sábado, 6 de junho de 2020

ARTIGO - São pedaços de mim (Padre Carlos)




São pedaços de mim
"Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói"...



Se pudessem ler nossas almas, não seriamos nós mesmos. Se isto um dia viesse acontecer, como poderíamos extrair dela o que escondemos no mais íntimo do nosso ser? Como poderíamos expressar a dor da saudade e o sentimento de ausência que esta traz?
         Como diz o poeta: a metade de mim que arrancaram, não sei se foi do corpo ou da alma que foi mutilado, só sei que dói e esta dor, não tem prazo de validade. Afinal, a “saudade é o revés de um parto” Ela é a única dor que não tem nenhum remédio que a faça parar de doer. Ela tem cheiro, tem voz, tem endereço e até um nome e sobrenome.
Não ´posso negar meu anseio pela transcendência, é ela que eleva a minha alma e devolve-me o que foi tirado. Nestas andanças, me perdi e me encontrei diversas vezes, mas em nenhuma delas deixei que levassem as lembranças que restaram de você.
   Quando faço silencio na alma, os espaços se enchem de sons que um dia existiram. (Pituba, Areal, Seminários, amigos e paixões etc.) É neste momento que o coração vai sufocando a alma com um vazio. Lembro-me da infância e das travessuras, grupo e jovens, núcleo de base do PT, sinto o medo e a angustia de estar preso no passado, porque os sentimentos e as paixões reaparecem como se estivessem retornando para cobrar uma dívida
     Mas a saudade do outro é uma dor que não tem dimensão. Não tem forma definida nem tempo limite para doer. Resta-nos fingir que estamos vivos, que noutro local qualquer da mesma cidade, metade de nós mesmos não anda por aí, não vive sem nós.

Eu não sei o que foi pior, o que doeu mais, lhe perder ou ter que crescer para aceitar sua perda.
A saudade arde no peito e isto é um fato! Como me reconciliar, como repactuar com a vida. Se és a “metade afastada /exilada/arrancada de mim”. Se existe algo que dói mais que saudade, por favor, eu não quero conhecer. Saudade dói, machuca, destroça. Aperta o peito e não nos deixa respirar. Não importa de quem seja… De um amigo que não conversamos mais, de alguém que não podemos alcançar, de um amor que já se foi. Se tem uma coisa que aprendi nestes anos foi que tudo passa. Os momentos passam, as pessoas passam, mas a saudade fica. Ela insiste em ficar, insiste em doer, insiste em lembrar.




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