sábado, 6 de junho de 2020

ARTIGO - Vocês não são donos do poder! (Padre Carlos)




Vocês não são donos do poder!



Como professor de filosofia, gostaria de afirmar que a grande vítima destas manifestações promovidas pelos simpatizantes do governo e as   propagandas bem articuladas por quem não devia fazê-la, tem sido a República e a frágil democracia brasileira. Não podemos negar, que a quebra da harmonia entre os Poderes está criando consequências a instabilidade das instituições, pois o reflexo da “briga” entre os Poderes Executivo e Judiciário, longe de ser aplaudida, merece reprovação, pois, do jeito como vão as coisas caminhando não é difícil prever um desfecho traumático. O povo não aguenta mais este comportamento tosco por parte do executivo.
O que precisamos neste momento de dor e desespero com uma morte por minuto causada pelo covid-19, é de paz, de harmonia entre os Poderes do Estado, para que se possa viver com segurança e tranquilidade neste País, só assim conseguiremos vencer esta crise.
Quando presenciamos torcidas organizadas em outra arena que não esportiva, entendemos o estrago que estas elites fizeram na confiança dos políticos e dos movimentos sociais, para tirar um partido do poder e uma liderança do coração dos brasileiros. Política não tem vácuoTem gente que acha isso, outros acham aquilo. A única certeza tão certa quanto o vácuo no espaço é a falta de vácuo na política.  Assim, com uma esquerda criminalizada pela grande mídia e uma crise institucional, outros personagens surgem para ocupar estes espaços com manifestações cujas palavras de ordem extrapolam as questões da pandemia para ressaltarem outros interesses políticos. Este quadro revela um componente novo, os problemas principais não são só de ordem sanitária pública com a pandemia, mas também de ordem política.
Já está por demais claro que o comportamento das autoridades não é de preocupação com o povo brasileiro em sua cotidiana luta pela sobrevivência. As autoridades estão preocupadas em se imporem ante as outras como as autoridades máximas, principais, detentoras da verdade política pela qual se justificam como tais, bem como do poder de prevalência sobre os demais.
Desprezando o princípio de Montesquieu que norteia as repúblicas democráticas, pelo qual o poder tripartite deve coexistir em harmonia, cada qual busca sobrepujar o outro fugindo aos limites da outorga constitucional originária do povo que os criou e os mantém. Os poderes executivos, legislativo e judiciário, ante o Poder originário são um único e mesmo poder, com as suas atribuições e funções próprias e não intercambiáveis.
Os erros, as incoerências, as imperfeições, as incompreensões, as vaidades e tudo o mais que destoam dessa harmonia política, não se encontram nesses poderes, mas sim, naqueles que os representam. São as autoridades as únicas responsáveis pelos malefícios causados ao povo brasileiro por suas ambições e ingerências, pelos quais o titular do Poder, que é o Povo, está pagando alto preço. 
O contrato social que se sustenta em Rousseau cai por terra ferido ante o desrespeito e a incoerência dessas autoridades, que confundem suas representações e começam agir em seus próprios interesses, em detrimento dos interesses de quem lhes outorgou o poder de representá-lo, isto é, o Povo. 
É preciso que as autoridades entendam de vez que são vassalos do Povo. Os senhores não são donos do Poder, portanto, sejam exemplos dignificantes, cumpram seus mandatos com responsabilidade e realizem suas funções dentro daquilo que o Povo exige, dentro dos limites que a Constituição impõe, todos preservando a harmonia entre os  poderes e a  justiça social.



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