quarta-feira, 18 de maio de 2022

ARTIGO - Um amor perdido no tempo (Padre Carlos)


Um amor Perdido no tempo






Ele jamais poderia imaginar que um dia iria reencontrá-la em uma das ruas da antiga Salvador.
Como diz o poeta: “a vida é a arte do encontro, mesmo havendo tantos desencontros na vida”. Os acidentes nem sempre são algo ruim e a casualidade pode elevar nossa alma a um passado distante. O presente com sua pressa desenfreada para um futuro que nunca chega, deu uma pausa naquela tarde
Em segundos volta ao passado, tudo retorna na memória como se a vida deles estivessem paradas no tempo. Ao olha-la, ele percebe que não esqueceu de nenhum detalhe daquele amor.  
O Sorriso destampou no seu rosto quando a viu, sua alma alegrou-se com aquela face e mesmo querendo esconder, todo o seu corpo comemorava aquele reencontro.  

Olá, como vai
Eu vou indo e você, tudo bem?
Tudo bem, eu vou indo, correndo
Pegar meu lugar no futuro, e você?
Tudo bem, eu vou indo em busca
De um sono tranqüilo, quem sabe?
Quanto tempo...
Pois é, quanto tempo...
Todos nós somos marcados pela ação do tempo, mas aquela mulher que estava na sua frente continuava com seu brilho e um encantamento que ele pensou que não existisse mais. Apesar de alguns cabelos brancos que criava um certo charme, parecia que nada tinha mudado. A voz o olhar, a forma de falar, tudo era perfeito naquele corpo. Tu, tu não mudaste, talvez o penteado para adequar este novo estilo que combinava tão bem, de uma intelectual de meia idade.
Ele a convidou para um café e conversaram sobre suas vidas. O casamento dele que não deu certo, os filhos e a perda dela de quarenta anos de casada. Falaram de tudo, menos do passado que viveram. De repente, ele olha aquele rosto e viaja pelas suas lembranças, é como se estas não saíssem da sua mente e esta voz continuava a soar em meu ouvido é como se naquele momento o bom Deus estivesse lhe dando uma segunda oportunidade. Aquele encontro não era fruto do acaso, ele não acreditava em sorte ou destino, tinha que ter um significado, talvez naquele momento, ele não estivesse vendo de forma clara, devido a emoção, mas teria que ser hábil para não perder aquela oportunidade. Já tinha vivido o suficiente para entender que não se deve esperar nada do acaso, somos donos do nosso próprio destino.
Tinha que ter coragem para falar o que estava sentindo, mas como ter coragem se o medo de não voltar a vê-la era grande.  Afinal, só é preciso ter coragem quando o medo aparece. Não teve forças para falar deste temido sentimento que ainda existia dentro dele. O tempo passava e a saudade era cada vez mais forte. Fazia uns quarenta anos que ela tinha partido; que deixou de ama-lo e se entregou a outro. As lágrimas continuaram a cair e a dor apertava no peito como se fosse explodir. Durante muito tempo sentiu aquela sensação e vivia aquele amor pelos dois, até que mesmo sem querer, só abrandando quando sua razão fui desistindo dela. O tempo se encarregou de levar a mágoa e o desespero, mas sentia acima de tudo, um vazio que a sua falta fazia. Tinha como eterno aquela perda que afogava o seu coração em uma esperança sem sentido. Este encontro de hoje, teve gosto de ressureição.
Pra semana, prometo talvez nos vejamos
Quem sabe ?
Quanto tempo... pois é... (pois é... quanto tempo...)
Tanta coisa que eu tinha a dizer
Mas eu sumi na poeira das ruas
Eu também tenho algo a dizer
Mas me foge a lembrança
Por favor, telefone, eu preciso
Beber alguma coisa, rapidamente
Pra semana
O sinal ...
Eu espero você
Vai abrir...
Por favor, não esqueça,
Adeus...”
 E pode sentir sua presença ardente lhe deixando forte, mas ao mesmo tempo, trazendo de volta alegrias e dores, que jamais pensou voltar a sentir. A saudade de um amor perdido no tempo é uma dívida que se paga em longas prestações e ele pagou quarenta anos e cujo saldo devedor ainda não tinha chegado ao fim. Desta forma, se despediram assumido compromisso de se encontrarem e não cumpriram, eles jamais voltaram a se verem.

Padre Carlos

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sábado, 14 de maio de 2022

ARTIGO - Como o Brasil que era uma das economias em ascensão, terminou se estagnando e entrando em uma crise sem precedência. (Padre Carlos)

 


Por que o Brasil fracassou?

 


As obrigações de produzir um artigo nos impõe às vezes uma posição árdua, difícil de cumprir. Pior ainda é quando elas se chocam com nossas posições política e envolvem desejos e paixões. Aí sim é preciso ter força de vontade, que, reconheçamos, nem sempre possuirmos. Porque, afinal, o articulista não é de ferro! Podemos dizer que desde o golpe parlamentar disfarçado de impeachment, até a chegada da ultradireita ao poder, não faltaram belíssimos exemplos destas situações em que somos obrigados a lutar entre os impulsos de ceder ao apelo do sentimento e o chamado à razão. Aliás, é desse tipo de embate que diferenciam aos verdadeiros profissionais do militante ou da pena de aluguel.

Pensando no diálogo entre as ciências para conhecer melhor determinadas questões sociais, determinados fenômenos sociais que se apresentaram muito complexo para um leigo, fui buscar ajuda nas Ciências Econômicas, Política e na Filosofia. Só assim, passei a entender porque o Brasil que se apresentava como uma das economias que estavam em ascensão, terminou se estagnando e entrando em uma crise sem precedência.

As instituições políticas são à base de toda a sociedade que busca na democracia e na livre iniciativa, os valores de justiça e desenvolvimento. Quando falamos de instituição social, estamos falando de um conjunto de regras, normas e valores, éticos jurídicos e político que organizam determinados aspecto da sociedade.

Para fincarem suas bases como a sétima economia do mundo na primeira década deste século, o Brasil teve que construir uma centralização política no início da década de noventa do século passado, através do governo de Fernando Henrique, quando falo centralização política, não se refere centralização do poder político, mas estou me referindo a uma mínima ordem para gerar uma estabilidade, política, econômica, jurídica e social.

                A falta de estabilidade que o impeachment da presidente Dilma sofreu, bem como as sucessivas tentativas frustradas de golpe por este governo ou as manobras de um parlamentarismo sem cultura e tradição, tem provocado não só no mercado, mas em todo o mundo uma falta de confiança no governo brasileiro e nas suas elites.  Porém, não houve maior estrago em se tratando de falta de estabilidade o que o judiciário fez nestes últimos tempos. As Cortes Supremas decidiam uma coisa e no outro momento decidem de forma contrária. As decisões monocráticas sem base de consenso levaram este país a viver um dos períodos e mais triste contexto de sua história. São estas decisões que geraram uma sensação para o mundo, que não se deve levar a séria suas instituições e o estado como um todo.

         A estabilidade social, também foi abalada e diante do desemprego, da fome e da falta de perspectiva, podemos constatar que a crise e a estagnação da economia têm levado as classes sócias mais baixas desta pirâmide a engrossarem as estatísticas do aumento de pessoas que se encontram a baixa da linha da pobreza. Nenhum país consegue se desenvolver quando sua sociedade se encontra o caus. Nós temos que ter o mínimo de estabilidade social, para que o país possa seguir com sua agenda econômica e assim, possa prosperar economicamente.

         O que gerou ao Brasil a capacidade de sonhar em dar um salto para o futuro, foram à criação de instituições políticas e econômicas inclusivas, os brasileiros eram levados em conta nos estudos e orçamentos das políticas públicas. Uma política estável e um estado democrático. Uma maior participação da sociedade nas decisões do estado. Assim, geramos segurança nestas três décadas e criamos uma estabilidade que proporcionou uma democracia com desenvolvimento.

Não podemos negar que herdamos do iluminismo uma visão especifica que os ramos do conhecimento deveria ter um objeto do estudo, mas diante das abordagens recentes de alguns economistas como: Daron Acemoglu e James Robinson, passei a entender que é complexa e dinâmica a nossa sociedade e que a economia, a política bem como a filosofia, ainda tem muito a contribuir e esclarecer sobre os nossos políticos e as instituições deste país.

Desta forma, vivemos uma realidade que foi gestada pelo estado burguês e apesar deste sentir o peso da besta e entender que suas ações tiveram consequências serias, podemos constatar um arrependimento tardio dos membros destas instituições e da direita liberal, criando assim, uma mudança de mentalidade em relação aos últimos acontecimentos e a certeza que só na democracia encontraremos a estabilidade e o desenvolvimento que tanto precisamos.


segunda-feira, 9 de maio de 2022

ARTIGO - Separação de estado e igreja (Padre Carlos)

 


 Precisamos entender o espírito que gestou a nossa República.

 


Outro dia fiz um comentário sobre a importância que o positivismo teve na concepção do nosso pensamento republicano e como aqueles poucos pensadores terminaram influenciando boa parte daquela elite política e intelectual brasileira do final do séc. 19. Ao informar que minha monografia de conclusão do curso de filosofia, tinha como base este assunto, fui abordado por um amigo que pediu emprestado aquele material acadêmico. Grande foi a minha surpresa, quando constatei que não tinha mais nenhuma cópia daquele trabalho. Assim, vou expressar aqui, o que entendo daquele período que gestou a nossa República.

Quando a gente se propõe a falar de determinada civilização ou de um período da nossa história, precisamos entender o espírito desta época, o contexto político, social, econômico e intelectual que se viveu neste determinado momento da história. Desta forma, podemos entender que o rápido progresso no campo das ciências, como, com seus grandes resultados em diversos seguimentos da sociedade, terminou sendo um golpe muito forte não só na filosofia, mas também na teologia, já que estes pensamentos formavam a base das certezas da nossa civilização desde o final do Império Romano. Esta ruptura fecha um circulo de quase dois milénio e cria assim as bases de novos paradigmas.

Quando as ciências naturais se tornou a base do pensamento iluminista, criou-se um conceito que a era da religião e da filosofia tinha dado lugar para o século das luzes. Podemos dizer que as luzes estão relacionadas à forma como a ciência e as técnicas passaram a se relacionar e desta união nasceu à tecnologia. Foi através da junção destes dois elementos que a humanidade passou a viverem grandes avanços em todas as áreas. Todos estes avanços de progresso e desenvolvimento proporcionaram o surgimento do positivismo como uma escola filosófica que tinha como base a negação de todo pensamento religioso. Tudo que estava além da matéria, isto é, aquelas divindades e os dois mil anos de história da Igreja não tinham nenhum valor. Para os positivistas, todos estes entes metafísicos eram ilusão e a crença a metafísica era perda de tempo. Assim, para estes pensadores positivistas, a religião era algo primitivo e não cabia na nova ordem das coisas.

É neste contexto intelectual que se dar a separação da Igreja com o Estado. Não podemos esquecer que no Brasil colônia e durante o Império, a Igreja foi a grande parceira destes governos.

Com a ascensão do Império do Brasil, embora o catolicismo mantivesse seu status de credo oficial, subsidiado pelo Estado, outras religiões puderam florescer, pois a Constituição de 1824 garantiu a liberdade religiosa. Assim, o catolicismo vinha sendo subvencionado pelo Estado e gozava de enormes privilégios. A queda do Império, em 1889, deu lugar a um regime republicano, e uma Constituição foi promulgada em 1891, que cortou os laços entre a Igreja e o Estado; Ideólogos republicanos como Benjamin Constant da ala positivista e Ruy Barbosa da ala política e pragmática foram influenciados pela laicidade na França e nos Estados Unidos. A separação constitucional de 1891 entre Igreja e Estado foi mantida desde então. A atual Constituição do Brasil, em vigor desde 1988, garante o direito à liberdade religiosa, proíbe o estabelecimento de igrejas estaduais e qualquer relação de "dependência ou aliança" de dirigentes com lideranças religiosas, exceto para "colaboração no interesse público, definida por lei".

Desenvolvo naquela monografia que a liberdade religiosa foi usada como pano de fundo para afastar a Igreja do Estado, além destas questões ideológicas, existia uma influencia e uma relação profunda desta instituição religiosa com a monarquia, seria uma ameaça constante ao novo regime.

Assim, as duas correntes republicana, uma ideológica outra pragmática, afastaram de direito a Igreja do Estado, mas não conseguiram de fato retira-la do centro do poder.

 


domingo, 8 de maio de 2022

ARTIGO - Se Deus existe, porque sofrem as crianças, porque sofrem os pobres, os indefesos? (Padre Carlos)

 

A força da Ressurreição.

 


Quando presenciamos o sofrimento de crianças e inocentes, sempre vem em nossas mentes aquela pergunta: se Deus existe, porque sofrem as crianças, porque sofrem os pobres, os indefesos? Nós até compreendemos que sofra um assassino, um ladrão, um pedófilo. O que não entendemos é o sentido do sofrimento dos inocentes!

São nestes momentos que nos perguntamos: onde está Deus agora? Se Deus existe, porque não parou com a pandemia? Se Deus é todo-poderoso, porque não interveio na nossa história e nos livrou deste sofrimento? Porque estão tantos inocentes morreram?

O panorama do nosso sistema de saúde é assustador é visível no sofrimento de todas as pessoas que dependem do SUS e não tem dinheiro para cuidar da sua enfermidade. São milhares de idosos que, por si só, já são indefesos, ninguém é poupado! E muitos são mortos nas filas ou nos corredores destes hospitais. É uma desgraça precisar destes atendimentos

Onde está Deus agora? Onde está o seu poder? Onde a sua misericórdia? Porque nos deixa Deus sozinhos à mercê destas políticas de saúde? Por quê? Mesmo nos crentes, estas perguntas não deixam de fazer eco. 

Nestes dias voltei a assistir, como faço sempre, o filme de Mel Gibson sobre A Paixão de Cristo. Logo no início há um diálogo tirado do livro de Catherine Emmerich, uma mística alemã do séc. XVIII. Jesus reza o salmo 31, com suor de sangue a escorrer pela cara: “Ouve-me, ó Pai. Ergue-te. Defende-me. Me salva das armadilhas que me prepararam”. Neste sofrimento, aparece uma figura sedutoramente medonha que lhe faz duas perguntas: “Quem é o teu pai? Quem és tu?”.

Estas perguntas devem ser respondidas com maior razão, porque toda a Paixão está construída para responder a uma pergunta: “Se é filho de Deus, desça agora da cruz e acreditaremos nele”. No fundo, está por detrás a mesma pergunta: “Quem é o teu Pai? Salvou tantos e não pode salvar a si mesmo?”.

Na realidade, a primeira coisa que queremos quando estamos numa situação de sofrimento é sair do sofrimento, acabar com o sofrimento, sair da cruz. Se Deus acabasse magicamente com o sofrimento de Jesus Cristo, todos saberiam quem é o Pai de Jesus! Se Deus acabasse magicamente com nosso sofrimento, hoje, todos viriam a acreditar neste Deus todo-poderoso.

O problema é que tudo isto não passa de uma alienação. Sair do sofrimento não passa de uma alienação. Porque Deus poderia intervir hoje no nosso sofrimento e acabar com ele, mas logo virão outros daqui a uns meses ou daqui a uns anos, e a nossa fé, alicerçada num ato mágico, desaparece. 

Deus não poderia ter livrado o filho – Jesus Cristo – do sofrimento da cruz como livrou Abraão de ver o seu filho morto? Claro que sim! 

O problema é sempre o mesmo. Onde está Deus? Quando a vida nos corre bem, é fácil podermos vê-lo. Mas quando aparecem os sofrimentos, entramos numa espiral de perguntas!

Para compreendermos a profundidade do cristianismo, precisamos entrar no mistério da Paixão de Cristo e nas condições para o discipulado: “Se alguém quer ser meu discípulo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz em cada dia e siga-me”. 

Tomar a sua cruz em cada dia é aceitar a sua realidade. Tomar a cruz é aceitar os acontecimentos da nossa vida. Fugir da cruz, fugir do sofrimento é procurar uma alienação que nem Deus nem a religião séria poderão oferecer-nos. 

Deus poderia ter livrado Jesus do sofrimento? Sim. Mas tinha para ele, como tem para nós, um bem maior, a força potente da Ressurreição. Porque este é o poder da cruz. Que, se olhares nesta Páscoa para ela, poderá ter vida eterna e saberás onde está Deus neste sofrimento todo! Ele está aí!

sábado, 30 de abril de 2022

ARTIGO - Meus amigos e Cireneus (Padre Carlos)

 


Meus amigos e Cireneus

 


 

Quando vivenciamos a nossa Via Crucis, vamos descobrindo os cireneus que o bom Deus vai colocando no nosso caminho. Meus amigos são os cireneus que tem me ajudado nesta peregrinação. Quando chorava eles me fizeram sorrir, quando precisei de cuidados, eles cuidaram de mim. Eles entenderam os meus erros e não julgaram. Os amigos são aquelas fortalezas, aquelas referencia que temos que estará lá quando ninguém mais está.

Hoje gostaria de prestar uma homenagem aos amigos e irmãos que tem me ajudado a colar os meus caquinhos que esta vida tem quebrados em pedaços. Estes anjos ao entrar na minha vida, diminuíram a dor e o caos em que me encontrava colocaram-me de pé e não deixou que nenhum mal se abatesse sobre mim. É o inverso do que disse Shakespeare, talvez a explicação de Vinícius seja a mais próxima do que eu penso: Não somos nós que escolhemos nossos amigos, apenas reconhecemos quando se revelam. Os amigos se revelam no partir do pão no caminho de Emaus.

Estes amigos que minha história de vida me deu a honra de conhecer e conviver são para mim como aquela cerveja do final da tarde, aquela musica que toca o coração. Na verdade meus amigos tem gosto de Ressurreição.

São nos momentos difíceis da vida que são identificados os verdadeiros amigos. Sempre atentos, eles tomam os problemas como se fossem próprios, não abandonando seu companheiro e ajudando a carregar a sua cruz. 

Um amigo de verdade consegue entender a nossa tristeza através do nosso olhar, enquanto o conhecido só consegue identificar apenas o nosso sorriso. Ele não tem capacidade de enxergar o nosso interior. Por isto, os amigos de verdade não esperam que os procuremos, simplesmente se fazem presentes.

Nesta tarde, gostaria de pedir, Senhor: abençoa os meus amigos, protege-os, ilumina-os com o teu poder. Que, seja fortalecidos, ainda mais, esse precioso dom da amizade. Que eu saiba compreender, amar e perdoar sempre, num testemunho de harmonia. Livra os nossos amigos de todo mal.

Amém!


quinta-feira, 28 de abril de 2022

ARTIGO - A Revolução da Compaixão. (Padre Carlos)

 


A Revolução da Compaixão

 


O tema Compaixão tem ganhado terreno entre os escritores espiritualistas, como instrumento de conquista e estabelecimento permanente da paz mundial. O teólogo Leonardo Boff no livro “Princípio de Compaixão e Cuidado”, aborda o tema e afirma que três razões fazem da compaixão um tema de relevância atual. São elas: “os milhões de pessoas vitimadas pela cruel competição do mundo globalizado, a crescente pobreza e exclusão social a nível mundial e a sistemática agressão ao sistema Terra, que põe em risco o futuro da biosfera”. Eu acrescentaria outro ponto: Os enfermos e abandonados para morrer sem uma palavra ou assistência. Porque para mim, a compaixão também exige aproximar-se do sofrimento: “Aproximar-se e tocar a realidade”. Não olhá-la de longe. ‘Teve compaixão’ 

Minha intenção aqui não é entrar pela via do sentimentalismo, pois se não recorremos às etimologias que tem nas diferentes línguas, a compaixão não seria apenas a recusa da indiferença. Ela tem como centro, aliviar o sofrimento do próximo, destronando o nosso eu do centro do mundo, para aí colocar o outro. Ensina-nos a reconhecer o carácter sagrado de cada ser humano e a tratar cada pessoa, sem diferença, com respeito, equidade e absoluta justiça.

Como disse o Papa Francisco: a compaixão não é o mesmo que a pena, “a compaixão envolve você com a pessoa que sofre, remove as vísceras e te leva a aproximar-se dessa pessoa”. “A compaixão é um sentimento envolvente, é um sentimento do coração, das vísceras, que envolve tudo. A compaixão não é o mesmo que a pena, não é a mesma coisa que dizer: ‘que dó, pobre gente! ’. Não, não é a mesma coisa”. Pelo contrário, “a compaixão envolve. É padecer com. Isso é a compaixão”.

 

 

Pode-se dizer que a Revolução da Compaixão é uma utopia, mas a utopia pode tornar-se realidade. Os jovens do Século XXI estão convocados a isto e têm todos os elementos para fomentar esta Revolução, serem dela protagonistas e alcançarem resultados diferentes das revoluções do passado, que mesmo tendo mudado regimes políticos, não mudaram o espírito humano. A Revolução da Compaixão é, sem dúvida, a Revolução das Revoluções.

 

 


domingo, 10 de abril de 2022

ARTIGO - O pastor trabiqueiro e Moreira da Silva (Padre Carlos)

 


1 kg de ouro para educação

 


Quando recebi de um amigo de Salvador de forma carinhosa e cômica um vídeo de Moreira da Silva fazendo alusão ao pastor trambiqueiro do samba e o mais novo escândalo do governo Bolsonaro no Ministério da Educação, me chamou a atenção para este problema que não só teológico, mas que tem muito haver com uma antropologia e a nossa cultura. Naquela hora, imaginei um mundo em que a teologia não fosse utilizada para ganhar dinheiro e poder. Um cenário em que os pastores, padres e sacerdotes — que se dizem enviados por Deus — não utilizassem a boa-fé dos cristãos e tementes a Deus para enriquecer. Infelizmente este é um universo paralelo e fictício, muito diferente daquele que encontramos na vida real.

Assim, ao ler a matéria do jornal o Estado de S. Paulo, revelando suposto tráfico de influência para liberação de verbas do Ministério da Educação para as prefeituras, fiquei triste ao constatar que tinha como protagonista, um dos pastores que negociam transferências de recursos federais para prefeituras. Segunda a matéria, o pastor pediu ao prefeito de Luis Domingues (MA), Giberto Braga (PSDB), 1 kg de ouro para conseguir liberar verbas de obras de educação para a cidade.

Estes operadores da fé são colocados em posições estratégicas no governo e servem acima e tudo os interesses das bancadas evangélicas que transformam a fé das suas ovelhas em bases eleitorais. Ou seja, há um ciclo vicioso que traz mútuos ganhos para as empresas da fé e para os governos, sejam de esquerda ou de direita.

De facto, as empresas da fé precisam tanto de fiéis como os governos autoritários ou populares precisam de seguidores que não questionem nem se interessa por política. Demonstrando, assim, que a fé dos brasileiros tem servido, sobretudo, para encontrar um caminho para a salvação eterna individual, sem provocar qualquer ato de transformação política, remetendo muitos brasileiros para a condição de súdito de uma fé cega, ou de não sujeitos.


ARTIGO - A geração que fez a diferença! (Padre Carlos)

A geração que fez a diferença!      Decorridos tantos anos do fim da ditadura, observa-se que a geração da utopia está partindo e a nova...