terça-feira, 6 de agosto de 2019

ARTIGO | “Vigiar e Punir” (Padre Carlos)



“Vigiar e Punir”




          Nem sempre é fácil destrinçar a linha, por vezes muito ténue, que separa a civilização da barbárie. A própria história da humanidade, nos revela múltiplas formas de barbárie. Há, porém, ocasiões em que essa demarcação se pode estabelecer com absoluta nitidez.
Quando assim é, tudo se torna simultaneamente mais simples e mais dramático. Podemos afirmar que esta fronteira pode ser bem representada com a situação em que se encontram os nossos presídios e a população carcerária.


            Com isto, queremos chamar a atenção da comunidade sobre esta questão e lembrar a sociedade, que estas pessoas infelizmente não fazem parte das políticas públicas de segurança e que os presídios são a válvula de escape para quando todo o resto falhar.


            O filósofo francês Michel Foucault descreve em sua obra clássica “Vigiar e Punir” como os Estados europeus foram, no século XIX, aprimorando seu direito de punir os que decidiam viver às margens da lei. Foucault nos mostra que os europeus foram fazendo o suplício desaparecer e definindo o caráter essencialmente corretivo da pena.




Descrição
Vigiar e punir: nascimento da prisão é um livro do filósofo francês Michel Foucault, publicado originalmente em 1975 e tido como uma obra que alterou o modo de pensar e fazer política social no mundo ocidental. Só foi publicado no Brasil traduzido em 1987.


            Eles modularam os castigos de acordo com as culpas. As punições passaram a ser menos físicas e mais mentais. Foucault diz ainda que se passou a ter uma “discrição na arte de fazer sofrer, um arranjo de sofrimentos mais sutis, mais velados e despojados de ostentação”. Mas, isso foi lá na Europa. Aqui no Brasil não aconteceu nada disso.


            Importamos o modelo da masmorra medieval e com ele seguimos até hoje. Nós não temos presídios modernos para onde os transgressores da lei possam ser levados para purgarem suas culpas e poderem voltar ao convívio da sociedade. O que temos são esses deploráveis centros de ajuntamento de indesejáveis. Para lá mandamos aqueles que não queremos ao nosso lado. Enviamos com a esperança que, de lá, nunca mais saiam. E se tiverem que sair que, pelo menos, estejam mortos.


            Mas, criamos locais para que os transgressores bem-nascidos e a elite política e econômica possam ter alguma punição sem que sejam despojados de suas condições econômicas, sociais e políticas. Cuidamos bem da elite que vai parar atrás das grades, sempre com a esperança que ela possa retornar ao convício social como se nada tivesse acontecido.


            Já com os “Josés” e as “Marias” de sempre a coisa é diferente. Não queremos ressocializar ninguém. Para que mesmo vamos dar mais uma chance para aqueles que não merecem ter oportunidades, pois nasceram pobres e pobres devem morrer.


            Assim, nosso modelo de masmorra medieval nos serve bem, pois lá se pratica toda sorte de castigos corporais e mentais. Lá se aniquila aos poucos, e com requintes de crueldades, aqueles que nos achamos que, afinal de contas, merecem mesmo. O fato que demostra de forma claro o que estou falando, é só olharmos a nossa volta, somos de alguma forma responsável pelos 62 presos mortos no massacre no Centro de Recuperação Regional de Altamira, no Pará, na segunda-feira (29/07/2019), 26, ou 41%, ainda aguardavam julgamento, segundo informações divulgadas pelo sistema penitenciário do Estado. Entre os 58 detentos que perderam a vida no presídio, 25 eram provisórios, 26 condenados, e apenas sete foram julgados e respondiam pela pena.
            Quatro vítimas morreram durante a transferência, na quarta-feira (31/08/2019), para outras cadeias do Estado. Destes, um era provisório, um condenado e os demais já haviam sido condenados.
Quem não se lembra da chacina de 56 detentos no maior presídio do Amazonas e o que o poder público fez para tentar retomar o controle das cadeias.


            Como Padre e coordenador da Pastoral Carcerária, tive a oportunidade de visitar vários presídios e constatar que existe na verdade uma reprodução de um modelo que é nacional. Vimos que a questão carcerária não é parte das políticas públicas de segurança e que os presídios são a válvula de escape para quando todo o resto falhar.


            Os governos parecem nos dizer que não temos que nos preocupar se as políticas públicas nas áreas de educação, saúde e moradia falharem, pois sempre teremos as masmorras para atirar os que o Estado não conseguir atingir com seu enorme braço.


            Qualquer pessoa que conhece a realidade sabe que o sistema prisional brasileiro está falido e desestruturado. Segundo dados oficiais, o Brasil tem a terceira maior população carcerária do mundo. Dos presos, mais da metade é constituída por jovens menores de 30 anos, em sua maioria pobre e negra e com baixo grau de instrução escolar. Quase a metade está em situação provisória, constituída de pessoas que ainda não foram julgadas ou nem sequer ouvidas e indiciadas.


            Com isso tudo, não estou querendo dizer que devemos ser benevolentes para com os marginais vindos das camadas mais baixas. Também não acho que piorar o que já não presta é a solução. E, por favor, não me falem em pena de morte.


            Pois, num país onde ainda se morre por causa da picada de um mosquito e de disenteria e diarreia, por falta de esgotos, não é preciso mais utilizar esse expediente medieval, de um tempo em que o Estado ainda não tinha aperfeiçoado suas maneiras de punir.


            No decorrer dos séculos, homens e mulheres sinceros têm lutado para diminuir a injustiça e aumentar a justiça. Assim os Movimentos de Direitos Humanos vem buscando as reforma necessárias com o objetivo de agilizar o nosso sistema. Processos jurídicos e sistemas judiciais têm sido revisados e reorganizados. Ainda assim, a injustiça continua!


            Não podemos esquecer que antes de ser juiz, Deus é telespectador das nossas ações. Nenhuma atitude deixará de ser julgada. Para Ele, não existe justiça cega.


Padre Carlos





Compartilhe este artigo nas suas redes e divulguem nosso blog: https://padrecarlospt.blogspot.com



segunda-feira, 5 de agosto de 2019

ARTIGO - A Teologia da Libertação é resgatada ( Padre Carlos )


A Teologia da Libertação é resgatada


·          
·          
·          
            Quando fiquei sabendo através da imprensa sobre o convite feito pala Pontifícia Comissão para a América Latina convidando o padre peruano Gustavo Gutiérrez para, no congresso comemorativo dos 40 anos da Conferência de Puebla (no Vaticano de 2 a 4 de outubro), falar sobre a opção preferencial pelos pobres, na hora passou um filme na minha mente e agradeci a Deus por ter me dado esta oportunidade de poder assistir o grande encontro da Igreja com os oprimidos.
          
  Este convite ao teólogo que é considerado um dos "pais da Teologia da Libertação" me deu alento e me fez acreditar, que se trata de um novo passo do Vaticano na reabilitação dessa corrente teológica.
            As coisas não acontecem por acaso, em setembro de 2013, o Papa já havia recebido Gustavo Gutiérrez na Casa de S. Marta e foi justamente naquele encontro ou poderia dizer, naquele abraço fraterno que o Pontífice lhe dera, que me chamou a atenção para a possibilidade deste fato. Na sua visita pastoral a Lima, voltou a se encontrar com este teólogo, no início de 2018. Ainda no ano passado, quando o teólogo peruano completou 90 anos, o Papa endereçou-lhe uma afetuosa carta: "Uno-me à tua ação de graças a Deus e agradeço-te pela tua contribuição à Igreja e à humanidade através do teu serviço teológico e do teu amor preferencial pelos pobres e descartados da sociedade", escreveu o Papa. Nessa carta auforia, Francisco agradeceu também a Gutiérrez os seus esforços e a sua "forma de interpelar a consciência de cada um, para que ninguém fique indiferente perante o drama da pobreza e da exclusão".
            O convite a Gutiérrez para falar em Roma põe fim a décadas de condenação do seu pensamento teológico e salvaguarda o aspeto mais relevante da Teologia da Libertação: a opção preferencial pelos pobres. Um conceito a que o Concílio Vaticano II abriu caminho e que as Conferências Gerais do Episcopado Latino-Americano consolidaram. A terceira delas decorreu em 1979, na cidade de Puebla de Los Angeles, no México.
            É verdade que a Teologia da Libertação, ao fazer uma leitura marxismo, defendeu postulados que a Igreja não podia acolher – é justamente daí que vinheram as sucessivas condenações por parte da Congregação da Doutrina da Fé. Nem tudo, porém, está errado nesta teologia. E essa parece ser a mensagem que o Vaticano e o Papa pretendem agora passar ao acolher e louvar um dos seus proeminentes teólogos.
            A Teologia da Libertação sempre deu muita relevância, para algumas ferramentas de pesquisas, são estas às ciências humanas e sociais. A antropologia, a psicologia, a sociologia foram durante anos olhadas com desconfiança ela instituição, mas a Igreja não pode descartar o seu interesse para a sua ação pastoral. Pelo contrário, deve acolher as suas contribuições e utilizar tudo aquilo que ajude a compreender melhor o homem, a cultura e a sociedade para melhor anunciar o Evangelho.
     
       Sabemos que o responsável por não aceitar a TL não o fazia por maldade, mas, o medo na guerra fria, era deixar corromper o anúncio do Evangelho com uma filosofia, psicologia ou sociologia. Este perigo não é de hoje. Já aconteceu com o platonismo, que introduziu na fé cristã o dualismo de alma e corpo, que não é cristão. Como falei esta semana em outro artigo, para Jesus Cristo, o corpo não era mau, sujo e pecaminoso, nem a alma pura, bela e encarcerada num corpo do qual tinha de se libertar.
            Diante disto tudo, podemos hoje afirmar, que a filosofia marxista tem conceitos válidos para serem utilizados pela teologia na proclamação do Evangelho, como tem também outros que são inaceitáveis. A Teologia da Libertação terá que entender que esta filosofia é mais uma ferramenta de estudo e interpretação. Só assim poderá ser útil a uma Igreja ao serviço dos pobres.

Padre Carlos



Compartilhe este artigo nas suas redes e divulguem nosso blog: https://padrecarlospt.blogspot.com

domingo, 4 de agosto de 2019

ARTIGO - A meritocracia brasileira ( Padre Carlos )




A meritocracia brasileira

            Um dos grandes defeitos dos governos do PT, foi não fazer com que as pessoas que estavam sendo beneficiadas pelos programas de governo que buscavam diminuir a desigualdade, entendessem que a melhora da qualidade de vida estava relacionada a estas ações governamentais. É justamente quando estas medidas passam a ter resultados e estas diferenças começam a ser constatada de forma clara, que as pessoas passaram a acreditam na meritocracia. E o que mais nos impressiona e contraria todas as analise critica é constatar que é justamente onde há maiores diferenças entre ricos e pobres, isto é no sul e sudeste do país, que encontramos mais pessoas que aceitam que o mundo é justo e que com esforço qualquer um consegue chegar ao sucesso.
            Quando tomamos consciência que vivemos num mundo dominado por um enorme individualismo, que valoriza a autodeterminação e a independência, todas estas coisas passam a ter sentido para gente. O ser capaz de ter sucesso por si próprio, o ser “special one”, diferente dos outros. Por isso, afirmar que se deve aos outros o sucesso pessoal seria um gesto de coragem e enfrentamento a ideologia burguesa vigente, mas foi à pura verdade. A psicologia social mostra que muitas das nossas escolhas e mesmo a ideia que fazemos de nós próprios são determinadas em grande parte pelas relações que mantemos com as outras pessoas. Como é que um jovem negro, que estudou em escola pública a vida toda, chega a uma universidade federal através de cotas é recebido pelo conjunto de alunos oriundos de camadas abastardas e de alguns professores que reproduzem uma ideologia de classe, é justamente nesta hora que passamos a entender a importância do Movimento Negro e das ONGS que fazem este trabalho para que os jovens negros possam construir uma autoestima positiva diante de tanta “diversidade”.  
  
          Não, não somos tão autónomos ou independentes como pensamos. Somos o resultado de muitas experiências, todas elas experiências sociais. Sem o ambiente social em que nos movemos – ou em outro ambiente social – seríamos pessoas diferentes. E chegamos mesmo a ser pessoas diferentes em diferentes contextos sociais.  Somos capazes de exprimir opiniões contraditórias em grupos diferentes, como por exemplo, de concordar num contexto com as “barrigas de aluguer” e em outro discordar. Para não ferir sensibilidade, para não provocar divergências, para não sermos vistos como diferentes – tudo isto é claro, com boas razões, mas onde esta mesmo a nossa tão proclamada independência e “personalidade”?
            A crença no individualismo é mais que uma certeza é uma ideologia que perpassa todas as camadas da nossa sociedade burguesa e tem como primícias que, com força de vontade, cada um consegue superar as dificuldades que enfrenta e ter sucesso, estão profundamente enraizadas. E está associada outra crença muito difundida e que não prestamos atenção como governo: a da meritocracia. Acredita-se que o mundo é justo e que o sucesso se alcança através do mérito pessoal. Que quem se esforça sempre alcança que quem merece irá ser bem-sucedido, e que quem é pobre, alguma coisa fez para isso, alguma culpa tem.
            Estas ideias de sucesso – ou de insucesso – pressupõem pensar nas pessoas como indivíduos isolados, vivendo num vacum social, como se todos fôssemos iguais e não houvesse barreiras ou incentivos às nossas ações. É uma ideia profundamente falsa, porque sabemos que o jogo é de carta marcada e que o juiz é parcial, que os pilares da nossa sociedade foram assentados em desigualdades que não têm nada haver com justiça. Que não é necessariamente quem merece que tem mais, que nem sempre o esforço ou a bondade são recompensados.
            Desta forma, de acordo um estudo de uma equipa de psicólogos sociais e sociólogos com dados recolhidos junto de amostras representativas da população brasileira, as ideias meritocracias estão muito difundidas entre nós. Só cerca da metade das pessoas discordam de afirmações como a de que, “de uma maneira geral, as pessoas merecem aquilo que lhes acontece”, o que mostra que existe ainda uma grande adesão a estas ideias meritocracias.
     
       E não se trata “apenas” de ideias feitas. Estas ideias têm consequências negativas. A primeira é a validação das desigualdades sociais. A investigação na psicologia social mostra que as crenças individualistas e meritocracias são um dos principais mecanismos cognitivos que mantêm a tolerância ou mesmo a cegueira face às desigualdades sociais. Apesar de o Nordeste brasileiro ser uma região pobre, é nas regiões mais ricas, isto é, no sul e sudeste do país em que encontramos uma maior desigualdade e em decorrência disto, encontra um terreno fértil para as pessoas acreditarem na meritocracia. É justamente onde há maiores diferenças entre ricos e pobres que encontramos mais pessoas que aceitam que o mundo é justo e que com esforço qualquer um consegue chegar ao sucesso.
            Enquanto continuarmos acreditando que merecemos e conquistamos tudo sozinhas, sentiremos menos que devemos algo e, em decorrência disto poderemos continuar com a nossa neutralidade em decorrências as lutas que se travam na sociedade. 

Padre Carlos



Compartilhe este artigo nas suas redes e divulguem nosso blog: https://padrecarlospt.blogspot.com

sábado, 3 de agosto de 2019

ARTIGO - A morte não é o fim ( Padre Carlos )




A morte não é o fim




            “Disse-lhe Jesus: ‘Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que morra, viverá.” João 11:25 (NVI)

            Uma das questões que tem me chamado atenção nestes últimos tempos é como temos nos relacionamos com a morte e com a vida, com o existir e com o partir.
            Podemos constatar nos últimos anos, uma enorme crise na sociedade ocidental. O pós-guerra marcou no inconsciente desta geração que sobreviveu aquela barbárie a uma busca incessante de um espetáculo, voltada para tê-lo, para consumi-lo sem limites, e a necessidade de viver de forma intensa o presente, o existencial.  A partir daí, ficou uma grande lacuna um verdadeiro vazio e o partir e a morte? Da qual se fez tabu!
   
         Não precisa ser sábio para entender, que uma sociedade que não sabe conviver, aceitar e entender a morte também não saberá viver com a vida, isto é com sua existência. Penso que, para entender e conhecer uma sociedade, o mais importante não é saber como é que nela se vive e sim, saber como é que ela se relaciona com a morte, como nela se morre e como este povo se relaciona com os seus mortos. Ora, na nossa sociedade, sobretudo por causa do desprezo em relação à religião, já não há esperança em relação à ressureição, a vida eterna. Então, numa sociedade que não tem no seu inconsciente as primícias da eternidade, só lhe resta à certeza dos instantes, estes infelizmente não tem capacidade de formar um todo e, por isso, se devoram uns aos outros. Este talvez tenha sido um dos grandes motivos que levaram Sartre e o existencialismo exercer uma forte influencia em toda uma geração.   
            A um agora se segue outro agora... e assim sucessivamente. E é preciso viver com ansiedade o instante, consumir, correr, afirmar-se até esgotar todas as nossas forças, porque, depois, não há mais nada. Este é hoje o nosso problema maior. Não sou a favor do pensamento mórbido sobre a morte - infelizmente, a própria Igreja também utilizou o medo da morte para exercer o poder -, mas penso que o pensamento sadio sobre a morte traz sabedoria ao viver.
            Não podemos esquecer que o poder é fundamental para entendermos as grandes questões que envolveram e envolve a problemática em torno da história da Igreja, concretamente na sua contradição com o cristianismo originário. O cristianismo tem a ressurreição como resposta à morte, mas não sabe falar dela. O platonismo engessou o cristianismo e não podemos conceber o ser humano como composto de duas partes diferentes e separadas: o corpo (material) e a alma (espiritual e consciente). 
            A ressurreição deve entender-se na dinâmica do corpo-pessoa aberto à transcendência. Uma vez que a Igreja não sabe lidar com o corpo, termina falado só da alma. Mas hoje, no quadro da antropologia, não se pode pensar em dualismo de alma e corpo
     
      O que eu quero dizer é que quando nos relacionamos com morte, ficamos sem palavras, ficamos sem discurso e sem uma resposta em relação ao corpóreo. É o indizível. Porque nós estamos preparados para pensar dentro de um contexto de espaço e tempo, e a morte retira-nos precisamente do espaço e do tempo. Mas a fé do cristianismo na ressurreição é essencial. Quem acredita em Deus que é amor crê que não será abandonado por Deus nem mesmo na morte. Na morte, em vez de cair no nada, o crente espera entrar na plenitude da vida eterna, da vida em Deus

Padre Carlos.




Compartilhe este artigo nas suas redes e divulguem nosso blog: https://padrecarlospt.blogspot.com


quinta-feira, 1 de agosto de 2019

ARTIGO - Sobreviver é a palavra certa ( Padre Carlos )


Sobreviver é a palavra certa






            O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem carácter, dos sem ética...
O que me preocupa é o silêncio dos bons".
M. Luther King
            Na verdade, aquilo que me perturba e angustia, aquilo que me preocupa, diante do tudo o que estamos vivendo hoje no Brasil e no mundo da política, não são as vozes dos que apenas sabem caluniar e acusar, dos que usam a voz apenas para criticar, mentir ou perseguir...
            O que me preocupa é a falta de voz dos justos e dos sérios, dos homens públicos e dos grandes estadistas que tenha como missão seja no judiciário ou no parlamento, desempenhar com dignidade e moral o espírito de homem público.
  
          Aquilo que me corrói a alma e o coração é a inércia e o aumento dos que são capazes e cúmplices de deixarem de ser algo maior e mais nobre.
            O que me mata um pouco a cada dia, não são os gritos dos que apenas conseguem enxergar o mal, dos que inventando condenam o seu próximo, daqueles que vivem sufocados nas intrigas, conluio e boatos, na busca incansável de reconhecimento pessoal, na busca incessante de aplausos e honrarias a qualquer custo.
            O que me desespera mesmo é o silêncio dos honestos, dos simples, dos humildes, dos justos e dos homens de bens.
            O que me escandaliza não é as consequentes "vitórias" dos vaidosos e arrogantes, dos que defendem a tortura, dos que retiram direitos e conquistas dos mais pobres.
            O que me fere de morte é constatar que a vitória dos bons e dos honestos parece tardar mais do que podemos suportar...
            Enquanto calarmos o bem e a verdade, já sabemos que os "filhos das trevas"'gritarão mais alto e mais forte!
            Afinal tudo depende da atitude e postura que colocamos na vida.
            É que a indiferença também mata.
            A indiferença também é pecado!
            A indiferença atrasa a "hora"'do Reino de Deus.
            A indiferença é apenas a qualidade dos acomodados e apáticos.
            Que mata!
            “Que mata antes de se morrer”!



Compartilhe este artigo nas suas redes e divulguem nosso blog: https://padrecarlospt.blogspot.com




quarta-feira, 31 de julho de 2019

ARTIGO - A Direita e a Besta ( Padre Carlos )





A Direita e a Besta



            Um dia, daqui a um ano ou mais, vamos lembrar o que pensávamos e o que dissemos neste momento. Porque atravessamos um período delicado e critico na vida do País, mas também na de cada um dos brasileiros que votaram ou não neste projeto. 
            Não falo das consequências que com certeza chegarão para todos diante deste desgoverno que se estalou em Brasília. Falo do ódio, da raiva, da conivência que atravessa a sociedade, e para quem viveu os anos de chumbos constata como se assemelha em tudo. 
   
         É como se existissem barreiras intransponíveis dentro das famílias, entre os casais, amigos, colegas de trabalho. A memória de quem viveu e temeu esses tempos continua viva. Infelizmente muitas das boas almas que são formadores de opinião e rostinhos bonitos da TV não eram nascidos quando a besta pariu e não fazem ideia do que falo. 
            Agora a única coisa que me preocupa é como eu, e principalmente as minhas filhas, vão pagar no futuro a dívida monstruosa que este governo entreguista vai deixar. Porque quando a farra com o dinheiro das nossas riquezas acabarem, e eles começarem a gritar que a culpa é do PT, teremos um país de famintos e o terceiro mundo já terá chegado à terra de Santa Cruz.. 
            Não se pode pedir responsabilidade à extrema-direita ou ao núcleo duro do bolsonarismo. Eles não enganaram ninguém e deixaram claro o que iriam fazer com o Brasil. Não esquecerei jamais de um Congresso vendido e um Judiciário apequenado. Nem de todos os outros responsáveis que poderiam ter parado aquele crime e optaram por se calar. 
   
         Uma vez Rubens Alves disse que: “Somos livres para fazermos nossas escolhas e reféns das suas consequências. Toda escolha implica em perdas e ganhos...” O que não sabíamos é que as escolhas coletivas têm também consequências coletivas.

Padre Carlos



Compartilhe este artigo nas suas redes e divulguem nosso blog: https://padrecarlospt.blogspot.com

terça-feira, 30 de julho de 2019

ARTIGO | Por que sou contra o impeachment (Padre Carlos)




Por que sou contra o impeachment



           

            Quando Bolsonaro choca a classe política e as instituições da República, contando mentiras e fazendo todo tipo de apologia a Ditadura Militar, ele não só desrespeita a história do país, como rompe com tudo o que existe de civilidade na sociedade brasileira. A versão sobre a morte de Fernando Santa Cruz, já foi reconhecida pela Comissão da Verdade. Ao manter o clima de polarização, o presidente tenta manter seu núcleo duro ao seu redor, mas desagrada uma base que marchou com ele e não se sente à vontade com tal comportamento. Desta forma, a perda de apoio políticos no momento em que seu governo esta sendo bombardeado pela Vasa Jato, não é interessante nem para o governo nem para os aliados políticos.
            Apesar de nossa indignação com o comportamento do presidente, a quebra de decoro não é razão para impetrar a lei do impeachment, ela é clara no que diz respeito ao afastamento do presidente e o único motivo é o crime de responsabilidade. O decoro fica reservado aos mandatos parlamentares. Como não sou operador do direito, vou me prender em uma abordagem política.
O impeachment não traz consigo nenhuma solução de concreto para a nossa crise, bem como nunca foi um instrumento da democracia tal como esta inscrito na legislação brasileira.
      
      O crime de responsabilidade é submetido à interpretação politica de uma maioria parlamentar qualificada, que dependendo da conjuntura, independente de provas e crimes, se transforma em um julgamento político e assim, não é de forma alguma considerado um mecanismo de aprimoramento democrático.
            O cenário atual apesar de demostrar de forma clara que as esquerdas estão fragmentadas e a direita se fortalece, traz com sigo à necessidade de uma aliança que transcenda o nosso métier, ela precisaria ir além das esquerdas.
            Assim, esta conjuntura de tal forma nos chama para a responsabilidade de interpretar de forma "pedagógica" as dificuldades atuais e as crises que o país vem enfrentando.
            O impedimento como querem alguns membros do nosso campo, é um processo extremo, traumático, imprevisível. E o pós-impeachment só beneficia a direita e seus representantes.
Avalio que deveríamos esperar o governo sangrar com a Vasa Jato e buscar a nulidade da chapa como um todo. Deixar Mourão é um perigo, ele tem capacidade de dar uma imagem de legalidade as políticas da extrema direita. Não podemos esquecer que ele tem capacidade de agregar à direita e o centrão em torno do projeto neoliberal.
    
        A história é a maior professora que a classe política pode ter e nos últimos anos, este aparato jurídico vem se revelando cada vez mais como uma ferramenta da burguesia para que esta se livre de governos que se tornaram disfuncionais aos seus interesses, como podemos perceber de forma clara nos “golpes suaves” consumados em Honduras (2009) e Paraguai (2012) e Brasil (2016).
            Perplexos, percebemos, na simples comparação entre o discurso oficial e as notícias jornalísticas, que o Brasil se tornou um país do faz de conta. Faz de conta que não houve um golpe parlamentar e que uma presidenta legítima, eleita com mais de 54 milhões de votos, foi tirada do poder em um processo de impeachment sem crime de responsabilidade.  Produziu-se neste país o maior dos escândalos político já presenciado em rede nacional, que seus algozes não sabiam justificar seu voto nem encontrar os tais crimes de responsabilidades.


            Por que estou falando isso? Porque da mesma forma como o nosso congresso desprezou e rasgou os cinquenta e quatro milhões de votos da chapa do Partido dos Trabalhadores e nós consideramos golpe este comportamento dos congressistas, os 57,7 milhões de eleitores que votaram no Sr. Jair Bolsonaro, merece todo o nosso respeito e é nossa obrigação mesmo não concordando com as políticas entreguistas e suas ações em todos os campos da política, de preservar o estado de direito.
Anular a eleição mostrando que manipulação eletrônica, midiática e elementos do judiciário, fraudaram o pleito e por isto se trata de um governo é ilegítimo, deveria ser a nossa bandeira.


            O mal dos analistas políticos é não enxergar os verdadeiros adversários e se conformarem com as resposta mais simplória como o impedimento. Nosso adversário não é Bolsonaro seus filhos ou seu guru, assim como não era Collor nem PC Farias etc.


            Nossos adversários é o capital é a burguesia e seu projeto oligárquico excludente dirigido pela aliança das burguesias financeira e agrária. Devemos está preparado porque com ou sem o seu capitão, estes verdadeiros representantes políticos encontrarão novos atores para representar a sua tragédia que não é grega, mas, com certeza usarão em conformidade com os seus projetos e reforma as devidas mascaras.



Padre Carlos




Compartilhe este artigo nas suas redes e divulguem nosso blog: https://padrecarlospt.blogspot.com




ARTIGO - A geração que fez a diferença! (Padre Carlos)

A geração que fez a diferença!      Decorridos tantos anos do fim da ditadura, observa-se que a geração da utopia está partindo e a nova...