatos a um rol de clientelas que tem voto, o PT vai assegurando o seu retorno ao poder.

 

 

 

 


sábado, 23 de outubro de 2021

ARTIGO - O livre-arbítrio não existe mais! (Padre Carlos)

 


O livre-arbítrio não existe mais!

 

 


Como professor e amante da filosofia, venho me questionando há algum tempo sobre a liberdade de escolha no nosso sistema de representação e da própria democracia. Com o advento da pós-verdade, não podemos negar que o livre-arbítrio não é mais que uma ilusão no nosso sistema eleitoral, que tem sua crença baseada nestas “verdades”. Assim, não se pode dissociar democracia e livre escolha que cada um faz de sua vida se de fato o cidadão não poder exercê-la.




Achar que estas questões são temas acadêmicos e sem nenhuma importância para a sociedade é um grande erro dos políticos e cientistas, que deixam de utilizar esta ferramenta para entender a nova ordem.  Os temas filosóficos e a crença no livre-arbítrio têm reflexos bastante concretos no “mundo real”.  Ser livre para fazer escolhas é o fundamento central da representação democrática no nosso sistema eleitoral, mostrando que se trata de um governo representativo. Da mesma forma, a lei atribui responsabilidade às pessoas ou punem criminosos, com base na certeza que somos livres para tomar decisões, e, portanto devemos responder por elas.

Estes com certeza são alguns dos temas centrais da filosofia e da teologia. Saber se somos capazes de fazer nossas próprias escolhas, tem sido há séculos os grandes temas destas matérias. Apesar do conhecimento filosófico e teológico que aprendi no seminário, foi na literatura que encontrei o mais elabora discurso e a mais célebre defesa do livre-arbítrio, Desta forma, quando na tragédia Júlio César, de William Shakespeare , o nobre Brutus revela sua preocupação que o povo aceite César como rei, o que poria fim à República, o regime adotado por Roma desde tempos imemoriais, ele hesita, não sabe o que fazer. É quando Cássio procura induzi-lo à ação. Seu discurso contém a mais veemente defesa do livre-arbítrio encontrada nos livros.  “Há momentos”, diz ele, “em que os homens são donos de seu fado. Não é dos astros, caro Brutus, a culpa, mas de nós mesmos, se nos rebaixamos ao papel de instrumentos.”

Ao longo da história, convencionamos que o livre arbítrio é o poder que cada pessoa tem de decidir por si própria, de escolher por sua vontade o que fazer. O homem é livre para tomar suas decisões pela força do livre arbítrio, assumindo conseqüências e responsabilidades. Entretanto, esse livre arbítrio na atualidade vem se esvaindo do poder e domínio do indivíduo, pelo controle que hoje tem governos e corporações da vida das pessoas.

Eu acredito que temos de alguma forma um arbítrio, mas ele não é livre. Estamos fazendo escolhas, mas as nossas escolhas não estão mais sendo independentes. Porque cada escolha que fazemos é dependente de muitas condições de naturezas diversas, biológicas, sociais, pessoais. Não tem mais sentido as pessoas dizerem “quem manda na minha vida sou eu”, ou “eu faço o que bem entender”, porque suas decisões são determinadas em parte pelo seu contexto familiar, pela sua bioquímica, pela cultura nacional, etc.

Herdado da teologia cristã, o livre arbítrio que dava ao homem a alternativa de um caminho reto ou de pecado, de salvação ou perdição, hoje se constitui um perigo. O desenvolvimento da tecnologia já possibilita que “hackers” manipulem suas escolhas, bastando apenas conhecer um pouco de cada uma das pessoas, como gostos, costumes, lazer, compras, etc. Com essas informações, eles podem induzir as pessoas a clicar em “links” que eles querem, pensando as pessoas que estão fazendo isto pelo seu livre arbítrio quando, na verdade, estão sendo levadas a isto por estarem “hackeadas”.

As forças ocultas como diziam um velho político, analisam seu histórico na internet, seus itens de consumo, as palavras e opiniões que exprimem nas suas convicções políticas, os fluxos de contatos pelas redes sociais, enfim, já conseguem controlar os desejos das pessoas para direcioná-los a uma forma de pensamento e visão de mundo, a sensibilizar para doações, a votar em políticos, a absorver ideologias, entre infinitas possibilidades.


Estamos, iludidos com o nosso livre arbítrio, na verdade somos todos escravos inconscientes e não tomamos conhecimento ainda da real situação. É uma pena que nossa elite intelectual não acordou para esta grave realidade. Ficamos presos no século vinte e ainda estamos discutindo questões antigas e passando ao largo dos desafios da inteligência artificial. Foi este atraso intelectual, que proporcionaram estas forças a transformarem o sentimento de ódio em plataforma eleitoral e chegarem ao poder.

 

 

 

 

 

 

 


quarta-feira, 20 de outubro de 2021

ARTIGI - Um filho em defesa da Mãe: (Padre Carlos)

 

Um filho em defesa da Mãe:

 


 

Quando o vereador Luís Carlos Dudé (MDB), presidente da Câmara Municipal, usou a tribuna na sessão desta quarta-feira (20/10) para defender o Papa Francisco e os Bispos da CNBB, em especial a Dom Orlando Brandes, arcebispo de Aparecida, o vereador conquistense na verdade estava defendendo não apenas personalidades eclesiásticas, sua fala corajosa se referia a defesa de toda de toda a comunidade de fé.  Defender os membros da Igreja contra a forma covarde como o deputado estadual paulista fez, chamando o Papa Francisco e bispos da CNBB de “pedófilos”, “safados”, “vagabundos” e “imundos,” teria que ser feito para que seus valores como cristão e homem de fé fossem verdadeiro assim como o seu batismo.

 


 Infelizmente, nem todos os católicos que assumem uma atuação política naquela casa tiveram o cuidado e a vocação de cristão para defender sua Igreja. Quando falo em dar testemunho de fé, me refiro também esta ação no parlamentar, porque não basta dizer que é católico e participar das celebrações se no momento que sua Igreja está sendo caluniada e ofendida, se torna omisso. Como cristão não podemos deixar de defender um país sem corrupção, pobreza, mentiras e armas.

No sermão da missa solene da festa, o arcebispo de Aparecida (SP), dom Orlando Brandes, pediu para que a sociedade construa “uma pátria amada. Para ser amada, não pode ser pátria armada”. Ele também pediu uma nação sem mentiras e corrupção, além de pedir o combate à pobreza. “Para ser pátria amada seja uma pátria sem ódio. Para ser pátria amada, uma república sem mentira e sem fake news. Pátria amada sem corrupção. E pátria amada com fraternidade. Todos os irmãos construindo a grande família brasileira.”


Como católico e homem de fé, o vereador Luís Carlos Dudé, sabe que a Igreja deve denunciar tudo aquilo que fere a dignidade da pessoa humana, criada à imagem e semelhança de Deus, bem como tudo que ameaça a vida no planeta Terra, obra das mãos de Deus. Denunciar toda forma de atentado à vida, as injustiças sociais, a corrupção, o egoísmo e a concentração dos bens criados por Deus nas mãos de poucas pessoas.

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

ARTIGO - A saudade se conecta com os nossos sentidos (Padre Carlos)

 

"Saudade’ é palavra que só o português tem"

 




Muita gente acredita que demonstrar sentimentos é uma forma de revelar sinais de fraqueza e por isto terminam sufocando estas emoções e não deixando que o outro possa conhecer verdadeiramente o nosso ser. Desta forma, reconhecer que sente saudade de alguém que partiu, ou um ex-amor que nos faz suscitar emoções como paixão, raiva ou esperança são forçadas a permanecerem reprimidas dentro da gente. Isso acontece desde a infância, na tentativa de engolir o choro e ignorar a frustração. Essa postura surge, principalmente, diante do medo da vulnerabilidade e de parecer “fraco”.


Assim, poderíamos afirmar que a saudade é um destes sentimentos que guardamos embaixo de sete chaves.  Podemos definir este sentimento como a presença da ausência de algo ou alguém. Quando você passa a sentir que aquela pessoa não existe mais, ou só existe nas nossas lembranças é que descobrimos que o amor esta relacionado com os nossos sentidos.  Só assim, poderemos entender porque a energia da pessoa, sua imagem e a sua lembrança ficam tão presente nestes sentimentos. São estas sensações que passamos a chamar de saudade. Como disse Guimarães Rosa: saudade é Ser depois de Ter. Talvez esta tenha sido a melhor definição de saudade que eu já tenha visto. Na verdade é uma sensação que fica impregnada nas nossas lembranças e nos cincos sentidos da nossa memória. Não sabemos explicar como ela persiste em habitar nossos sentidos se aquela pessoa não faz mais parte da nossa vida.

Quando perdemos o medo e deixamos os sentidos: olfato, tato, audição, a visão e o paladar se relacionem com a nossa memória emocional, estamos deixando estes sentidos se conectarem com a nossa essência.

Há duas formas de perdas, um diz respeito à morte física e a outra há um tipo de morte em vida e você é obrigado a se despedir desta pessoa, mas as memórias e sua história de vida é a mesma. Você consegue está com ela em uma nova dimensão, através da sensação. A nossa consciência, isto é, a nossa essência que também podemos chamar de estado sutil de percepção, consegue perceber e conceder a presença daquela pessoa que não está mais aqui fisicamente, mas percebemos sua companhia.

Quando sinto o perfume do jasmim, minha memória fica ativada e isto faz com que eu retorne a minha infância e recorde de um momento da minha vida. Eu não preciso vê o jasmim, mas ao sentir o seu cheiro, eu sinto todas as emoções, boas ou males que vivi quando era menino.


Hoje, eu entendo porque bastava um só olhar para que eu pudesse entender toda a plenitude daquela comunicação. Bastava um só toque para sentir toda a afetividade daquele amor. Bastava uma só voz para aquele som se transformasse em melodia. Bastava um cheiro para que eu pudesse sentir a fragrância que emanava do seu corpo. Bastava um só beijo para sentir aquele sabor de vida. Foram estes cinco sentidos, que me fizeram perceber e entender que a saudade esta relacionada a esta sensação. É como Mario Quintana diz: “A saudade é o que faz as coisas pararem no tempo.”

A sensação nos leva a esta viagem no tempo e faz com que a saudade toque este espaço da nossa essência. Quem não percebe estas coisas, esta fechada para a vida e para morte.

quinta-feira, 14 de outubro de 2021

ARTIGO - Os trabalhadores terceirizados merecem respeito! (Padre Carlos)

 

Os trabalhadores terceirizados merecem respeito!

 

 



Como poderíamos analisar o governo progressista do PT na Bahia, será que poderíamos de fato definir estas gestões como governos genuinamente de esquerda?  Podemos afirmar, que a falta de referência do que seria uma política de esquerda para os governos petistas e grande parte da sua militância, levaram todo o conjunto das forças progressistas que sempre gravitaram em torno do partido, a refundar novos paradigma e buscar novos caminhos?

Assim, quando tomei conhecimento do sofrimento que estão passando os trabalhadores da Fundação José Silveira (FJS), empresa terceirizada do Hospital Regional de Vitória da Conquista, passei a entender que o tratamento da esquerda com os trabalhadores terceirizados é semelhante ou pior o da oposição quando estava no governo.

Quem não se lembra que em meio às discussões da reforma trabalhista, uma das sanções do governo referia-se à lei da terceirização dos postos de trabalho, que possibilitava às empresas do país terceirizar todas as suas atividades, inclusive aquelas relacionadas à atividade-fim.

Apesar da esquerda não ter sujado suas mãos com esta votação, não impediu de desfrutarem da nova ordem. Assim, o governo da Bahia passou a usar de todas as formas “legais” a lei da terceirização em muitos setores da administração, sendo os profissionais de saúde uma das categorias mais prejudicada. O governo passou a criar com a nova lei uma espécie de funcionário que é publico, mas não tem proteção do estado. Desta forma, tudo o que eles combateram ao longo dos anos estavam jogando fora. Surgem assim neste governo, os funcionários públicos de primeira e segunda classe.

Assim, podemos dizer que este governo chegou à Era do Administrador. Desta forma, gostaria de lembrar que administração é uma ciência neutra, como a engenharia e a medicina são frias e não leva em conta se o trabalhador esta sendo explorando ou não, seu objetivo é manter as contas em dia. Por isto, a missão do administrador moderno é ser um político e um político moderno, ser um administrador, ele tem de saber dosar e manter unido este grupo de interesses conflitantes dentro da lei.

 Gostaria de informar ao Governador e aos seus representantes na nossa cidade, que nem tudo que é legal é moral. Esta frase expressa muito bem os trabalhadores que, em decorrência desses atrasos, estão com dificuldades de pagar suas contas e arcar com o alto preço dos alimentos, além das denúncias das condições precárias sofridas pelos terceirizados. Nem tudo que me é licito é legal, no sentido de moralidade. Legalidade e moralidade nem sempre andam de mãos dadas, quais os políticos que estão defendo os trabalhadores nesta hora? Entre o governo e os trabalhadores famintos e sem a quem recorrer, fico com os excluídos e a minha consciência de cristão.

ARTIGO - Quando os Sinos da Catedral deixaram de funcionar (Padre Carlos)

 


Vitória da Conquista e seu sino





 

O assunto que vou partilhar com vocês hoje, me fez pensar uma frase de Guimarães Rosa, ela é de muita sabedoria e diz assim: Deus nos dá pessoas e coisas para que possamos aprender a alegria. Depois, Ele retira pessoas e coisas para ver se já somos capazes de ser alegre sozinho. É esta alegria que Ele quer da gente, que sejamos capazes e responsáveis pela nossa própria alegria.


Por isto, algumas pessoas têm que perder pra aprender a dar valor, era visível a alegria dos católicos em Vitória da Conquista. O contentamento estampado nos rostos dos conquistenses tinha como conseqüência a volta daquele som que vinha da Catedral e lembrava a nossa infância como dizia o ex-prefeito Herzem Gusmão. Os sinos da Catedral de Nossa Senhora das Vitória, ficaram mudos por algum tempo, em decorrência de defeito que nem seu Paulo, um antigo relojoeiro da Francisco Santos, que sempre fez a manutenção daquele relógio conseguia resolver.  

O conquistense não se conformava com o silêncio do sino, chegando ao ponto de reclamar com Hostenes, o secretário da paróquia sobre o transtorno que a falta do tilintar daquelas batidas faziam na sua rotina. E assim, criou-se um clima de insatisfação entre os católicos. Alguns diziam que o verdadeiro motivo seria a reclamação de perturbação pelo toque do sino por parte de um morador daquela redondeza, embora não exista nenhuma queixa por parte da vizinhança por cerca de 50 anos.

Até a década de sessenta do século passado, podíamos presenciar no dia a dia da vida das pequenas e médias cidades brasileira, as batidas dos sinos convidando a população para as mais diversas ações litúrgicas, como missas, novenas de Semana Santa e vias-sacras. Segundo o saudoso Irmão Pascoal do Mosteiro de São Bento, existia uma melodia para cada momento da vida de uma pessoa:
– As badaladas soavam na hora do nascimento, do batismo, do Casamento e da morte.

O toque fúnebre não só informava da morte, mas passava a mensagem aos familiares e aos amigos de que eles deveriam se preparar para as futuras homenagens. Segundo o monge, poderia saber só pelo toque do sino se tratava de homem ou mulher. Infelizmente, os toques foram se perdendo ao longo do tempo porque o conhecimento do sineiro era transmitido oralmente
 – explicava o religioso.
O certo, é que a música dos sinos era uma experiência de levitação espiritual. Quando os fieis ouviam, algo dentro deles, se assustava e subia às alturas. Poderias dizer que se tratava de uma sensação física de libertação e ao mesmo tempo de espiritualidade e obediência.


Nosso sino voltou a tocar. Foi lindo! Uma emoção que não consigo descrever.
É como se o coração do Cristianismo em Vitória da Conquista voltasse a bater: Alegria indescritível para os cristãos da nossa cidade.

 

 

 

ARTIGO - A geração que fez a diferença! (Padre Carlos)

A geração que fez a diferença!      Decorridos tantos anos do fim da ditadura, observa-se que a geração da utopia está partindo e a nova...