sexta-feira, 4 de novembro de 2022

ARTIGO - Falando De Amor (Padre Carlos)

 


E por falar em amor

 


Falar de amor talvez seja a coisa mais difícil para o articulista. Digo isto porque é grande o perigo de re­duzir como o poeta a uma ideia romântica, como se fosse uma história ou uma novela televisiva. Com isto, quero dizer que o amor é algo intenso e ao mesmo tempo constante, para que a centelha não se apague nunca. Permanecerá depois como fogo-fátuo para relembrar que, na sua ausência, tudo se apaga sem chama e sem pulsação. Há quem diga que equivale à vida e que sem ele está fadada a morte, mesmo tendo um coração batendo.

Por isto acho que falar de amor é algo complicado e entendo que amar é ainda mais. Tudo que é bom nesta vida, só se consegue com muito esforço. Com o amor não é diferente e sua manutenção requer muito esforço de ambas às partes.

Não entendo como alguém consegue se entrega ao outro sem se entregar primeiro a si. Ele com certeza estará entregando, um corpo sem alma, vazio. Mas o vazio não é capaz de amar. Confunde-se o ato de amar com o ato de precisar. Como se fosse um recipiente que precisa de algo que o preencha. Na impossibilidade de se preencher a si mesmo, procura o conteúdo do outro. Fica dependente do mes­mo para ter existência própria.

 

 Costumo dizer que o amor se parece muito com a matemática.  Dividir é a operação mais importante para quem verdadeiramente quer amar. Todas as outras formas aritméticas virão atrás dela. Quando se partilha afeto com alguém, soma-se o bem-estar e a felicidade, multiplicam-se vidas e alegrias, subtrai-se a solidão e o isolamento. É uma mate­mática que não assusta quem quer aprender, nem é difícil de entender. Mas, muitas vezes, é difícil de pôr em prática.

Não entendo o amor se não houver renúncia. Quem ama espera, mas também vai ao encontro. Antes de construírem uma vida a dois, precisamos conhecer verdadeiramente nosso parceiro. Não podemos achar que o verdadeiro amor seja apenas encon­tros românticos de amantes. O amor em relação ao outro se apresenta de muitas formas, mas obriga aos mesmos esforços. E traz a mesma recom­pensa. Uma luz vibrante que nos aquece o rosto e nos alivia o peso da morte, transformando-a em vida.


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