A democracia precisa de ajuda
Em vez de anteciparem à campanha eleitoral a atenção dos
partidos e dos órgãos de imprensa, deveriam se preocupar com nossas formações
partidárias de matriz democrática (todas elas) se levasse a sério, e não
ficassem apenas na retórica, entenderia como os sinais de degradação, cívica e
política, tem levado o país a mergulhar em uma das suas piores crises de
valores de todo o período republicano.
Diante disto, vão sucedendo os acontecimentos, dia, após
dia e as travas nos nossos olhos, terminam desviando nossa atenção para
assuntos bem mais importantes.
Não podemos negar que sempre existiu no Brasil um
seguimento da sociedade que se declara
conservador, mas o que chama a nossa atenção é o aumento desta parcela nas
novas gerações. Estamos presenciando uma nova tendência que tem aumentado na
ultima década, ela indica que um terço dos brasileiros avalia de forma positiva
à possibilidade de serem governados por um líder forte, que não tenha que se
submeter a eleições ou ao escrutínio do Parlamento. Isto é, dito de outra
forma, cerca de 30% dos nossos compatriotas não rejeitam, em absoluto, a
hipótese de serem dirigidos por um líder autoritário.
Como, se tudo isto já não fosse suficientemente
preocupante, ficamos também sabendo que, por referência a um conjunto de países
que se dizem democráticos em que similar análise foi feita o Brasil na America Latina, ocupa a 10ª posição; no mundo, aparece na
posição de número 52, longe de democracias como a Áustria, a Finlândia,
a Islândia ou a Noruega (onde a percentagem de recusa dessa solução é superior
a 80%) e muito próximo de países do Leste Europeu com experiências democráticas
mais recentes ou, até, com regimes autoritários.
Ao mesmo tempo, e de forma aparentemente paradoxal, nove
em cada dez Brasileiro avaliam a democracia como uma forma boa ou muito boa de
governar, algo que como pesquisador nesta área considera estas informações com
uma falta de compreensão do próprio conceito de democracia e do que ela, por
natureza, envolve.
Quando chamamos a atenção da sociedade para este fato, não
precisamos de grandes estudos e gráficos para deduzir o óbvio. Basta prestar a
devida atenção no dia-a-dia da nossa sociedade: no incremento dos sentimentos
de insatisfação, no crescimento, à esquerda e à direita, dos partidos que rejeitam
uns de forma mais clara, outros de modo mais dissimulado, o modelo democrático
ocidental vem sofrendo um aumento exponencial da sua representatividade através
do aumento das abstenções, indicador que ilustra que cada vez é maior o distanciamento
entre representados e representantes.
Assim os intelectuais deste país, numa tentativa irresponsável
de minimizar este problema, afirmam que não se trata de um problema especificamente
brasileiro, porque se registra em outros países, até, referência entre as democracias
contemporâneas, como é o caso dos Estados Unidos. É verdade. Mas isso não deve
servir-nos de conforto, porque se não podemos resolver os problemas dos outros,
temos a obrigação de encontrar caminhos para solucionar os nossos. E depois porque,
como alguns exemplos acima referidos demonstram, esta evolução negativa é fruto
da irresponsabilidade das nossas elites.
Como professor de filosofia, gostaria de colocar esta
questão num domínio mais teórico, assim, podemos dizer que aquilo que as
pesquisas e a conjuntura como esta que estamos vivendo, revelam no fundo, é uma
crescente erosão da legitimidade dos governantes. E, a tal propósito, vale à
pena relembrar que, em democracia, essa legitimidade não tem que ver, apenas,
com o respeito pelas regras que determinam as formas de acesso ao poder, com
natural destaque para as eleições. Ela revela também, como uma forma de avaliar
o modo como aqueles se comportam no exercício das suas funções e com o êxito
(ou o inêxito) do seu desempenho.
Não podemos ficar lutando uns contra os outros dentro do
campo democrático, a nossa atenção tem que está voltada para a defesa do Estado
de Direito, melhor seria, portanto, que as nossas formações partidárias de
matriz democrática (todas elas) se inquietassem, a sério, e não apenas na
retórica, para que possamos defender a democracia. Só assim, poderemos impedir
o aumento da tendência de autoritarismo! Isto é, se houver a humildade de reconhecer os nossos
erros e traçar novos caminhos. Se houver a disponibilidade para substituir a
preocupação de governar para o imediato por uma visão estratégica de longo
prazo. Se houver a coragem para trocar a popularidade fácil pela determinação
de levar a cabo reformas de fundo, tantas vezes complexas, mas absolutamente
indispensáveis. Se houver, enfim, a capacidade para reconciliar a política com
os cidadãos.