quinta-feira, 14 de outubro de 2021

ARTIGO - Quando os Sinos da Catedral deixaram de funcionar (Padre Carlos)

 


Vitória da Conquista e seu sino





 

O assunto que vou partilhar com vocês hoje, me fez pensar uma frase de Guimarães Rosa, ela é de muita sabedoria e diz assim: Deus nos dá pessoas e coisas para que possamos aprender a alegria. Depois, Ele retira pessoas e coisas para ver se já somos capazes de ser alegre sozinho. É esta alegria que Ele quer da gente, que sejamos capazes e responsáveis pela nossa própria alegria.


Por isto, algumas pessoas têm que perder pra aprender a dar valor, era visível a alegria dos católicos em Vitória da Conquista. O contentamento estampado nos rostos dos conquistenses tinha como conseqüência a volta daquele som que vinha da Catedral e lembrava a nossa infância como dizia o ex-prefeito Herzem Gusmão. Os sinos da Catedral de Nossa Senhora das Vitória, ficaram mudos por algum tempo, em decorrência de defeito que nem seu Paulo, um antigo relojoeiro da Francisco Santos, que sempre fez a manutenção daquele relógio conseguia resolver.  

O conquistense não se conformava com o silêncio do sino, chegando ao ponto de reclamar com Hostenes, o secretário da paróquia sobre o transtorno que a falta do tilintar daquelas batidas faziam na sua rotina. E assim, criou-se um clima de insatisfação entre os católicos. Alguns diziam que o verdadeiro motivo seria a reclamação de perturbação pelo toque do sino por parte de um morador daquela redondeza, embora não exista nenhuma queixa por parte da vizinhança por cerca de 50 anos.

Até a década de sessenta do século passado, podíamos presenciar no dia a dia da vida das pequenas e médias cidades brasileira, as batidas dos sinos convidando a população para as mais diversas ações litúrgicas, como missas, novenas de Semana Santa e vias-sacras. Segundo o saudoso Irmão Pascoal do Mosteiro de São Bento, existia uma melodia para cada momento da vida de uma pessoa:
– As badaladas soavam na hora do nascimento, do batismo, do Casamento e da morte.

O toque fúnebre não só informava da morte, mas passava a mensagem aos familiares e aos amigos de que eles deveriam se preparar para as futuras homenagens. Segundo o monge, poderia saber só pelo toque do sino se tratava de homem ou mulher. Infelizmente, os toques foram se perdendo ao longo do tempo porque o conhecimento do sineiro era transmitido oralmente
 – explicava o religioso.
O certo, é que a música dos sinos era uma experiência de levitação espiritual. Quando os fieis ouviam, algo dentro deles, se assustava e subia às alturas. Poderias dizer que se tratava de uma sensação física de libertação e ao mesmo tempo de espiritualidade e obediência.


Nosso sino voltou a tocar. Foi lindo! Uma emoção que não consigo descrever.
É como se o coração do Cristianismo em Vitória da Conquista voltasse a bater: Alegria indescritível para os cristãos da nossa cidade.

 

 

 

2 comentários:

Clovis Oliveira de Carvalho disse...

Muito bom o seu artigo meu "cumpadi" Padre Carlos, eu particularmente não sabia que existia um toque para cada solenidade. E falar de sino me remete a minha infância quando no natal em coro a gente cantava: 'bate o sino pequenino, sino de Belém..."

Carlos Roberto Pereira disse...

Obrigado compadre!

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