Efervescência
do Movimento Estudantil
No calor dos anos 80, quando o Brasil ainda lutava para se libertar da ditadura militar, nascia um partido político que parecia mais um sindicato ou com o movimento estudantil. Este partido começava a ganhar força e conquistar corações e mentes. Era o Partido dos Trabalhadores (PT). Naquela época o partido parecia mais um guarda-chuva onde era acolhido diversas organizações de esquerda em busca de um ideal comum. Essa época também ficou marcada pelos chamados "anos dourados", do movimento estudantil e como a maioria dos militante vinha das universidades é interessante relembrar um momento histórico ocorrido em 1981, na Universidade Federal da Bahia (UFBA), que mostrou o protagonismo e a efervescência do movimento estudantil daquela época.
Dois eventos foram particularmente
emblemáticos: o Encontro Nacional dos Estudantes de Pedagogia e a Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Ambos atraíram jovens de
diversas partes do país, que buscavam intercâmbio de ideias, debates acalorados
e, acima de tudo, uma voz ativa na construção de uma nova realidade política.
No Encontro Nacional dos Estudantes de
Pedagogia, a UFBA se tornou o palco de uma verdadeira confluência de ideias e
experiências. Os padre Jesuitas abriram suas portas para a embaixada do Pará e
hospedou estudantes em paróquias e casas de conhecidos, fortalecendo os laços
de solidariedade e fraternidade entre os participantes. Nesse contexto, o movimento estudantil despontava como uma promissora organização, uma vez que acolhia diferentes grupos e
tendências de esquerda, sendo um verdadeiro ponto de convergência para aqueles
que ansiavam por mudanças profundas na sociedade.
Já a SBPC trouxe consigo o clamor pelo fim
da ditadura, representando um grito de resistência e liberdade. O clima de
mobilização e esperança era tangível, impulsionado por um movimento estudantil
vigoroso, ávido por mudanças sociais e políticas. As festas nas residências
estudantis ou em estabelecimentos locais se tornaram momentos de descontração e
união, onde se dançava ao som de Elba Ramalho, Alceu Valença e Luiz Gonzaga. O
Nordeste estava em alta, e o sotaque nordestino encantava a todos, tornando-se
uma marca de sucesso e identificação.
Nesse contexto, dois partidos exerciam papéis
relevantes: o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e o Partido Comunista
Brasileiro (o antigo "Partidão"). O PCdoB contava com uma grande influência e uma máquina organizativa
"Viração" se estruturava dentro da tendência popular no antigo MDB.
Enquanto isso, o "Partidão" apresentava uma estrutura mais
profissionalizada e organizada, tendo consolidado sua presença no cenário político
nacional. Já o PT, em seus primeiros anos, funcionava como uma força
aglutinadora dessas diversas organizações de esquerda. Os grupos eram
identificados por seus jornais ou pela sua origem. Assim, tínhamos o pessoal do PCBR, que era indentificar como o pessoal do Povão, o pessoal de Macarrão,
os independentes, o pessoal do 113 e o pessoal do racha e etc. Cada grupo
trazia consigo suas próprias perspectivas e propostas, mas todos compartilhavam
o anseio por justiça social e transformação.
Essa efervescência política e cultural dos
anos dourados refletia a energia de uma juventude engajada, sedenta por
participação e por moldar o futuro do país. O ambiente universitário
proporcionava um espaço propício para debates acalorados, troca de experiências
e formação de consciência política. Era uma época em que os estudantes se
sentiam empoderados, cientes de que poderiam influenciar e transformar a
realidade ao seu redor.
Nesse contexto, a UFBA assumiu um papel
central, abrindo suas portas e corações para receber estudantes de todo o
Brasil. As paróquias e as casas de conhecidos se tornaram abrigos para os
jovens viajantes, criando laços de amizade e solidariedade que ultrapassavam as
fronteiras geográficas. A troca de experiências e ideias fortalecia a união
entre os participantes, consolidando um espírito de coletividade e um senso de
pertencimento a um movimento maior.
O PT, como um guarda-chuva das organizações
de esquerda, desempenhava um papel fundamental naquela época. Era um espaço de
convergência, onde diferentes ideologias e grupos se encontravam para construir
uma agenda política comum. O partido se destacava por sua capacidade de unir as
demandas e aspirações das diversas correntes de pensamento, consolidando-se
como uma alternativa real de transformação social.
Além da política, a cultura também
desempenhava um papel importante nesse momento histórico. A música, em especial
a música nordestina, servia como trilha sonora para os encontros e festas,
expressando a diversidade e a riqueza cultural do país. Os ritmos de Elba
Ramalho, Alceu Valença e Luiz Gonzaga embalavam as noites de celebração,
tornando-se símbolos de uma identidade que se fortalecia e se afirmava.
Os anos dourados do movimento estudantil
representaram um momento de efervescência, de luta e de esperança. Foi uma
época em que os jovens se uniram em prol de uma sociedade mais justa e
igualitária, deixando de lado diferenças e divergências em nome de um ideal
maior. Embora o tempo tenha passado e muitas transformações tenham ocorrido
desde então, é importante lembrar desse período como um marco na história
política e social do Brasil, que demonstrou a força e a capacidade de
mobilização de uma juventude determinada a mudar o mundo.
Hoje,
olhando para trás, podemos refletir sobre o legado deixado por aqueles jovens.
O movimento estudantil daquela época plantou sementes de conscientização e
ativismo que deram muitos frutos e continuam a florescer até os dias de hoje.