Milhares de
pessoas se reuniam na Praça de São Pedro para se despedir de Bento XVI,
Bento
XVI foi sepultado, perante uma multidão de fiéis. É a primeira vez que um Papa
enterra outro em 600 anos. Quando dizemos que Francisco se tornou o primeiro Papa
em 600 anos a enterrar outro, foi porque a hierarquia da Igreja Católica deixou
os antigos costumes não convencional que fazia parte do episcopado do século
XVI. Isso não quer dizer que a instituição mais antiga atualmente em
funcionamento no planeta tenha deixado de ter escândalos. No entanto, estes costumavam
ser ainda pior. Inclusive com antipapas, ou seja, sacerdotes que tentavam
afirmar-se como herdeiros de S. Pedro e usurpar o legítimo líder católico –
quem foi Papa e quem foi antipapa é claro, uma questão de interpretação. Houve
mais de quarenta fatos desse género, na história da Igreja, sendo a última
delas no século XV. E a mais notória talvez tenha sido o chamado cisma do
Ocidente, quando dois cardeais reclamaram o trono papal, um deles sediado em
Roma, outro em Avinhão, em França, em 1378.
Hoje pode parecer-nos óbvio
que Roma é o centro da Igreja Católica, mas nesses tempos não. A Cidade Eterna
tornara-se numa enorme ruína, quase abandonada, em que os pastores soltavam
gado nos capins que crescia no Coliseu, as catacumbas eram refúgio para
bandidos e havia uma insalubridade geral desde a destruição do aqueduto que abastecia
a cidade. E Filipe IV da França, o Belo, não gostou quando foi excomungado por
Bonifácio VIII, em 1303, ordenando o seu exército que o raptasse.
Reza a história que o Papa,
quando estava sentado no trono de S. Pedro, foi levado preso e espancado.
Bonifácio VIII – que já surgira como um dos principais antagonistas na obra
Inferno, de Dante, por ter exilado o poeta italiano – acabou por enlouquecer
com a humilhação e morreu. Sendo o seu sucessor escolhido a dedo por Filipe,
que lhe ordenou que se estabelecesse em Avinhão. Diante disso, este “Papado”
passou a contar com a ajuda do Rei da França para colocar seu plano em ação que
era destruir a Ordem dos Templários, uma das mais poderosas instituições da
Igreja e ficar com os seus bens.
Sete décadas depois, o
papado conseguiria voltar a Roma, pela mão de Gregório XI, apesar de não deixar
satisfeitos os cardeais franceses.
Fazendo um paralelo deste
período para o nosso, podemos admitir que mesmo Francisco, tendo uma perspectiva
tão diferente de Bento XVI, conseguiram conviver pacificamente. Teve a vantagem
de antes da reforma não ter travado uma guerra civil dentro da Igreja, ao contrário
de Gregório XII. Mesmo assim, as coisas para o Papa não tem sido fácil, não
podemos esquecer que a ala mais conservadora do Vaticano – saudosa de Bento XVI
– tem feito a vida do atual Papa num inferno, até com pedidos de excomunhão.
Mas isso nunca impediu Francisco de mostrar enorme carinho pelo seu antecessor,
“um grande mestre de catequese”, descreveu, perante uma multidão de dezenas de
milhares de pessoas que se reuniam na Praça de São Pedro para se despedir de
Bento XVI, na quarta-feira.