terça-feira, 30 de julho de 2019

ARTIGO | Por que sou contra o impeachment (Padre Carlos)




Por que sou contra o impeachment



           

            Quando Bolsonaro choca a classe política e as instituições da República, contando mentiras e fazendo todo tipo de apologia a Ditadura Militar, ele não só desrespeita a história do país, como rompe com tudo o que existe de civilidade na sociedade brasileira. A versão sobre a morte de Fernando Santa Cruz, já foi reconhecida pela Comissão da Verdade. Ao manter o clima de polarização, o presidente tenta manter seu núcleo duro ao seu redor, mas desagrada uma base que marchou com ele e não se sente à vontade com tal comportamento. Desta forma, a perda de apoio políticos no momento em que seu governo esta sendo bombardeado pela Vasa Jato, não é interessante nem para o governo nem para os aliados políticos.
            Apesar de nossa indignação com o comportamento do presidente, a quebra de decoro não é razão para impetrar a lei do impeachment, ela é clara no que diz respeito ao afastamento do presidente e o único motivo é o crime de responsabilidade. O decoro fica reservado aos mandatos parlamentares. Como não sou operador do direito, vou me prender em uma abordagem política.
O impeachment não traz consigo nenhuma solução de concreto para a nossa crise, bem como nunca foi um instrumento da democracia tal como esta inscrito na legislação brasileira.
      
      O crime de responsabilidade é submetido à interpretação politica de uma maioria parlamentar qualificada, que dependendo da conjuntura, independente de provas e crimes, se transforma em um julgamento político e assim, não é de forma alguma considerado um mecanismo de aprimoramento democrático.
            O cenário atual apesar de demostrar de forma clara que as esquerdas estão fragmentadas e a direita se fortalece, traz com sigo à necessidade de uma aliança que transcenda o nosso métier, ela precisaria ir além das esquerdas.
            Assim, esta conjuntura de tal forma nos chama para a responsabilidade de interpretar de forma "pedagógica" as dificuldades atuais e as crises que o país vem enfrentando.
            O impedimento como querem alguns membros do nosso campo, é um processo extremo, traumático, imprevisível. E o pós-impeachment só beneficia a direita e seus representantes.
Avalio que deveríamos esperar o governo sangrar com a Vasa Jato e buscar a nulidade da chapa como um todo. Deixar Mourão é um perigo, ele tem capacidade de dar uma imagem de legalidade as políticas da extrema direita. Não podemos esquecer que ele tem capacidade de agregar à direita e o centrão em torno do projeto neoliberal.
    
        A história é a maior professora que a classe política pode ter e nos últimos anos, este aparato jurídico vem se revelando cada vez mais como uma ferramenta da burguesia para que esta se livre de governos que se tornaram disfuncionais aos seus interesses, como podemos perceber de forma clara nos “golpes suaves” consumados em Honduras (2009) e Paraguai (2012) e Brasil (2016).
            Perplexos, percebemos, na simples comparação entre o discurso oficial e as notícias jornalísticas, que o Brasil se tornou um país do faz de conta. Faz de conta que não houve um golpe parlamentar e que uma presidenta legítima, eleita com mais de 54 milhões de votos, foi tirada do poder em um processo de impeachment sem crime de responsabilidade.  Produziu-se neste país o maior dos escândalos político já presenciado em rede nacional, que seus algozes não sabiam justificar seu voto nem encontrar os tais crimes de responsabilidades.


            Por que estou falando isso? Porque da mesma forma como o nosso congresso desprezou e rasgou os cinquenta e quatro milhões de votos da chapa do Partido dos Trabalhadores e nós consideramos golpe este comportamento dos congressistas, os 57,7 milhões de eleitores que votaram no Sr. Jair Bolsonaro, merece todo o nosso respeito e é nossa obrigação mesmo não concordando com as políticas entreguistas e suas ações em todos os campos da política, de preservar o estado de direito.
Anular a eleição mostrando que manipulação eletrônica, midiática e elementos do judiciário, fraudaram o pleito e por isto se trata de um governo é ilegítimo, deveria ser a nossa bandeira.


            O mal dos analistas políticos é não enxergar os verdadeiros adversários e se conformarem com as resposta mais simplória como o impedimento. Nosso adversário não é Bolsonaro seus filhos ou seu guru, assim como não era Collor nem PC Farias etc.


            Nossos adversários é o capital é a burguesia e seu projeto oligárquico excludente dirigido pela aliança das burguesias financeira e agrária. Devemos está preparado porque com ou sem o seu capitão, estes verdadeiros representantes políticos encontrarão novos atores para representar a sua tragédia que não é grega, mas, com certeza usarão em conformidade com os seus projetos e reforma as devidas mascaras.



Padre Carlos




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