terça-feira, 9 de junho de 2020

ARTIGO - Crônica de uma tragédia anunciada (Padre Carlos)





A Gripe Espanhola e o Covid-19




Lendo as notícias sobre a flexibilização das regras de confinamento e de distanciamento social, na nossa cidade, passei a entender que a história não se repete, são os erros das autoridades que fazem retornar. As histórias passadas e presentes, apresentam diversas e importantes semelhanças com o que estamos vivendo nos últimos tempos, afinal a sociedade apreende tudo – de formas variadas – e guarda na memória. Os momentos passados são experiências que deveriam ser resgatadas e utilizadas para que não cometêssemos os mesmos erros. 
Assim como hoje, no século passado surgiu uma pandemia que foi denominada de gripe espanhola. Só que de espanhola ela não tinha nada, pois o que se sabe é que ela foi oriunda dos Estados Unidos de onde os soldados levaram para o sul da França aonde americanos e ingleses estavam acampados durante a Primeira Guerra Mundial. Agora aparece este coronavírus que origina a pandemia com o nome de Covid-19, que se diz oriunda da China, porque nela surgiu em primeiro lugar, conforme noticiam os jornais do mundo inteiro. 
Independente da origem, o fato é que se não houver rígido controle no Brasil e em especial no nosso município, a peste do Covid-19 poderá causar resultados semelhantes à peste ou gripe espanhola que aqui chegou nos fins daquela Primeira Guerra Mundial. 

     O Ministério Público nesta quinta-feira, através da promotora Guiomar Miranda, recomendou as autoridades da nossa cidade que o comércio fosse fechado novamente em virtude da pandemia de Coronavírus. Devido à grande movimentação que tem sido registrada diariamente no Centro desde que o comércio foi reaberto, podemos constar um aumento de mais de 100% em apenas oito dias. Existem ainda 3823 casos suspeitos da doença. A taxa de ocupação dos leitos de UTI no município subiu para 56%. Mesmo com o avanço do vírus em nosso município, o prefeito já mandou avisar o Ministério Público, que não vai acatar a recomendação.  

Nosso prefeito se comporta como as autoridades daquela época, ao liberar o comercio e as atividades econômicas e sociais. Ocorreu que logo após a   primeira onda, como acontece no nosso município, quando os estabelecimentos foram liberados em pleno período junino, as pessoas saíram enlouquecidas às ruas, as compras e veio, como esta, a segunda onda que matou três vezes mais que a primeira. Não deixe que as pessoas digam o que você deve fazer, cuidem-se, protejam-se e lembre-se que ainda não existe cura para esse vírus que ataca vários órgãos vitais e mata! E quem o pega se vê no isolamento sozinho e longe das pessoas que ama sem saber se irá amanhecer vivo. 

Para resgatar nossa memória, o escritor Ruy Castro no livro “O Carnaval da Guerra e da Gripe” descreve as cenas resultantes daquela pandemia que são terríveis e horripilantes. Transcrevo algumas partes de sua narrativa: “A morte em massa começou a gerar consequências que ninguém podia controlar. Sem leitos suficientes nos hospitais da cidade, os doentes eram amontoados no chão das enfermarias e nos corredores. Muitos morriam antes de ser atendidos. Os hospitais foram fechados às visitas e, nos enterros, só se permitia a presença dos mais próximos. Mas logo deixaria de haver espaço para condolências. Em pouco tempo, os velhos rituais — velório, cortejo e sepultamento — ficaram impraticáveis. As casas funerárias passaram a não dar conta. Viam-se carros transportando caixões com tábuas mal pregadas, indicando que tinham sido feitos às pressas. Então, começou a faltar madeira para os caixões e gente para fabricá-los. As pessoas morriam e seus corpos ficavam nas portas das casas, esperando pelos caminhões e carroças que deveriam levá-los. Os motoristas e carroceiros os recolhiam na calçada e os atiravam nas caçambas como se fossem sacos de areia.
“As aglomerações foram desestimuladas tarde de mais. (…) Os doentes eram tantos que muitas atividades básicas sofreram por não haver quem as desempenhasse. ”  Assim como o coronavírus, a gripe espanhola também não distinguia classes sociais. Levou gente entre os pobres, os remediados e até de famílias importantes do nosso país.


O que a história da gripe espanhola nos ensina é que temos que ter prudência em lidar com pandemias e se ficarmos preocupados mais com a economia do que a saúde do povo, as consequências serão nefastas ao cidadão por se tratar de vidas.




ARTIGO - Sem licitação mais oito ônibus (Padre Carlos)



Sem licitação mais oito ônibus 

  

Sem licitação, la vie en rose 


       Todo cuidado com a coisa pública nunca é demais. Esta frase pode parecer óbvia, mas quando observamos alguns fatos da gestão pública no Município de Vitória da Conquista, especificamente na área do Transporte Público, o óbvio são os sentimentos de ultraje e revolta. Mais uma vez a comunidade foi surpreendida com mais uma medida por parte do prefeito Herzem Gusmão (MDB) ao contratar sem licitação mais oito ônibus da Viação Rosa por R$ 2,6 milhões. 
Sabemos que nos casos de emergência ou de calamidade pública, quando caracterizada urgência de atendimento é dispensável a licitação, nesta conjuntura deixa de existir todos aqueles controles rígidos que geralmente são exigidos para qualquer tipo de contratação pública próprio da lei de licitação. Desta forma, o poder público para contratar estes ônibus não precisou atender uma série de requisitos, uma série de procedimentos inerente a esta lei. Com o decreto do estado de emergência, ouve uma certa flexibilização destra regras rígidas. O prefeito, embora possa muito, não pode tudo e com certeza vai ter que explicar a sociedade porque preferiu gastar o valor de R$ 2.623.347,48 pelos próximos 180 dias a outra companhia para operar em oito linhas do Lote 1, apesar de a Cidade Verde informar ter ônibus disponíveis para suprir aquela necessidade.  
       Não podemos esquecer que o vereador professor Cori, vem travando com os poderes públicos uma verdadeira batalha sem precedente para que aceite as denúncias sobre os contratos emergências que a prefeitura realizou e vem realizando ao longo dos últimos anos com algumas empresas, sem qualquer critério licitatório.   
    Nesta situação do atual procedimento administrativo, é permitido que o prefeito formalize esta contratação sem a necessidade da burocracia da licitação. Porém, gostaria de lembrar ao prefeito, que nem tudo o que é legal é moral. O fato de algo estar perfeitamente dentro da Lei não o torna automaticamente correto e isto se aplica para a necessidade de determinados gastos por parte do executivo. 

Nesse sentido, pedimos a Câmara de Vereadores, os representantes legais do povo, o cumprindo do seu papel de fiscalizar os atos do Executivo e possa expedi um requerimento de informação à Secretaria de Transporte e Transparência para solicitar esclarecimentos porque recusaram a oferta da Viação Cidade Verde e se houve outras ofertas.  
  
  
       Diante de fatos como esses, é legítimo que a população se preocupe com as finanças do município e, mesmo repetindo o óbvio, todo cuidado com a coisa pública nunca é demais... 

sábado, 6 de junho de 2020

ARTIGO - São pedaços de mim (Padre Carlos)




São pedaços de mim
"Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói"...



Se pudessem ler nossas almas, não seriamos nós mesmos. Se isto um dia viesse acontecer, como poderíamos extrair dela o que escondemos no mais íntimo do nosso ser? Como poderíamos expressar a dor da saudade e o sentimento de ausência que esta traz?
         Como diz o poeta: a metade de mim que arrancaram, não sei se foi do corpo ou da alma que foi mutilado, só sei que dói e esta dor, não tem prazo de validade. Afinal, a “saudade é o revés de um parto” Ela é a única dor que não tem nenhum remédio que a faça parar de doer. Ela tem cheiro, tem voz, tem endereço e até um nome e sobrenome.
Não ´posso negar meu anseio pela transcendência, é ela que eleva a minha alma e devolve-me o que foi tirado. Nestas andanças, me perdi e me encontrei diversas vezes, mas em nenhuma delas deixei que levassem as lembranças que restaram de você.
   Quando faço silencio na alma, os espaços se enchem de sons que um dia existiram. (Pituba, Areal, Seminários, amigos e paixões etc.) É neste momento que o coração vai sufocando a alma com um vazio. Lembro-me da infância e das travessuras, grupo e jovens, núcleo de base do PT, sinto o medo e a angustia de estar preso no passado, porque os sentimentos e as paixões reaparecem como se estivessem retornando para cobrar uma dívida
     Mas a saudade do outro é uma dor que não tem dimensão. Não tem forma definida nem tempo limite para doer. Resta-nos fingir que estamos vivos, que noutro local qualquer da mesma cidade, metade de nós mesmos não anda por aí, não vive sem nós.

Eu não sei o que foi pior, o que doeu mais, lhe perder ou ter que crescer para aceitar sua perda.
A saudade arde no peito e isto é um fato! Como me reconciliar, como repactuar com a vida. Se és a “metade afastada /exilada/arrancada de mim”. Se existe algo que dói mais que saudade, por favor, eu não quero conhecer. Saudade dói, machuca, destroça. Aperta o peito e não nos deixa respirar. Não importa de quem seja… De um amigo que não conversamos mais, de alguém que não podemos alcançar, de um amor que já se foi. Se tem uma coisa que aprendi nestes anos foi que tudo passa. Os momentos passam, as pessoas passam, mas a saudade fica. Ela insiste em ficar, insiste em doer, insiste em lembrar.




ARTIGO - Vocês não são donos do poder! (Padre Carlos)




Vocês não são donos do poder!



Como professor de filosofia, gostaria de afirmar que a grande vítima destas manifestações promovidas pelos simpatizantes do governo e as   propagandas bem articuladas por quem não devia fazê-la, tem sido a República e a frágil democracia brasileira. Não podemos negar, que a quebra da harmonia entre os Poderes está criando consequências a instabilidade das instituições, pois o reflexo da “briga” entre os Poderes Executivo e Judiciário, longe de ser aplaudida, merece reprovação, pois, do jeito como vão as coisas caminhando não é difícil prever um desfecho traumático. O povo não aguenta mais este comportamento tosco por parte do executivo.
O que precisamos neste momento de dor e desespero com uma morte por minuto causada pelo covid-19, é de paz, de harmonia entre os Poderes do Estado, para que se possa viver com segurança e tranquilidade neste País, só assim conseguiremos vencer esta crise.
Quando presenciamos torcidas organizadas em outra arena que não esportiva, entendemos o estrago que estas elites fizeram na confiança dos políticos e dos movimentos sociais, para tirar um partido do poder e uma liderança do coração dos brasileiros. Política não tem vácuoTem gente que acha isso, outros acham aquilo. A única certeza tão certa quanto o vácuo no espaço é a falta de vácuo na política.  Assim, com uma esquerda criminalizada pela grande mídia e uma crise institucional, outros personagens surgem para ocupar estes espaços com manifestações cujas palavras de ordem extrapolam as questões da pandemia para ressaltarem outros interesses políticos. Este quadro revela um componente novo, os problemas principais não são só de ordem sanitária pública com a pandemia, mas também de ordem política.
Já está por demais claro que o comportamento das autoridades não é de preocupação com o povo brasileiro em sua cotidiana luta pela sobrevivência. As autoridades estão preocupadas em se imporem ante as outras como as autoridades máximas, principais, detentoras da verdade política pela qual se justificam como tais, bem como do poder de prevalência sobre os demais.
Desprezando o princípio de Montesquieu que norteia as repúblicas democráticas, pelo qual o poder tripartite deve coexistir em harmonia, cada qual busca sobrepujar o outro fugindo aos limites da outorga constitucional originária do povo que os criou e os mantém. Os poderes executivos, legislativo e judiciário, ante o Poder originário são um único e mesmo poder, com as suas atribuições e funções próprias e não intercambiáveis.
Os erros, as incoerências, as imperfeições, as incompreensões, as vaidades e tudo o mais que destoam dessa harmonia política, não se encontram nesses poderes, mas sim, naqueles que os representam. São as autoridades as únicas responsáveis pelos malefícios causados ao povo brasileiro por suas ambições e ingerências, pelos quais o titular do Poder, que é o Povo, está pagando alto preço. 
O contrato social que se sustenta em Rousseau cai por terra ferido ante o desrespeito e a incoerência dessas autoridades, que confundem suas representações e começam agir em seus próprios interesses, em detrimento dos interesses de quem lhes outorgou o poder de representá-lo, isto é, o Povo. 
É preciso que as autoridades entendam de vez que são vassalos do Povo. Os senhores não são donos do Poder, portanto, sejam exemplos dignificantes, cumpram seus mandatos com responsabilidade e realizem suas funções dentro daquilo que o Povo exige, dentro dos limites que a Constituição impõe, todos preservando a harmonia entre os  poderes e a  justiça social.



sexta-feira, 5 de junho de 2020

ARTIGO - Dom Climério e as CEBs (Padre Carlos)




Dom Climério e as CEBs



A chegada dos padres missionários Italianos e a presença de um Bispo motivado pelas reformas do Vaticano II e de Medellín, foram a combinação perfeita para que a Diocese de Vitória da Conquista pudesse gestar a transformação que aquela Igreja particular iria vivenciar nas três primeiras década pós-Concílio.  Desta forma, com uma profunda sintonia com as posições daquele Concílio, Dom Climério e seu Clero exercia o ministério episcopal sonhando com aquelas propostas de reformas. Vivendo de forma austera, foi ao encontro dos pobres, estimulando seus padres e seminaristas para que se dirigissem ao povo de Deus criando assim várias comunidades. Exortava a Igreja a ir à periferia da cidade e a zona rural e aos pastores a terem um estilo de vida austero como sinal do compromisso evangélico. Os oprimidos ocupavam uma posição central em seu ministério.
Foi através desta Igreja que os pobres na nossa cidade aprenderam que o papel da liderança não era representar ou falar em nome deles, mas sim, ter a capacidade de organizar, para que eles tivessem consciência da causa dos problemas que estavam enfrentando e se organizassem para resolvê-lo. Dentro da Igreja e da CEBEs podemos constatar ao longo de várias décadas a aplicação de uma prática social, estruturada a partir de princípios organizativo.
A Igreja que emergia do Concilio estava em constante movimento, em constante luta e as suas lideranças nasciam da referência que o próprio povo de Deus criava a partir de uma relação de confiança; por isto, dentro das CEBEs, ser liderança implicava, não em um status mas, em uma responsabilidade a mais, porque as Lideranças tinham a obrigação de alimentar a mística na oração e o papel de organizar o coletivo para procurar a solução para aqueles problemas.
As CEBEs da nossa Diocese se tornaram entre as décadas de sessenta até final da década de noventa em um grande celeiro de lideranças que ajudou na construção do projeto político que transformou Vitória da Conquista na terceira maior cidade do Estado da Bahia.
O surgimento das Comunidade de Base, como conhecemos, acontecem dentro do contexto do processo de desenvolvimento da cafeicultura da região e diante dos problemas enfrentados pelos trabalhadores, muitas lutas foram travadas com o apoio da Igreja: A greve dos catadores de café, a Barragem de Anagé, a fazenda Pau Brasil etc.
Ao ver aquela juventude que participou destas mudanças que transformaram nossa cidade partindo, sinto que todos nós estamos em dívidas com estes. Por isto, hoje vejo a importância de lembrarmos da contribuição ímpar que aqueles homens e mulheres tiveram nas reformas da Igreja e da sociedade. Assim, é importante resgatar a memória daqueles que dedicaram suas vidas a construção de uma nova Igreja; leigos, religiosos e clérigos, para que pudéssemos viver em um mundo melhor.  É esta geração que a cada dia vai se despedindo desta vida e levando consigo um pedaço da nossa Igreja e da nossa história. Não podemos permiti que suas lutas e vitórias sejam esquecidas. Estes Irmãos, constituem efetivamente parte da identidade da Igreja de Vitória da Conquista.

quinta-feira, 4 de junho de 2020

ARTIGO Manifesto “Estamos Juntos”. (Padre Carlos)




Manifesto “Estamos Juntos”.

 

 

Prezado leitor,

 

Fui procurado hoje por um amigo de fora das fileiras da esquerda para assinar um manifesto que pede o Impeachment do presidente. Confesso que fiquei desconfiado ao ver aquele “democrata de direita” recolhendo aquelas assinaturas. Com todo respeito que tenho por ele, falei: Não posso “assinar” um manifesto deste junto com Luciano Huck, Fernando Henrique Cardoso, Lobão, Alice Setubal (do Banco Itaú) e toda gente que se "solidarizou" com Aécio Neves, quando ele se recusou a aceitar o resultado das urnas de 2014, que apoiou o golpe de 2016, que votou em Bolsonaro em 2018 para tirar o PT.

O documento se chama: Manifesto “Estamos Juntos”. Confesso aos senhores que nessa hora gelei, como poderia estar junto com os responsáveis por tudo que está aí. O Manifesto fala que esquerda, centro e direita devem se unir pelo bem comum. Qual? O do povo ou o da elite? Não existe bem comum, existem as classes sociais e seus interesses.

Como posso acreditar nestas pessoas, será que estão mesmo   “preocupadas com a democracia brasileira”? Porque não se preocuparam em 2019 e silenciaram diante da escalada fascista.

Vocês que cobram tanto do PT uma autocritica, não seria a hora de fazerem uma por apoiar a chegado da extrema-direita ao poder?

Como pedir para quem foi preso, golpeado e criminalizado pelas elites para: “Deixar de lado as diferenças e lutar pelo bem comum” ... As reformas promovidas pela esquerda, que trazia desenvolvimento social esta sim era para promover o bem comum. Diante disto, essa gente em vez de lutarem pelo bem comum, promoveu um golpe de Estado, com direito a Lava Jato, e elegeu um fascista. Para tirar esse fascista do poder, que quer mandar só, sem a elite, aí ela lança um “manifesto em defesa da democracia”. Qual a democracia?

        
Não é  “hora de deixar de lado velhas disputas”. Minhas disputas são pela vida, democracia, igualdade e liberdade. Estas que vocês nunca ajudaram vencer. Esta luta não envelhece não é disputa velha?

“Eu acredito que o mundo será melhor, quando o menor que padece acreditar no menor…”





quarta-feira, 3 de junho de 2020

ARTIGO - A filosofia e a pós pandemia (Padre Carlos)




 

 

A filosofia e a pós pandemia

 

Outro dia um jovem me perguntou com filosofar dentro de um contexto de mundo infectado pelo covid-19? Pensei bastante e mesmo sabendo que iria fugir do tema que tinha proposto a falar, respondi aquela pergunta e acrescentei nova temática para minha fala.

Filosofar é ser aliado da paz, amigo da virtude e companheiro fiel da justiça. Desta forma, acredito que a filosofia é uma das disciplinas que podem ajudar a entender a atual situação do mundo globalizado e terrivelmente ameaçado pelo coronavírus. Sabemos que a globalização tem sido sobretudo tecnológica e econômico-financeira no quadro do neoliberalismo, é urgência maior pensar numa governança global (não digo um governo mundial, mas um comando global), para que o império da força da lei ponha limites ao império da lei da força do mais forte.  Na presente situação de crise global, vários polos do planeta se aliam já com intenções de domínio imperial global, a pandemia acabou por agudizar a tensão e a rivalidade entre a China e os Estados Unidos - e, neste contexto, pensar no diálogo multicultural e inter-religioso, em ordem à paz, à justiça, a uma atitude nova de respeito e cuidado da natureza, a nossa casa comum, a uma vida menos centrada no consumo imoderado, no ter, e mais no ser, nesse milagre que é ser, existir e conviver, também faz parte da filosofia.

Nestes tempos de pandemias, cada vez mais tomamos consciência disso -, quando percebe-se que o que tem de unir os seres humanos é a justiça, o amor, a solidariedade, a fraternidade, o respeito pela igualdade na diferença e pela diferença na igualdade, os seres humanos, todos, voltaram a encontrar-se e entenderam-se.

O mito da hegemonia americana do pós guerra tem perdido nos últimos tempos seu papel de mediador. Não podemos esquecer que o poderio militar nem sempre está ligado a liderança econômica que este símbolo traz, mas o mito transporta consigo uma verdade fundamental, "dá que pensar", como escreveu o grande filósofo do século XX, Paul Ricoeur.

O mundo do pós-guerra mudou, e aquela realidade bipolar que emergiu da guerra fria não existe mais. A nossa vida mudou muito com os avanços tecnológico, principalmente nas áreas das comunicações e da robótica, por isto é impossível não aceitar essa nova realidade. Mudanças que o mundo levaria décadas para passar, que a gente levaria muito tempo para implementar voluntariamente, a gente está tendo que implementar no susto, em questão de meses. É aí que o filósofo termina encontrando seu objeto de estudo, para que possa interpretar e buscar entender que mundo novo é esse. Este é o papel da filosofia neste momento tão difícil para a humanidade. São estes pensadores que ao teorizar esta realidade pós-coronavírus, ajudará outros profissionais para nos prepararmos para o que vem por aí. Porque uma coisa é certa: o mundo não será como antes.

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ARTIGO - A geração que fez a diferença! (Padre Carlos)

A geração que fez a diferença!      Decorridos tantos anos do fim da ditadura, observa-se que a geração da utopia está partindo e a nova...