sexta-feira, 5 de junho de 2020

ARTIGO - Dom Climério e as CEBs (Padre Carlos)




Dom Climério e as CEBs



A chegada dos padres missionários Italianos e a presença de um Bispo motivado pelas reformas do Vaticano II e de Medellín, foram a combinação perfeita para que a Diocese de Vitória da Conquista pudesse gestar a transformação que aquela Igreja particular iria vivenciar nas três primeiras década pós-Concílio.  Desta forma, com uma profunda sintonia com as posições daquele Concílio, Dom Climério e seu Clero exercia o ministério episcopal sonhando com aquelas propostas de reformas. Vivendo de forma austera, foi ao encontro dos pobres, estimulando seus padres e seminaristas para que se dirigissem ao povo de Deus criando assim várias comunidades. Exortava a Igreja a ir à periferia da cidade e a zona rural e aos pastores a terem um estilo de vida austero como sinal do compromisso evangélico. Os oprimidos ocupavam uma posição central em seu ministério.
Foi através desta Igreja que os pobres na nossa cidade aprenderam que o papel da liderança não era representar ou falar em nome deles, mas sim, ter a capacidade de organizar, para que eles tivessem consciência da causa dos problemas que estavam enfrentando e se organizassem para resolvê-lo. Dentro da Igreja e da CEBEs podemos constatar ao longo de várias décadas a aplicação de uma prática social, estruturada a partir de princípios organizativo.
A Igreja que emergia do Concilio estava em constante movimento, em constante luta e as suas lideranças nasciam da referência que o próprio povo de Deus criava a partir de uma relação de confiança; por isto, dentro das CEBEs, ser liderança implicava, não em um status mas, em uma responsabilidade a mais, porque as Lideranças tinham a obrigação de alimentar a mística na oração e o papel de organizar o coletivo para procurar a solução para aqueles problemas.
As CEBEs da nossa Diocese se tornaram entre as décadas de sessenta até final da década de noventa em um grande celeiro de lideranças que ajudou na construção do projeto político que transformou Vitória da Conquista na terceira maior cidade do Estado da Bahia.
O surgimento das Comunidade de Base, como conhecemos, acontecem dentro do contexto do processo de desenvolvimento da cafeicultura da região e diante dos problemas enfrentados pelos trabalhadores, muitas lutas foram travadas com o apoio da Igreja: A greve dos catadores de café, a Barragem de Anagé, a fazenda Pau Brasil etc.
Ao ver aquela juventude que participou destas mudanças que transformaram nossa cidade partindo, sinto que todos nós estamos em dívidas com estes. Por isto, hoje vejo a importância de lembrarmos da contribuição ímpar que aqueles homens e mulheres tiveram nas reformas da Igreja e da sociedade. Assim, é importante resgatar a memória daqueles que dedicaram suas vidas a construção de uma nova Igreja; leigos, religiosos e clérigos, para que pudéssemos viver em um mundo melhor.  É esta geração que a cada dia vai se despedindo desta vida e levando consigo um pedaço da nossa Igreja e da nossa história. Não podemos permiti que suas lutas e vitórias sejam esquecidas. Estes Irmãos, constituem efetivamente parte da identidade da Igreja de Vitória da Conquista.

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