E
por falar em amor
Falar
de amor talvez seja a coisa mais difícil para o articulista. Digo isto porque é grande o perigo de reduzir como o poeta a uma ideia
romântica, como se fosse uma história ou uma novela televisiva. Com isto, quero
dizer que o amor é algo intenso e ao mesmo tempo constante, para que a centelha
não se apague nunca. Permanecerá depois como fogo-fátuo para relembrar que, na
sua ausência, tudo se apaga sem chama e sem pulsação. Há quem diga que equivale
à vida e que sem ele está fadada a morte, mesmo tendo um coração batendo.
Por isto acho que falar de amor é algo complicado
e entendo que amar é ainda mais. Tudo que é bom nesta vida, só se consegue com
muito esforço. Com o amor não é diferente e sua manutenção requer muito esforço
de ambas às partes.
Não
entendo como alguém consegue se
entrega ao outro sem se entregar primeiro a si. Ele com certeza estará entregando, um corpo sem alma, vazio. Mas o vazio não é capaz de amar. Confunde-se
o ato de amar com o ato de precisar. Como se fosse um recipiente que precisa de
algo que o preencha. Na impossibilidade de se preencher a si mesmo, procura o conteúdo
do outro. Fica dependente do mesmo para ter existência própria.
Costumo
dizer que o amor se parece muito com a matemática. Dividir é a operação mais importante para
quem verdadeiramente quer amar. Todas as outras formas aritméticas virão atrás
dela. Quando se partilha afeto com alguém, soma-se o bem-estar e a felicidade,
multiplicam-se vidas e alegrias, subtrai-se a solidão e o isolamento. É uma
matemática que não assusta quem quer aprender, nem é difícil de entender. Mas,
muitas vezes, é difícil de pôr em prática.
Não entendo o amor se não houver renúncia.
Quem ama espera, mas também vai ao encontro. Antes de construírem uma vida a
dois, precisamos conhecer verdadeiramente nosso parceiro. Não podemos achar que
o verdadeiro amor seja apenas encontros românticos de amantes. O amor em
relação ao outro se apresenta de muitas formas, mas obriga aos mesmos esforços.
E traz a mesma recompensa. Uma luz vibrante que nos aquece o rosto e nos
alivia o peso da morte, transformando-a em vida.
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