segunda-feira, 18 de outubro de 2021

ARTIGO - A saudade se conecta com os nossos sentidos (Padre Carlos)

 

"Saudade’ é palavra que só o português tem"

 




Muita gente acredita que demonstrar sentimentos é uma forma de revelar sinais de fraqueza e por isto terminam sufocando estas emoções e não deixando que o outro possa conhecer verdadeiramente o nosso ser. Desta forma, reconhecer que sente saudade de alguém que partiu, ou um ex-amor que nos faz suscitar emoções como paixão, raiva ou esperança são forçadas a permanecerem reprimidas dentro da gente. Isso acontece desde a infância, na tentativa de engolir o choro e ignorar a frustração. Essa postura surge, principalmente, diante do medo da vulnerabilidade e de parecer “fraco”.


Assim, poderíamos afirmar que a saudade é um destes sentimentos que guardamos embaixo de sete chaves.  Podemos definir este sentimento como a presença da ausência de algo ou alguém. Quando você passa a sentir que aquela pessoa não existe mais, ou só existe nas nossas lembranças é que descobrimos que o amor esta relacionado com os nossos sentidos.  Só assim, poderemos entender porque a energia da pessoa, sua imagem e a sua lembrança ficam tão presente nestes sentimentos. São estas sensações que passamos a chamar de saudade. Como disse Guimarães Rosa: saudade é Ser depois de Ter. Talvez esta tenha sido a melhor definição de saudade que eu já tenha visto. Na verdade é uma sensação que fica impregnada nas nossas lembranças e nos cincos sentidos da nossa memória. Não sabemos explicar como ela persiste em habitar nossos sentidos se aquela pessoa não faz mais parte da nossa vida.

Quando perdemos o medo e deixamos os sentidos: olfato, tato, audição, a visão e o paladar se relacionem com a nossa memória emocional, estamos deixando estes sentidos se conectarem com a nossa essência.

Há duas formas de perdas, um diz respeito à morte física e a outra há um tipo de morte em vida e você é obrigado a se despedir desta pessoa, mas as memórias e sua história de vida é a mesma. Você consegue está com ela em uma nova dimensão, através da sensação. A nossa consciência, isto é, a nossa essência que também podemos chamar de estado sutil de percepção, consegue perceber e conceder a presença daquela pessoa que não está mais aqui fisicamente, mas percebemos sua companhia.

Quando sinto o perfume do jasmim, minha memória fica ativada e isto faz com que eu retorne a minha infância e recorde de um momento da minha vida. Eu não preciso vê o jasmim, mas ao sentir o seu cheiro, eu sinto todas as emoções, boas ou males que vivi quando era menino.


Hoje, eu entendo porque bastava um só olhar para que eu pudesse entender toda a plenitude daquela comunicação. Bastava um só toque para sentir toda a afetividade daquele amor. Bastava uma só voz para aquele som se transformasse em melodia. Bastava um cheiro para que eu pudesse sentir a fragrância que emanava do seu corpo. Bastava um só beijo para sentir aquele sabor de vida. Foram estes cinco sentidos, que me fizeram perceber e entender que a saudade esta relacionada a esta sensação. É como Mario Quintana diz: “A saudade é o que faz as coisas pararem no tempo.”

A sensação nos leva a esta viagem no tempo e faz com que a saudade toque este espaço da nossa essência. Quem não percebe estas coisas, esta fechada para a vida e para morte.

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