Nice Silveira e Zélia Serra, duas figuras notáveis.
Estava imerso na leitura de um livro de Nice Silveira, renomada pioneira da psiquiatria brasileira, quando uma enxurrada de pensamentos sobre Zélia Serra, grande psiquiatra de Brasília e minha amiga, invadiu minha mente. Ambas nutriram-se da mesma fonte de conhecimento: a Escola de Medicina da Bahia, a instituição mais antiga do país. Enquanto folheava as páginas, o livro evocou em minha memória os preciosos conselhos e ensinamentos que Zélia me transmitiu ao longo de nossa amizade.
Rememorando um episódio marcante, recordo-me de um dia em que Zélia e eu nos encontrávamos diante do imponente Cristo Operário, escultura magnífica concebida por Mario Cravo. Essa obra de arte simboliza a fé e o trabalho do povo baiano. Naquele instante, sem aviso prévio, Zélia se agachou e apanhou uma pedra do chão. Fitou-me profundamente nos olhos e, com voz enigmática, disse: "Guarda esta pedra para mim, um dia eu vou querê-la de volta". Naquele momento, meu entendimento sobre sua mensagem era nebuloso, mas obedeci, colocando-a no bolso e posteriormente em minha gaveta, onde permaneceu por anos a fio.
Anos mais tarde, recebi a notícia do falecimento de Zélia. Uma onda de saudade e reflexão me invadiu, trazendo à tona a lembrança da pedra e do olhar enigmático daquela ilustre psiquiatra. Foi então que finalmente compreendi a profundidade de suas palavras. A pedra era mais do que um simples objeto, era um símbolo vivo de de nossa amizade e de todo o aprendizado mútuo que compartilhamos ao longo dos anos.
Aquela pequena pedra guardava em si o poder de despertar memórias e evocar sentimentos. Ela carregava consigo um significado muito mais profundo do que poderia ser apreendido à primeira vista. Zélia, com seu gesto singelo, estava me ensinando sobre a importância da memória e do afeto, e como coisas aparentemente insignificantes podem abrigar histórias que tocam o âmago da alma.
Hoje, conservo a pedra como uma relíquia preciosa, uma lembrança tangível de Zélia e de tudo o que ela representou em minha vida. Ela se tornou um símbolo das experiências compartilhadas, das conversas profundas sobre a psiquiatria e sobre a complexidade da existência humana. Cada vez que seguro a pedra em minhas mãos, sou transportado de volta aos momentos vividos ao lado de Zélia, à sua sabedoria e à sua presença reconfortante.
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