sábado, 7 de janeiro de 2023

ARTIGO - É a primeira vez que um Papa enterra outro em 600 anos. (Padre Carlos)

 


Milhares de pessoas se reuniam na Praça de São Pedro para se despedir de Bento XVI,


 

Bento XVI foi sepultado, perante uma multidão de fiéis. É a primeira vez que um Papa enterra outro em 600 anos. Quando dizemos que Francisco se tornou o primeiro Papa em 600 anos a enterrar outro, foi porque a hierarquia da Igreja Católica deixou os antigos costumes não convencional que fazia parte do episcopado do século XVI. Isso não quer dizer que a instituição mais antiga atualmente em funcionamento no planeta tenha deixado de ter escândalos. No entanto, estes costumavam ser ainda pior. Inclusive com antipapas, ou seja, sacerdotes que tentavam afirmar-se como herdeiros de S. Pedro e usurpar o legítimo líder católico – quem foi Papa e quem foi antipapa é claro, uma questão de interpretação. Houve mais de quarenta fatos desse género, na história da Igreja, sendo a última delas no século XV. E a mais notória talvez tenha sido o chamado cisma do Ocidente, quando dois cardeais reclamaram o trono papal, um deles sediado em Roma, outro em Avinhão, em França, em 1378.

Hoje pode parecer-nos óbvio que Roma é o centro da Igreja Católica, mas nesses tempos não. A Cidade Eterna tornara-se numa enorme ruína, quase abandonada, em que os pastores soltavam gado nos capins que crescia no Coliseu, as catacumbas eram refúgio para bandidos e havia uma insalubridade geral desde a destruição do aqueduto que abastecia a cidade. E Filipe IV da França, o Belo, não gostou quando foi excomungado por Bonifácio VIII, em 1303, ordenando o seu exército que o raptasse.

Reza a história que o Papa, quando estava sentado no trono de S. Pedro, foi levado preso e espancado. Bonifácio VIII – que já surgira como um dos principais antagonistas na obra Inferno, de Dante, por ter exilado o poeta italiano – acabou por enlouquecer com a humilhação e morreu. Sendo o seu sucessor escolhido a dedo por Filipe, que lhe ordenou que se estabelecesse em Avinhão. Diante disso, este “Papado” passou a contar com a ajuda do Rei da França para colocar seu plano em ação que era destruir a Ordem dos Templários, uma das mais poderosas instituições da Igreja e ficar com os seus bens.

Sete décadas depois, o papado conseguiria voltar a Roma, pela mão de Gregório XI, apesar de não deixar satisfeitos os cardeais franceses.

Fazendo um paralelo deste período para o nosso, podemos admitir que mesmo Francisco, tendo uma perspectiva tão diferente de Bento XVI, conseguiram conviver pacificamente. Teve a vantagem de antes da reforma não ter travado uma guerra civil dentro da Igreja, ao contrário de Gregório XII. Mesmo assim, as coisas para o Papa não tem sido fácil, não podemos esquecer que a ala mais conservadora do Vaticano – saudosa de Bento XVI – tem feito a vida do atual Papa num inferno, até com pedidos de excomunhão. Mas isso nunca impediu Francisco de mostrar enorme carinho pelo seu antecessor, “um grande mestre de catequese”, descreveu, perante uma multidão de dezenas de milhares de pessoas que se reuniam na Praça de São Pedro para se despedir de Bento XVI, na quarta-feira.


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