terça-feira, 6 de setembro de 2022

ARTIGO - Não é pela política. É pelo futuro dos nossos filhos. (Padre Carlos)

 

Como colocar limites ao poder do estado

 


Apesar de alguns leitores não gostarem de filosofia e ter um péssimo costume de avaliar o artigo pelo título, não posso generalizar, nem queixar da receptividade dos meus textos. Hoje, quero falar de política, mas para isto, tenho que embasar minhas teorias e ponto de vista. Assim, foram estes motivos que me levaram a escrever esse artigo e fazer uma reflexão sobre o poder hoje no Brasil, este assunto é de fundamental importância para entendermos a correlações de forças e qual o nosso papel diante dos acontecimentos recentes. Falar e fazer política não são um assunto novo, seis séculos antes de Cristo os Gregos já estavam se perguntando sobre o poder. Sócrates depois Aristóteles, na idade moderna Maquiavel, Hobbes, Hegel, Marx, Max Weber, ou seja, o poder é uma interrogação no ser humano. Este assunto é tão importante, que os romanos já buscavam entender quem verdadeiramente mandavam no poder? É a partir da minha experiência como militante que eu quero refletir sobre este assunto, por isso este artigo é muito mais amplo do que a conjuntura atual que nós estamos vivendo no Brasil. Ele trata dos limites da democracia em tempos de Neofascismo e também com perspectivas de esperança, para que possamos sair disso.

 

A meu ver o caminho viável agora além da frente progressista que representa a chapa Lula e Alckmin é fortalecer a sociedade civil através dos movimentos populares, porque todo poder tende a abusar de si mesmo e ele só reconhece os seus limites se encontra pela frente outro poder. Foi o que aconteceu com o Bolsonarismo e o STF (Supremo Tribunal Federal). A divisão tripartite da república, executivo, legislativo, e judiciário, pretendia fazer isso. Para que haja um golpe, é necessária a participação dos três como aconteceu no golpe que levou o afastamento de Dilma Rousseff da Presidência da República, foi necessária a cumplicidade destes agentes. Este foi sem dúvida o capítulo mais vergonhoso da história política brasileira. E o que dizer da prisão de Lula para tira-lo da corrida presidencial. Eles se comportaram durante este período como se estivessem pouco se lixando para a sociedade civil. Então a única maneira da gente colocar limites ao poder do estado, ao poder político, é através do poder da sociedade civil e dos movimentos populares. Aí sim, quanto maior for esse empoderamento mais densidade e participação terá a nossa democracia.

Não é por acaso, que ao tomar posse como presidente da Corte Eleitoral, o ministro Alexandre de Moraes falou para a nação: “A liberdade de expressão não permite a propagação de discursos de ódios, ideias contrárias à ordem constitucional e ao Estado de direito. A intervenção da Justiça Eleitoral será mínima, porém será célere, firme e implacável, no sentido de coibir práticas abusivas ou divulgações de notícias falsas ou fraudulentas. Principalmente daquelas escondidas no covarde anonimato das redes sociais, as famosas fake news.”.

Os fascistas tem medo quando falamos a linguagem e fazemos política vinculada nos princípios democráticos! Porque a cabeça pensa onde os pés pisam e quando a gente não pisa no mundo destes princípios, fica difícil.

Na verdade, o que está em jogo é justamente o que o ser humano mais busca: o poder. E quando eu falo não é só do poder do político, é o poder da diretora de escola, do gerente de banco, do agente de trânsito etc. Ou seja, a pessoa se despersonaliza e passa a considerar a função que ocupa mais importante do que a sua própria individualidade. Por isto, a mobilização da sociedade é fundamental para voltar a botar o país nos trilhos. Este povo que assaltou o poder olha o governo como se fosse uma grande vaca com uma teta pra cada boca. A gente tem que pensar o seguinte: os políticos são nossos empregados, nós pagamos os salários deles, nós temos o direito de cobrar e exigir e eles tem o dever de prestar contas.

 

 Por isso que eu acho que ganhar no primeiro turno é importante para o acumulo de forças. Temos que eleger deputados e governadores comprometidos com as mudanças. Buscar entre o elenco de candidatos aqueles que comprovadamente já estão vinculados a movimentos populares, que tenham uma experiência de apoio às grandes causas de mudança social do Brasil. Fora disso, teremos de novo decepções, sofrimentos, tristezas, por ver uma classe política onde muitos estão envolvidos com o golpe e o projeto de tirar todas as conquistas sociais, e outros sendo cooptada pelo sistema, sem nenhum amor à causa pública, ao bem comum, nenhuma dedicação a um projeto de nação. Eles estão sempre pensando num projeto de eleição e não num projeto de nação.

 

Padre Carlos

 


segunda-feira, 5 de setembro de 2022

ARTIGO - Uma Igreja das duas irmãs ( Padre Carlos )




Uma Igreja das duas irmãs

            Ontem nas minhas orações  diaria, parei para fazer nao só  uma exegese das leitura diárias,  mas percebi que a profundidade doas textos merecia fazer também uma hermenêutica da nossa realidade.  Atualmente através de lutas feministas a mulher vem superando as desigualdades e alcançando vários direitos nos diversos setores da sociedade, porém, quando se trata das esferas religiosas ainda há uma distância a ser superada, pois alguns segmentos religiosos mantém sua hierarquia estática permanecendo com práticas que reforçam atitudes que desqualifica a mulher para assumirem cargos superiores no interior de algumas tradições religiosas e principalmente no caso do cristianismo.
  
          Diante de tal constatação, buscamos através do Evangelho segundo São Lucas, uma abordagem teológica sobre o que o evangelista gostaria de transmitis a respeito de Marta e Maria.
            O que podemos extrair dos textos Sagado sobres as passagem de Maria e Marta? Que Marta representa à ação e Maria a contemplação. Mestre Eckardt, paradoxalmente, chamou a atenção para o fato de a verdadeira mística ser, afinal, Marta, no contexto do que se chamou "a mística de olhos abertos", dirigida à ação a favor dos outros. A contemplação sem ação, sem compaixão, pode não passar de pura ilusão. De qualquer modo, é essencial sublinhar o que raramente ou mesmo nunca se diz: Jesus está afirmando que as mulheres também podem e devem ser discípulas. As tradições religiosas têm um papel fundamental na perpetuação de pensamentos e práticas que inferioriza a figura feminina na sociedade. Atualmente nas Igrejas Católicas é permitida em alguns momentos a presença de mulheres no altar atuando como ministras da eucaristia, podem fazer parte das variadas pastorais e trabalhar nas ações missionárias. Mas, quando se trata da questão do sacerdócio, este e os demais cargos de destaque que compõem a hierarquia religiosa católica estão destinados aos homens. Isto porque entendem que o sacerdócio é uma prática exclusiva ao sexo masculino e para tal justificativa se respaldam em algumas passagens das Escrituras Sagradas: Enquanto o Novo Testamento sinaliza para uma valorização. Assim, não é por acaso que Maria está precisamente na posição do discípulo: aos pés de Jesus, escutando a sua palavra. Contradizendo o que estava determinado, Jesus teve discípulos e discípulas; as mulheres não podem estar confinadas ao serviço da casa.
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             Numa leitura abrangente e essencial, o que o texto defende é uma Igreja das duas irmãs e a vida de todos, de cada um e de cada uma, tem de ser a sínteses das duas irmãs.
    
        Ninguém deve ficar absorvido, cansado e morto pelo ativismo de Marta. Até Deus, no princípio, segundo o livro do Génesis, determinou um dia de descanso semanal, o sábado, para que o Homem se lembrasse de que não é uma besta de carga. Todos precisaram integrar na vida a atitude de Maria. Descansar, repousar, festejar, tirar férias (etimologicamente, férias são dias festivos). Ah! E tempo para a beleza, e para a família, tempo para tomar uma cachacinha com os amigos, tempo para o silêncio, para o encontro consigo. Nestes tempos de dispersão, de corrida louca (para onde?), perigo maior é o do esquecimento de si e da alienação. Nestes tempos de falta de intimidade onde o outro é um estranho, tempos da perdição, precisamos do outro lado: cultivar a intimidade, dialogar na intimidade, lá no mais íntimo, com a fonte de ser e do ser. Ah! E ouvir o silêncio, lá onde se acende as palavras vivas e luminosas e o sentido do existir.

Padre Carlos
            
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sábado, 3 de setembro de 2022

ARTIGO - “Por que a Igreja tem medo de ter coragem?” (Padre Carlos)

 



Cardeal Martini e a reforma do Papa Francisco 

 


 

A reforma de Francisco com o levantamento do segredo pontifício tem o mérito de afirmar os valores da transparência e da abertura.

Tive como professor de História da Igreja, um dos maiores mestres nesta área e comprovadamente uma pessoa dedicada a Igreja. Frater Henrique Cristiano José Matos, ou simplesmente frater Henrique, como é conhecido pela comunidade acadêmica. Durante minha permanência na capital mineira, aprendi muito com aqueles Doutores e Mestres, responsável pela nossa formação, mas este irmãozinho teve uma influencia marcante na minha vida. Devido a minha paixão pela história, este mestre pôs o selo da História da Igreja no meu peito e segurou minhas mãos para que eu pudesse alçar grandes voos. É com esta certeza que continuo segurando sua mão, que gostaria de partilhar estes questionamentos.

Durante os cincos séculos que separam a gente da Contra-Reforma, constatamos duas correntes de pensamentos  disputando a seguinte  ideia:   a Contra-Reforma Católica é fruto de uma reação de defesa à Reforma, que conduziria ao aparecimento do protestantismo e de outras correntes dissidentes, ou se ela resulta de uma renovação que já fazia o seu caminho no interior da Igreja Romana.

O mais provável é que ambas as premissas estejam, corretas, como é certo que há muito existem vozes no interior da Igreja Católica que sonha com um Concílio Vaticano III, porque estão convencidos de que a Igreja Católica precisa de profundas reformas. Faz dez anos que perdemos um companheiro de Jesus e um dos grandes defensores desta tese. Hoje estava pensando que uma das grandes motivações e inspirações de Bergoglio, tenha sido seu irmão de congregação, o cardeal Carlo Maria Martini. Pensei muito na luta que este santo travou nestas últimas cinco décadas e fiquei triste ao constatar que ele morreu sem ter visto esse novo aggiornamento.

         O sonho de Martini está sendo realizado por meio do Pontificado do seu irmão e não podemos esquecer que é também o sonho de uma boa parte da Igreja do antigo mundo. “Existe a necessidade de um debate colegial entre todos os bispos no caminho das Igrejas”, dissera Martini, no Sínodo dos bispos europeus em 1999, elencando alguns desses pontos que gostaríamos que avançasse na pauta das Reformas: a participação democrática na vida da Igreja, os leigos, o papel das mulheres na sociedade e na Igreja, "a sexualidade", a "disciplina do matrimônio", a "relação entre democracia e valores e entre leis civis e lei moral”.

A Contra-Reforma, perdeu o trem da história e tudo que Martini assistiu durante boa parte da sua vida, está vindo a baixo:  à progressiva demolição de todas aquelas instâncias de renovação avançadas pelo Concílio Vaticano II, há 50 anos, gradual e inexoravelmente apagadas ou redimensionadas pelo Papa Wojtyla e pelo Papa Ratzinger, principais defensores da chamada "hermenêutica da continuidade", ou seja, de uma interpretação do Concílio no sinal da absoluta continuidade com a tradição e o magistério da Igreja.

 Uma das últimas perguntas feitas pelo cardeal Martini: por que a Igreja tem medo de ter coragem? As pamavras do Companheiro de Jesus ressoou no ouvido de Francisco e desde o início de seu pontificado, tem tomado posições firmes na  defesa dos direitos dos pobres e dos marginalizados, particularmente dos presos e dos imigrantes, lembrando muito o Cardeal Martini e assumindo posições que gostaríamos de ver e vivenciar antes que os nossos olhos se fechem. 

 

Padre Carlos

 

 

  

 

 

 

 


quinta-feira, 1 de setembro de 2022

ARTIGO - O ódio, como estratégia política! (Padre Carlos)

 

A liberdade de expressão não pode ser usada para fulminar a democracia



Gostaria de abordar neste artigo o comportamento entre os candidatos à presidente e falar das pesquisas e do que ainda espero para este 1º turno. Vejo de forma clara que, não estamos cometendo os mesmos erros de quatro anos atrás em relação à premissa da tolerância. Vamos ao fato inicial de onde parte toda questão. Nas democracias, eleição é condição necessária, porém insuficiente. No Brasil, a eleição 2022 pode aprofundar um projeto de Estado e de sociedade desigual, onde liberdade caminha para ser um bem de poucos, e fascismo, neoliberalismo, neopentecostalismo e conservadorismos reacionários se unem para espoliar e manter refém aquele que se acha presidente. Não esquecendo que o conglomerado golpista (tendo PSDB, MDB e a velha mídia) se utiliza de uma fracassada terceta via para ajudar a utradireita chegar ao segundo turno.

A mãe de todos os paradoxos, que nortearam a ação política de muito brasileiros, é a mesma que o bolsonarismo utilizou, isto é, os procedimentos democráticos (liberdade de expressão) para fulminar a democracia e implantar um regime ditatorial. Depois de quatro anos, as instituições e a mídia corporativa entenderam que parte da população abancou no governo um tirano. Porem, o mais importante, foi o Estado entender que estava sendo minado com a disseminação da intolerância e do ódio, como estratégia política, minando a vida democrática do país sem nenhuma restrição do judiciário. O filósofo Karl Popper dizia que: "Tolerância ilimitada culminará no desaparecimento da tolerância, pois se a tolerância ilimitada for estendida aos intolerantes, os tolerantes serão destruídos”.

Assim, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, criou nesta quinta-feira, 1°, um “núcleo de inteligência para instrumentalizar o enfrentamento à violência política no processo eleitoral de 2022”. Ações como esta que faltaram em 2018, dificultará a vida do bolsonarismo. Temos que ter tolerância zero aos intolerantes que querem o fim da democracia.

Foi usando procedimentos democráticos que o Partido Nazista subiu ao poder. Foi fazendo o mesmo que fascistas brasileiros chegaram governar. Quem não se lembra dos “camisas verde-amarela” usando a liberdade de expressão para pedir o fim da democracia? Nos EUA os “Alt-Right” (movimento ultraconservador, supremacista, nacionalista, que reúnem neonazistas, neo-confederados e a Ku Klux Klan) usam direitos consagrados na Constituição para fazerem sua pregação antidemocrática e pró-fascista. Mas, não é isso mesmo que aconteceu no Brasil?

Os tolerantes se uniram em torno de uma candidatura comprometida com a tolerância, pois nosso futuro, e o de nossas crianças, estão em questão, mesmo que o passado seja tão comprometido pelo autoritarismo. Se os intolerantes vencerem vão, não duvide perseguir os tolerantes, pois a primeira coisa que farão será acabar com a liberdade de expressão. Não se trata do projeto desses ou daquele político, ou do ódio que você pensa que sente a um partido e/ou projeto político. A NOSSA LUTA AGORA É CONTRA O BOLSONARISMO e tudo que ele representa e fez nestes últimos anos! Precisamos tratar da união republicana, democrática, humanista, progressista, contra o mal maior. Você consegue imaginar como estará o Brasil daqui a dez anos depois dois ou três governos do Inominável? Como conheço bem nossa história republicana, mais especificamente o período da ditadura militar imagina que estaremos mal, muito mal.

Para votar temos que ter claro que o crescimento do bolsonarismo se dá pelo enfraquecimento, e falta de reação, dos outros candidatos da direita. Claro, a ofensiva dos setores neopentecostalistas, carreou muitos votos para a alegoria fascista nos últimos anos. Mas, não esqueçam que o “mito” não é favorito para ganhar. Lula é o primeiro colocado nas pesquisas e aparece nelas ganhando no 1º turno. 

 

Nesta eleição, Bolsonaro não pode se esconder, ele teve que aparecer para seus próprios eleitores. Estou muito ansioso para os próximos debates entre Lula, com seu conhecimento e sua sensibilidade, e o Bozo, com tudo aquilo que sabemos que ele não tem. Infelizmente ele termina ganhando votos por causa, também, de setores golpistas que formaram uma terceira via para não serem confundidos ao fascismo. Veja o caso de ACM Neto na Bahia.  O ex-prefeito de Salvador junto com sua chapa majoritária mandaram às favas os escrúpulos de consciência e abraçaram a postulação da extrema direita. No futuro serão chamados pela sociedade para explicarem se tanto faz a democracia ou o fascismo.

No entanto, é assim mesmo. À direita, dita liberal, que não quer ser chamada de fascista, não pestaneja em criar do faz de conta ou tanto faz, as suas fantasias democráticas para proteger seus interesses. Como diria Karl Marx, “perde uma mão, mas não perde a bolsa”. Sensato para Ciro Gomes e o PDT, seria abrir mão do tal discurso dos “dois extremos”. A balela de que Lula e Bolsonaro são iguais por serem extremos. Discurso confortável para quem não quer assumir sua condição política e ideológica. Para esse dilema, dou uma sugestão: faça sua escolha e tente viver bem com ela em Paris, não se esquecendo de assumi-la quando voltar, para o bem e para o mal. 

Temos duas opções. Uma, é a defesa da democracia, da liberdade e do desenvolvimento social. Outra nos fará mais uma vez  andar para trás com uma venda nos olhos. Escolha a sua, mas não seja egoísta, não pense apenas em si mesmo, pense em seus filhos e nas pessoas que você ama. Temos, neste 1º turno, a oportunidade de termina de vez com esta guerra contra o fascismo. Essa eleição é a mais importante das que tivemos até hoje, pois significa a volta ao caminho da construção de uma sociedade mais justa, menos desigual. Ganhar esta eleição no 1º turno significa acumular forças para as próximas batalhas, até porque ainda teremos que lutar muito para garantir a posse de Lula e o resultado das urnas seja respeitado.

ARTIGO - As Instituições e a nossa Democracia (Padre Carlos)



As Instituições e a nossa Democracia

 




É difícil manter a coerência de raciocínio e de palavra, quando se vive, hoje, numa sociedade que vende a “alma ao diabo” e renega tudo aquilo em que sempre acreditou, por “um prato de comida”, ou seja, desde que o poder político instalado lhe dê qualquer benefício, fala e acredita logo naquilo que lhe dizem que é preciso ouvir... Foi pensando nisto que os gurus do bolsonarismo pensaram quando criaram o abono até dezembro de seiscentos reais.

Diante disso, gostaria de comentar com os senhores esta questão da dita “democracia”, instalada em 1985, no Brasil.

Existem três instituições que não são democráticas por natureza, as Forças Armadas, a Igreja e os partido, seja de direita ou de esquerda, neles existe uma estrutura superior que impõe a todos os seus membros uma subordinação total, em todos os aspetos comportamentais e até mentais, estando todos os seus membros 100% condicionados. Em democracia todos são iguais e por isso se situam num plano horizontal de igualdade.

O absurdo da nossa atual democracia, imperfeita, é que foi conduzida depois de uma transição acordada por um parlamento e uma oposição liberal, que tinha como objetivo o poder. Desta forma, quando descobrimos que nossas instituições, não são tão democratas como pensávamos, descobrimos por que não sabem viver numa democracia e por isso se refugiam nos quartéis onde são reis e senhores e ninguém entra...

Por outro lado é curioso ver que na redemocratização a grande maioria das classes, média alta e alta, era toda fascista e convivia bem com a dita “ditadura” e estava toda instalada. Com o fim do regime e a posse de Sarney, passaram as mesmas pessoas a serem todas democratas, tendo alguns até afrontando generais e seu antigo partido. Em termos sociológicos não é possível tal mudança em 24 horas. Isto consubstancia uma fraude e uma mentira, que traduz bem o cinismo e a hipocrisia de alguns destes atores políticos. De realçar um aspeto curioso e conhecido: é que a maioria dos membros dos Partidos denominados centrão são filhos ou netos daqueles “estadistas”, e, portanto também não são democratas.

Podemos ainda, no plano sociológico, realçar que quando uma criança nasce e cresce com ambos os progenitores, é natural que a criança o seja também ou tenha simpatia pela ultradireita, e acontece que há hoje vários dirigentes políticos que sofreram essa influência, o que explica de forma natural o bolsonarismo. Esta é a grande mentira da nossa pseudodemocracia, visto que a verdadeira ainda aguarda pela sua fundação.

Será uma questão de tempo, mas só quando a sociedade civil acordar para a realidade, e deixar de escolher candidatos que vota contra o povo é que será possível implantar uma democracia, por vontade e ação do povo.

  

quarta-feira, 31 de agosto de 2022

ARTIGO - Menino quem foi teu Mestre? (Padre Carlos)

 

“Não sou capoeirista mas aceitei o desafio”.




 

A capoeira, a roda, o berimbau, os corpos, o ritual. Detalhes de uma tradição que se perpetua no tempo e através das gerações, faz com que a luta e a cultura de uma raça sobreviva. Nestes dias estava lembrando a façanha de Dom Zanoni com um grupo de Capoeira no Terreiro de Jesus, quando me dei conta que a história de um povo é marcada, por exemplo, coragem e sacrifício. Não sei o porquê da imagem de Dom José Maria Pires, ou melhor, Dom Zombi povoou minha cabeça naquele momento.

Passei a entender que O testemunho de Dom Zombi, forneceu uma luz que levou uma levada de novos padres a asumirem um compromisso que, por sua vez, orientava uma nova conduta de viver de uma nova geração de leigos e sacerdotes.  

Assim, quando Dom Zanoni abraçou a Pastoral Afro-Brasileira da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) , ele está abraçando na verdade, o legado de Dom José Maria Pires. Este foi um dos grande bispos proféticos da nossa Igreja. Era negro e sempre defendeu a causa dos afrodescendentes. Esteve nas origens das Comunidades Eclesiais de Base e grande defensor da Teologia da Libertação. Afetuosamente o povo o chamava de Dom Pelé e mais tarde de Dom Zumbi. 

Dom José Maria Pires deixou um testemunho evangélico de compromisso com o povo paraibano, com os mais pobres, com os excluídos da sociedade. Incentivou o protagonismo dos leigos, formando lideranças e delegando responsabilidades. Seu testemunho de simplicidade e opção pelo Pacto das Catacumbas marcaram seu estilo de vida e sua coerência em ser bispo do povo e para o povo. Por tudo isso, Dom José pertenceu a Jesus Cristo e se comportou como um fiel seguidor do Filho de Deus.

Quando refletimos sobre a caminha de Dom Zanoni a frente da  Arquidiocese de Feira de Santana, podemos sentir todo aprendizado que recebeu ao longo da vida, e como esses aprendizados contribuíram para a formação do pastor hoje e da forma como tem agido. Esses aprendizados constituem o que chamo de legado recebido. Muitas vezes, nem entendemos bem por que somos ou agimos da maneira que agimos, o que pode ter como base nossos vieses inconscientes.

Obrigado Deus por nos ter dado Dom Zanoni! Obrigado Dom José pelo irmão, pelo pai, pelo pastor, pelo amigo, pelo orientador, pelo conselheiro que o senhor foi para este povo da Arquidiocese da Paraíba e toda uma geração de pastores. Deus o tenha no Reino do Céu!

 


terça-feira, 30 de agosto de 2022

ARTIGO - Por uma Igreja que ouça os leigos (Padre Carlos)

 

A Igreja do Chile é incendiada por ideias






A Igreja católica tem buscado nos últimos anos à participação dos leigos na vida da Instituição e na política. O problema começa quando eles se organizam, refletem e fazem propostas que fogem ao seu controle. Diante de tal comportamento, a hierarquia começa a olhá-los com desconfiança e procura domesticá-los. Porém, se não conseguir tal êxito, ela passa a ignorá-los e retira toda responsabilidade colocada sob a confiança deste fiel, para não ser confundida com um novo modo de ser Igreja ou um alinhamento político.

No contexto de escândalos, foi criada no Chile a Rede Nacional de Leigas e Leigos. O objetivo deste movimento é construir um espaço de diálogo e de reflexão para ajudar a Igreja chilena a superar a situação com propostas criativas que reacendessem a esperança dos fiéis.

Em dezembro do ano passado, uma delegação desse movimento laical foi recebida pelo Papa Francisco. Na ocasião, os representantes dos Leigos e Leigos, trataram de diversos assuntos ligados a Igreja local, entre outros assuntos, demostraram a preocupação com a lentidão da renovação da Conferência Episcopal Chilena e a falta da participação dos leigos, nomeadamente mulheres, na tomada das decisões.

A delegação da capital, Santiago do Chile, reivindicou ao Papa, que os leigos tenham uma maior participação na nomeação do próximo arcebispo. O atual, como determina a lei da Igreja, já pediu para ser substituído, pois ultrapassaram os 75 anos.

Para dinamizar o processo de reflexão sobre as características do seu futuro pastor, o movimento dos leigos chileno, elaborou um questionário que poderá ser respondido online. Esta iniciativa inspira-se na perspectiva sinodal da Igreja dimanada do Concílio Vaticano II e propiciada pelo Papa. Nesta perspectiva, os leigos "são protagonistas da Igreja e do Mundo de hoje, a quem os pastores são chamados a servir". Esta dignidade foi conferida pelo batismo.

Uma Igreja que quer ser sinodal tem de envolver necessariamente os leigos. A participação destes não pode ficar somente engrossando as assembleias dominicais. A sua voz deve ser ouvida nas decisões que são tomadas, como a escolha dos bispos. Neste caso, não só os leigos, mas o conjunto da Igreja.

Se essa moda pegar, acredito que poderemos vivenciar um verdadeiro Aggiornamento, ou melhor, uma verdadeira revolução na Igreja.

 

 


ARTIGO - A geração que fez a diferença! (Padre Carlos)

A geração que fez a diferença!      Decorridos tantos anos do fim da ditadura, observa-se que a geração da utopia está partindo e a nova...