sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

ARTIGO - Do corporativismo ao partidarismo (Padre Carlos)

 Do corporativismo ao partidarismo

 

 


Há profissões que, pela sua posição no estado democrático, gozam de privilégios especiais, uma das quais é ser juiz. Muito bem. Mas isso não significa que os magistrados, juízes e Ministério Público não tenham uma posição sobre a sua própria profissão e sobre a política. Este problema começa quando juntaram privilégios especiais em decorrência do cargo e comportamentos politicamente motivados. O primeiro desses comportamentos foi a tendência para confundir os seus poderes e funções legais com um especial corporativismo, que excedeu os poderes legítimos e provocou uma ruptura na administração da justiça. Nenhum poder na nossa democracia é intocável, embora alguns Concelhos corporativistas se apresentassem como tal, justificando todos os procedimentos e decisões como sendo indiscutíveis e aceitáveis, mesmo quando se tratavam de vícios da justiça.


Diante disso, podemos afirmar que a sistemática violação do segredo de justiça cometido por esta força tarefa  foi um dos casos, em que se usou a opinião pública para pré-julgar, mesmo para um leigo fica claro que este comportamento está para além do direito e da lei.

A combinação do corporativismo com o populismo no nosso sistema de justiça, a vontade de agradar ao "povo" as grandes corporações de comunicação e o estrelismo nas redes sociais, quase destruí a democracia e está longe de ser eficaz na luta contra a corrupção e o abuso dos poderes na política. Pelo contrário, deixou escapar, por incompetência ou desleixo, muitos casos que mereciam ser julgados como crimes, e depois usou alguns casos mediáticos como sendo "exemplares". Podemos perceber que no meio destes processos, passam a existir uma extensa lista de abusos do poder e do direito e de verdadeiras injustiças. 

Com isto, não estou mandando cruzarem os braços nem estou pedindo para terem pena dos acusados de corrupção que fazem parte das elites, até porque há muitos nas camadas mais baixa, que são sujeitos a idênticos abusos não tiveram a garantia do contraditório, da ampla defesa, isto é, qualquer defesa. A justiça é, para usar a terminologia marxista, "de classe". Só que, a partir do momento quando se aceita a violação de regras e procedimentos, lá na telinha do plim plim porque é aceita com palmas pelo populismo, termina perdendo sua essência.

Assim, podemos afirmar que  no caso das forças tarefas que se intitularam palatino da justiça, está igualmente violando a imparcialidade do direito e da lei e legitimando o comportamento invisível também para os pobres.

Vivemos nestes últimos anos uma neurose coletiva de forma inconsciente, pela necessidade popular de vingança social, a subverter a justiça. E se pensam que isso apenas funciona de forma "exemplar" para uma pessoa ou partido, enganamo-nos porque tornamos ainda mais invisível as violências face aos mais pobres.

Será que já paramos para pensar o que terminamos aceitando em nome de uma vingança política?   Aceitamos que o Ministério Público "escolhesse" o juiz em função dos seus interesses da sua atuação.

   Aceitando que, para esconder dez anos de investigações infrutíferas, lavassem a imagem destas pessoas apenas deixando a Magistratura ou o Ministério Público. 

 Aceitamos que não se conhecessem os modus operandi destes agentes públicos  que coordenavam estes “processos”.   

 Aceitamos que se usassem as pressões da prisão, mesmo indevida, e do envolvimento familiar, para obter admissões de culpa quando havia fragilidade do elemento “evidência” na composição da prova.


 Aceitamos que se violasse sistematicamente o segredo de justiça, para que, mesmo sem provas sólidas em tribunal, se obtivessem uma condenação na opinião pública.

Tudo isto é aplaudido no jornal como sendo a "justiça que estava  funcionando", quando deveria ser repudiado pelas pessoas de bem que sabem que a democracia vive de procedimentos que, violados, podem dar origem às maiores injustiças. Protegidos pelo corporativismo profissional e pela opinião populista que queria mais sangue do que lei, juízes e magistrados vão passar impunes por tudo o que fizeram, enquanto a democracia se fragiliza a cada dia. 


 


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