sábado, 5 de novembro de 2022

ARTIGO - Derrotamos Bolsonaro, mas não vai ser fácil derrotar o Bolsonarismo. (Padre Carlos)

 


O bolsonarismo segue mais vivo do que nunca!

 


A ilusão de que derrotando Jair Bolsonaro nas urnas estaríamos livres da influencia destas forças fascista, se provou uma ingenuidade e um amadorismo muito grande da classe política brasileira. Derrotamos Bolsonaro, mas não vai ser fácil derrotar o Bolsonarismo. Esta corrente política provou nestas eleições que a criatura é maior que o criador e pode viver sem o seu messias.

Não podemos negar que foi uma demonstração de força a eleição do núcleo duro bolsonaristas para o Senado Federal: Damares, Moro, Mourão, Salles, Frias, Pontes e etc. A extrema-direita se firmou como uma força política na sociedade brasileira, porque a sociedade assim o quer. Precisamos entender isso e temos que viver com isso. Nossa ingenuidade faz aniversário ao supormos que extirparíamos o bolsonarismo nazificado, de nosso corpo social e político, fazendo uma “festa da democracia” a cada quatro anos. Precisamos entender que a luta agora é pela consciência das pessoas e por isto, não podemos restringir esta batalha política aos processos eleitorais.

Quando chamo atenção para este fato, quero dizer que a derrota de Bolsonaro nas urnas não representa a derrota do Bolsonarismo. “Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”, repetindo aqui um bordão que ficou célebre na boca do então ministro Walter Barelli, no governo Itamar Franco. O que eu quero dizer, é que a batalha não acaba com o resultado das eleições e para demostrar de forma clara a gravidade deste assunto, resgataremos as imagens da saudação nazista em Santa Catarina, elas são os exemplos de que precisaremos estar firmes e mobilizados para derrotar o bolsonarismo na sociedade brasileira.

Os erros grosseiros das pesquisas eleitorais que apontavam a chance de Lula vencer a eleição presidencial no primeiro turno e o tal seis milhões de voto que o petista tinha de frente na reta final fizeram os cientistas e os dirigentes políticos acharem que a fatura já estaria paga. Sei que estes institutos erraram, mas não posso aqui ser condescendente com o eleitor e achar que os equívocos eleitorais tenham sido apenas dos institutos de pesquisas.

Poderíamos usar o velho jargão do direito para justificar o resultado das pesquisas como causa excludente de responsabilidade civil, para ser mais claro, a culpa foi exclusiva da vitima. Assim, quero dizer que os resultados desta eleição são de total responsabilidade do povo brasileiro. Afinal, não foram às pesquisas que erraram, quem errou foi o eleitor que votou no candidato que negou a vacina e o balão de oxigênio ao seu parente que definhava pela COVID.

Após oito dias do pleito, podemos dizer que apesar de Jair Bolsonaro (PL) sair derrotado em sua tentativa de reeleição, foi vitorioso. Digo isto, porque recebeu mais de 58 milhões de votos, conseguiu eleger 15 governadores aliados a seu programa e mais de uma centena de parlamentares eleitos pelo PL para Câmara e Senado, mostrando assim, que o bolsonarismo deverá seguir vivo nos próximos anos como uma das principais forças políticas do país.

O que esperar daqui para frente? Como será a atuação da bancada bolsonaristas no Congresso sob o novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT)? E quantos deputados e senadores são realmente de utradireita? A direita terá capacidade de se manter coesa uma vez fora do Executivo? Conseguirá manter eventuais mobilizações nas ruas?

Já Bolsonaro, podemos dizer que permanecerá como principal líder do campo da direita, com aliados como Sergio Moro, Tarcísio de Freitas e Romeu Zema já sendo percebidos como possíveis sucessores do atual presidente e potenciais candidatos em 2026?

         Como disse ele: "Nosso sonho segue mais vivo do que nunca"!

 

 

 

 

 


sexta-feira, 4 de novembro de 2022

ARTIGO - Falando De Amor (Padre Carlos)

 


E por falar em amor

 


Falar de amor talvez seja a coisa mais difícil para o articulista. Digo isto porque é grande o perigo de re­duzir como o poeta a uma ideia romântica, como se fosse uma história ou uma novela televisiva. Com isto, quero dizer que o amor é algo intenso e ao mesmo tempo constante, para que a centelha não se apague nunca. Permanecerá depois como fogo-fátuo para relembrar que, na sua ausência, tudo se apaga sem chama e sem pulsação. Há quem diga que equivale à vida e que sem ele está fadada a morte, mesmo tendo um coração batendo.

Por isto acho que falar de amor é algo complicado e entendo que amar é ainda mais. Tudo que é bom nesta vida, só se consegue com muito esforço. Com o amor não é diferente e sua manutenção requer muito esforço de ambas às partes.

Não entendo como alguém consegue se entrega ao outro sem se entregar primeiro a si. Ele com certeza estará entregando, um corpo sem alma, vazio. Mas o vazio não é capaz de amar. Confunde-se o ato de amar com o ato de precisar. Como se fosse um recipiente que precisa de algo que o preencha. Na impossibilidade de se preencher a si mesmo, procura o conteúdo do outro. Fica dependente do mes­mo para ter existência própria.

 

 Costumo dizer que o amor se parece muito com a matemática.  Dividir é a operação mais importante para quem verdadeiramente quer amar. Todas as outras formas aritméticas virão atrás dela. Quando se partilha afeto com alguém, soma-se o bem-estar e a felicidade, multiplicam-se vidas e alegrias, subtrai-se a solidão e o isolamento. É uma mate­mática que não assusta quem quer aprender, nem é difícil de entender. Mas, muitas vezes, é difícil de pôr em prática.

Não entendo o amor se não houver renúncia. Quem ama espera, mas também vai ao encontro. Antes de construírem uma vida a dois, precisamos conhecer verdadeiramente nosso parceiro. Não podemos achar que o verdadeiro amor seja apenas encon­tros românticos de amantes. O amor em relação ao outro se apresenta de muitas formas, mas obriga aos mesmos esforços. E traz a mesma recom­pensa. Uma luz vibrante que nos aquece o rosto e nos alivia o peso da morte, transformando-a em vida.


ARTIGO - Esta Palavra saudade! (Padre Carlos)

 


"Ah, não há saudades mais dolorosas do que as das coisas que nunca foram!"

Fernando Pessoa

 

 


Apesar de muitos acharem que a palavra saudade é exclusiva da língua portuguesa, não é verdade. A diferença, quando falamos em saudade, é que, na língua portuguesa, a palavra ganhou outros sentidos relacionados à nostalgia. Entendemos a saudade como um sentimento nostálgico que vai além do lar. Podemos ter saudade de pessoas, animais, épocas, lugares, relacionamentos, gostos, cheiros etc. Por isto, costumamos dizer que ‘Saudade’ é uma palavra apenas nossa difícil de explicar exatamente a um estrangeiro, algo nostálgica, associada a lembranças de um passado feliz ou de alguém que nos marcou profundamente. 

É algo muito forte, capaz de modificar os nossos planos, que mexe com os nossos sentimentos podendo influenciar as opções que tomamos ao longo da nossa vida.

A história que vou partilhar hoje é um bom exemplo desse sentimento. No final da década de setenta, eu sei, já tem um tempinho, dois jovens militantes operários que abara de sair do SENAI, de Salvador, encantados com as greves do ABC, partiram para São Paulo à procura de melhores condições de trabalho. 

Um deles teve uma excelente adaptação, conseguindo um bom emprego na Volkswagen do Brasil, integrando-se no meio sindical e operário sem problemas, progredindo na carreira, como não era possível na Bahia. Bem cedo ficou fascinado com as novas tecnologias e com a forma de trabalhar dos alemães – e por lá foi ficando, sem vontade de regressar a Bahia. 

O outro, pelo contrário, teve mais dificuldades. Dia após dia ia sentindo a falta de tudo, daquilo que aqui deixara, da sua terrinha, das suas raízes, da família, dos amigos e do seu estilo de vida da sua, baianidade nagô. 

Esta nostalgia foi aumentando sempre, de tal modo que, numa das praças de São Bernardo – que tinha de atravessar a pé a caminho da fabrica – lembrou-se de casa e da mãe! A tristeza apoderou-se dele, o trabalho não compensava e o desânimo obrigou-o a regressar. 

Dito de outra forma, no primeiro caso prevaleceu à razão, no segundo foi à saudade que falou mais alto.

Nos dias de hoje, não sei se a história acabaria assim. Os tempos mudaram e a sociedade vai aos poucos impondo outras regras às quais temos que nos adaptar, com mais ou menos dificuldade. Esta palavra ‘saudade’, para alguns, pode mesmo não fazer sentido – e aqueles que ainda a invocam podem ser considerados ‘saudosistas’ por uns e até ‘piegas’ por outros.

Já foi o tempo em que a família tinha outro peso e era um pilar essencial que ninguém ousava contestar. 
Aliás, o conceito e a estrutura familiar são bem diferentes hoje em dia. Os pais, ocupadíssimos com o trabalho, não têm tempo suficiente para acompanhar os filhos, deixando-os mais desamparados; e os idosos são em muitos casos, abandonados em abrigos, aonde aos poucos vão se desligando do mundo. 

A solidariedade deu lugar à competitividade sem limites e as convicções às conveniências. 

A vida resume-se o aqui e agora – e o que passou a contar é o meu bem-estar, a minha realização profissional e os meus projetos. 

Não me admira que o número de casamentos tenha caído, enquanto os números de separação sejam cada vez maiores. Para um jovem, sair de casa e ganhar o mundo é hoje uma coisa natural. Constituir família não é prioritário – e deixar as suas raízes não tem qualquer importância. Os jovens de hoje não sabem o que é utopia, se dedicar a militância e ao partido, estão mais preocupado com o planeta, com o meio ambiente, com as reciclagens e com a gestão correta dos bens naturais, o que não se via na minha geração. 

Contudo, as boas recordações não desaparecem, ficam para sempre e devem ser lembradas com a saudade indestrutível dos momentos felizes da nossa vida.

Saudade continuará a ser a ‘palavra amarga e doce, estrangulada na garganta, palavra como se fosse, o silêncio que se canta’. E permanecerá sempre viva nos nossos corações, até ao final dos tempos. Como diz o poema, português no qual me revejo: ‘Sete letras de encanto/Sete letras por enquanto/Enquanto a gente for viva’.

 

 

 

 

 


quinta-feira, 3 de novembro de 2022

ARTIGO - A democracia tem uma dívida impagável com Lula. (Padre Carlos)

 

Só Lula, neste contexto, seria capaz de salvar a democracia brasileira.



Para alguns liberais que se viram obrigado a manter a polarização política como uma forma de sobrevivência política, não deve ter sido nada fácil. Por mais que tentasse explicar seus posicionamentos, a disputa no Brasil se travava entre democracia e autoritarismo e isto, era cada vez mais evidente. De um lado, uma ampla aliança que ia das mais importantes personalidades do centro-direita (o apoio de Fernando Henrique Cardoso e o lugar de Alckmin como vice são dois símbolos desse entendimento) até todas as matizes da esquerda. Do outro, o campo neofascista em torno do qual se agregaram múltiplos interesses, capitaneado pelo clã Bolsonaro.

O que aconteceu a seguir às eleições provou qual era o compromisso regras democráticas por parte do candidato derrotado. Após dois dias de silêncio, Bolsonaro falou. Sem admitir a derrota, sem saudar o Presidente eleito, culpando o processo eleitoral pelo “sentimento de injustiça” que justificaria o bloqueio de estradas, atacando a esquerda com mentiras sobre os seus “métodos” e repetindo o mote integralista: “Deus, Pátria e Família”.

O Clima polarizado da Guerra Fria não existe mais e Por várias razões, internas e externas não existe clima, no sentido clássico, para deflagrar um golpe de estado. Na história latino-americana, estes contaram sempre com o apoio direto dos Estados Unidos. Apesar do investimento de Trump no bolsonarismo, Biden foi um dos primeiros a reconhecer Lula, logo no domingo, aliás, como dezenas de outros Chefes de Estado. Os bolsonaristas com mandatos também não querem ouvir falar de fraude. Pragmáticos, não desejam ferir a legitimidade dos seus futuros cargos e já estão se preparando para nova fase. Quem ficou com a triste tarefa de admitir a derrota e criar condições para que haja uma transição política como manda a constituição, foi o ministro da Casa Civil.

O fato que tem chamado nossa atenção e que nos preocupa mais neste processo pós-eleição, são os protestos que tem bloqueado as estradas, eles ao mesmo tempo em que representa um sinal de isolamento momentâneo do “bolsonarismo de rua” antecipa o que poderá vir a acontecer nos próximos anos.

Não é de hoje que a imprensa vem denunciando como a Polícia Rodoviária Federal foi cooptada pelo bolsonarismo e como seu atual diretor, Silvinei Vasques, é protegido em investigações internas. No dia da eleição, a PRF instalou barreiras nas estradas, sobretudo no Nordeste, para dificultar o acesso dos eleitores à urna. Outro fato importante foi à divulgação pela revista Piauí  que o bloqueio de domingo partiu de uma ordem expressa do próprio diretor da PRF. Depois, com o anúncio da vitória de Lula na noite de domingo, caminhoneiros bolsonaristas começaram a obstruir algumas rodovias pelo país, contando com a leniência – e, às vezes, o apoio – de agentes da PRF.

A atitude "compreensiva” da polícia perante as ilegalidades de bolsonaristas é um indicador de como esta pode ser um desestabilizador da ordem democrática e contrasta com a violência utilizada noutros contextos, nomeadamente na repressão de movimentos sociais dos sem terra, dos sem teto ou de indígenas. Por outro lado, os relatos sobre a suspensão, no dia das eleições, de transportes gratuitos em determinados Estados, para dificultar o voto dos mais pobres, é também sinal de como o aparelho de Estado poderá ser mobilizado no boicote ao futuro governo federal.

Só no quadro mental da extrema-direita é que Lula pode ser apresentado como alguém da “esquerda radical”. Além do arco de alianças de Lula nesta campanha incluir figuras referenciais da direita brasileira, cuja presença foi reforçada pela participação ativa da liberal Simone Tebet na campanha, as próprias políticas dos governos Lula nunca foram do ponto de vista económico, nada que qualquer centrista psdbista não subscrevesse.

Não quero aqui desvalorizar a importância que elas tiveram para as medidas de inclusão social, de promoção da educação, de combate à fome e à pobreza dos mandatos de Lula (que retiraram mais de 20 milhões de pessoas da pobreza). Nem para contestar que o país esteja dividido, fato que os resultados eleitorais demonstram sem contestação. Mas só num imaginário colonizado pela extrema-direita é que Lula significa o “extremo” político que seria o reverso da moeda de Bolsonaro.

Quem pensa com base nestas narrativas perde facilmente o fio democrático da discussão. É o que sucede a tantas figuras da direita, que hesitam em reconhecer o óbvio - Lula era a única opção democrática neste segundo turno das eleições  capaz de derrotar o fascismo.

Essa vitória se deu única e exclusivamente pela capacidade política de agregar pessoas e ideias que este retirante tem. Foi sem dúvida, à figura de Lula e à circunstância de ser um democrata, mas também ao fato de não ser um liberal que criou as condições necessárias para derrotar o bolsonarismo. O combate democrático não se travou, pois, pela mera preservação da formalidade institucional. Disse Lula, de forma clara, no seu discurso de vitória: “O povo brasileiro quer viver bem, comer bem, morar bem. Quer um bom emprego, um salário reajustado sempre acima da inflação, quer ter saúde e educação públicas de qualidade. Quer liberdade religiosa. Quer livros em vez de armas. Quer ir ao teatro, ver cinema, ter acesso a todos os bens culturais, porque a cultura alimenta nossa alma. (...) É assim que eu entendo a democracia. Não apenas como uma palavra bonita inscrita na Lei, mas como algo palpável, que sentimos na pele, e que podemos construir no dia a dia.”.

Temos que estar vigilantes. Temos que a partir de janeiro, impedir qualquer tipo de sabotagem ao novo governo ou desestabilização a partir das instituições onde a extrema-direita mantém influência. Outro ponto são os boicotes por parte da maioria no Senado e no Congresso. Mas, como escreveu o sociólogo Ruy Braga, que dedicou tanta da sua obra a uma análise crítica das contradições do lulismo, só Lula teria sido capaz, neste contexto, de salvar a democracia brasileira. E isso é uma dívida enorme que com ele têm todos os democratas do mundo.

 

quarta-feira, 2 de novembro de 2022

ARTIGO - O mundo está de olho no Brasil.(Padre Carlos)



  

O mundo é um grande olho que vemos e que nos vê.







Existe um proverbio antigo na política: Por um voto se perde, por um voto se ganha. Assim, Jair Bolsonaro perdeu para Lula, por uma margem muito apertada, por isto não deveria ter demorado tanto para reconhecer a sua derrota. Esta foi uma eleição muito parecida com a de 1950, vencida por Getúlio Vargas com 48,7% dos votos (não havia segundo turno, na época). Vargas, que governara o país por 15 anos (1930 a 45), tinha a convicção de que voltaria nos braços do povo e apostava numa visão dos seus anos de ouro, como a criação da CLT e de importantes conquistas, como a criação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e da Petrobras. 

  Esse silêncio de Bolsonaro, como vimos, terminou alimentando a esperança daqueles que não aceitam a derrota. Em muitos estados brasileiros, estes dois dias foram de violência, houve estradas bloqueadas e apelos aos militares para que levem a cabo um golpe. Mas na verdade, apesar destas manifestações contra a democracia e o estado de direito, o que vimos em seu pronunciamento na tarde de ontem, foi um homem cada vez mais só. Mais isolado. É verdade que praticamente metade dos eleitores brasileiros, e isso é assustador, se reveem nas políticas e nos métodos de Jair Bolsonaro.

Conhecendo os métodos da direita que governa o país, o Mundo não demorou em parabenizar Lula, pelo retorno da democracia. Esse mesmo Mundo, que vê em Lula um interlocutor capaz de voltar a dar voz ao Brasil, que se encontra isolada, devido às ações de Jair Bolsonaro e os seus mais fiéis seguidores. Por isto, enquanto Bolsonaro demorou mais de um mês para reconhecer a vitória de Joe Biden nos Estados Unidos. Biden demorou apenas uma hora para reconhecer a vitória de Lula. Macron, inimigo manifesto de Bolsonaro, manifestou-se um pouco antes. Na verdade foram vários os líderes dos países que felicitaram Lula pela sua eleição: Desde a Austrália e a Nova Zelândia, até à Índia, à África do Sul e ao Reino Unido. 

De acordo com a presidência russa, também o Presidente Vladimir Putin enviou as suas "sinceras felicitações". "Os resultados das eleições confirmaram a sua grande autoridade política. Espero que, fazendo esforços conjuntos, asseguremos um maior desenvolvimento da cooperação construtiva russo-brasileira em todas as áreas".

A presidente da Comissão Europeia, Ursula Von Der Leyen, e o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, não ficaram de fora desta onda de parabenizações. "Parabéns, Lula da Silva, pela sua eleição como Presidente do Brasil. Estou ansiosa por trabalhar consigo para enfrentar os desafios globais prementes, desde a segurança alimentar ao comércio e às alterações climáticas", escreveu Von der Leyen na rede social Twitter. 

Para a maioria dos lideres mundial, o resultado das eleições presidenciais no Brasil é uma vitória da democracia e representa uma esperança nova para o mundo, uma vez que Lula, no primeiro discurso que fez depois de conhecidos os resultados, demonstrou que vai haver uma grande mudança nas políticas ambientais e na preservação da Amazônia. O presidente eleito falou que o Brasil "está pronto para retomar o protagonismo na luta contra a crise climática" e que o próximo governo vai "lutar pelo desmatamento zero na Amazônia".

Esta virada de Lula na política externa começa a surtir resultado. Após seu discurso na paulista, Noruega informou que retomará a ajuda financeira contra o desmatamento da Amazônia no Brasil, congelada durante a presidência de Jair Bolsonaro. 

 

 


segunda-feira, 31 de outubro de 2022

ARTIGO - Lula ganhou. E agora? (Padre Carlos)

 


A polarização e o novo governo.



 

Não basta ganhar é preciso saber governar e para isto, o presidente eleito terá pela frente a tarefa de pacificar e repactuar  os setores da sociedade com um projeto de nação. Esta se não for a maior, com certeza é a mais urgente! Lula tem que encarar este problema de frente como uma das principais e imediatas tarefas e para isto, será necessário desarmar os espíritos radicalizados desta eleição e superar a polarização que se formou no nosso país. Só assim, Lula conseguirá ter condições para governar e construir um caminho que leve a prosperidade nos próximos quatro anos. 

O que definiu a vitória de Lula sobre Bolsonaro foram 2 139 625 votos. Isto representa 1,8% esta é a real diferença entre o vencedor do segundo turno desta eleição presidencial. Trata-se da margem mais curta entre dois candidatos presidenciais da história do Brasil desde a redemocratização em 1985. A eleição foi extremamente disputada voto a voto. Com isto, Lula se tornou o candidato mais bem votado da história do Brasil, superando, pela primeira vez, os 60 milhões de votos. Bolsonaro, apesar da derrota, conseguiu uma votação mais expressiva do que há quatro anos.

Lula venceu, mas isto só não basta! A sua tarefa nos próximos dias será árdua. Para ser bem-sucedido, o presidente eleito do Partido dos Trabalhadores (PT) terá de superar esta polarização e repactua o país. Só assim conseguirá ter condições para governar e construir um projeto de desenvolvimento para o país nos próximos quatro anos. 

Levantamos estas questões porque Lula está recebendo um país extremamente dividido, cujas cisões já vêm desde 2013 e que resultaram numa sucessão dramática de eventos políticos: golpe parlamentar que resultou na destituição de Dilma Rousseff (2016), prisão de Lula (2018) e vitória de Jair Bolsonaro para presidente do Brasil (2018). Quero aqui chamar a atenção para o fato que Bolsonaro acirrou esta polarização para fazer dela uma estratégia política e mobilizar e conseguir com isto o apoio da sua base. Tendo concorrido e vencido as eleições de 2018 enquanto candidato “anti-sistema”, procurou comportar-se retoricamente também como um presidente “anti-sistema”. Desta forma, criou diversas tensões com a imprensa à comunidade acadêmica, universidades, governadores, o STF e outros órgãos de poder. A sua retórica incidiu também sobre o sistema democrático, tendo ameaçado várias vezes de não aceitar os resultados em caso de derrota.

Até à hora que escrevia este artigo, Bolsonaro não tinha dado nenhuma coletiva sobre os resultados eleitorais, deixando no ar a possibilidade de não reconhecimento da derrota. Este rito da democracia é um momento fundamental no processo de transição pacífica de poder. A falta deste gesto só contribui para acirrar ainda mais a polarização já existente. A sua base mais radical começa ver neste comportamento do atual presidente como um sinal para perturbar a normalidade democrática do Brasil. As manifestações de caminheiros em vários estados é uma amostra das atividades que podem acontecer caso a radicalização da frente bolsonaristas se mantenha viva.

Sabemos que Bolsonaro não vai fazer nada para contribuir com o processo de pacificação política no Brasil, esse esforço terá de vir principalmente do presidente Lula. Entre os vários pontos importantes dessa estratégia de conciliação nacional, há dois pontos relevantes. Em primeiro lugar, a formação de governo. Lula já indicou que o futuro governo não será só do PT, tendo repetido essa fala no discurso de vitória. É possível que representantes do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), do Partido Democrático Trabalhista (PDT) e do União Brasil (UB) possam participar de um futuro governo. Os nomes mais falados são os de Simone Tebet (MDB) para o Ministério da Educação e de Henrique Meirelles (UB) para a Economia.

Estas opções seriam importantes para garantir uma visão plural do governo, mas também para construir uma aliança com os respetivos partidos no Congresso. Como articulador Lula sabe que tem de fazer tudo isto, preservando a liderança do PT de forma a manter a confiança da sua base que esteve consigo desde o início e nos momentos mais difíceis.

O grande problema que teremos que enfrentar é como vamos discutir o destino de Bolsonaro e ao mesmo tempo pacificar o país. O candidato derrotado e atual presidente enfrenta várias ações judiciais e desta forma, como poderemos abrir a caixa de pandora com o levantamento do sigilo de 100 anos aplicado a vários atos durante a sua presidência? Sem imunidade, Bolsonaro poderá ser formalmente processado e julgado. A forma como o governo e o sistema político vão tratar esta questão terá inevitavelmente um impacto na polarização. A questão será como gerir esse impacto. Há várias possibilidades: amnistia, comissão de justiça e verdade, ou investigações judiciais. Todas estas opções estão ainda em aberto. Porém, para tratar esta questão, antes de tudo teremos que admitir que exista um racha profundo na sociedade e neste momento os problemas brasileiros são mais importantes que as loucuras de alguns políticos.

 

 

 


ARTIGO - O que estava em jogo nesta eleição? (Padre Carlos)

 



Bolsonaro e Trump: As táticas semelhantes (e diferentes) na reta final das eleições



O Brasil viveu neste domingo aquela que pode ter sido a eleição presidencial mais importante da sua história. Neste 30 de outubro, os eleitores decidiram quem seria o presidente do país com a maior população da América do Sul e que é a quarta maior democracia do mundo. Os eleitores derrotaram também o novo movimento global da extrema-direita populista que tem no atual presidente, Jair Bolsonaro, o seu líder nacional e no antigo presidente dos EUA, Donald Trump, o seu expoente mais conhecido em todo o mundo.

O fenómeno político que Bolsonaro e Trump encarnam tem uma característica fundamental: utilizar o processo democrático e depois enfraquecê-lo de modo a torná-lo irreconhecível e incapaz de conter os excessos autoritários dos seus presidentes. Tanto Trump como Bolsonaro foram eleitos pelo voto popular. Os dois governaram de forma semelhante: mobilizaram uma base radicalizada, elogiaram o uso de armas de fogo, divulgaram notícias falsas e desinformação política, criaram teorias da conspiração e trataram os seus opositores políticos como inimigos e não como adversários legítimos. Ambos atacaram a imprensa livre e levantaram acusações falsas e infundadas contra os seus sistemas eleitorais e órgãos de controlo judicial como o Supremo Tribunal Eleitoral.

Trump falhou na sua tentativa de golpe, que culminou na invasão do Capitólio dos EUA no dia 6 de janeiro de 2021. Embora Bolsonaro tentasse durante toda a semana tumultuar o processo eleitoral sem sucesso, não foi ousado ou irresponsável  como o seu  mentor político. Apesar de não ter dado certo, tudo começa quando ele determina que às Forças Armadas, como instituição, realize uma "contagem paralela de votos", embora esta função nunca tenha sido delegada aos militares na história das eleições brasileiras.

ARTIGO - A geração que fez a diferença! (Padre Carlos)

A geração que fez a diferença!      Decorridos tantos anos do fim da ditadura, observa-se que a geração da utopia está partindo e a nova...